A Arma Escarlate - As Aventuras Dos Píxies escrita por Erik Alexsander


Capítulo 32
Capítulo XXXII - Caimana




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XXXII
Caimana

Enquanto as lágrimas saiam dos olhos de Caimana molhando a manga da camisa de Viny, ela lhe apertou forte. Como pode um ser tão poderoso como Curupira ser derrotado tão facilmente?, ela pensou. Já não tinha mais esperança alguma em derrotar Anhangá. Tudo o que mais queria era voltar para casa e desfrutar da alegria de viver com suas irmãs e seu pai.

Ela se afastou de Viny resoluta. Enxugou os olhos úmidos com as costas das mãos e olhou para Anhangá que estava de costas para eles andando em direção ao Rio Anhangabaú. De acordo com o que havia lido nos livros, o rio fornecia um poder muito maior áquele espirito maligno, e portanto, daria á ele o poder para destruir não só São Paulo, mas o Brasil inteiro. Isso sem mencionar o que ele faria com a humanidade. Ele dizimaria tudo á sua frente em um ato de vingança contra os humanos que ousaram acabar com tudo o que a Terra tinha de mais valiosa: a natureza.

Ao pensar nisso, ela sentiu um sentimento de culpa arder em seu íntimo. A leve brisa da manhã passou pelos seus cabelos loiros fornecendo um brilho magnífico, digno de cena de filme.

– O que a gente faz agora? - Índio disse. Sua voz estava fraca e era possível ver através dela que as esperanças de Índio haviam se esgotado, assim como a de todos os outros.

Ela olhou para seus amigos que também olhavam para o grande fenômeno. Mesmo estando um pouco longe, eles viram a trajetória do rio se iluminar com uma cor arroxeada que subia em direção ao céu. Era como a Aurora Boreal.

– Sem a Bola de Cristal não podemos derrotar Anhangá. - Erik disse, enquanto uma ultima lágrima escorria pelo rosto. - E sem Curupira não teremos a Bola de Cristal. Estamos todos perdidos.

Sons de batalha chegaram aos ouvidos de Caimana vindos lá de baixo. Ela saiu correndo e se aproximou do parapeito e viu.

Na ponte, perto do Teatro que ficava logo em frente ao Shopping Light, eles avistaram lutas paralelas entre monstros e bruxos. O uniforme que ela viu seria reconhecível mesmo á quilômetros de distância. Os alunos da Korkovado vieram para a luta, todos em torno dos dezessete anos de idade. Lutavam com movimentos que Caimana desconhecia e uma habilidade inigualável.

Entre eles um homem com uma rapidez impressionante chamou sua atenção. Era Atlas.

– ATLAAAS!!! - Caimana gritou lá do alto.

Ele olhou para o topo do prédio por apenas alguns segundos e retornou para a batalha que travava com um ser medonho parecido com uma gárgula.

– O que ele está fazendo aqui? - Capí perguntou confuso. - Ele deveria estar na escola protegendo os alunos junto com a Zô e os outros professores.

– Eu não sei o que... - Caimana foi interrompida por Índio.

– Claro, um irresponsável como ele deixou o filho dele lá sozinho com a doida da Zô e...

Índio não terminou a frase quando Caimana viu Capí disparar em direção ao elevador sem nem ao menos esperar por ninguém, ele fechou as portas e o elevador desceu para o térreo.

– O que deu nele? - Ela perguntou olhando para Erik, que era quem estava mais próximo de Capí naquele momento. Quando Erik deu de ombros ela se voltou para ver o que acontecia lá embaixo.

Quando percebeu o que Capí havia visto, seu sangue gelou e ela ficou pálida no mesmo momento. Sua pressão havia caído e ela estava tonta. Mas tentou se recuperar quando Viny a segurou e perguntou.

– O que foi Cai? Viu fantasma?

– Não.. Pior!

Ele ficou sem reação olhando para Caimana que tinha os olhos arregalados.

– Eu vi Damus lá embaixo andando no meio dos monstros!

Viny nem se atreveu á impedir Caimana quando ela disparou pelas escadas. Já que não teriam elevador, ela iria á pé mesmo.

