Bad Luck escrita por Ponycat


Capítulo 2
A transformação


Notas iniciais do capítulo

Não obedecendo os conselhos da minha prima, este capitulo tem por volta de 4000 palavras XD. Mas veja bem, quando a pessoa precisa escrever, ela escreve. Enfim... Eu não gosto do meu número de reviews e nem sei para quem eu estou postando essa joça, mas eu vou postar mais rápido (um dia mais rápido a cada review). Não esqueçam de passar para as amigas :P



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/391335/chapter/2

O burburinho cessou quando o professor deu um grito de estourar os tímpanos:

–Mas o que raios é isso? – Ele grita muito alto mesmo. – O período era livre, mas não era para levar ao pé da letra. Os dois perdem automaticamente o lugar na competição dos biscoitos e os dois vão para a detenção pelo resto do período. Senhorita Larissa e Senhor James, os dois ganharam a tarde na detenção e de brinde, suspenção pelo resto do dia de aula.

Saímos os dois, sinto que James pegou em minha mão enquanto estávamos na frente de turma, mas quando fechamos a porta atrás de nós, ele a soltou rápido como um raio.

–Poxa, você que é o gênio das ideias falha logo agora? Agora você é minha namorada. Veja só o que me arrumou! –Fala James irritado.

–Sua namorada? –Eu pergunto cada vez mais assustada. O que ele queria? Me matar do coração?

–Fez bem em não querer sujar minha reputação, agora faça como tal ou arrume outro jeito de me tirar dessa. –James diz quase gritando de raiva.

–Okay, se acalme. Eu finjo por uma semana e depois você diz que terminou comigo. –Eu digo cabisbaixa, James provavelmente captou meu ar preocupado.

–Certo, mas minha namorada não usaria isso. –Ele diz apontando para o vestido florido longo até os calcanhares que eu usava. –Eu vou tentar dar uma escapada daqui. Se você quer ser minha namorada tem que saber o que usar e como agir. Vamos ao shopping, aguente ai.

James para no meio do caminho para a sala da detenção e segue na direção oposta sem mim. Eu arregalo meus olhos por que aquela não era a direção da diretoria. James estava louco?

Em menos de cinco minutos de puro tédio, Jam volta com dois passes na mão e nossas mochilas nas costas. Ele tinha a senha do meu armário? Dizia ali que estávamos doentes e precisávamos ir para casa. Então ele vira da enfermaria... Penso no jeito que ele deve ter intimidado a pobre enfermeira para ela escrever isso.

–Vamos? –Ele diz me puxando pelo braço antes que eu pudesse responder. –Afinal, o que pode dar errado?

Seguimos para a saída da escola sentindo um ar de alívio. Escapamos de detenção e tédio. Tenho que admitir que ser namorada dele deve ser divertido, afinal, ele consegue tudo o que ele quer nessa escola. É como ser primeira dama.

Jam tira algo de sua mochila, demoro um pouco para adivinhar o que era, mas de dentro de lá ele tia uma revista e abre em uma página. Parecia ser uma revista punk para garotos e era uma matéria sobre “Que tipo de garota punk é feita para namorar”. Naquela pagina havia uma garota levemente parecida comigo, ela tinha uns traços quase iguais aos meus, mas estava coberta de rímel, delineador, tinha um penteado estranho –mas bonito- e usava umas roupas da moda, mas em uma versão própria, uma versão preta ousada. Eu diria que ela tem personalidade.

–É isso que você vai ser no fim do dia. –Aponta James. Eu quase surto por dentro. Por que eu fui inventar de beijar ele? Eu não acredito que vou me tornar o que eu não sou por um amigo, eu nem tenho certeza se isso vale a amizade dele. Respiro fundo e não digo nada.

Andamos juntos até a parada de ônibus. Checando os horários no ônibus, percebo que o próximo que levava para o shopping chegava em dez minutos. Todo esse tempo para me sentir estranha ao lado de Jam.

–Tente seu melhor, você vai conseguir. –Diz James tentando me acalmar. Ele notara que eu estava nervosa e com pânico de tentar ser uma atriz?

