O Livro Do Destino escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 70
Perdoar você...




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Felipe me emprestou a carta que minha mãe havia deixado e eu passei o resto da noite tentando convencer quem quer que fosse que a carta que havia recebido não era de minha mãe.

Por quê ela iria me odiar?

Tentei para de pensar nisso e descansar, sentei na palha velha e seca e tentei cochilar sem sucesso.

–Lala, onde quer que esteja, preciso falar contigo. sussurrei.

Nada.

Resmunguei algo.

Após alguns minutos senti algo bater na minha cabeça e uma frutinha aterrissou do meu lado.

Quem havia atirado a frutinha?

Acertou.

–Nem sei por que fico tão feliz em te ver quando você faz isso. Falei coçando a cabeça no lugar que a fruta caiu.

–Admita, Julie, você me ama. Ela falou segurando as grades.

–Por que não entra?

–Não consigo entrar aí. Ela falou dando de ombros.

–Laura, você já viu minha mãe?

Ela fez que não com a cabeça.

–Ela não... morreu como planejado. Ela falou olhando pro chão.

–Então... ela pode entrar aqui?

Laura fez que sim.

–Só pessoas extremamente bondosas -ela piscou - e angelicais não conseguem entrar.

–Então você está fingindo que não consegue entrar por quê não é nenhum dos dois. brinquei.

Ela fez uma careta.

–Agora sou.

Revirei os olhos.

–Enfim, por que me chamou?

–Recebi uma carta. Falei entregando a carta.

Ela leu, franziu a testa e devolveu.

–Sua mãe te mandou isso?

–Estou começando a acreditar que sim. Respondi pensativa.

–Você não se lembra dela?

–Um pouco.

–Mas você fez algo para que ela te odiasse? Laura perguntou perplexa.

–Não sei. Respondi.

–Você tem que descobrir, Julie. Laura falou séria.

–Descobrir? Como? Laura revirou os olhos.

–Na biblioteca, o livro do destino. Laura cantarolou.

–Claro!

–Ah! e lembre-se, desta vez o livro não estará ao contrario já que aquilo era um disfarce e tal.

–Eu sei, Laura. Falei revirando os olhos.

–Então, tá, beijinho pra você, fui. Laura desapareceu me deixando de queixo caído.

Laura era um anjo fora do comum.

Repeti toda a cena em minha cabeça.

–Preciso ir para a biblioteca. Falei decidida pro nada.

Me aproximei da porta e olhei pros lados, nada.

Corri até a porta que levava às escadas, tirei uma tocha do suporte para iluminar os degraus de pedra. Tudo estava em um silêncio absoluto, com toda certeza todos dormiam, não que precisassem, eles estavam mortos, mas nada lhes causava tanta alegria quanto parecer vivo.

Segui o caminho até a biblioteca, parei quando ouvi um ruído.

–Está louco? nunca iria liberta-la, não entende, mas isso não é somente questão de energia vital.

A voz grossa denunciava o pai do Felipe, mas eu não ouvia outra voz além da dele, é óbvio que falava com alguém, mas quem seria?

Ouvi passos em direção à porta, rapidamente coloquei a tocha em um suporte e corri para o lugar que deveria estar à muito tempo.

Cheguei na biblioteca tentando recuperar o fôlego.

–Droga, como vou enxergar? Reclamei enquanto passava os dedos pelas lombadas dos livros da primeira estante.

Me encostei na parede derrotada.

A luz se ascendeu.

Um interruptor!

Quem diria?

Sorri. Fechei a porta para que a luz da vitória não escapasse e fui até a estante das vítimas do destino.

–Clarisse... Clarisse Roberts! falei puxando o livro enorme e colocando-o em cima da mesa.

Olhei para o livro que era igual ao meu.

–Pequeno espiãozinho assassino. Falei quando abri a pagina.

Passei a mão sobre as folhas amarelas e finas.

–Nascimento... primeiros anos... primeiro amor... -Revirei os olhos eram vários capítulos.

Deslizei meus dedos rapidamente até um dos últimos capítulos.

"Casamento... 1a filha..."

–Achei! falei comemorando.

Procurei a pagina.

A letra era perfeita.