Ela desceu os degraus com o coração pulando pela garganta. Pulava de dois em dois ou três em três, não importava a sequencia. A adrenalina que corria pelo corpo de Caimana a incitava mais ainda. Ela saiu pelos corredores correndo sem nem se importa que alguns azêmolas, alheios sem saber o que acontecia fora do prédio, reclamavam enquanto ela esbarrava neles.

– Ei garota toma cuidado! - Um homem robusto gritou. - Tá atrasada pro trabalho? Deveria acordar mais cedo então!

– Ela o ignorou e correu mais rápido ainda. Seus cabelos eram varridos para trás com a velocidade. Ela percebeu o som de passos no mesmo ritmo dos dela.

Talvez eram seus amigos, mas ela não saberia dizer. Não queria se distrair da maratona. Ela tinha que ir ajudar Capí. Ou ele acabaria se dando mal, com uma criança de três anos no colo.

Ela passou pela saída do shopping empurrando dois seguranças que tentavam fechar as portas á qualquer custo a fim de se protegerem do que estava acontecendo lá fora.

Ela viu a batalha se estender para todos os lados. Bruxos e alunos atacando e se protegendo de diversas criaturas horrendas. Algumas Caimana conseguia distinguir pois se pareciam com animais mortos com pedaços de membros abertos com os ossos á mostra, mas outros era impossível distinguir o que eram.

Atlas travava uma batalha de vida ou morte com uma criatura semelhante á um morcego. Ele voava e atacava o professor fazendo- o cair no chão, mas logo se levantava e partia para o ataque. Porém, a preocupação de Caimana não era com o professor, ele saberia se proteger. Sua preocupação se direcionava ao filho dele.

Ela procurou ao redor por algum sinal de Capí e viu ele agarrando o pequeno Damus e colocando-o no colo. Ela correu na direção deles e agarrou uma vassoura que estava caída no meio do caminho. Parte da vassoura estava chamuscada, mas ela não se importou com isso e continuou correndo.

Capí começou a correr na direção contrária dela, como se estivesse fugindo dela. Sem entender nada ela gritou:

– CAPÍ! ONDE ESTÁ INDO?

E então uma criatura semelhante a que atacara Atlas fez um rasante bem acima dela e foi na direção de Capí e Damus.

– AH não! - ela murmurou tomando velocidade.

– Caimana! - Viny gritou mas foi intercedido por uma criatura e não pôde dar mais nenhum passo em direção da garota.

Capí se embrenhou pelas ruas de paralelepípedos que formavam um pequeno labirinto cercado por enormes arranha-céus. A gárgula por vezes descia com suas asas planando e tentava atacar Capí, mas o garoto era rápido e se esquivava para os lados, por vezes passando por debaixo de umas arvores, até que ele chegou na praça da Sé. Local onde eles haviam chegado, mas ele não foi para a catedral, muito menos para o portal que estava aberto e de onde mais algumas pessoas saiam. Ele se dirigiu á estação de metro.

– Isso Capí! Lá embaixo duvido que ele possa voar! - ela falou para si mesma.

Caimana viu Capí descer pelas escadas rolantes que não estavam operando e a gárgula pouso com as patas em garras. Ela rugiu furiosa e seguiu os dois.

Caimana não ficou para trás, ela subiu na vassoura que segurava (lembrando apenas naquele instante que a tinha em mãos, já estava com trauma de descer escadas) e alçou voo pela escada que dava acesso á estação.

Ela não se preocupou em bater nas paredes que estavam muito próximas, já tinha habilidade o suficiente com a vassoura para não temer esse tipo de coisa. Porém, ela foi rápida até demais.

O monstro não conseguia descer as escadas direito com os pés enormes e sua estrutura grande, e ela bateu com o cabo da vassoura nas suas costas, ela caiu da vassoura e os dois desceram rolando pelas escadas. Caimana sentiu uma dor arder nas costelas. Era insuportável e seu braço levou um arranhão que seguia desde o antebraço até a altura do ombro.

– Aih! - Ela gemeu tentando se levantar com o braço que estava intacto.

– CAIMANA! - Capí correu até ela.