E se James for apenas um robô que quer eu seja o que eu não sou para coletar dados sobre mim ou fazer um filme para a comunidade robô subterrânea? Okay, talvez eu tenha viajado nessa, mas eu sinto que existem segredos nessa terra que nem o mais famoso cientista poderia descobrir e um dos meus sonhos sempre foi descobrir algo assim e não contar para ninguém.

Eu começo a fazer a terapia do bata-a-sua-cabeça-na-parada-de-onibus-feita-de-metal-mil-e-quinhentas-vezes, mas James me puxa e me para como se eu fosse uma criança rebelde.

–Nem venha! Não vai estragar a cabeça antes de ir para o salão. Eu preciso de você inteira essa semana. –Diz Jam me jogando no assento ao lado da parada. Eu bufo como um verdadeira mimada e faço um bico. –Está parecendo papagaio com dor de dente. –Aponta James.

Eu espero o ônibus roendo as unhas. É nojento sim, mas eu não podia bater minha cabeça no metal e meu anel anti-stress –sabe aquele que gira? - ficou no banheiro quando o tirei para tomar banho. Eu respiro fundo e sinto minha mão ser afastada da minha boca.

–Para de se estragar! Caramba, você vai na manicure sem unhas? –Diz Jam me olhando feio como se eu fosse um tipo de aberração. Eu já estava ficando irritada e estava quase desistindo de ser a “namorada” deste garoto exigente.

–Talvez não valha a pena ser sua namorada. –Eu anunciei me levantando do banco.

Comecei a andar de um lado para o outro como uma aranha tonta para pensar. Quem passa na rua diz que eu sou doida, mas eu não ligo. Terapia ocupacional funciona.

–Não é minha culpa se você é uma criatura hiperativa! –Diz James com um sorriso malvado no rosto.

Ele se levanta e pega o dinheiro. Eu vira que o ônibus chegou, mas James fez questão de me arrastar até ele. Ele tem que parar com esse tratamento de homem das cavernas.

–Ai! Seu grosso! –Eu reclamo.

Eu me solto dele e entro sozinha entregando o dinheiro ao cobrador. Eu passo com uma expressão de vitória e me sento do lado de um Japonês esquisito para Jam não sentar comigo. Eu precisava de umas férias dele.

–Anata wa, kono basho o nokosu koto ga dekimasu? (N/A Eu usei google tradutor, podem me matar agora) –Fala James. Eu não sei o que ele disse, mas o homem assentiu com a cabeça e saiu do meu lado. James sentou com um sorriso triunfante.

Ele falava japonês? Morri. Não acredito que esse acéfalo era bilíngue. Talvez seja a hora de descobrir mais sobre ele mesmo, afinal, eu estava designada a ele de qualquer forma. E fica subentendido de que ele queria se mostrar, afinal, um japonês em Chicago com certeza fala inglês.

–Gostou do charme gata? –Ele pergunta levantando as sobrancelhas coo um verdadeiro idiota. Poxa, no começo do dia eu até gostava dele. Agora esse “favor” que eu vou fazer é mais por mim do que por ele, vai que ele me faz ser expulsa.

Reviro os olhos e reparo na paisagem na janela fora do ônibus. Chicago nunca foi meu lugar favorito, mas é um bom lugar para se viver se está pronto para lidar com o clima de cidade grande. Claro que tem seus crimes, roubos, furtos, assassinatos, mortes, doenças, problemas, corrupção, prostituição... Mas que lugar não tem isso hoje em dia?

–Lari, você está estranha. – Reclama Jam.- Você mal olha para mim, ei... Olha para mim! –Pede Jam com uma voz melosa.

–Olha que bonitinho o casalzinho... –Diz uma senhora velha. Deveria ter uns 70 anos de vida e é tão velha que nem tem mais vida e deve ficar cuidando da vida dos outros. Eu não quero ser uma velha assim, eu espero morrer antes do meu marido para ainda ter o que fazer e uma razão para viver... Se é que vou me casar um dia.

–Sim, ela é minha namorada. Linda, não? –Aponta James. Parece que o sangue do meu corpo inteiro foi para minhas bochechas. Eu abaixo a cabeça esperando esconder meu rosto corado. – O que houve? Lari?

–Nada, me deixa. –Eu digo com a cara enfiada no meu próprio colo. Acho que quem visse acharia que estou chorando. – Eu estou Okay...