"O nascimento de sua primeira filha, Juliette Roberts Windslly, aconteceu no hospital..." Apressei a leitura, nada fazia um real sentido " Enquanto bebê Julie era levada regularmente ao hospital, não tinha energia suficiente para sobreviver por muito tempo."

Reli o paragrafo.

Como assim? o Destino está me perseguindo por nenhum motivo?

"Toda a energia vital do bebê havia sido transportada para sua mãe, Clarisse, ao saber disso (na primeira vez que foi perseguida pelo Destino) ficou revoltada, achou que por culpa de sua filha iria morrer"

Suspirei.

Senti minha mão pegar uma caneta da mesa e escrever no topo da página.

"Desculpe, desculpe, preciso que me desculpe, eu te amo, te amo muito, agora eu sei que não deveria ter feito aquilo, eu morreria por você, mas..."

Meu corpo começou a tremer.

–Por que tem ódio de mim? o que fiz?

"Você não fez nada, eu fiz"

–E o que fez? perguntei.

Senti minha mão passar as paginas até parar em uma e circular um paragrafo.

"-Mamãe? Pergunta Julie entrando no escritório.

Clarisse a encara com raiva.

–Por que está nos abandonando? Julie pergunta sem perceber os olhos de Clarisse ligeiramente mais vermelhos.

Os olhos de Clarisse ficam mais vermelhos.

–Acha que estou te abandonando? Clarisse pergunta."

Fecho o livro.

Não preciso lembrar disso.

–O que acontece agora? Felipe perguntou me assustando quando vejo que está debruçado sobre a mesa tentando ler.

–Nada. Respondi.

–Se não acontecesse nada esta página não estaria preenchida.

–Ela me odeia por culpa dela mesma. Falei fechando os olhos.

–Odeia o quê?

–Ter deixado sua energia comigo.

Felipe levantou-se subitamente da cadeira.

Estava surpreso.

–Como assim?

–Não tinha entendido na época. -falei guardando o livro. - Sabia que conhecia esse lugar de algum canto, minha mãe me trouxe aqui, ela achou que se passasse a energia para mim era só me esconder...

–Mas meu pai continuou achando que ela tinha energia... Felipe falou olhando para a parede pensativo.

–E continuou perseguindo-a, no fim ela morreu por minha culpa mesmo...

–Sim, ele a torturou para saber onde você estava.

–Exatamente.

–E ela criou ódio por saber que morreu por você. Felipe falou alto, mas depois foi abaixando o tom até olhar para o chão.

–Por que ele está nos escondendo isso? Felipe perguntou levantando-se e andando em círculos.

Dei de ombros.

–Como soube que eu estava aqui?

–Raciocínio, onde Julie pode estar? Se metendo em confusões.

–Acho que pensa que pode ficar me salvando o tempo todo. Falei levantando-me e espreguiçando.

–Virou um hobby salvar você. Ele falou puxando-me para perto dele.

–Felipe. Alertei-o.

–Vai me recusar esta dança no teto?

Ri.

–Depende...

–É só uma dança, dama comprometida.

Olhei em volta, nem tinha reparado que já estava com os pés no teto.

Suspirei.

–Eu lhe perdoo. Sussurrei e senti uma leveza.

–E ai? Felipe falou alguns minutos depois.

–Tudo bem. Falei revirando os olhos.

Sabe, lembrar desta essa experiência me faz rir, por que primeiro eu não danço bem, especialmente no teto, mas nem lembrei disso e só me diverti, foi uma das coisas mais divertidas que já fiz.

~~//~~

–Tchau.

Ele falou me deixando no corredor das celas.

–Felipe, passe a carta. Falei estendendo a mão.

Ele resmungou e revirou os olhos.

O sol já começava à aparecer.

–Toma. Ele falou tirando o envelope do bolso.

–Obrigada. Falei acenando e voltando para o lugar que infelizmente chamarei de lar por um tempo, o pior é que fazem apenas 24 horas que estou aqui e já se passou quase uma semana lá.

