Minha Rosa De Tinta escrita por Ganimedes


Capítulo 2
II • Rosas


Notas iniciais do capítulo

Helloooooo amores, aqui está o segundo capítulo. Brigadinho ao srto. Joseph Lawrence que deu o ar da graça e comentou lindamente no primeiro capítulo, sigam o exemplo coisas lindassss. Boa leitura.



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Abro a porta do meu quarto, que irei dividir com outros três amigos meus. O espaço é amplo e possui quatro camas de solteiro, com uma janela enorme com vista para a paisagem da ilha. Sento-me na cama e desfaço minha bagagem, pensando no almoço, e me perguntando ainda sobre o menino estranho de lá de baixo. Menino esquisito, deve ter medo de pessoas civilizadas, porque esse povo dessa Ilha deve ser extremamente caipira, só pode ser isso. Sou o primeiro a usar o banheiro e tomo um banho rápido, apenas pra descer logo e almoçar.

Ao andar pelos corredores barulhentos por causa dos novos visitantes, vejo Ju com seu grupinho usual de amigas. Percebo que ela se arrumou extremamente rápido em relação ao habitual, pois já está com uma roupa diferente, mas não menos chamativa. Enquanto ando pelo corredor em sua direção, vejo ela chamar uma das empregadas e passar o dedo sobre um dos jarros de plantas, e mostrar o dedo, provavelmente sujo de poeira, para a mulher.

A empregada parece confusa, mas mesmo assim passa um pano no jarro. Isso tudo acontece em menos de vinte segundos.

– O que foi, Ju? – Pergunto, olhando para a cena.

– Ah, nada, só estou dando umas dicas pra nossa amiguinha aqui. – Ela diz, dando um ponto final na frase com seu sorriso de dentes imaculadamente brancos.

A empregada olha pra ela de soslaio, e pela sua expressão sei que ela pensa “O que eu fiz pra merecer isso?”. Nem comento sua expressão, porque tem vezes que eu também penso assim quando estou do lado dela.

– Amor, vamos passear um pouco lá fora. Preciso me refrescar e aqui dentro está uma sauna. – Ju me diz, me agarrando pelo braço e me puxando.

Nós saímos, e mais uma vez me impressiono com toda a grandeza do lugar. Caminhamos até a estradinha de tijolos que liga a casa à pista de equitação, e ela me dá um relatório completo sobre como sua cama parece dura demais e como preferia ter ficado com a cama do lado da Estela e não com a chata da Luiza. Nossas conversas são basicamente esses monólogos, mas eu não me importo porque se eu for falar não vai sair coisa muito boa.

Ao chegarmos ao haras, o professor, um rapaz negro, com o corpo alto e musculoso nos cumprimenta. Não devia ter mais de vinte anos. Ju soltou meu braço e andou até a cerca dos cavalos assim que o viu.

– O-oi... – Ela disse, olhando ele de cima abaixo. Seus olhos brilhavam estranhamente, como um leão que acaba de encontrar sua presa mais suculenta.

– Olá. – Ele diz, sua voz é grossa e pesada, e ao perceber que ele e Ju estão se entreolhando, meu instinto masculino me faz acabar com a ceninha.

– Ahn... Ju, vamos? – Digo, dessa vez puxando eu mesmo ela pelo braço.

– Espere! Ei, ahn, moço, esses cavalos, eles são seus? – Ela pergunta, se apoiando no cercado de madeira.

– É, são sim. – Responde o rapaz, sorrindo feito um babaca com a atenção que recebe de Ju.

– Justiniana, vamos embora agora! – Eu falo a ela, e ao perceber que falei seu nome verdadeiro ela arregala os olhos.

– Não fale esse nome ridículo tão alto! – Ela grita, e sai bufando.

Eu dou um último olhar ameaçador para o rapaz, mas ele parece apenas estar se divertindo com a cena.

O almoço ocorre logo depois. Nós todos somos reunidos ao redor da piscina, para comer um churrasco preparado pelos donos da casa. Devíamos ser em torno de cem visitantes, fazendo barulho e bagunça por todo o canto. Vejo meus amigos se jogando na piscina e faço o mesmo. Saio correndo até a beira, tirando minhas roupas pelo caminho. Só ouço as meninas gritarem, e meu ego se infla. Assim que chego na borda, dou um pulo e caio jogando água pra todos os lados. Um grito de vitória preenche o grupo de meninos de fora da piscina, pois a água molha todas aquelas que estavam tomando sol à beira.

– Desculpa meninas. – Digo, mas pelo meu tom fica óbvio que estou sendo irônico.

A carne é servida, e depois de todos se entupirem até não conseguirmos mais, um filme é exibido num telão. Acho que, pelo título, deve ser algo de terror. “O Serial Killer Alucinado 2”, algo desse tipo. Alguns dos meus amigos urraram de prazer, porque aparentemente é algum filme da moda. Eu sinceramente não conhecia.

Assim que me acomodo pra assistir, vejo uma pessoa andando ao longe, perto da porta da casa. É meio difícil dizer quem é, mas assim que cerro os olhos, vejo que é o menino de hoje pela manhã, aquele que saiu correndo de mim. Algum senso se dever não cumprido toma conta de mim e me levanto, e como estão todos assistindo ao filme, ninguém me vê.

