Depois daquilo, Lúcio disse que teria de ir embora, e eu concordei. O meu apartamento, voltara a ser o silêncio de antes. Sabe, eu não reconhecia meu irmão com todas aquelas tatuagens. Ele só tinha uma antes de morrer, era uma rosa azul, que ele tinha tatuada em suas costas inteiras em homenagem à Helen. Acho que eu deveria falar mais sobre a Helen. Ela era uma loira, muito bonita, tinha uns olhos grandes verdes que ela cismava de esconder com umas lentes roxas. Ela realmente gostava do meu irmão. Eles se conheceram por minha causa pois eu estava ficando com a irmã dela, Fernanda. Isso foi quando eu tinha 12 anos, eu e Fernanda éramos namoradinhos, e quando eu saí com ela, pedi para meu irmão vir junto, mas escondido (nem me lembro do porque) e aí, eu não sabia, mas Fernanda tinha pedido o mesmo pra irmã dela, que sem querer, sentou do lado do meu irmão. Eles se pareciam em muitas coisas, os dois gostavam de rock pesado, os dois tinham o sonho de fazer bungee jumping no Grand Canyon, e os dois eram estranhos, encrenqueiros, punks.

O dia da morte de Lúcio foi o mesmo dia de morte dela. Porque? Porque eles saíam de uma festa, já disse isso, e Helen vinha no carro de trás, e quando viu o carro de Lúcio cair no rio, ela se jogou também, e a correnteza levou os dois. O corpo de meu irmão não foi achado, mas o de Helen sim. E sei disso porque havia mais gente no carro que contou essa mesma história. Mas só eles morreram. Eles tinham dezoito anos, e já tinham feito muitas coisas juntos. Já tinham fugido de casa juntos, viajado juntos, e acho que eles perderam a virgindade juntos, nunca vou saber mas não faço questão. Eu sei que meu irmão realmente amava a Helen, e não queria mais saber de ninguém, só dela. E acho que é somente disso, que ele sente falta na vida, a Helen. Parece meio dramático e meloso, mas... Eu não sei. Quando ele soube que ela morreu assim, ele tentou procurá-la, mas ela já tinha entrado no setor mais populoso, e a Morte é obrigado a esquecer. O pior disso tudo, é saber que por mais que ele queira, ele não consegue sentir mais nada.

Proteu sobe em cima do sofá e faz aquela cara de coitado pra mim, jogo a bolinha no corredor e ouço ele batendo em algum lugar. O telefone toca, jogo as cobertas pro lado:

—Alô? - eu disse.

—Jacob!

—Ham... Sim?

—Nicole!

Nicole, para que você saiba, é minha "amiga colorida" acho que é assim que se fala.

—Oi, Nicole!

—Demorou, hein? Lesado como sempre! Mas... Hoje vai rolar uma social na casa do Brandon! Tá a fim?

Nicole mais que uma amiga colorida, é minha amiga de infância, e eu gosto muito dela. Mas as vezes... Eu sinto que ela quer que a gente se torne mais que só "amigos coloridos". E o foda, é que eu não gosto dela mais que isso. E eu me sinto mal, ela é uma garota incrível.

—Valeu, mas você sabe que eu não curto muito um bando de adolescentes fingindo serem adultos, bebendo até cair, só porque acham isso foda. - bom, com isso, você pode achar que eu sou um bom menino, um cara politicamente correto, um idiota, um quadrado (que expressão velha!) ou, realista. Mas todo mundo que me conhece gosta de me chamar de "Hater". Você já deve ter uma ideia do porquê.

—Você tem que ser mais social, Hater! - ela sempre ri, dizendo isso, e eu não posso evitar de rir também.

—Olha, eu vou, ms só porque tô sabendo que os novos alunos vão também, afinal, é o primeiro encontro da turma de 2013!

—Boa! Vai se arrumando, que meu irmão liberou a moto!

É, Nicole é mais velha que eu, tem 16 ou seja, pode dirigir. E eu não. Shit.

Vesti uma roupa mais apresentável, só uma camisa preta, uns jeans normais e uma jaqueta que fora uma vez, de Lúcio. Acho que eu deveria dizer a verdade sobre eu não gostar de andar em lugares com muita gente. Você se lembra que eu disse que meu irmão é a Morte? E que eu falo com ele? Bom, mais uma coisa que você precisa saber: a Morte, é a última coisa que você vai ver. Ele só não me leva, por uma questão de corrupção, a qual, eu sou totalmente a favor. Mas eu já perdi umas 8 namoradas por causa dele, e 1 amigo. Eu peguei trauma disso. Eu tento conversar com ele, mas ele não entende. Por isso, as pessoas me acham meio emo, anti-social e me chama de Hater. Dizem que eu devia ser vlogueiro, para criticar todo mundo e ser o estranho que eu sou pro resto do globo. Nunca tetei ser vlogueiro.

Nicole buzinou, e eu a vejo lá embaixo (eu moro no 6º andar) e desço. Dou um tchauzinho para os meus cachorros, e eles fazem uma cara de triste.

—Oioi! - ela diz me dando o capacete.

—E aí? Vamos?

—Vamos. - e deu a partida.

Vou ser sincero, eu não exatamente gosto de estar na garupa. Me julgue, mas eu ia gostar muito mais se fosse ela me agarrando. Aliás, eu fiquei pensando... Será que algum homem já ficou de pau duro atrás de uma mulher, na garupa da moto? Sei lá, eu só torci para não ser o primeiro.