A gárgula estava inconsciente talvez pelo fato de ter batido com a cabeça fortemente em um dos degraus de ferro ou talvez porque eles tiveram sorte de isso ter acontecido.

– Vamos, vamos sair daqui! - Capí a ajudou com o único braço livre enquanto carregava Damus com o outro. Caimana pegou a vassoura para usar como apoio.

Eles passaram por debaixo da catraca e continuaram andando até a próxima escada rolante que levava para o subterrâneo, onde os trens estariam. Esta por sua vez, estava funcionando e ele apenas se apoiaram no corrimão enquanto a escada fazia seu trabalho, levando-os lentamente para baixo.

– O que faremos agora? - Caimana perguntou desesperada.

– Eu não sei. - Caí respondeu aflito. Ele não podia lutar segurando uma criança no colo.

Nesse instante eles ouviram um barulho estridente de perfurar os tímpanos. A criatura reapareceu na ponta da escada rolante, mas desta vez ela abriu as asas e conseguiu voar pelas escadas comuns.

Eles correram como nunca.

A estação estava completamente vazia. Não havia nem funcionários nas estações. Talvez os bruxos do exército desempenharam bem seu trabalho e conseguiram retirar as pessoas dali, ou então o bom senso dos azêmolas o fizeram escapar de uma morte dolorosa e horrenda.

As asas da gárgula bateram em um enorme pilar e ele tombou no chão, rolando e caindo nas vias de acesso ao trem. Caimana subiu na vassoura mesmo sentindo as dores que sentia pelo corpo.

– Se escondam, eu vou tentar despistar ele! ela partiu para cima do monstro que se levantou e golpeou o ar com as garras. Caimana caiu com a lateral do corpo cortada e sangrando e com a vassoura partida ao meio.

– CAIMANA! - Capí gritou.

Ele colocou Damus cuidadosamente no chão e correu em direção á Caimana. Ela não conseguia ver nada direito, sua visão estava turva. Ela fechou os olhos fortemente. O arranhão feito pela gárgula ardia como chamas. As lágrimas caíram de seus olhos quando o monstro levantou novamente a garra, pronto para o ultimo ataque.

E sua mão desceu na vertical.

Naquele momento a cena parecia imprecisa e lenta. Caimana viu uma forte luz vermelha vinda de trás da criatura. Ela ficou cada vez maior emitindo um brilho descomunal e em um segundo depois a criatura voou passando por cima dela e quebrando a parede atrás dela.

Do outro lado, de onde a luz viera, Capí estava com a varinha apontada para frente.

Caimana tentou se levantar o mais rápido possível.

– Deixa ele comigo Cai, você tá muito machucada. - ele fez um sinal com a cabeça e Caimana entendeu.

Ele cuidaria daquela batalha. Ela então tentou se esconder perto do mapa metroviário enquanto a gárgula voltou a se levantar. Por um momento ele e Capí ficaram se encarando e então a criatura abriu as asas e partiu para o ataque.

Caimana assistiu a cena tremendo de medo. Medo de que algo acontecesse com Capí. Medo de eles não conseguirem impedir Anhangá. Medo por tudo o que iria acontecer em seguida.

O monstro desferiu um golpe com a garra, mas Capí rolou para baixo desviando do ataque. Porem, três garras acabaram passando raspando nas costas do menino deixando um rastro de sangue e camisa rasgada para trás de cima á baixo.

A criatura continuou voando e até aquele momento, Caimana não havia percebido, mas só agora vira qual era o real objetivo do monstro. Damus estava inocentemente andando com os braços abertos na direção de Capí. A gárgula o agarrou em um abraço mortal.

Caimana não conseguiu gritar. O grito de horror ficou preso em sua garganta enquanto seus olhos se arregalavam de terror.

Capí se ergueu do chão e lançou um feitiço na direção da gárgula. De repente tudo pareceu rápido demais. A gárgula, para desviar do feitiço de Capí se jogou para o lado na direção da via do metro. Por azar, um metro veio passando a toda velocidade e o atingiu em cheio.

– NÃÃÃÃÃÃÃÕOOOOOO!! - O grito de Capí foi agonizante.

