A Arma Escarlate - As Aventuras Dos Píxies escrita por Erik Alexsander
XXXI
Viny Y-Piranga
Viny sentiu seu corpo preso. Um enorme peso caiu sobre suas costas e a única coisa que pode fazer no momento para não cair de cara no chão foi se apoiar com as duas mãos, usando toda a força que tinha.
"O que foi?" - Anhangá perguntou. "Não vão falar nada, garotos atrevidos? Perderam a coragem?"
Viny não conseguia pensar direito. Todos os seus amigos estavam na mesma situação. Ele fez um enorme esforço para olhar para o lado, tremendo. Seus suor escorria pela face como se ele estivesse correndo uma maratona.
– Nós...
– Viny... não... - Caimana tentou falar. Seus cabelos loiros caiam como cascata cobrindo seu rosto.
– Nós... - Viny continuou sem dar atenção á Caimana. A fúria dentro dele era enorme. A injustiça para com as pessoas que se machucaram, incapacidade de se levantar e lutar o deixavam com muita raiva. - EU!
Ele ergueu a cabeça e olhou para os olhos vermelhos do cervo no alto da escadaria. O cervo que era Anhangá, deu um passo á frente, fazendo com que o portal tremeluzisse perante á sua aura maligna.
– EU... VOU ACABAR COM VOCÊ! - Ele vociferou.
"Garoto estúpido" - Anhangá rugiu dessa vez.
A força que prendia os jovens bruxos se tornou três vezes mais forte, fazendo com que eles afundassem cerca de 10 centímetro no chão de pedras.
O casco do cervo tocou o primeiro degrau da escada e ele se transformou em um homem de terno e gravata. Seus olhos permaneciam vermelhos e a cruz desenhada em sua testa brilhava com uma luz púrpura.
– Acha mesmo que crianças frágeis como você conseguirão me impedir? Acha mesmo que vocês tem alguma chance contra mim? Não me faça rir garoto.
Ele parou no meio da escadaria e ergueu as mãos.
– Vou acabar com esse mundo de vocês. Vou acabar com o mundo que vocês tanto trataram como lixo! Está na hora da natureza dar o troco.
Seus olhos brilharam maliciosos e varias plantas começaram a brotar do chão e subir pelas paredes da catedral. As raízes cresciam sem parar e envolviam as torres da igreja em um abraço forte.
Viny juntou toda a raiva do momento e se concentrou em levantar. Aos poucos ele estava com as mãos apoiadas no joelho e com mais um pouco de força ele estava de pé olhando diretamente para o homem de terno e gravata de olhos vermelhos escarlates.
Suas mão se fecharam e ele olhou seriamente para Anhangá.
– Ora, ora, ora! Quer dizer que você conseguiu se soltar do meu feitiço. Devo admitir que não esperava isso de um simples garoto.
– Eu não sou um simples garoto. E que saber de uma coisa? Você fica aí se achando o bãbãbã do pedaço, mas na verdade quem tá fazendo todo o trabalho são seus servos.
Anhangá serrou os dentes com aquele comentário enquanto Viny se deliciava por dentro. Um sorriso escapou pelo canto de sua boca.
– E tem mais - Viny continuou falando. Seu objetivo era deixá-lo com muita raiva. Não sabia o porque disso, mas queria que ele sentisse o mesmo que ele estava sentindo no momento. Com seus amigos ajoelhados ao seu redor. Indefesos. - Se você pensa que é protetor da natureza, está enganado. O Curupira sim é que é um verdadeiro protetor.
– É isso mesmo!
Viny se virou e viu Erik se erguer com dificuldade.
– Ele é maneiro e tem o cabelo que pega fogo! - Erik disse sorrindo com uma expressão resoluta.
– Viu, até o Erikito aqui sabe que ele eh muito melhor que você! Enquanto você tem o que? - Viny colocou a mão no queixo fingindo analisar Anhangá, que já estava com a aura em chamas de raiva. - Não sei... o que ele tem Erik?
– Ele tem galhada de corno! - Erik disse segurando a risada. - Acho que ele deve estar revoltado com o mundo por causa disso.
