Crônicas Do Olimpo - O Mar De Monstros escrita por Laís Bohrer


Capítulo 19
A Descendência de Quiron




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Disparamos por campos pantanosos, capim alto, lagos e árvores anãs. Nosso destino era um acampamento de trailers a beira do lago. Os trailers eram todos puxados por cavalos, incrementados com televisores, minigeladeiras e mosquiteiros. Era um acampamento de centauros. Eu não sei como descobri isso... Nunca fui em um acampamento de centauros, as talvez seja porque tem vários centauros ali... Jake tem razão, as vezes minha lerdeza assusta a mim mesma.

Não contem para ele que eu disse que ele tem razão, se não ele me enche o saco...

– Cara, aquilo foi incrível! - disse um pônei de festa enquanto descarregava seu equipamento. - Viu aquele urso brutamontes?! Parecia que estava dizendo "Ei! Tem uma flecha na minha boca..."

O centauro com os óculos de olhos vesgos riu.

– Aquilo foi demais! - disse ele. - Trombada de cabeça.

Os dois centauros investiram um contra o outro com força total e bateram as cabeças, depois saíram cambaleando um para cada lado, com sorrisos bobos na cara. Pareciam dois garotos do sétimo ano... Ou oitavo. Ah sim, sei do que estou falando.

Quiron suspirou cansado, colocou Jake e Hansel no chão sobre uma toalha de piquenique ao meu lado.

– Gostaria que meus primos não batessem as cabeças assim... - disse ele. - Neurônios é o que mais lhes faz falta.

– Você... - ainda estava pasma com o fato dele estar ali. - Você nos salvou.

Quiron sorriu seco.

– Mas... Como sabia aonde estávamos? - perguntou Jake.

– Ah isso? - respondeu Quiron. - Eu calculei que vocês seriam trazidos pelas águas para perto de Miami, se conseguissem sair do Mar de Monstros vivos. Quase tudo o que é esquisito é trazido para Miami pelas águas.

– Assim fico sem jeito... - disse Hansel irônico.

– Ah não! Não foi isso que eu quis dizer. - Quiron suspirou. - Não importa... A Verdade é que eu consegui bisbilhotar a sua mensagem de iris, Megan, foi realmente uma grande ideia. E já que eu e íris somos amigos há milênios... Pedi a ela que me alertasse sobre quaisquer comunicações importantes nesta área. É claro, foi bem difícil convencer meus irmãos a ajudar também. Como vêem, nós, centauros, somos capazes de nos deslocar bem depressa quando queremos. Nossa noção de distância é diferente da dos seres humanos.

Perdi meu olhar na fogueira, onde os pôneis de festa tentavam ensinar a Tyler a usar uma pistola de paintball. Quiron tinha até razão, de inicio fiquei preocupada por eles passarem um mal exemplo para meu irmão... Mas com a irmã que ele tem aqui... Eu gostava de chamar Tyler de irmão, era bom pensar que eu tinha pelo menos um pedação (Literalmente...) da família comigo.

Mas torci para os primos de Quiron soubessem no que estavam se metendo ali. Lembrei do que Luke disse, para eu não ter esperanças de que minha família estivesse viva, será que... Percy, será que vocÊ esta morto?

Afastei o pensamento me voltando para Quiron.

– Mas, e agora? - perguntei ao professor centauro. - Deixamos Luke escapar... De novo. E ele esta com Cronos naquele navio, ou pelo menos partes dele.

Quíron se ajoelhou, dobrando cuidadosamente as pernas dianteiras embaixo de si. Abriu a bolsa de remédios em seu cinto e começou a tratar meus ferimentos.

– Infelizmente, Megan, foi um empate hoje. - disse ele. - Nós não tínhamos vantagem numérica para tomar aquele navio. E Luke não estava suficientemente organizado para nos perseguir. Ninguém venceu.

Ninguém, me impedi de rir quando lembrei da nossa estratégia com Polifemo, eu e Hansel trocamos olhares que riam silenciosamente, estávamos pensando a mesma coisa...

- Mas recuperamos o Velocino. - disse Jake. - Clarisse o esta levando para o Acampamento agora mesmo.

Quíron assentiu, embora ainda parecesse inquieto. Como se algo o preocupasse, como se a aventura ainda não tivesse acabado. Mas o que poderia ser? Aprendi com o tempo que fazer perguntas a Quiron, ou qualquer outro imortal inteligente, só me faria ter mais perguntas.

