A Arma Escarlate - As Aventuras Dos Píxies escrita por Erik Alexsander


Capítulo 33
Capítulo XXXIII - Erik




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XXXIII

Erik

Estava tudo escuro, mas Erik convencera Alícia a se levantar da cama, pois alguma coisa estava acontecendo. Eles então seguiram pelo corredor do segundo andar da mansão de seu pai. Apenas uma das varias portas estava entreaberta, e a luz clara da sala iluminava parte do corredor. Eles passaram silenciosamente e foram para detrás da porta onde podiam ouvir a conversa.

–... Não gosto desses seus filhos Alberto. Tem algo de muito errado com eles.

Era a avó deles, Lucia. Ela nunca gostou de Alicia e de Erik e sempre que eles iam lá ficavam assustados quando a velha aparecia para uma visita.

– Mamãe, acho que a senhora está exagerando. Eles são apenas crianças que gostam de ficar brincando assim como qualquer outra criança no mundo. - Alberto respondeu. Erik colocou um olho por entre a brecha e viu seu pai sentado em uma poltrona tomando algo em uma taça, enquanto sua vó andava de um lado ao outro pelo cômodo.

– Não.. - ela disse. - Eles não são normais meu filho. Aquele dia no parquinho.

– Aih mamãe, lá vem a senhora de novo com essa história.

Erik sabia do que ela estava falando, mas não entendia o motivo daquilo tudo. Mas apesar de seus 6 anos de idade (Alícia era 4 anos mais velha que ele) ele compreendia que o assunto não era algo bom.

– Mas é claro meu filho. Eu estava lá passando para ver se estava tudo bem com as crianças, aí um menino mais velhos que eles veio brigar, só porque o Erik furou sem querer a bola do garoto. De repente quando eles vão pra cima a perna do menino começa a mexer de maneira estranha, como se estivesse dançando tango.

– Mamãe, eles deviam estar brincando...

– Não! - Ela interrompeu. - Eu vi o medo no rosto do garoto. E depois, a menina Alícia, ela estava com uma expressão assustadora de raiva.

Erik olhou para Alícia na penumbra e ela emitiu um sorrisinho, que deixou Erik mais tranquilo para sorrir também. Mas ela fez sinal de silêncio para o garoto, e ele a obedeceu.

Então, a cena mudou.

Alícia estava sentada no quarto lendo um livro de terror para Erik, que já dormia serenamente. Um ano havia se passado após a conversa que eles ouviram por detrás da porta. Alícia não havia percebido que o garoto tinha dormido, portanto ela lia em voz alta de maneira harmoniosa, da mesma forma que filmes de contos de fadas são narrados em filmes por lindas vozes desconhecidas.

De repente, a coberta da cama ao lado começou a se levantar. Alícia fechou o livro com um barulho abafado. Ela não percebera que Erik acordou com o pouco barulho. Ela estava aterrorizada olhando para a coberta que planava como um fantasma acima da cama.

Erik deu uma leve risada sonolenta que tirou Alicia do transe e voltou a dormir. Quando Alícia voltou á olhar para a coberta, ela estava inerte na cama, como se nada houvesse acontecido. Aquela cena faria a garota ficar acordada por longas noites.

Mais uma vez a cena se alterou como fumaça.

Erik e Alícia brincavam alegremente no quintal da casa de seus pais. Tinha um longo jardim cheio de flores exóticas e coloridas. Erik já tinha 10 anos e se divertia com um boneco do herói Homem-Aranha.

Alícia chegou sorrateiramente ao lado dele e se sentou no banco do jardim.

– Erikinhooo! Vem cá maninho!

– Á não Lícia! O Homem-Aranha vai lutar com o Octapus agora...

– Vem logo menino! Eu quero te mostrar uma coisa bem legal.