– Oras seus pestes! - Anhangá ergueu a mão que emitiu uma chama bruxuleante arroxeada.
– Portanto, já que você não tem nada de especial, toma isso!
Viny apontou a varinha para um dos coqueiros atrás dele, onde um monte de excrementos de cachorro fazia uma pequena montanha. O montinho de cocô voou e Viny o jogou na cara de Anhangá.
Por um momento tudo ficou quieto. Apenas o barulho de batalha e dor ecoou pelas ruas do centro de São Paulo. O vento passou por eles no mesmo instante em que os garotos conseguiram se levantar, livres do feitiço lançado por Anhangá.
– Rápido Capí! Vamos pegar a bola de Cristal!
Capí se apressou para junto de Caimana que tinha a mochila nas costas. Ela retirou a caixa de madeira e de dentro a Bola de Cristal, que estava emitindo uma luz branca. Mas no momento que a mão de Capí tocou a bola, o brilho se apagou.
Anhangá olhava em estado de choque para o loiro á sua frente. O seu peito arfava. Seus olhos brilhantes piscavam como um alerta de carro e as veias em sua têmpora saltaram, deixando o com uma aparência horripilante.
Viny sentiu seu coração batendo muito forte e rápido. Estava começando a se arrepender do que fizera. Mas já era tarde. O homem á frente deles começava á mudar de aparência. Alguns bruxos passaram voando de vassoura pela cena, mas foram totalmente ignorados. Os pixies tinha algo muito mais importante para lidar. E então começaram á dar alguns passos para trás, pois sabiam o que estava por vir.
Capí pegou a Bola e segurou, para que todos colocassem a mão nela. Os quatro Pixies o fizeram e levaram juntos e correndo na direção de Anhangá.
O espirito antigo ficou envolto em chamas. Seus dentes cresceram, longos chifres brotaram de sua testa e uma linga calda demoníaca surgiu de algum lugar atrás dele. E então ele explodiu espalhando entulho para todo o lado e fazendo parte da catedral desmoronar. A força da explosão jogou todos eles para trás e a Bola de Cristal se espatifou no chão. Quebrada em quatro enormes pedaços, Capí se levantou rapidamente e recolheu os pedaços, guardando dentro da mochila que pegara da Caimana.
– AAAARRRRGHHH! EU VOU ACABAR COM TODOS VOCÊS!!! - Anhangá berrou para a noite.
Ele estava crescendo sem parar, assumindo sua forma gigantesca. Sua pele arroxeada com escamas, as garras enormes do tamanho de um ser humano. Seus pés de lagarto deram um passo á frente quase atingindo os jovens bruxos e esmagando-os. Por sorte eles se viraram para correr o mais longe possível.
– Não acredito que quebramos ela de novo! - Índio gritou á plenos pulmões.
Viny sentiu a culpa crescer dentro dele. Se não tivesse jogado as fezes em Anhangá, talvez não teriam quebrado a Bola de Cristal.
– Cuidado! - Caimana gritou.
Anhangá, com as duas mãos, pegou os Pixies e os outros e os ergueu no ar.
– Irão pagar por isso jovens bruxos! - ele rosnou com sua voz grossa e assustadora. Ele fechou a mão esmagando-os com força.
–YYAAAAAAAAAHHHHH!
Um pé gigante e virado para trás atingiu Anhangá no rosto. Ele soltou os garotos que caíram no ar, mas foram capturados por uma outra mão gigante. A catedral desmoronou por completo quando Anhangá caiu com tudo em cima dela. A fumaça encobriu o monstro gigante enquanto os Pixies olhavam aliviados por ainda estarem vivos.
– MY GOD! Não acredito!!! - Erik gritou.
Os jovens se voltaram para onde Erik estava apontando e olhando com a boca aberta. Era curupira que os mantinham nas mãos. Seus cabelos em chamas pareciam o sol e iluminavam tudo á sua volta em um raio de quilômetro. Seu sorriso cheio de dentes afiados se alargou.
– Vim ajudar vocês!