–Levanta a cabeça. –Pede Jam. –Vai, levanta. Levanta. Levanta... –James continuou repetindo “levanta”, então não pude recusar e levantei a cara.

–Feliz agora? – Falo em um tom mal humorado.

James me encara por alguns segundos e fica ali me observando. Quando as coisas começam a ficar estranhas de tanto ele me olhar, ele começa a rir e eu abaixo a cabeça de novo.

–Cara, você ficou corada! –Ele diz ainda gargalhando. Eu espero que ele ria tanto que perca a respiração e caia duro no chão agora. Meu rosto esquenta mais, mas ele esquenta de raiva.

Eu levanto a cabeça e percebo que o ônibus já havia se passado um tempo e não chegara no shopping. Talvez esteja tendo engarrafamento, ou o motorista está testando o modo-lesma do ônibus. Não sei direito, mas do jeito que já fiz isso de pegar o ônibus e ir para o shopping, algo tinha.

Entro em modo alerta. Jam parece assustado com isso, afinal, meus olhos pareciam com os dele agora. Eu enfio a mão no bolso de James e ele se assusta. Tiro de lá o Iphone 5 maldito dele e abro o modo GPS. Estávamos a quase 20 quilômetros do shopping. Olho para cima e vejo o número do ônibus. Era o 403. Era para termos pego o 501.

–CARAMBA JAMES! –Eu grito descontrolada. –Você só me mete em roubada mesmo! Pegamos o ônibus errado.

–Como assim? Esse é o 501... –James diz levemente perdendo a voz enquanto lê a placa escrita 403 logo acima dos nossos assentos. –Droga, Larissa! O que a gente faz?

–Descer antes que cheguemos no meio do nada parece uma ótima ideia. –Eu digo recuperando a calma. Não estávamos perdidos ainda.

Aperto o botão do ônibus para ele parar e aguardo com uma cara de tacho. James é muito idiota mesmo. Me arrasta para o ônibus errado, e ainda faz essa cara de santinho. O problema ia ser para pegarmos o ônibus em um lugar que não conhecemos bem, o centro da cidade.

Descemos com calma. Todos os passageiros no olhavam por causa da minha gritaria. Talvez estivessem pensando: “Que pena deste garoto que tem essa namorada chata.” Mas eles não sabem nem da metade.

A parada havia os horários e os ônibus que realmente levavam para o shopping, mas não sei se ainda daria tanto tempo de irmos.

–Ainda vamos para o shopping? –Pergunto inocentemente.

–Claro que sim. Não tem problema de você chegar atrasada em casa, tem? –Pergunta James com uma cara de cachorrinho que caiu da mudança.

–Mas é claro que tem. Eu vou só ligar aqui que o problema desaparece... –Eu disse procurando o celular no bolso. Não estava ali. Lembrei que havia deixado na mochila e a vasculhei de cima a baixo. Nada do celular. Eu paralisei e um certo pânico veio em mim, eu tinha um celular ali sempre que eu precisava, agora ele não está mais ali. Ficou na droga do armario. –Ele não está aqui!

–Nossa, não é um grande problema. –Jam diz estendendo o Iphone 5 dele.

Eu pego o Iphone e tento ligar apertando no botão de lado. O telefone nem dava sinal de vida. Eu apertei em todos botões do lado esperando que ele ligasse, mas percebi muito tarde que ele não tinha bateria. Deve ter acabado na hora que eu abri o GPS.

–James, eu acho que agora virou um problema. –Eu digo cabisbaixa.

–Tudo bem, eu te levo para casa... De busão. –Diz Jam com um sorrisinho malvado. Eu não gostava daquele sorriso.

– Obrigada. Amanhã depois da aula a gente vai no shopping? –Eu pergunto levantando a cabeça. Ainda com medo do sorriso, mas aliviada por James parecer tão generoso ao ponto de deixar o egoísmo dele de lado para eu não entrar em encrenca.

James não responde e senta na parada. James aponta o lado do banquinho e faz um sinal para que eu sente. Não parecia certo, mas eu sento com medo dele, afinal, uma pessoa com uma cara tão malvada assim não merece confiança. James é como um gato traiçoeiro que fica na espreita pra atacar.