"Cara Juliette,

Não vou demorar para lhe contar o que está acontecendo. Letícia foi internada, ela teve outro desmaio, fui visita-la e o médico ainda não tem previsão de quando ela receberá alta, faz um dia já, já é um quadro de coma, acredito eu que foi pelo stress, Julie, eu realmente fiquei preocupado com ela, ela estava ficando muito nervosa, falava sobre uma explosão, eu acredito nela, quando ela fala ela fixa o olhar em uma parede e fica distante, é horrível, eu juro Julie, estou com medo, e se ela for que nem você? e se esta explosão acontecer? ela diz que temos que sair do bairro, o que eu deveria fazer? ainda estou esperando sua resposta da carta anterior, afinal a quantos dias está ai? Seu pai também está preocupado com você minha cara, Julie, eu já não sei o que inventar, sabe que não sou criativo, ah, Henrique está tão preocupado com Letícia que disse que se ajudasse me contaria o que sabe, vou falar com ele ainda.

Na escola estão preocupados com você também, inclusive aqueles meninos chatos que dizem que vão lhe fazer uma visita :P, eles acham que aconteceu o mesmo que aconteceu com a Laura, Isabella pediu para que eu lhe enviasse esse pedacinho de papel, que veio com instruções expressas para que eu não abra, essas são as grandes novidades, te amo e por enquanto imagino que está aqui.

Michael Monterrey

P.S: Não deixe o Felipe ler isso, ok?"

Tirei uma pequena folha de caderno um pouco amassada do envelope.

"Julie, onde quer que esteja, volte AGORA." Arregalei os olhos.

O que poderia estar acontecendo?

Eu não podia voltar agora.

Ou deveria?

Dormi com estes pensamentos na cabeça.

Acordei tarde no outro dia com Felipe me observando encostado na parede.

–Cara, você não consegue me deixar em paz? perguntei coçando o olho.

–Não, não preciso dormir mesmo.

Revirei os olhos.

–Felipe, eu preciso voltar.

Felipe revirou os olhos.

–Julie, você vai e volta, vai e volta - ele falou gesticulando com a mão - Assim vai ficar achando que é fácil ir e vir.

–Claro que é, meu melhor amigo pode. Falei fazendo uma careta e me levantando.

Ele resmungou algo.

–Acho melhor você não ir. Ele insistiu.

Dei de ombros.

–Sabe, meu pai... ele vai vir te visitar, precisa te ver aqui, não é só ir. Felipe falou me seguindo.

–Vai ser rápido, podemos inclusive usar a vantagem do tempo aqui ao nosso favor.

–Julie, por que quer voltar?

O encarei séria.

–Por que não iria querer voltar? perguntei.

–Lembra? meu pai te perseguiria e destruiria todo mundo? Ele falou revirando os olhos.

–Então, Felipe, vamos antes que ele note.

–Ele vai notar, Juliette.

–Nossa, é tão sério assim? perguntei já que quando me chamam de Juliette presto atenção.

Ele fez que sim.

–Já sei, você fica aqui, distraí seu pai e eu volto já.

–Mas quem iria te salvar?

–Largue seu hobby por um tempo. brinquei.

Ele revirou os olhos.

–Não consigo.

–Então precisa ir ao médico. Brinquei enquanto guardava os livros que espalhei de volta na mochila.

–Julie, não vai... Ele falou quase implorando.

–Se me der um bom motivo...

–Só não me sinto bem, sabe, não consigo, não quero te deixar sozinha.

O Fitei por um momento.

–Não vou estar sozinha.

Ele olhou para o chão.

–Vai, é tão rápido. Falei colocando a mochila nas minhas costas.

–Por quê está voltando, sério?

–Recebi uma carta de uma amiga, a Letícia foi internada, meu pai está preocupado e meu namorado está lá.

–Wow wow, espera ai. - Ele falou segurando meu braço. - que carta?

–Felipe...

–Julie, já pensou em responder minhas perguntas sem enrolação?

Revirei os olhos.

–Não é nada demais, para de se preocupar a toa.

–Fala!

–Isabella pediu para que eu voltasse.

Ele pensou um pouco.

–Ela é confiável?

Soltei meu braço.

–A conheço a mais tempo que conheço você. Respondi.

–Neste caso... Ele pegou a pedra, jogou no chão e ela quebrou em duas partes, ele pegou as duas partes e entregou metade para mim.

–Obrigada.

O abracei.

–Toma cuidado.

Revirei os olhos.

–E não demora.

–Ok. Falei.

Aterrissei na grama de casa.


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