•- O que você quer? – Eu perguntei no momento que abri a porta. Ele estava confuso. É claro que ele estava confuso.
— O que eu quero? – Ele entrou e foi se aproximando, me fazendo recuar. – Pelo amor de Deus Luce! Primeiro você está bem comigo, conversando, e me dizendo que confia em mim! E depois você corre, sem me explicar nada! – Ele agora estava bem perto de mim. Eu conseguia sentir sua respiração. – Eu quero te entender Luce, só isso. – Ele parecia mais calmo agora. Aquilo só me fez chorar mais. Eu me descontrolei, como sempre.
— Mas eu não preciso ser entendida! – Eu gritei. – Eu não consigo me entender! Eu não queria ser assim! Eu não quero! Mas eu...- Eu não consegui terminar a frase, eu comecei a chorar mais. Daquele jeito descontrolado, aquele choro que eu não conseguia parar. – Eu não consigo mudar...É mais forte que eu. E eu não pedi para você me entender! – Eu virei de costas para ele, para que ele não me visse chorando. O que era inútil, já que ele já tinha me visto chorar várias vezes. – Só...vai embora. Eu já falei com você.
 Ele ficou em silêncio por um tempo, mas eu não ouvi ele recuar. Depois eu senti a sua mão na minha.
— Luce, por favor, olha para mim. – Ele estava com a voz rouca, e eu me virei. Ele abriu um sorriso pequeno. – Você acha que eu sou ruim? Você acha que eu vou te julgar por ter problemas? Eu também tenho Luce. Todos temos. Não como os seus, mas nós aprendemos a lidar com eles. E você vai aprender a lidar com os seus. Eles não são mais fortes que você. – Ele segurou a minha outra mão. E eu me arrepiei. Eu fechei os olhos e as lágrimas caíram, mas sem a pressa de antes. Elas caíram devagar, e silenciosas. Por um momento, tudo ficou assim, silencioso. Eu fiquei chorando, enquanto ele me encarava e segurava minha mão. E aquilo pareceu melhorar tudo. Todos os problemas.
Ele me puxou para perto, e antes que eu percebesse, eu estava abraçada com ele. Ainda chorando.
 Eu,  meus problemas, meus traumas, meu medos, minhas limitações. Isso é meu conjunto. Todos que se aproximam de mim, não convivem apenas comigo, mas com todas essas coisas. É por isso que eu não me aproximo das pessoas.

— Luce...você quer me contar alguma coisa? Você quer contar o porque que você está chorando? – Eu neguei ainda chorando, e ainda abraçada com ele.
— O que você quer Lu? – Ele perguntou quase em um sussurro.
— Que você não me deixe sozinha.

[...]

3 semanas depois.

— Parece que eles não vão vir. – Disse Helena, com o pessimismo de sempre.
— Claro que vão Helena! Para de bobeira! Você que não quer ir! – Disse Diana um pouco irritada. Acho que ela também achava que eles não viriam.
Depois de algumas semanas, eu já me acostumei com as brigas delas. Mas elas sempre voltam a se falar.
Nós estamos a mais de uma hora esperando o Ian, o Alex, a Lindsey e um amigo misterioso que nós não conhecemos. Faz três semanas que eu não tenho crises, e minha tia disse que é porque eu estou saindo mais, que eu estou me divertindo  e esquecendo o passado. Talvez ela esteja certa.
— Calma, eu vou ligar para eles de novo. – Eu peguei meu celular e liguei para o Alex. E, graças a Deus, ele atendeu. – Argh! Finalmente! Aonde vocês estão? – Eu gritei no telefone.
— Chegando.
— Chegando? CHEGANDO? Alex Harvey, estamos esperando vocês a mais de uma hora!- Eu gritei indignada por ele achar aquilo tão normal. Se fosse ele que estivesse esperando...
— Sem drama, Luce. Estamos chegando. – Eu consegui ouvir as risadas de Ian e Lindsey.
— Vocês disseram isso a uma hora atrás. Nós perdemos a sessão!
— Estamos chegando, beijos na boca. – E desligou.
— Idiota. – Eu disse sabendo que ele não ouviria.
Diana me olhou e depois começou a rir.
— O que foi? – Eu perguntei. Ela continuava a rir como uma retardada.
— Nada...- Ela balançou a cabeça. – É só que...nada. Esquece. – Ela riu mais.
— Fico cada vez mais assustada por morar com vocês. – Ela revirou os olhos e começou a rir novamente. E olha que ela nem bebeu.
— Você só está aturando ela por três semanas, eu aturo a anos. – Disse Helena que abriu um sorriso.
Eu sorri por ver que Helena finalmente  estava se divertindo. Nessas últimas três semanas, muitas coisas mudaram. Eu não estava tendo sonhos, quer dizer, eu só tive quatro, o que já é um começo. E agora, Alex, Ian e Lindsey eram nossos amigos. Melhores amigos.
Eu estava viajando quando senti alguém me abraçando pela cintura e me erguendo do chão.
— Ian! – Eu gritei, apesar de saber que ele faria isso. Ele sempre faz isso. – Me bota no chão!
— Só vou te largar porque você está muito gorda, e eu não quero amputar o braço. – Quando ele me botou no chão eu dei um tapa nele. Ele sorriu e deu um beijo na minha bochecha.
Depois ele foi abraçar Diana e Helena.
Lindsey se aproximou de mim e me deu um abraço apertado.
— Ah, linda! Eles são muito chatos, eu mandei eles não demorarem...mas eles ficaram rodando a cidade inteira só para vocês ficarem com raiva. – Ela disse com um sorriso.
— E claro, foi ideia minha. – Disse Alex que apareceu do nada e passando a mão pela cintura de Lindsey.
Eu sorri e fiquei um bom tempo olhando nos olhos dele, depois desviei o olhar.
— E...cadê o seu novo amigo? – Eu perguntei para Alex.
— Aqui. –  Um garoto com cabelos negros e olhos verdes apareceu. Ele usava uma jaqueta aviador. Ele era lindo, muito lindo. (N\\a: LINDOOOO U-U) - Vamos logo ver o filme Alex, já estou de saco cheio de você e o Ian com essa baitolagem, aliás, eu sou o Jake. - Ele piscou para mim.
— Haha. Vamos logo imbecil. - Alex abriu a porta do caro e perguntou quem ia com ele.
— Eu vou com Ian...- Eu falei. Alex me olhou com dúvida. - E com a Helena. Vocês vão com o Alex. - Todos concordaram, Alex deu de ombros e entrou no carro.
Eu não queria ir no mesmo carro que o Alex e a Lindsey, depois do que ela me contou.
" - Luce, sabe, eu e o Alex estamos namorando!
— Que ótimo Lin! 
— É, eu sei. Mas...eu fico com ciúme quando...ele está com você...não que eu duvide de você, eu duvido dele.
— Não precisa se preocupar Lin, eu nunca vou te trair, somos melhores amigas não somos?- Eu perguntei.
— Somos! - Então ela me abraçou."
— Vai entrar no carro ou não? - Perguntou Ian que estava com o braço em volta dos ombros de Helena. Eu sorri e entrei no carro, e eles entraram depois.
— Você estava pensando no que? - Perguntou Helena quando nós já estávamos no carro.
— Em que filme vamos ver. - Eu menti. Voltando as velhos hábitos.
 