Um ônibus chega e o sorriso de James aumenta. Eu apenas fico mais desconfiada, mas não parece ser o ônibus errado porque estava no horário do nosso ônibus se estivéssemos na frente da escola. Sim, eu seu tudo sobre o horário de ônibus da parada da frente da escola, problema?

Entramos no ônibus, e James me puxa para o fundão. Eu não tenho reação, ele é muito forte. Nunca vi a barriga dele, mas com certeza tinha tanquinho.

O ônibus parte e a gente está sentado.

–Ei! Aquela é a Liana? –Pergunta Jam no meu ouvido apontando para uma garota. Mas é claro que era a Liana. Me pergunto o que raios ela queria aqui. –Rápido! Deita no meu ombro.

Eu me apresso a deitar no ombro dele e tento ao máximo fazer uma cara de quem gostava disso. O mundo estava de cabeça para baixo. Muitas garotas diriam que não está, afinal eu estava deitada no ombro do garoto mais popular da escola, eu aposto que todas as meninas queria estar no meu lugar, mas não é assim que a banda toca. Eu já jurei que nunca ia amar ninguém, só a mim mesma.

Liana não parece ter nos ver, mas eu já estou caindo no sono. Quem diria que o ombro dele é tão confortável? Meus olhos já estão se fechando e de repente... Minha cabeça escorrega.

–Lari? –Fala James assustado. Eu estava de cara no colo dele! No COLO dele. Sabe o que fica no COLO dele? NO MEIO DAS PERNAS DELE TEM COISAS.

–AAAHH!– Eu grito assustada. Em primeiro lugar por que eu fui acordada bruscamente e em segundo lugar, eu estava com a cara bem no você-sabe-o-que dele e isso não é para uma menina direita como eu.

Todos no ônibus decidem rir de mim, mas por sorte, James disse que já havíamos chegado perto da minha rua e que teríamos que andar uns dois quarteirões. Não presto atenção em nada, a raiva consegue cegar qualquer um. Eu apenas pego a mão de James e sou guiada até a porta, onde saímos juntos.

Depois de parar de ouvir as risadas, as coisas melhoram. Mas ela pioram de novo quando vejo que a paisagem que está na minha frente não é o meu santo bairrinho e sim o shopping.

–James seu egoísta mal caráter! Mentiroso de uma figa! –Eu grito batendo o pé descontrolada.

–Calma. Eu preciso da namorada perfeita para ontem, Lari. Só vamos descansar quando esse shopping fechar. –James fala me segurando como uma louca.

Eu tento me acalmar porque surtar nunca deu em nada. Eu apenas vou entrar nesse shopping, tentar me divertir me fantasiando de punk ao quadrado e vou voltar para casa com uma explicação muito boa que não existe.

–Você só me mete em roubada mesmo, né? –Eu digo pausadamente respirando fundo.

1... 2... 3... 4... 5... 6... 7... 8... 9... 10... Eu vou continuar contando no pensamento até me sentir melhor. Mas não é como se eu tivesse mais unhas parar roer, ou anéis para girar. Plástico bolha até que funciona, mas o melhor é o anel.

James me arrasta até a porta do shopping. Eram duas horas da tarde e não tínhamos almoçado, meu estomago estava cantando “meu lanchinho” de trás para frente de tanta fome.

–Vamos passar na praça de alimentação? –Eu pergunto fazendo bico.

–Depois comemos, não temos tempo a perder. Go Go Go!!! –Fala James tentando dar apoio moral. Não era ele que iria se ferrar de qualquer forma. – Aquela loja! The Freak Fray!

James mal entrara no shopping, e já estava me arrastando para um aloja com nome estranho. Ele aponta para as roupas e eu só consigo torcer a cara.

–Vamos levar... Essa jaqueta, esses dois shorts, essas blusas aqui, esse vestido, todos esses snickers, all stars e esses cano longos aqui... Todos no seu tamanho. –Aponta James. A gente mal entrara e ele já havia escolhido tudo como uma garota. Patético.

–Eu não vou nem experimentar? –Eu pergunto achando isso absurdo.

–Não precisa. Quais são seus tamanhos? –Pergunta James.

