O Livro Do Destino escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 69
Uma carta tenebrosa




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Tirei uma folha de caderno e peguei um lápis da mochila.

Ajeitei a folha e quando a ponta do lápis tocou o papel minha mão começou a escrever sozinha, eu não conseguia parar, inclusive a caligrafia não era minha. (era bonita).

"Eu odeio você, odeio você, odeio você, mas tenho que lhe amar, você não entenderá agora, mas o importante é que saiba, eu vou tentar te amar."

Olhei assustada para o papel.

–O quê? perguntei para a folha, ela nada respondeu.

Senti o controle sob minha mão voltar pra mim.

Li e reli várias vezes a mensagem.

Virei-me e passei a mão pelo ar para tentar encontrar Felipe, mas ele não estava lá, ninguém estava.

Segurei a respiração.

Pense, quem te odeia?

Amanda?

Não.

Quem mais?

–Julie!

–João!? perguntei escondendo o papel.

–Espero que me perdoe. Ele falou apoiando-se no batente.

Olhei pro chão.

–Vou te perdoar quando meu braço cicatrizar. Respondi voltando a me concentrar em outro papel.

–Já está cicatrizado.- Ele falou revirando os olhos - está cicatrizado desde que chegou aqui.

Revirei os olhos.

–João, me da um tempo. Falei levantando-me e fechando a porta.

Ele espiou pela grade.

–Afinal, tudo que você quis foi ajudar um estranho, eu quero ajuda-la de volta.

–Não posso confiar em você. Falei cruzando os braços.

–Eu sei que não vai confiar em mim, não precisa confiar, mas acho que não tem outra escolha.

–Ah, tenho sim, não lhe dar ouvidos, sua família tem o péssimo habito de se achar o centro do universo, que tudo só tem uma maneira. Falei encostada na porta.

Ele suspirou.

–A nossa família só tem um certo problema de nervos, ficamos irritados facilmente e fazemos besteiras.

–Pois eu não quero saber. Falei saindo de perto da porta.

–Como quiser. Ele respondeu e foi embora.

Sentei novamente no chão e reli outra vez a carta.

Alguém com ódio de mim...

Quem seria?

Acaba-se um mistério aparece outro.

Desviei-me de meus pensamentos e peguei novamente o lápis.

Alguém bateu na porta.

Resmunguei.

–Sua carta. Felipe falou entrando uma carta de tom amarelo velho em minhas mãos.

–O carteiro ganha algo? ele perguntou sorrindo.

Fiz que não com a cabeça e ele me seguiu até a mesa enferrujada.

–Já a leu? Perguntei.

Ele olhou pro lado por um segundo.

–Não, não a li.

Revirei os olhos.

–Ah, antes que eu abra. Sabe dizer de quem é essa caligrafia? Passei o papel para ele.

Ele leu, franziu a testa, me olhou e depois leu novamente.

–Quem lhe mandou isso?

–Não sei, escrevi isso ai sem querer.

–Não é sua letra né? essa está legível. Ele brincou.

Fingi uma careta brava.

–Sabe de quem é? repeti a pergunta.

Ele pensou um pouco e olhou pro chão.

–Er... não.

–Felipe...

Ele segurou meu braço.

–Ignore a carta. Ele falou amassando a carta com a outra mão.

–Quer mesmo fazer mistério?

–Julie, a pessoa que tem esta letra nunca escreveria isso. Ele falou soltando meu braço.

–Que pessoa? insisti.

Ele olhou pros lados.

–Vem comigo.

Corremos discretamente até o corredor enorme de quartos, paramos em um.

–Meu quarto. Ele falou apresentando uma total zona.

–Desde quando não o arruma?

Ele fingiu pensar e deu de ombros.

–O que está procurando?

–Eu tenho uma carta da pessoa que escreveu isso ai. Ele falou abrindo o armário e flutuando até a prateleira de cima de onde tirou uma caixa cheia de cartas.

–Mandaram tudo isso para você?

–Tenho muitos fãs pelo mundo. Ele falou sorrindo.

Revirei os olhos.

Depois de 10 minutos procurando ele tirou um papel qualquer da caixa.

Felipe sorriu para a folha satisfeito, depois me encarou com um olhar desafiante.

"Arthur,

Esta última carta que mando explicará os últimos acontecimentos, pelo menos o que deve saber.

Sei que vai me odiar, que vai odiar todos inclusive ela, mas eu quis que fosse assim e odiaria saber que culpará ela por isso, eu já não durmo direito à dias, não como e a morte dos meus parentes vêm me abalando, e eu sei, tenho total certeza que em breve será ela e eu me sentiria péssima por isso, não aguentaria ver minha filhinha morta, sei que é egoísta já que serão vocês que me verão morta, mas não vejo outro modo.

Talvez, assim ela não será morta, nem ela, nem você, mas não terei morrido em vão, pode ter certeza.

Não procure saber quem me persegue, não procure desvendar este suicídio, apenas me deixe e cuide dela.

Amor, Clarisse."

–Felipe, não brinca com isso. Falei tirando o papel da mão dele.

