Crônicas Do Olimpo - O Mar De Monstros escrita por Laís Bohrer


Capítulo 12
Desperdiçando o Potencial! Algo errado...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/390179/chapter/12

Acordei com a cabeça latejando, uma dor por todo o corpo, eu estava deitada encolhida em um bote a remo com uma vela improvisada com tiras de tecidos de uniformes cinzentos unidos uns aos outros por nós. Havia um gosto azedo na minha boca. Jake estava sentado ao meu lado olhando para o nada.

Assim que tentei me sentar senti náusea imediatamente.

- Você deveria descansar. - disse Jake sem olhar para mim. - Vai precisar...

- Tyler... O que aconteceu com Tyler? - perguntei quase que de imediato.
Jake não respondeu.

- Não... - murmurei.

- Sinto muito mesmo, Megan. - ele olhou para mim. - Gostaria de dizer isso a ele, mesmo.
 

Ficamos um tempo em silêncio, o bote subindo e descendo pela ondulação das águas, minha cabeça ainda doía, eu fazia o máximo para evitar o calor do sol nos meus olhos.

- É... - falei azeda. - Ciclopes são traidores como todos...

Ele desviou do meu olhar.

- Desculpe. - falei.

- Talvez... - começou ele virando o rosto para mim. - Ele talvez ainda esteja vivo, quem sabe.
 

Assenti, mesmo não estando muito certa disso... Eu queria poder acreditar no que Jake dizia, tentei ficar com raiva dele, mas depois de tudo o que passamos eu simplesmente não conseguia. Lembrei daquela explosão rasgando ferro sólido e dividindo em pedacinhos para todos os cantos, tudo o que eu conseguia pensar naquele momento é de como foi legal sentir uma família por perto, nem meu pai foi como Tyler.
 

Jake me mostrava algumas coisas que conseguira salvar da explosão - a garrafa de Hermes (então vazia), um saquinho com ziper cheio de ambrosia, duas camisas de marinheiro e uma garrafa de refrigerante.

Segundo ele, ele me tirou da água w achara meu saco de viagem, com uns furos formando um arco, consequência dos dentes de Squila... A maior parte das minhas coisas havia sido levada pela água, mas eu ainda tinha o frasco de multivitaminas de Hermes e claro, Anaklusmos que sempre voltaria para o meu bolso.

A Água ao nosso redor tinha a cor de ácido de hidra - um verde mais brilhante e menos mortal... - Navegamos horas e horas ficando o máximo que podíamos na sombra. O Céu estava limpo e azul, um ar fresco e salgado batia no nosso rosto trazendo porém um odor mais obscuro, como se uma tempestade viesse diretamente para nos.
 

Por mais que eu em sentisse perdida, sabia exatamente onde estávamos -  cento e trinta milhas náuticas ao noroeste do nosso destino. - Nós nos revezamos dando goles no refrigerante, durante o tempo que passamos no bote, eu tentava não demostrar o quão acabada eu estava, falamos do meu último sonho com Hansel e segundo os minhas deduções tínhamos menos de vinte quatro horas para resgatar o menino-jegue e o Velocino de Ouro.

Enquanto girava o frasco de multivitaminas entre os dedos, lembrei das palavras de Luke sobre os deuses me fazerem de idiota e de sua cara de raiva quando lhe falei de Hermes.

- Jake... - chamei.

- Sim?

- O que diz a grande profecia, afinal? - perguntei.
Por um momento parecia que ele decidia entre me contar ou não contar, me perguntava aonde estavam as pupilas em seus olhos de tão negros que eram, não eram exatamente como os dos mortos que vi no Mundo inferior, se você não consegue ver a diferença entre Trevas e Noite então eu não conseguiria lhe explicar.

- Megan... - começou ele.

- Quiron prometeu aos deuses que não contaria para mim. - lembrei. - Mas você não prometeu, não é?

- Quando os heróis ficam sabendo do futuro eles tentam muda-lo a qualquer custo, e nunca dá certo, a maioria morre. - explicou ele.
Encarei ele.

- Os deuses acham que vou fazer algo que pode depender de algo importante quando eu crescer... - falei. - Quando eu tiver dezesseis anos.

Ele olhou um pouco para a água antes de me responder.