– Sim, vocês todos são realmente heróis de verdade. - disse Quiron tentando sorrir. - Deixaremos Megan em condições e então voltaremos para o acampamento. Os centauros poderão levá-los.

– Nos? - perguntei. - Quer dizer... Você também?

– Ah! Sim Megan. - confirmou. - Fiquei mais aliviado em voltar. Meus irmãos não apreciam o bom e velho Dean Martin...

Nem os pombos com bico de Navalha... Mas isso até se tornou boa coisa no final.

– Preciso falar com Sr. D. - continuou. - Temos o restante do verão para planejar, Muito treinamento para fazer e também quero ver se... Estou bem curioso também a respeito do Velocino de Ouro.

Eu não entendi bem o que ele queria dizer com aquilo, mas fiquei preocupada de qualquer jeito, lembrei das palavras de Luke : Eu ia deixar você levar o Velocino... depois que eu tivesse terminado com ele. Será que ele queria marcar minha mente para algum tipo de enrascada? Ele estaria simplesmente mentindo? No verão passado eu aprendi com Cronos que sempre tem um plano dentro de outro. O senhor titã não era chamado de O Tortuoso simplesmente por ser um apelido qualquer. Tinha meios de conseguir que as pessoas fizessem o que ele queria sem sequer se darem conta das verdadeiras intenções dele.

Era estranho, mas eu realmente tinha esperanças de que ele estivesse fazendo isso com Silena, eu ainda tinha esperança de que minha amiga voltasse, por mais que fosse impossível, eu tinha esperança disso.

Junto à fogueira, Tyler estava à vontade com sua pistola de paíntball. Um projétil azul explodiu contra um dos centauros, arremessando-o de costas para dentro do lago. O centauro saiu sorrindo, coberto de lama do pântano e tinta azul, e com as duas mãos fez sinal de positivo para Tyler.

Deu um meio sorriso para a cena.

– Jake. - chamou Quiron. - Por que você e Hansel não vão lá tomar conta de Tyler e dos meus primos antes que eles ensinem maus hábitos demais um ao outro?

Houve algum tipo de troca mental entre os dois.

– Ah... Claro, vamos garoto-jegue. - disse Jake puxando Hansel.

– Só eu que chamo ele assim. - protestei. - Inventa um apelido só pra você.

– Calada, Cabeça de Alga. - disse Jake. - Vamos Hansel.

– Mas eu não gosto de Paintball. - disse Hansel protestando.– E é bode!

– Gosta sim, vamos... - então Jake deu um jeito de arrastar Hansel pelos cascos o mesmo protestava enquanto era levado em direção a fogueira.

Quiron suspirou mais uma vez.

– Megan, no caminho para cá eu tive uma conversa com Jake, uma conversa que envolve a profecia.

Opa... Pensei.

– Escute, Quiron. - comecei. - A Culpa não é de Jake, eu o fiz falar.

Seus olhos pestanejaram com irritação. Tinha certeza de que ele iria me dar uma bronca, mas então seu olhar demonstrou cansaço.

– Eu mesmo não poderia mante a profecia em segredo para sempre...

– Então... Sou eu na profecia?

Quíron enfiou as ataduras de volta na bolsa.

– Megan, você ainda não tem dezesseis anos. Por enquanto, devemos apenas treinar você e deixar o futuro com as Parcas.

As Parcas, me lembrei do verão passado.

Três senhoras em pleno ponto de ônibus, depois que eu Jake, Silena e Hansel lutamos contra uma Hidra no Museu, então a ficha caiu para mim, me voltei a Quiron.

– É isso o que aquilo significa. - falei. - No último verão. O agouro das Parcas quando as vi arrebentar a linha da vida de alguém. Pensei que significasse que eu ia morrer, mas é pior que isso. Tem algo a ver com sua profecia. A morte que elas previram... vai acontecer quando eu tiver dezesseis anos.

Quiron franziu o cenho. A cauda de Quíron varreu nervosamente a grama.

– Não pode ter certeza, criança. - não corta o meu barato, Quiron!

– Mas não existe nenhum outro filho meio-sangue dos Três Grandes! - insisti.

– Que saibamos.

– E Cronos está voltando. Ele vai destruir o Monte Olimpo!

– Ele pode tentar. - disse ele calmamente. - E a civilização ocidental junto, se não o detivermos. Mas nós vamos detê-lo. Você não estará sozinha nessa luta.

Eu sabia que ele estava tentando fazer eu me sentir melhor, mas no fundo ele sabia que se era mesmo eu na profecia, eu estaria sim, sozinha.