–Julie...

–Esta é a carta da minha mãe, foi a carta que ela deixou pra gente. Falei segurando as lágrimas.

–Por isso não acredito que foi ela que lhe mandou aquela mensagem.

Comparei os dois papeis, letras idênticas.

–Alguém copiou a letra dela. Falei sem pensar.

–Julie, não tem como copiarem a letra dela. Ele falou revirando os olhos.

–Claro que sim, pessoas se especializam nisso. Respondi.

Ele evitou revirar os olhos.

–Mas agora eu sei que ela foi forçada à escrever isso. Falei brava.

Felipe olhou pro chão.

–Por causa dele minha mãe morreu e meu pai me odeia, ele acha que ela morreu por minha culpa. Continuei soluçando.

Sentei numa poltrona.

–Julie, eu... sinto muito?

–Não, não precisa. Falei brincando com os dedos.

Ele suspirou e sentou do meu lado.

–Acha que foi ela que escreveu aquela carta? Perguntei secando uma lágrima com as costas da mão.

–Não sei, acho que não. Ele falou, mas era óbvio que ele não acreditava no que falava.

Apoiei minha cabeça no ombro dele.

–Trouxe a carta que te enviaram.

Olhei pro envelope.

"Felipe eu sei que você vai abrir este envelope por que você é simplesmente insuportável e xereta, então, caso o faça este papel o incriminará"

–Nem precisou de assinatura para saber que era ele. Ele falou depois que li e comecei a rir.

–O papel está te incriminando. Falei colocando-o na luz deixando todas as digitais de Felipe marcadas.

O encarei com um olhar de desafio.

Ele sorriu.

–Desculpe, Mike tem razão eu sou insuportável e xereta.

Revirei os olhos.

"Cara Juliette,

Não tenho muitas boas notícias daqui e não conto com meu modo de ver as coisas para criar teoremas, digamos que eu veja as coisas de forma prática e é isso que deixo aqui.

Quando acompanhei (na verdade fui arrastado por ela) Letícia até sua casa seu pai estava irritado pelo tempo que tinha desaparecido e passou um tempão com uma conversa entediante sobre como ele está preocupado e que "crianças da idade dela não deve sair de casa e passar dias fora sem avisar". Letícia e eu não falamos sobre seu paradeiro apesar da pressão. Ah, e se quiser saber Letícia contou para seu pai que estamos namorando ele sorriu pra mim e falou "Pelo menos é com alguém que eu conheço" Nota para o Felipe: Ele não te conhece :P."

Ri enquanto Felipe revirava os olhos.

"Letícia ficou feliz ao saber que a família dela está segura, mas realmente têm algo esquisito no ar, um certo receio me invade a mente, na escola encontrei com Sabrina e ela estava lhe procurando, tem algo muito importante para lhe falar, mas ela se recusa a falar comigo. Pensei em perguntar para alguma amiga dela, mas todas do grupo "Amanda" estão bravas comigo, acho que a Helena ficou chateada. Mas a coisa mais importante que tenho para lhe contar é a conversa que tive com o Henrique no dia que chegamos, talvez ela lhe seja útil. Eu perguntei se ele sabia como os cadáveres que encontramos no armário dele chegaram até ali, Julie, ele não lembra de nada e fica atordoado ao tocar no assunto, mas ele falou que fez outras coisas ruins, deixo para você penar sobre isso, basta-me as contas de matemática...

A última coisa que quero lhe dizer é que estou conseguindo fazer algo melhor que apenas fechar o portal, adoraria lhe falar o que é, mas não confio no Felipe que provavelmente já leu esta carta, sei que vai dar certo e que nos será muito útil.

Michael Monterrey

P.S: Quando podemos voltar?

P.P.S: Saudades.

P.P.P.S: Felipe, vê se desgruda da minha namorada."

Dobrei a carta.

–Carinha insuportável, hein? Perguntou Felipe apoiando os braços nos meus ombros.

Revirei os olhos.

–O que mais Henrique fez enquanto estava hipnotizado, ou digo, enquanto João havia se apossado o corpo dele?

Felipe pensou um pouco.

–Pergunte ao João.

–Não quero falar com ele. Respondi.

Felipe quase revirou os olhos.

–Não fique chateada com ele, ele não faria nada.

Dei de ombros.

–Você não pode dar o melhor que existe em você? perguntei de repente.

Felipe ficou surpreso por um minuto.

–Sabe, morrer de uma forma que eles vão olhar pro seu caixão e dizer "Nossa, aquele era o menos psicopata da família".

–Isso seria uma coisa boa?

–Sim.

–Prefiro morrer sendo o que sou. Ele falou dando de ombros.

–Tudo bem. Falei finalmente guardando a carta no envelope.

Felipe olhou pros dois lados.

–Melhor voltar. Ele falou guardando as cartas apressadamente na caixa e depois jogando a caixa em algum canto do quarto.

–Sei agora por que seu quarto está neste estado.

Ele fez uma careta e puxou meu braço.

–Não sei por mais quanto tempo meu braço vai aguentar ser puxado. brinquei.


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