[...]

— Esse filme é  uma droga. - Disse Jake dando um suspiro.
— Não é. - Disse Diana parecendo ofendida com o comentário sobre o filme. - Ela se apaixona por ele mas tem medo de estragar tudo por causa dos problemas dela, é muito fofo. - Jake fez uma careta.
— Ursinho Pooh também é fofo, vamos ver o filme dele? - Peguntou Jake olhando para Diana. Ela revirou os olhos. ( N\\a: AAAAI, o amor ><) 
— Vocês são irritantes, eu quero ver a merda do filme! Jake se não gosta, vai para a outra sala, está passando um filme de assassinos. - Disse Lindsey.
— E perder a chance de encher o saco da Dih? Nunca. - Eu sorri ao ver a expressão de ódio de Diana.
Helena sorriu para mim, e eu sorri de volta. É, nós vemos o que eles não veem.
Eu parei de prestar atenção na briga do Jake com a Diana e olhei para a tela. A menina do filme estava chorando, e o garoto estava do lado dela. Então ele segurou o pulso dela. E foi ai que eu comecei a passar mal.
Cortes. Cortes em todas as partes do braço.
Eu comecei a sentir falta de ar, os outros estavam animados demais para perceber. Meu pulmão começou a arder, não via mais sentido nos sons e imagens da minha cabeça. 
Me levantei meio tonta.
— Gente...eu...preciso ir no banheiro...- Então eu corri para fora da sala de cinema. 
Eu corri até o banheiro mais próximo e entrei. Estava vazio, graças a Deus estava vazio. Eu me sentei no chão do banheiro e olhei para os meus pulsos, os cortes já estavam quase invisíveis.
 Você não é mais como a garota do filme. Você não precisa mais disso, você está bem. Ele não está mais aqui...ele não aparece mais, ele foi embora. 
Eu ouvi um barulho na porta, então me levantei e sai do banheiro olhando para o chão. E como sempre, eu esbarrei em alguém, mas dessa vez não era o Alex.
— Oh, me desculpe. - Disse um homem de meia idade, com olhos incrivelmente cinzas. 
Não, não. Não podia ser. É coisa da minha cabeça.
— Você está bem? - Ele encostou no meu braço, e eu tremi. Tudo voltou, muito pior do que era. - Quer alguma coisa? Quer que eu chame alguém?
— ME SOLTA! ME SOLTA AGORA! - Eu comecei a chorar e gritar descontroladamente na porta dos banheiros. As pessoas do shopping começaram a olhar para nós.
— O que foi? Eu não...
— ME LARGA! ME DEIXA EM PAZ...SOCORRO! - Eu comecei a ver as coisas girarem, alguns policias se aproximaram. Meus amigos começaram a correr na minha direção.
— Lu, o que aconteceu? Nós ouvimos os gritos...o que houve? - Perguntou Diana parecendo assustada e confusa.
— Chama o Alex. - Agora ela ficou mais confusa ainda, mas ela foi. 
— Garota, aconteceu alguma coisa? Eu posso te ajudar? - O homem perguntou.
— SAI DE PERTO DE MIM AGORA! - Os policias começaram a conversar com eles, e o shopping inteiro parou.
Alex chegou e parecia muito confuso também.
Eu corri até ele e o abracei, depois comecei a chorar.
— Hey, o que foi? - Ele perguntou mexendo no meu cabelo.
— Só...me leva para casa...- Eu solucei. - Por favor...Alex, por favor...