– Eu sou uma criança apenas. - falei escabichada. - De que adianta uma garota como eu contra uma coisa como Cronos?

Quíron conseguiu sorrir.

– Como você? - perguntou Quiron. - Megan, no verão anterior você se tornou uma das poucas heroínas que voltou viva do Mundo Inferior na história, este verão você lutou contra Polifemo, você salvou seu amigo, você impediu uma guerra entre os deuses. E eu tenho fé em você, sei que se tornará uma grande guerreira, e já começou bem esse processo.

Ele puxou uma flecha de sua aljava e girou a ponta afiada como navalha de um jeito que a fez brilhar à luz da fogueira.

– Bronze Celestial. - disse ele. - Uma arma imortal. O que aconteceria se você disparasse isto contra um ser humano?

– Nada. - falei. - Passaria direto por eles.

– Exatamente. - disse. - Veja bem, Megan. Os mortais não existem no mesmo nível que os imortais, mas você? Você é metade deusa, e metade humana. Pode ser ferida pelos dois mundos, e pode influenciar os dois. E é isso o que te torna especial. Você transporta as esperanças da humanidade para a esfera do eterno. Eu já lhe disse Megan, os monstros não morrem, eles apenas voltam de onde vieram e renascem do caos e do barbarismo que sempre fermentam embaixo da civilização, o material que torna Cronos forte, Precisam ser derrotados de novo, e de novo, mantidos encurralados. Você enfrenta as batalhas que a humanidade precisa vencer, a cada geração, a fim de continuar sendo humana. Entende isso?

– Não... Não muito.

– Você tem que tentar. - disse ele. - Cronos acha que você é a criança da profecia, e se não poder usa-la irá destrui-la, e depois de hoje... Ele deve desistir disso.

– Você fala como se o conhecesse.

Quíron franziu os lábios.

– Mas eu o conheço, Megan.

Encarei ele. As vezes esquecia o quanto Quiron era velho.

– Por isso que você foi acusado do envenenamento da árvore? - perguntei.

– Exatamente.

– Mas... Oras, Quiron... - eu ri seco. - Por que poderiam pensam que você trairia o acampamento por causa de Cronos?

Ele olhou triste para a grama, como quem olha para uma lápide de alguém querido, seus olhou se voltaram para mim, estreitos.

– Megan... - a voz era suave. - O Titã Cronos é o meu pai.

Tentei digerir aquilo. Ficamos um bom tempo em silêncio. Devo admitir que sempre fiquei curiosa a respeito de Quiron desde o primeiro momento, mas... Nunca imaginaria algo desse tipo.

Chegamos a Long Island um pouco depois de Clarisse que graças aos deuses estava com o Velocino são e salvo em mãos, eu fui levada no lombo de Quiron, decidi contar sobre parte da minha memória recuperada, ele não disse muita coisa a respeito disso, apenas que já sabia pois Jake lhe contara.

Quando chegamos ao acampamento, os centauros estavam ansiosos por conhecer Dioniso. Tinham ouvido falar que ele promovia festas insanas, mas ficaram desapontados. O deus do vinho não estava com disposição para celebrar quando o acampamento inteiro se reuniu no topo da Colina Meio-Sangue.

O acampamento acabara de passar por duas semanas difíceis. O chalé de artes e ofícios fora totalmente queimado no ataque de um Draco Aionius (que, até onde pude imaginar, é um nome latino para "enorme lagarto que faz as coisas irem pelos ares"). Os quartos da Casa Grande estavam transbordando de feridos. As crianças do chalé de Apolo, que eram os melhores curandeiros, estiveram trabalhando horas a fio nos primeiros socorros.

Haley, o indeterminado. Foi um dos primeiros a me cumprimentar. Contei a história para ele, que disse para Hansel que ficou feliz por ele não ter se casado com um ciclope, pior que normalmente as pessoas dizem o contrário, Hansel ficou escabichado, como sempre, mas era bom ter meu melhor amigo de volta.

Todos pareciam exaustos e maltratados quando nos amontoamos em volta da árvore de Thalia. Clarisse pendurou o velocino de ouro no galho mais baixo. Ninguém precisou dizer quando a mágica aconteceu, o luar parecia clarear deixando o cinzento para trás e mudando para um prata mais claro e brilhante, uma fresca brisa passava por entre os galhos e fez o capim ondular até o vale. Tudo parecia mais nítido - a luz dos vaga-lumes nos bosques, o aroma dos campos de morangos, o som das ondas na praia. As agulhas do pinheiro perdiam o tom de marrom para o verde, aos poucos.

