Minha Rosa De Tinta escrita por Ganimedes


Capítulo 6
VI • Luz


Notas iniciais do capítulo

Olá amores de mi vida. Esse é o último capítulo dessa fic excepcionalmente curta, mas que me deu muuito prazer de escrever. A inspiração me veio através dessa música http://www.youtube.com/watch?v=rEkN5Lk0pcw, e a história tem muitas referências a ela. Obrigado a todos que acompanharam e em especial aos dois fofos que comentaram, Joseph Lawrence e Victória L, voces são uns lindos. Espero que gostem desse final e se preparem porque a verdadeira continuação de Fire vai chegar em breve, estou muito ansiso. To enrolando demais, podem ler agora ♥



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Nosso grupo se aproxima da saída de trás da fazenda. Nosso guia, o mesmo do dia que chegamos na Ilha, está vestido de dançarina havaiana e praticamente está todo mundo rindo dele pelas costas. Ele está animado, contando sobre o Luau, que acontecia há vários anos na Ilha.

– Fiquem perto de mim, estamos chegando ao começo da trilha.

Nos aproximamos nesse momento de um vão no muro que cerca a propriedade. Dois archotes estão pendurados, cada um, no topo de um poste de madeira. Não se pode dizer que eles não capricharam na ambientação.

Apesar de tudo isso ser muito legal, deve estar muito (literalmente) na cara que não estou me sentindo bem. O menino que conheci apenas três dias atrás deixou uma ferida no meu coração que nunca vai cicatrizar. E ainda mais fui traído. Belas férias.

Fico perto de meus amigos quando adentramos na trilha no meio da floresta. A mata é muito densa, e a única luminosidade vem da tocha que nosso guia carrega. Mas apesar disso, a Lua cheia faz com que a escuridão não seja tão profunda.

Caminhamos pouco mais de quinze minutos pela passarela de madeira até que chegamos à areia fina e fofa. Estamos na praia do Luau.

Mesmo no meu estado, prendo um suspiro, pois a decoração está maravilhosa. Várias mesas com cobertura de palha e muitos archotes por todos os lados. Um palco foi montado de costas para a floresta, e vejo o pessoal montando os equipamentos e as caixas de som. Todos meus colegas se espalham, cada um com seu grupo, para explorar a festa.

O vento do mar está calmo e fresco, trazendo o cheiro surpreendentemente agradável de água salgada até nós. Sento-me em uma das mesas com meus amigos e dou um gole num drink, que me parece sem gosto, mas tenho certeza que está uma delícia. Pelo menos pra quem se sente feliz.

Me odeio por não estar aproveitando a festa.

– Cara, vamos aproveitar que próxima semana já tem aula! Vamos dançar com as gatas! – Diz Mateus, pondo um colar de flores e correndo pra o grupo de meninas.

Observo-o e dou um sorriso. Minha expressão se desfaz assim que vejo que Ju está no grupo, olhando pra mim com olhos de zombaria. Viro o rosto.

O DJ põe umas músicas animadas, como remixes de Lady Gaga, Britney Spears e outras cantoras da moda. Em qualquer outra ocasião eu já estaria me juntando a todo mundo na boate, mas... quer saber? Não vou deixar esse momento passar. Mesmo com o coração doendo, me levanto e vou dançar.

A noite deixa os rostos velados, apenas iluminados pelas luzes coloridas dos holofotes de festa. O DJ sabe mesmo como animar, pois até eu já estou pulando. Sei que estou fazendo isso pra deixar outros pensamentos de lado, e acabo bebendo demais. Acima do que devia.

Em certo momento vejo Ju dançando. Como odeio seu jeito egoísta, seu corpo magrelo e seu cabelo enjoativamente loiro. O álcool toma as atitudes por mim e vou até ela, gritando.

E então, Justiniana, pretende voltar pra casa ou ficar por aqui mesmo com o Betão?

Seu rosto fica escandalizado, e várias pessoas olham pra ver o que está acontecendo.

Cale sua boca seu broxa! Não sabe satisfazer uma mulher, agora teve que arcar com as consequências, me desculpa querido.

Minha visão fica enevoada e não deixo sem resposta.

– Não sei se você sabe, mas homens broxam quando uma mulher não é boa o suficiente pra ele, e o tipo de mulher que eu gosto são as PRINCESAS e não os DRAGÕES.

Todos os meninos gritam em meu apoio, e vejo todas as amigas de Ju rindo. Nunca pensei em armar barraco na minha vida.

Cale sua boca seu mariquinha! – Ela avança em mim para cravar as unhas em meu rosto e me desvio. As amigas dela tentam segurá-la, mas ela é mais forte.

E se quer saber, eu vou é ficar por aqui mesmo! – Nesse momento ela faz algo que realmente me surpreende. Arranca a blusa e deixa a parte de cima toda descoberta. Os meninos assobiam. – Betão, meu gostoso, me espere! – E sai correndo em direção à trilha de madeira, balançando os braços acima da cabeça e gritando como uma louca.

Todos estão chocadíssimos, mas todo mundo grita e a festa continua ainda mais animada, inflamada pela briga. Não continua pra mim, pois pontos pretos surgem na minha visão e desmaio.

Acordo repentinamente, sem lembrar onde estou. Estou deitado no palco, com um pano embaixo de mim. Ai... a festa. Olho em meu relógio e vejo que já são três horas da manhã. Como o navio ia partir às oito, acho que estão todos aproveitando pra descansar, pois não há mais ninguém ali.

Olho para a parte das mesas, agora quase todas desmontadas, e não vejo ninguém. Onde foram parar todos?