Uma das coisas mais claras que é notável em Erik é sua curiosidade. Ele largou o boneco no chão e foi na direção da irmã. Ele olhou com olhos brilhando de ansiedade e ela disse:

– Pega uma daquelas flores pra mim?

– Porque você não vai? - ele perguntou desanimando. Achou que ela não iria fazer nada demais.

– Aih garoto, como você reclama, pega logo! - ela apontou.

Era um enorme girassol que chegava á sua altura. Quando Erik estendeu a mão para pegar a flor, mas ela se curvou para o lado. Sozinha.

Ele arregalou os olhos. Virou-se para a irmã que rachava de rir e voltou-se para a flor. Ela estava em sua posição normal, então ele ergueu a mão novamente para pega-la. Dessa vez ela se virou para o outro lado e após mais uma tentativa ela foi para trás.

Alícia gargalhava com as mãos na barriga.

– O que foi isso? - Erik perguntou agora irritado. - Essa planta tá possuída pelo ritmo Ragatanga é?

– Num sei... - ela tentou falar após recuperar o fôlego. - Apenas pega logo a planta.

Erik tentou mais uma vez e a planta fugiu de sua mão novamente. Possesso da vida, ele saiu pisando firme e Alícia o chamou pedindo desculpas.

Então ela explicou que fazia um tempo que ela fazia coisas estranhas. Coisas que nenhum ser humano normal fazia. Ela havia dito também que aprendera a controlar parcialmente seus poderes e pediu-lhe segredo, pois se seus pais descobrissem eles estariam muito, mas muito encrencados.

Erik permaneceu com o segredo, mas isso o deixou ansioso para saber se ele conseguia fazer tais coisas também. Afinal, ele queria ser um super herói e todo super herói tinha poderes. Ele tentou inutilmente várias coisas relacionadas a magia durante semanas, sem sucesso.

Até que...

Um belo dia de verão, lá estava sua família, nos fundos da casa tomando um banho de piscina no sol escaldante. Ele estava na janela, triste por não ter conseguido nenhum resultado satisfatório com poderes especiais. Apenas olhando para sua família se divertindo lá embaixo. Até que ele teve uma ideia.

Ele tinha 10 anos, então tinha uma imaginação muito fértil. Ele então, sem pensar nas consequências, saltou da janela dos fundos da casa, na frente da família inteira reunida. Seus pais e seus tios olharam aterrorizados para a cena do garoto pulando do segundo andar. Sua avó deu um grito assustada.

Tudo pareceu em camera lenta para o garoto. Enquanto estava em queda livre, ele fez um movimento no ar com as mãos e gritou : "VAI TEIA!!". No mesmo instante, a queda em vertical na qual se encontrava se tornou em uma descida suave e bem devagar na diagonal, como se diversos balões á gás estivessem presos á suas costas, levando-o em segurança para o chão.

Quando ele aterrissou seguro no chão todo feliz, ele viu Alícia lá no fundo batendo com a mão na cabeça e com uma expressão de: Você não deveria ter feito isso Erik!

No mesmo dia a família inteira entrou em uma briga que não acabava mais. Os avós da parte de pai deles alegavam que Maria era bruxa e que tinha passado seus terríveis poderes para o filho. A mãe de Erik se viu obrigada a ir embora junto com o garoto para um lugar bem longe enquanto Alícia, aparentemente a garota normal, ficaria com o pai.

Depois disso, os irmãos se separaram mas sempre deram um jeito de se encontrarem. Quando entraram para a escola de magia, a felicidade para Erik não tinha tamanho. Poder ficar ao lado da irmã que tanto amava era algo que queria muito.

E ali. Na estação da Sé, ele viu esses momentos de sua infância passarem como foguete pela sua mente enquanto via sua irmã se jogar nas garras da morte.

Alícia foi espetacular, voando na vassoura e desviando de todos os destroços que Anhangá jogava na direção da garota. Ele sempre teve orgulho de Alícia, e ao ver a garota ser esmagada na parede como uma mosca, seus joelhos perderam as forças. O inacreditável havia acontecido. Ele, quando criança, sempre sonhara em proteger sua irmã como um verdadeiro herói. E agora ele a perdera, sem nem ao menos tentar protegê-la.