Tudo acontecia bem devagar, mas... acontecia. Todos explodiram em palmas. A mágica do Velocino penetrava na árvore, enchendo-a com uma força nova e expelindo o veneno. Quíron ordenou vigia vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, no topo da colina, pelo menos até que pudesse arranjar um monstro apropriado para proteger o Velocino. Disse que publicaria um anúncio no Semanário do Olimpo imediatamente.

Enquanto isso, Clarisse foi carregada por seus companheiros de chalé, até o anfiteatro, onde foi homenageada com uma coroa de louros e muita comemoração em volta da fogueira. Ninguém deu atenção a mim, ou a Jake. Era como se nunca tivéssemos partido. Mas querem saber? Até que é legal ser só mais um na multidão.

E também tinha o fato de que se falássemos algo poderiamos ser expulsos.

Mais tarde, naquela noite, quando estávamos assando guloseimas e ouvindo os irmãos Stoll nos contarem uma história de fantasmas sobre um rei perverso que fora comido vivo por doces demoníacos no café da manhã, Clarisse me empurrou por trás e sussurrou ao meu ouvido:

– Não é só porque você foi legal, peixinha, que esta fora do perigo com Ares.

Dei-lhe um sorriso de má vontade.

– Qual a graça idiota?

– Nada. - falei. - É bom estar de volta.


No dia seguinte, a família de Quiron retornou para Flórida e Quiron nos deu um aviso: A Corrida de bigas voltaria com forme planejado.

Jake teve que me convencer a participar, eu fiz ele ficar de joelhos e algumas filhas de Afrodite que passavam por ali gemeram "Awn!" foi difícil convence-las que não era uma pedido de casamento como pensavam, mesmo assim... Elas não me ouviram e nem a Jake.

Eu conduziria a Biga, Jake defenderia e Tyler atuaria como nosso mecânico de pita-top.

Então eu ficaria com os Cavalos, Jake com a parte da luta e Tyler nos ajudava a reconstruir a biga de Poseidon, cada um em seu posto. Jake e eu concordamos que, caso vencêssemos, o prêmio de nenhum trabalho na cozinha durante um mês inteiro seria dividido entre nossos dois chalés. Como Ares tinha mais campistas, teria a maior parte da folga, o que, por mim, estava o.k.

Era estranho, mas os campistas de Ares concordaram que se perdessem por minha causa eu morreria, um dia Clarisse me disse:

– Boa Sorte, peixinha. E se você perder, eu arranco sua cabeça e jogo basquete com ela.

Pelo menos ela desejou Boa sorte... É, vou precisar mesmo. Eu não me importava com o prêmio. Só queria vencer. E ter minha cabeça no lugar...

Na noite anterior à corrida, fiquei acordada até tarde nos estábulos. Estava conversando com nossos cavalos, dando-lhes as instruções finais, quando alguém bem atrás de mim disse:

– São muito interessantes, os cavalos. Gostaria de ter pensado neles.

Um cara de meia-idade em uniforme dos correios estava encostado na porta do estábulo. Era magro, com cabelo preto encaracolado embaixo do elmo branco, e carregava um malote postal pendurado no ombro.

– Oi, Hermes.

– Olá Megan, achei que não me reconheceria sem minhas roupas de corrida.

– É... Foi por pouco. - falei.

Eu não sabia o que dizer, ficava sempre assim na frente de um deus. Não sabia se deveria me ajoelhar, ou comprar selos... Então a ficha caiu.

– Ah! Sobre Luke eu...

O deus arqueou as sobrancelhas.

– Nos o vimos. Tudo bem. - falei. - Mas ele...

– Não conseguiu faze-lo ouvir a voz da razão, não é?

– Bem... No primeiro encontro não, ele tentou me transformar em ração de dragão, e no segundo encontro nos tentamos triturar um ao outro em um duelo.

– Entendo. - ele pareceu pensar. - Você tentou a aproximação diplomática.

– Eu sinto muito. Quer dizer, você nos deu aqueles presentes impressionantes e tudo mais. E eu sei que você queria que Luke voltasse. Eu tentei, mas ele se tornou... Mau. Quer dizer, Mau de verdade. Ele disse que tem a sensação de que você o abandonou.

