O Livro Do Destino escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 84
Claro que não...




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Senti o vento frio bater em minhas costas enquanto examinava as flores que minha mãe havia plantado nos canteiros.

Suspirei.

Tentei arrancar uma e furei meu dedo.

–Droga.

–Permita-me. Felipe falou aparecendo do nada e me entregando uma rosa.

Revirei os olhos.

–Obrigada. Examinei a rosa.

–Para quem estava me procurando você não parece muito feliz em me ver. Ele entortou o lábio.

–Não é isso, só estou preocupada.

Ele deu de ombros e se sentou.

Passei o dedo sobre as pétalas da rosa que se partiam de tão delicadas.

–Vai dar certo? Perguntei pro ar.

Felipe ficou encarando o nada.

–O que está fazendo? Perguntei após alguns instantes.

–Esperando o ar lhe responder. Ele deu de ombros.

Ri.

–Pensava que não ia mais lhe ver pelo modo que sumiu hoje de manhã, não sabia onde você estava. Falei de repente.

–Pois eu sabia onde estava o tempo todo... e como foi? já se despediu de todos? Ele perguntou sorrindo de uma forma assustadora.

Me abracei.

–Acho que eles vão se despedir de mim. Respondi.

–Ah! Ele falou e com um pulo estava em pé.

O observei.

–Julie, resolve se sacrificar por todos exatamente como o destino previu e ai, depois que ela morre ela descobre que era exatamente isso o planejado e que independente da morte dela todos morrem... é ela podia ter poupado a própria vida, podia confiar no amigo dela, podia quem sabe até gostar dele e...

Revirei os olhos.

–O necessário você já falou. O interrompi.

Ele deu de ombros.

–O que eu não faria? tipo, algo que o seu pai não espera de mim...

Felipe fingiu pensar.

–Que desta vez você não pense no que você não faria, pense no que você faria mesmo...

Concordei.

–Mas o que eu faria mesmo?

–Uma coisa que dê certo.

–Mas eu sinto que todos estão em perigo... todos morrendo...

Ele suspirou.

–Não sei por quê vocês acham que devem evitar a morte... conhece alguém que morreu e voltou para reclamar depois?

Revirei os olhos.

–A Laura, aquela doce criatura -Ele riu- Ela queria tanto para de sofrer que pediu a você... o que estou tentando dizer é que não adianta fugir por quê um dia vai chegar.

Suspirei.

–É... tem razão.

Examinei meu dedo com uma gota de sangue escorrendo.

–Mas e ai, já decidiu o que vai fazer?

–Eu tenho milhares de planos, milhares de soluções, mas tudo acaba no mesmo final.

–Que final?

Não respondi, me levantei e olhei em volta.

–Não parece que em breve tudo será destruído.

–Você reage com calma apesar disso. Ele deu de ombros.

–É por quê é tudo muito surreal, sabe, a um mês atrás minhas preocupações eram com o vestibular e as brincadeiras infernais da Amanda... agora não tenho mais a Amanda nem tempo para o vestibular. Ri, mesmo que pensar nisso causasse uma dor agonizante que me fizesse fugir para qualquer outro canto.

Por quê é isso que eu quero, fugir, evaporar, estourar e parar de existir com uma bolha de sabão. Pensei

–Faça o tempo passar mais rápido. Pedi.

Ele me encarou por um instante.

–Pensei que...

–Por favor, eu não consigo ficar muito tempo aqui...

Ele deu de ombros.

–Preciso evitar a bomba, se eu esperar demais eu acho que vou morrer asfixiada em tantos pensamentos e ideias.

Ele concordou.

–Até quando?

–O momento que todos chegaram...

Pisquei, o quintal estava cheio de visitas, minha avó paterna se aproximou de mim.

–Julie, como está grande.

Dei um sorriso amarelo.

–Vai falar com seus primos.

E ai eu lembrei que não era só a maioria das pessoas do bairro com quase toda minha família paterna estava lá.

–Tem razão, tem que dar certo. Ele falou depois que minha avó foi embora.

–Saberia adiantar o tempo até a hora da bomba?

Ele fez que não.

–Seria arriscado... se eu adiantar demais talvez não teremos tempo de vê-la chegando.

Concordei e olhei pro céu, cinza e frio.

–O casamento vai ser aqui fora mesmo? Ele perguntou fazendo o mesmo.

–Sim...

Ele ergueu as sobrancelhas.

–Oh-oh.

Concordei.

–Eu tive uma ideia! Ele falou de repente.

Sorri.

–Posso tocar no casamento, da uma olhada. Um violão apareceu na mão dele.

Revirei os olhos.

–"Quando eu ti vi fechar a porta eu pensei em me atirar pela janela do oitavo andar". Ele tocou rapidamente e depois me encarou ansioso.

–Adoro Clarice Falcão. Falei rindo.

–Eu sei, quer tentar tocar?

–Não consigo, não tenho tempo e...

Vi o carro da família do Mike chegando.

Felipe revirou os olhos e o violão sumiu.

–Eu...

–Vai, eu não ligo.

–Eu sei que liga... quer saber vou ficar aqui.

Ele sorriu.

–Eu estava pensando não seria super divertido se começasse a nevar?

Fiz uma careta.

–Por quê se chover...

–Não acha que todos se questionariam sobre o tempo ter mudado tão de repente?

Ele deu de ombros.

–E aqui não neva...

–Agora neva. Ele deu de ombros.

O encarei incrédula quando tudo começou a se vestir de branco.

Revirei os olhos.

Mike se aproximou de nós.

–Tudo bem? Perguntei vendo seu sorriso.

Ele fez que sim.

–Conseguiu? Perguntei quase pulando de alegria.

–Sim.

O abracei.

–Isso é perfeito!!!

Ele riu.

Felipe revirou os olhos.

Fiz uma careta.

–E ai? Felipe perguntou no tom mais cortante possível.

Mike deu de ombros.

–Eu te odeio.

–É... eu também.

–Gente. -Interrompi.- Vamos pelo menos hoje fingir que se aguentam?

Eles reviraram os olhos.

–Conseguiu a testar? Perguntei voltando ao assunto.

Mike me entregou a NERF.

Ri.

–O que exatamente é isso? Felipe perguntou apontando para a arminha de brinquedo com nojo.

Suspirei.

–Mike projetou um portal móvel. Respondi examinando meu dedo furado novamente.

–E eu projetei neve! Felipe falou orgulhoso de si.

–E eu projetei algo útil. Mike revidou.

Suspirei.

–Não vou falar com vocês até pararem com isso.

–Nunca mais vai falar com a gente então. Felipe respondeu cruzando os braços.

–Menininhos mimados, não entendem? é um casamento, é um dia para ser feliz e...

–Tentar impedir que uma bomba mate todo mundo. Felipe me interrompeu rindo.

Fiz uma careta.

–Eu preciso ajudar meu pai. Falei devolvendo a NERF para o Mike e procurando meu pai.

Corri até o coreto onde meu pai encarava o nada.

–Está tudo bem? perguntei assustando-o.

Ele não se moveu.

–Acho que é melhor cancelar o casamento.

–Não! você não pode desistir agora, está tudo pronto, todos ansiosos...

Ele me encarou por um instante.


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