E olhando para o chão borrado pelas lágrimas ele sentiu a dor no coração. Um vazio que nunca mais seria preenchido. Um sentimento de perda que nunca poderia ser curado. Sua irmã estava morta. E talvez, se eles não conseguissem parar Anhangá, toda a sua família e a humanidade também estaria da mesma forma.

Ele fechou os olhos e contemplou a escuridão. Os gritos de horror de seus amigos ao seu redor ajudaram a preencher a escuridão. Ele viu sangue, viu sua irmã feliz e viu.. uma chama. Ali na escuridão ele viu uma chama alaranjada que crescia cada vez mais. E quando ele abriu os olhos ele sentiu o calor ao redor do seu corpo. Ele viu as coisas de maneira diferente. Suas mãos começaram a se formar garras. Seus cabelos explodiram em chamas e seus pés começaram a virar para trás. Cada centímetro do seu corpo doía e ele gritava colocando todos os seus sentimentos para fora. Sua dor, sua tristeza, seu ódio...

E ele crescia cada vez mais, até estar do tamanho de Anhangá. Seus dentes pontiagudos e selvagens se abriram em um sorriso de vingança, e ele disse.

– Anhangá! Eu vou acabar com você! Com as minhas próprias mãos!

E ele, agora já em sua transformação completa, correu determinado na direção de Anhangá. Nas ruas os monstros e os bruxos fugiam com medo de serem pisoteadas pelo enorme monstro em chamas.

Ele se aproximou de Anhangá, que estava surpreso pelo garoto ter se tornado em um Curupira diferente, e desferiu um golpe no rosto do bruxo.

Anhangá voltou muito metros para trás até caírem uma avenida larga e cheia de carros abandonados.

A cada pensamento que passava em sua mente, sua fúria crescia cada vez mais. As chamas em seus cabelos crescia cada vez mais. Ele abriu a palma da mão e materializou uma bola de fogo que lançou na direção de Anhangá. Porém, este desferiu as chamas com um golpe do cajado que atingiu Erik em sua forma gigante e o fez vacilar e quase cair. Ele se apoiou e olhou para Anhangá em um olhar mutilador.

Pessoas montadas em vassouras passaram do seu lado indo em direção de Anhanga e Erik percebeu que eram seus amigos. Porém Capí estava com asas brancas e enormes voando ao lado de uma Águia gigante.

Eles lançaram inúmeros feitiços contra o bruxo gigante, mas nenhum surtiu efeito. Anhangá começou a recuar.

– Crianças malditas! Vocês não vão estragar meus planos.

Ele virou as costas e começou a fugir.

– Eu não vou deixar! - Erik gritou.

Suas duas mãos entraram em combustão e ele fez um movimento parecido com o Cristo Redentor. As chamas tomaram vida e fizeram um enorme circulo pela cidade impedindo o bruxo de fugir.

– ARRGH!!! - Anhangá gritou a plenos pulmões.

Ele ergue o cajado que brilhou em um azul intenso e disparou uma força descomunal a sua frente.

Todos que estavam nas vassouras desviaram mas Erik não desviou. Ele fez um muro de proteção de chamas.

– Erik!! - ele ouviu uma voz o chamar.

Ele olhou para o alto do prédio ao seu lado e não creditou no que estava vendo.

– Você... - ele disse com olhos arregalados.

– Maninho! Acaba com ele de uma vez por todas! - Alícia gritou para ele. Ela estava toda arranhada, mas parecia estar bem e o mais importante, parecia estar viva. Erik congelou por um instante.

– Anda logo! - ela gritou.

Então ele voltou á batalha.

– Isso... É pela minha irmã! - ele gritou.