A criatura fora levada juntamente de Damus que estava em seus braços.

Por um instante Capí ficou paralisado, assim como Caimana. Ela não conseguia absorver aquela cena. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

Com dificuldade Capí se levantou. Caimana não saberia se conseguia se levantar. Suas pernas tremiam descontrolavelmente.

Ele se aproximou dela e a apoiou nos ombros. Os dois deram suporte de apoio uns aos outros.

Ele apontou a varinha para o pé torcido dela e ela sentiu um quentura no local e em seguida a dor passou. Ela colocou o pé delicadamente no chão e eles foram até onde a gárgula fora atropelada juntamente de Damus.

A cena foi horrível. Caimana se virou para trás para não vomitar e também para não chorar. A cena era brutal.

Capí desceu até a via, enquanto de costas, Caimana chorava incessantemente.

Ele retornou sem camisa e com um pequeno embrulho nos braços. O embrulho estavam todo vermelho de sangue. Caimana não saberia dizer se era o sangue de Capí ou do pobre do Damus.

Ela não ousou olhar para o rosto de Capí. Damus era como um irmão mais novo para ele. Ela apenas o abraçou fortemente enquanto as lágrimas de Capí escorriam pelo ombro dela.

Com dificuldade e com muita tristeza, eles caminharam de volta para onde os outros estavam. Eles chegaram quando Caimana e Capí saíram da estação.

– O que houve? - Viny perguntou reparando na expressão dos dois. Caimana se jogou em seus braços e o abraçou como nunca, chorando e soluçando.

Alicia chegou mais perto para ver e Atlas logo em seguida.

Ele saiu correndo tomando Damus nos braços e chorando como uma criança.

Ficaram em silencio por um bom tempo. O sol já ardia no céu.

Uma gargalhada medonha tomou conta do momento. Quando se viraram Anhangá em sua forma gigantesca ria. Estava longe deles, mas conseguia ver a cena com seus olhos vermelhos.

– Este é apenas um! Vou matar todos que estiverem em meu caminho! E vocês não poderão fazer nada! HAHAHAHAHAHHAH

Erik ficou inconformado com tanta crueldade, mas foi Alicia que Caimana viu se levantar com ódio nos olhos.

– Desgraçado! - ela subiu na vassoura que segurava nas mãos e disparou na direção de Anhangá.

– Alícia! Não! - Erik gritou tentando parar a irmã mas foi tarde demais. Alicia já voava veloz e subindo cada vez mais alto no céu.

A fúria da garota deixara Caimana boquiaberta. Mas era compreensível. A crueldade com que Anhangá gargalhara era tanta que até a pessoa mais acanhada e medrosa do mundo conseguiria sentir um ódio implacável.

Erik apenas observou a irmã. E seus olhos se encheram em lágrimas quando aconteceu.

Alícia havia se aproximado muito rápido de Anhangá, mas com um golpe Caimana viu ele atingir Alícia contra a parede de uma enorme construção. A mão de Anhangá permaneceu lá durantes longos segundos e quando a retirou sangue cobria cada centímetro dela. A vassoura era apenas um fiapo que caia lá de cima até atingir o chão, toda quebrada e suja de sangue.

Caimana não conseguiu absorver o que acontecera, mas Erik parecia que absorveu cada instante.

– Não... - ele murmurou. - Maninha... por favor! Você não! MANINHAAAA!!!

Seus olhos despejavam lágrimas e mais lágrimas. Caimana sentiu um dor no coração mas nunca sentiria a dor que aquele garoto sentiu quando viu sua irmã ser morta por Anhangá.

As pernas de Erik vacilaram e ele ficou de quatro no chão, olhando para os paralelepípedos á sua frente sendo molhados com seu choro.

– Desgraçado... por que fez isso? Por que faz isso? DESGRAÇADOOOOOO!! -

Ele gritou em um ato de sofrimento. E de ódio.

E foi esse ódio que algo mudou em Erik.

E essa mudança traria muitos benefícios para todos, pois seus cabelos entraram em combustão e quando abriu os olhos, apenas chamas laranjas e amarelas eram visíveis.


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