E então eu o vejo. Vindo da direção do mar. Meus olhos não absorvem a imagem, e passo a mão neles pra ter certeza do que estou vendo.

Heitor vem andando, pela areia da praia, em minha direção. Sua face exibe um esplendoroso sorriso, e eu acho que nunca vi nada mais lindo do que isso. Ele está vestido com uma blusa de manga longa branca, muito bonita, e calças jeans. Está descalço.

Me levanto e desço do palco, sem desviar meus olhos dele. Tenho medo de perdê-lo novamente se tirar meus olhos dele. Nós caminhamos um até o outro, e ele está tão feliz que não consigo evitar não ficar também. Vejo seus olhos pretos, seus cabelos da mesma cor, lisos e sendo bagunçados pelo vento. Ele é tão real.

– H-Heitor. – Digo, quando estamos a menos de um passo um do outro.

Ele dá um sorriso maior ainda quando digo seu nome, e nesse momento sei que não posso evitar. Eu o amo, de alguma forma muito estranha, de uma forma que eu nunca pensei ser possível. Mas o amo.

Dou o último passo e abraço-o. Ele é tão quente, tão vivo. Passo meus dedos entre seus cabelos, são tão macios. Ao encostar minha cabeça neles, sinto um cheiro que me lembra... rosas.

Ele olha pra mim, e encosta sua cabeça em meu peito. Isso é tão novo pra mim, mas não acho estranho um homem fazer isso, e aconchego minha face ao lado da dele.

Então acontece uma coisa estranha. O equipamento de som do DJ, que estivera desligado durante todo esse tempo, dá um chiado e começa a tocar uma música. Não é nem de perto o tipo de música que ele estava tocando algumas horas atrás. Ele toca uma valsa.

O som de violinos enche meus ouvidos. Eu nunca gostei de música clássica, mas ela me soa estranhamente familiar, e agradável.

Não me dou conta de quando começamos a dançar lentamente, abraçados um ao outro, apenas sentindo o toque, sabendo que estamos ali juntos. Não saímos efetivamente do lugar, mas é como se eu estivesse conduzindo-o numa valsa, e estamos apenas balançando vagarosamente.

– Eu estive esperando pra conhecê-lo. – Ele me diz, e ouço novamente sua voz linda.

– Eu... por que isso tudo? Quem é você de verdade? – Pergunto, e sinto que uma lágrima está prestes a deixar meus olhos.

Ele a enxuga com o polegar, passando a mão delicadamente pelo meu rosto.

– Um dia você vai saber. – Ele diz, e eu espero algo mais. – Eu vou precisar muito de você. Lembre de mim, por favor.

– Eu vou lembrar. – Eu digo, tentando consolá-lo. – Me dê um sinal.

Ele se afasta do meu peito e tira uma coisa do bolso, uma rosa branca. Ele entrega-a a mim.

Finalmente não posso mais aguentar, sei que vou perdê-lo, e faço algo que nunca pensei fazer em toda minha vida. Toco minha mão em sua face a trago-a até a minha, unindo nossos lábios num beijo.

É a melhor coisa que já aconteceu em toda minha vida. Seu beijo é quente e doce, gentil. Ele me abraça pela cintura e ficamos ali, durante um tempo que não sei dizer, abraçados, aproveitando a existência um do outro.

Acordo no dia seguinte, deitado sobre um pano em cima do palco. Minha cabeça dói horrivelmente por causa da ressaca e olho ao redor. O Sol já está nascendo. Não há ninguém em nenhum lugar da praia. Todos estão se arrumando pra ir embora.

Heitor... Procuro vestígios do que aconteceu, como o CD dos equipamentos do DJ, mas lá não há nenhuma valsa. Sinto vontade de chorar, mas me controlo e saio dali, indo em direção à trilha e voltando para a casa.

Depois de quinze minutos de turbulenta caminhada, chego à propriedade e, finalmente, ao meu quarto. Meus amigos me perguntam se tive uma boa noite de sono, curtindo uma com a minha cara, pois estou com olheiras enormes. Tomo um banho e arrumo minhas malas logo em seguida. Dou uma última olhada no quarto e me despeço dali mentalmente.

As despedidas são barulhentas, desde a cozinheira até nosso guia, queremos dar tchau a todos. Passo rapidamente pelo haras, e vejo Ju montada num cavalo, toda empinada e acompanhada de lado pelo Betão. Eles parecem felizes, e imagino quantas horas a mãe de Ju ficará em coma quando descobrir o que a filha fez.

Finalmente saímos dali e seguimos pela mesma trilha do primeiro dia. Repasso tudo que aconteceu nesses dias. Eu não fazia a mínima ideia disso quando cheguei, e sei que vou lembrar-me dessa viagem pelo resto da minha vida.

Sem mais delongas, estamos todos de volta no barco. Não me junto ás conversas, pois quero ficar sozinho. Olho do convés para a mata densa da Ilha, para o pontinho rosa no centro dela, a casa, e para a praia onde ocorreu o Luau ontem à noite. A imagem de Heitor me vem à cabeça e uma dúvida surge na minha mente. Vou correndo até o local onde guardam nossas bagagens, e acho a minha. Abro-a desesperado e reviro tudo que tem dentro. A minha camisa do Luau, tenho que achá-la. Alguns segundos de procura depois a encontro, ainda meio suja de areia. Vasculho os bolsos e meus dedos envolvem algo macio. Tiro o objeto de lá de dentro e acaricio as pétalas da rosa branca. Levo-a ao meu nariz e sinto seu cheiro.

Volto para o convés, e o navio está partindo, deixando a Ilha Morena pra trás, deixando-a no passado.


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