Ele juntou todas as chamas ao seu redor concentrando-se em apenas um ponto. Era como um enorme Kamehameha.

– TOMA ISSO CHIFRUDOOOOO!!! - Ele lançou as chamas em Anhangá que foi consumido pelo fogo e caiu no chão se debatendo querendo que as chamas se apagassem.

– Isso mesmo garoto. Fiz bem em escolher você. - Erik ouviu uma voz. Era o Curupira original, disso ele sabia. Ele não estava ao redor, pois Erik não conseguia ver. Mas ele sabia que era ele. Não, ele sentia em cada centímetro do seu corpo. Ele sentia nas labaredas de chamas.

– Agora - ele voltou a falar. - Quero que reconstrua a Bola de Cristal.

Erik ouviu mas não acreditou.

– Mas como? Eu não sei fazer isso. - ele perguntou olhando para o nada.

– Apenas faça...

E a voz sumiu.

Anhangá já havia se libertado das chamas e agora ofegava, se apoiando em um prédio.

– Pessoal! - Erik se dirigiu aos amigos que planavam nas vassouras por perto. - Quero que me deem o que restou da Bola de Cristal.

Eles pousaram no prédio mais próximo.

– Esse cara está achando que é o Curupira. - Erik ouviu Índio falar.

– Cala a boca Índio! Pelo menos ele deu uma surra no Anhangá! - Alícia disse chegando de carona com Caimana.

– Perai, você não tinha sido esmagada ou algo do tipo? - Viny perguntou confuso.

– Eu apenas girei bem á tempo!

– E você sabe fazer isso? - ele se impressionou.

– Gente!! - Capí cortou a conversa. - Fico feliz que tenha sobrevivido Alícia mas... - ele olhou para os amigos ao redor. - Nós temos que confiar nele. É a nossa unica esperança. - Ele abriu a mochila e retirou os cacos de vidro que antes formava a Bola de Cristal.

Erik estendeu a enorme mão e Capí depositou nela os cacos de vidro.

O garoto-gigante fechou as mãos. De repente o sol pareceu arder mais ainda e as chamas de Erik se tornaram vermelhas.

– Mas gente! Parece que ele vai ficar do mal! - Viny disse boquiaberto.

– Se ele ficar a gente tá ferrado! - Annie disse. - Principalmente eu que sempre briguei com ele.

Naquele instante, as chamas voltaram ao normal e ao abrir as mãos, a Bola de Cristal se revelou reconstituída, como se nunca houvesse quebrado.

– UAU! - Caimana exclamou. - Irado!

– Ela parece estar maior! - Capí disse.

– O que estamos esperando? Vamos acabar com ele! - Viny disse pegando em parte da bola.

– É isso aê! - Caimana confirmou segurando em outra parte.

– Okay né! - Índio disse de mal gosto e segurou em mais outra parte.

Quando as quatro mãos tocaram a Bola ela brilhou fortemente e formou quatro novas esferas. Cada uma em uma mão de um dos Pixies.

Eles olharam para aquilo impressionados.

– Assim fica mais fácil de vocês quatro tocarem na Bola ao mesmo tempo. Pois como foram vocês quatro a causa de Anhangá ser liberto, só vocês quatro poderão prende-lo novamente. Ficaria difícil de vocês ficarem junto com uma só Bola de Cristal.

– Até que ele tem razão. - Índio falou.

– HA! Se pensam que vão me deter tão facilmente estão enganados!

Ao virar para Anhangá ele se deparou com uma cena inacreditável.

A legião de monstros que lutavam nas ruas contras os bruxos cresceram como gigantes também, cada um mais apavorante que o outro.

– Agora deve ter virado brincadeira fazer todo mundo virar gigante! Desnecessário isso... só acho. - Viny falou.

– Subam nas minhas costas! - Erik disse. - Eu abro caminho para vocês! - e deu um sorriso traiçoeiro digno de Erik.


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