–Eu calço 8, minha cintura para calças e shorts é 2 e minhas blusas normalmente são M. –Respondo em um tom entediado.

–Okay, é tudo para mandar para o endereço dela. –James diz para a atendente apontando para mim. Ele anota meu endereço e a entrega. –Vamos nessa?

–Acabamos? –Eu pergunto aliviada.

–Hahahaha! Pare de se fazer de boba. Temos outras lojas para olhar, tem o salão do shopping onde você vai pôr unhas postiças e vai pintar o cabelo. Além disso, temos que te comprar maquiagem e você tem que aprender a usar ainda hoje. –James diz como se fosse obvio.

Eu penso que se vou esperar isso tudo para comer, eu vou morrer de fome.

James continua me arrastando, e decide parar em uma loja. E de loja em loja ele fica passando e comprando umas cinco, oito, ou dez peças de roupa, mas nem todas as lojas tem entrega a domicílio então estamos com sacolas até as tripas.

–Podemos comer agora? –Eu pergunto.

–Nem venha. Você pensa que eu gosto disso? É culpa sua. Você cavou sua cova. –Ele responde mal humorado. Parecia mesmo que ele gostava de comprar, mas eu não digo nada.

Não sei de onde ele tira dinheiro para ficar comprando roupa para menina, que eu saiba diretores não são ricos assim.

–A melhor parte, a hora que a gente vai no salão. Está pronta para não se reconhecer? -pergunta Jam com um tom de suspense.

Entramos no salão e uma mulher ruiva, cheia de piercings com tatuagens por todo o corpo nos atende com um sorriso. Aqui eles faziam tatuagem e ainda colocavam piercings ou ela gosta de ser assim?

Ela me guia até uma cadeira. Eu me sento na cadeira e relaxo. Me sinto uma boneca quando ela lava meus cabelos e enxagua com delicadeza.

–Todas as cores que eu ditei! –Grita James. Nem ouvi o que ele disse para a mulher. Se tem algo que eu não me importo muito é o estilo do meu cabelo. Ele aparenta sair daqui, mas eu nem liguei. Como é bom ter o cabelo lavado por alguém.

A mulher pega a tesoura e corta as pontinhas delicadamente. Eu mal olho no espelho, mas quando olho não vejo nenhuma diferença. Ela pega uns potinhos e derrama o conteúdo de outros frasquinhos que estavam e caixinhas. Ela parece fazer uma mistura louca de cores nos potinhos. E depois ela coloca tudo na minha cabeleira loira. Nas pontas ela colocou um, no meio outro, mais para cima outro e no topo da cabeça outro. Eu tenho a leve impressão de que vou parecer uma arara no fim disso.

–Moça, o que é isso? Tintura? –Eu pergunto.

–Seu namorado pediu para te dizer só no final, ele é bem romântico, né? Eu vi que ele tinha milhões de sacos, todos de presente para você. Que fofo! Faltam garotos assim nessa minha vida. –A mulher fala, mas percebo que ela é jovem quando ela fala “garotos” e não “homens”.

Sorrio e a deixo continuar trabalhar. Quanto mais cedo ela terminar, mais cedo eu vou mergulhar em um copo de refrigerante com um hambúrguer engordativo entre os meus dedos.

Uma mulher aparece e começa a passar maquiagem na minha cara. Eu tusso quando ela joga um pó na minha cara. Isso estava no script? James não me falou sobre maquiadoras, ele disse que ia apenas me comprar maquiagem.

–O que é isso? –Eu pergunto assustada. Não é todo dia que você está no salão virando uma arara e uma mulher psicopata joga pó na sua cara.

–Seu namorado disse para eu passar maquiagem em você. Ele deixou um recado. –A mulher diz. Ela tinha o perfil de patricinha burra e fazia tudo às pressas. Ela simplesmente tacava as coisas na minha cara com a delicadeza de um velociraptor.

–Que recado? –Eu pergunto me rendendo e a deixando tacar as coisas na minha cara.

–Ele disse que era para você se virar passando maquiagem aqui mesmo. Ele disse que estava com fome e foi comer. –A mulher disse como se fosse comum.