– CURUPIRAAAA!! - Erik correu e deu um abraço no dedão de Curupira. - Cara, você é demais. Obrigado por nos proteger!
– Meu Deus, gente esse menino precisa ir urgente visitar a Kanpai! - Annie falou.
– Curupira! A Bola de Cristal se partiu! - Capí se apressou para contar a terrível noticia.
– O que vocês fizeram? - Curupira perguntou.
– Perai um momento - Indio se intrometeu. - Estamos de noite, você deveria ser Caipora agora!
Curupira olhou para o horizonte e Viny e Índio seguiram seu olhar. Os primeiros raios solares começavam a aparecer por cima dos prédios longínquos.
– O que faremos agora? Os raios de sol já nasceram, você não pode mais fazer outra bola de Cristal! - Viny disse tristonho.
– Segurem-se! - Curupira gritou quando um soco o atingiu na lateral do ombro.
Ele depositou os garotos no topo do Shopping Light após alguns passos para trás e retomou a luta atacando Anhangá com fogo enquanto ele se protegia com o cajado que materializou do nada.
– Você não vai tocar nessas crianças! - Vociferou o humanoide gigante com o cabelo em chamas.
– Isso é o que veremos! Se não sair da minha frente, eu o mato também!
Eles pararam a luta e ficaram se encarando.
– Ora, vamos lá! Fomos parceiros durante séculos! Junte-se á mim nessa era onde poderemos governar os humanos. Onde ficaremos livres da ameaça que eles nos representam. Aos nossos animais!
– Sinto muito Anhangá, mas não gosto dos métodos que você usa. Os humanos são diferentes. Tudo bem que alguns merecem isso, mas e quanto aos outros? Eles não merecem sofrer pelo ato de pessoas ruins. Nem todo humano é igual, coloque isso na sua cabeça.
Curupira se virou para olhar para Capí que lhe retribuiu com um aceno da cabeça.
No momento seguinte, o coração de Viny disparou de terror e desesperança. Mas foi a voz de Erik que gritou.
– Curupira! Cuidado!!
Quando Curupira se voltou para Anhangá, este lhe cravou o cajado que tinha a extremidade pontiaguda no peito. Curupira segurou o cajado sem forças, sangue escorreu pelo canto da sua boca e as chamas de seus cabelos começaram a diminuir.
Um ruido se fez ouvir chamando a atenção de Anhangá. Ele retirou o cajado do peito de Curupira.
– Vou acabar com vocês de uma vez por todas!
Ele apontou o cajado para o prédio onde os Pixies estavam e lançou um feitiço verde atingindo o topo do prédio que desabou. Ele se virou para o som que ouviu á alguns instantes e saiu andando em sua forma gigantesca.
Enquanto isso, o prédio desmoronava ao mesmo tempo que Curupira diminuía de tamanho. Aproveitando que sua mão ainda era grande o suficiente, ele capturou os Pixies, protegendo-os dos destroços do edifício que caía e espalhava poeira para todos os lados. Ele os depositou no chão, são e salvos.
Viny observou Erik correr em direção ao corpo de Anhangá. Ele estava chorando, sua expressão de esperança estava indo embora. Ele caiu de joelhos ao lado do homem comum com o cabelo em chamas azuis fracas.
– Não... não... - ele murmurava segurando a mão de Curupira. - Você é nossa esperança. Não nos abandone.
– Garoto... Vocês não precisam de mim, são fortes o bastante para isso.
Erik já em lágrimas gritou.
– Então porque está aqui? Porque voltou para nos ajudar? Porque???
– Eu, precisava me redimir de alguma forma... Fique com isto... garoto.
Curupira materializou uma pequena chama em sua mão e a depositou nas mãos de Erik que ficou olhando a chama tremeluzir em sua palma. Ele ficou encantado com o presente e então as chamas desceram para dentro de sua palma e sumiram.
Quando Viny tornou a olhar para Curupira, ele havia sumido. Caimana lhe deu um forte abraço e Viny retribuiu com carinho. Seus olhos ardiam, mas apesar de tentar ele não conseguiu impedir as lágrimas de virem á tona.
Eles estavam sozinhos agora.
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