Atravesso o gramado bem cuidado da parte da frente da propriedade até a área onde ficam as rosas. O menino está de joelhos, com suas roupas surradas, tirando cuidadosamente todos os espinhos dos caules.

– Ei, menino! – Eu digo. Ele me olha, com olhos ao mesmo tempo cuidadosos e curiosos. Meu instinto falha e por um momento estranho não sei formar frases. Me esqueço do que ia dizer e falo a primeira coisa que me vem à cabeça – Não quer... ver o filme com a gente?

Ele balança a cabeça negativamente, e desvia o olhar do meu, voltando-se novamente para as flores. Eu não me dou por vencido, eu tenho que fazer esse menino falar alguma coisa.

– Hoje mais cedo você correu de mim. Eu só queria pedir uma flor pra dar pra minha namorada, tem algum problema?

Depois dessa pergunta ele pegou suas poucas ferramentas de trabalho e se levantou, ansioso por sair dali. Ele para no meio do caminho e se volta pra mim, com uma rosa branca na mão. Ele me entrega e depois sai andando com rapidez.

Acompanho ele se afastar, e um sentimento doloroso se forma no meu peito. Será que ele é mudo? Algo me diz que não. Abro minha mão e observo a rosa, muito bonita, suas pétalas em tons de branco e rosa bem fraco.

Retorno para meu lugar com uma sensação estranha, eu preciso falar com esse menino de novo, ele não vai me deixar falando sozinho pra sempre.

                                                                            

Assim que o filme termina, lá pelas seis da noite, volto para meu quarto, ainda segurando a rosa que o garoto me entregou. Procuro a Ju em todos os lugares, para entregá-la a ela, dessa vez como um pedido de desculpas por hoje mais cedo. Não havíamos nos falado desde a... discussão? Bom, sendo discussão ou não, não deve custar nada fazer esse agrado. Infelizmente não a encontro em lugar nenhum e vou pro meu quarto.

Chego lá e deixo a rosa no criado-mudo. Tomo outro banho, dessa vez mais caprichado e demorado. Nenhum de meus companheiros está no quarto, o que eu acho estranho. Ou talvez não tão estranho, pois deve ter muita coisa pra fazer nesse lugar à noite. Visto minha roupa e guardo a rosa na gaveta. Assim que estou me levantando, ouço a porta abrir. Olho pra ver qual dos meus colegas de quarto é, mas me surpreendo ao ver o rosto de Ju, sorrindo maliciosamente.

– Caio, meu amor, já tomou seu banho foi? – Ela pergunta, lambendo o lábio superior com a língua.

– Já. – Eu respondo, meio tenso.

– Ótimo. – Ela diz, e pula no meu pescoço, me dando um beijo na boca. Ela se agarra no meu corpo com as pernas e eu caio na cama por causa da força que o pulo dela fez. Graças aos céus a cama não quebrou com o impacto.

Ela me beija calorosamente, tocando em todas as partes do meu corpo, e eu faço o mesmo com ela. Ficamos nesse vai-que-não-vai até que ela tira minha camisa, depois tira a dela e arranca minha bermuda fora.

Em pouco segundos já estamos ambos completamente sem roupas. Já havíamos feito isso uma outra vez, é claro, mas dessa vez ela não estava com frescuras, por isso embarquei com mais emoção.

Tudo ocorre normal, ou na medida do possível com os gemidos esquisitos dela, até que uma coisa estranha acontece. Por algum motivo, o rosto do menino do jardim aparece em minha mente. Me surpreendo comigo mesmo com a aparição sem sentido e tento afastá-la da minha cabeça, mas o rosto dele, seus olhos castanhos assustados, voltam o tempo todo. Isso não faz o menor sentido, e em certa hora não aguento mais e solto Ju, sem termos chegado exatamente à parte importante do que estávamos fazendo.

– O que aconteceu?? – Pergunta ela, escandalizada.

– Eu não sei, eu... acho que estou cansado da viagem. Desculpa Ju.

Ela me olha com um olhar reprovador e se veste, correndo de volta pro quarto dela.

Fico sozinho, tentando entender o que aconteceu. Abro a gaveta do criado-mudo e pego a rosa.

Eu devo estar maluco, é a única explicação, pois uma vozinha na minha cabeça avisa para eu não dar a flor para Ju. Quero ficar com ela pra mim.

Ter conhecimento disso me faz respirar descompassado, e guardo a rosa novamente, sentindo repulsa dos meus pensamentos. Aquele menino estúpido, que deve ser burro demais pra formular uma frase completa, ocupando minha mente como um parasita. Decido ir para a noite da Ilha, procurar meus amigos pra ver se distraio minha cabeça.

Ao descer as escadinhas da varanda, tento evitar olhar para o canto onde o menino sempre está, mas alguma força maior age sobre meu pescoço e me viro, como quem não quer nada. Está tudo no completo escuro. Há apenas a luz parca das janelas refletindo de forma secundária no jardim, as rosas brancas como pontos fantasmagóricos na escuridão.


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