Imaginei que Hermes ficaria furioso, eu sabia o quanto os deuses eram temperamentais, imaginei o que Hermes iria me transformar. Mas ele disse:

– Você já alguma vez que seu pai lhe abandonou, Megan? Seja sincera.

Ai, Ai, Ai... Vejamos...

– Bem, só umas centenas de vezes, quer dizer... Eu não falo com Poseidon desde o último verão, e tem essa coisa com Tyler, nem aviso nem nada é só Bum! Você tem um irmão e...

Bum!? - repetiu.

– É... Bum!

Hermes acomodou melhor o malote no ombro.

– Megan, a parte mais complicada de ser um deus é que você não pode ajudar seus filhos pessoalmente. - disse ele. - Tem que se agir indiretamente, Se fôssemos interferir todas as vezes em que os nossos filhos têm um problema... bem, isso só iria criar mais problemas e mais ressentimento. Mas eu acredito que se você pensar um pouco nisso verá que Poseidon tem prestado atenção em você. Ele respondeu às suas preces. Posso apenas esperar que algum dia Luke também perceba isso em relação a mim. Quer você ache que teve sucesso, quer não, lembrou a Luke quem era ele. Você falou com ele.

– E depois tentei mata-lo...

Hermes encolheu os ombros.

– Famílias são complicadas. Famílias imortais são eternamente complicadas. As vezes, o melhor que podemos fazer é lembrar um ao outro que somos aparentados, aconteça o que acontecer... e tentar limitar ao mínimo as mortes e mutilações.

Aquilo não pareceu exatamente uma receita para a família perfeita. Mesmo assim, eu as vezes sentia raiva dos deuses, o seu jeito indireto e anormal de ser, mas tinha que aprender, nem sempre as coisas são como queremos.

– Você precisa e dormir. - disse ele. - Já lhe meti em encrencas demais, mas vim para fazer uma entrega na verdade.

– Entrega?

– Eu sou o deus dos mensageiros, Megan. - disse ele. - Agora assine aqui por gentileza.

Ele tirou um aparelho de protocolo eletrônico de sua mala postal e entregou para mim. Peguei a caneta do aparelho antes de perceber que nela havia um par de minúsculas serpentes verdes entrelaçadas.

– AHHH! - deixei a caneta cair.

Ai! Um "Olá!" também serve... disse George.

Realmente, Megan. Você gostaria de ser derrubada no chão de um estábulo? disse Martha.

– Anh... Desculpe. - peguei a caneta de volta.

Martha e George se retorceram embaixo dos meus dedos formando uma espécie de apoio para lápis.

Você me trouxe um rato?, perguntou George.

– Desculpe... Ah... Não achamos nenhum.

E um porquinho-da-índia?

Eu ri.

George! adivertiu Martha.

Assinei e devolvi o aparelho para Hermes. Em troca, ele me entregou um envelope azul-mar. Meus dedos tremeram. Mesmo antes de abrir, percebi que era do meu pai. Pude sentir seu poder no papel azul frio, como se o próprio envelope tivesse sido dobrado com uma onda do oceano.

– Boa sorte Amanhã na corrida. - disse Hermes. - É uma bela parelha de cavalos que você tem ali, mas vai ter de me desculpar se eu torcer pelo chalé de Hermes.

– Sem problema. - falei.

E não fique desanimada demais depois de ler isto, minha querida, disse Martha. Ele de fato se preocupa com você.

– O que quer dizer com isso? - perguntei.

Não ligue para ela, disse George. E da próxima vez, lembre-se, as serpentes trabalham por gorjetas.

– Chega vocês dois! - disse Hermes. - De qualquer modo, Boa sorte.

Pequenas asas brancas brotaram em seu elmo. Ele começou a brilhar, e eu sabia o bastante sobre os deuses para desviar os olhos antes que ele revelasse sua verdadeira forma divina. Com um brilhante clarão branco, ele se foi, e fiquei sozinha com os cavalos. Olhei para o envelope azul em minhas mãos. Estava endereçado em uma caligrafia forte, mas elegante, que eu já vira.

Megan

Acampamento Meio-Sangue

Fram Road, 3.141

Long Island,

Nova York, 11954


Uma carta de verdade do meu pai. Talvez ele dissesse que eu tinha feito um bom trabalho ao conseguir o Velocino. Explicasse a respeito de Tyler, ou pedisse desculpas por não ter falado comigo antes. Havia tantas coisas que eu gostaria que estivessem naquela carta. Abri o envelope e desdobrei o papel. Ou...

Prepare-se




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Notas finais do capítulo

Como fui dessa vez?



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