–O QUE? ELE ME DEIXOU AQUI NAS MAOS DE VOCES SOZINHA E FOI COMER? –Eu pergunto gritando. Todas as peruas que cortam o cabelo direcionaram o olhar para mim.

–Calma, menina. –Ela diz. –Ele disse que ninguém vai te ensinar a passar maquiagem e é sua culpa. Se você não tivesse essa frescura de comer ele não iria estar fazendo isso. Você quer impressionar ele? Para de comer por uns dias. Você fica magrinha. É sério! – A loira disse. Coitado do namorado dessa menina, não deve ter nem onde pegar. Ela é anoréxica com orgulho pelo jeito.

Eu deixo elas continuarem o trabalho delas. Se eu abrisse a boca de novo era capaz de ouvir outra besteira dessas como resposta. Cara, quem em sã consciência fala isso para alguém? Fico por lá deixando a ruiva puxar meu cabelo e a loira passar coisas melecadas na minha cara.

Passa-se mais ou menos uma hora de tédio comigo sentada ali. Era ruim, chato irritante, mas o pior deve ser no fim. A loira sai e vai às pressas atender outra mulher que parecia impaciente.

–Terminei! –Diz a ruiva tatuada. Ela ama o que faz pelo jeito.

A moça larga o secador e vira minha cadeira para o espelho. A pessoa que eu via não era eu. Uma garota com olhos penetrantes, lábios beijáveis, cabelo sedoso com várias cores. Para dizer que ela era confiante, apenas faltava um sorriso.

Eu movo meu lábio e ela move também. Talvez eu seja ela. Eu sorrio, mas ao mesmo tempo estou aterrorizada. Será que mudar assim é bom? O que meus pais vão dizer quando eu chegar com essa cara de punk? Meus olhos delineados com uma cor tão forte que é o preto pareciam dizer: “Quem liga?”. Mas minhas mãos tremendo diziam outras coisas. Eles não vão gostar de ter uma arara em casa. Vão?

–Meu Deus! –Diz James entrando no salão. –Casa comigo?

–Vamos comer. –Eu digo em resposta. Eu estava linda de um jeito estranho, mas eu ainda era humana por mais que não parecesse. Eu preciso de comida.

–Hum, mas eu já comi. –Ele diz maleficamente. –Vamos, eu te levo na praça se você fizer mais uma coisinha para mim...

–Qualquer coisa. –Eu digo desesperadamente. Olha o que a fome faz.

–Vai ter que trocar de roupa. –Ele diz. – Moças, por algum acaso aqui teria um lugar para a minha dama se trocar?

–Sua dama? –Eu pergunto o encarando. Eu acabara de tentar imitar os seus olhos de laser.

–Esse é o espirito! –Ele me congratula. –Mas não tente me imitar de novo.

–Temos uma cabine ali atrás, ela pode fazer isso enquanto o senhor paga a conta do salão. –Pede a mulher. Nunca vi tanto desespero para que ele pague a conta. O que ela acha? Que ele vai me levar feito uma arara sem pagar?

Eu pego as sacolas e me arrasto –quase literalmente- para a parte de trás onde aparentavam ficar os funcionários. Eles tinham umas cabines, provavelmente o lugar onde vestiam os uniformes pra atender os clientes.

Dentro da cabine era pequeno, era um ovo de tão apertado. Não quero demorar, preciso sair antes que eu crie claustrofobia adquirida. Pego um saco com uns shorts pretos e pego uma blusa decotada mesmo com um monte de caveiras e cato em outra sacola um par de all star cano longo. A sorte escolheu porque apenas escolhi os sacos sem ver o que tinha dentro. O engraçado de usar essas coisas pretas é que tudo combina muito fácil.

Não tinha espelho, então eu não tenho ideia de como estou. Esse era o fim da transformação.

Caminho para o salão de volta com todas as sacolas na mão. E apenas escuto o barulho dos queixos caindo. Será que eu vesti tudo ao contrário? Talvez eu esteja tão irreconhecível que as pessoas fiquem surpresas. Eu chego perto de James e falo:

–Vamos comer?

–C-claro... –Ele gagueja ao me responder. –Você está perfeita.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu estou com pressa, por isso nao coloquei as falas em italico. Desculpa :c

Eu quero reviews, please? Queria saber o que passa na cabeça de voces :/