- Não sei exatamente da profecia completa. - disse ele. - Um meio-sangue dos Três Grandes... o próximo a viver até os dezesseis anos. É a verdadeira razão de Zeus, Poseidon e Hades terem feito o pacto de não ter mais filhos. O próximo filho dos Três Grandes que chegar aos dezesseis anos será uma arma perigosa.

 - Mas, Por que?

- Bom... - suspirou. - Ele ou ela, vai tomar uma decisão que poderá salvar a Era dos Deuses... ou destruí-la.

Um Silêncio sinistro tomou o ar a nossa volta. Senti-me meio estranha, como se eu fosse feita de chumbo, como se fosse derreter como sorvete no sol. 

Engoli seco. Sabem... Não é muito legal ter o destino do olimpo dependendo de você...

De repente me senti enjoada.

- Por isso Cronos me deixou viva no verão passado? - perguntei.

- Vamos lembrar que Silena fez algo que realmente poderia matar você... - ele hesitou ao dizer o nome de Silena. - Os deuses teriam sérios problemas se Cronos conseguisse você como aliada.

 - Mas se for eu...

- Saberemos disso se você continuar viva por mais três anos. - disse ele rapidamente. - Quiron achou que a profecia se referisse a Thalia de Zeus, ela então acabou morrendo e virando pinheiro, e para ser sincero eu não quero que seja você na profecia.

Encarei ele que pareceu arrependido do que acabara de dizer.

A bombordo do nosso barco uma nadadeira dorsal pontiaguda com cerca de cinco metros de comprimento surgiu na água e desapareceu.

- Eu também não quero ser. - falei. - De verdade, admito que até gostaria de ter utilidade algum dia... Mas, pensando melhor... Argh!

Soquei a madeira do bote.

- Eu queria ser normal. - murmurei.

Jake pareceu me estudar por um segundo ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas pareceu mudar de ideia, foi quando um pombo veio voando na nossa direção pousando bem cima da minha cabeça e deixando uma porção de folhas no meu colo.

- Sai! - o espantei.

O Pombo saiu voando desaparecendo no céu.

- Terra... - disse Jake. - Tem terra por perto.

Sentei. E havia mesmo uma linha azul e marrom a distância. Mais um minuto e pude distinguir uma ilha com uma pequena montanha no centro, um ajuntamento de prédios de um branco deslumbrante, uma praia pontilhada de palmeiras e um porto cheio de um estranho agrupamento de barcos. A corrente estava puxando nosso bote na direção daquilo que parecia ser um paraíso tropical.

Fiquei nervosa, foi automático, uma ilha paradísiaca na nossa frente no meio de um mar imenso cheio de monstruosidades gregas... 

Havia uma mulher com uma prancheta nos esperando.

- Sejam bem-vindos! - exclamou ela.

Ela em fazia lembrar de uma comissária de bordo com tailleur azul, maquiagem perfeita, cabelo puxado para trás em um rabo-de-cavalo... 

Assim que saímos do bote, ela apertou nossa mãos. Pelo sorriso enorme e branco que ela nos deu, dava para pensar que acabávamos de descer do Princesa Andrômeda, e não de um bote a remo e pobre - Falo mesmo!

Mas... Nosso transporte não era o mais esquisito dali. Juntamente com um grupo de agradáveis iates, havia um submarino da Marinha dos Estados Unidos, diversas canoas escavadas em troncos e um antiquado veleiro de três mastros. Havia um heliporto com um helicóptero da base aérea de Fort Lauderdale pousado e uma curta pista de pouso e decolagem com um Learjet e um avião a hélice que parecia um caça da Segunda Guerra Mundial.

Pensei serem réplicas para turistas, mas... Turistas ali era meio estranho, pelo o que dizem, tudo que entra no Triângulo das bermudas não sai... O Mesmo com o Mar de Monstros pois ambos são a mesma coisa.

- Primeira vez conosco? - perguntou a moça ainda sorrindo com os olhos vidrados em nos. Como se estivesse verdadeiramente feliz com nossa chegada.

Eu e Jake trocamos olhares.

- Bem... - começou o filho de Ares.

- Ótimo! - exclamou ela o cortando. - Vejamos... - ela nos olhou criticamente dos pés da cabeça. - Bem, um emplastro de ervas para a mocinha. E, é claro, uma transformação completa para o jovem cavalheiro.

Jake franziu a testa.

- Como é que é?

Ela estava atarefada demais tomando notas para responder.

– Certo! – disse ela com um sorriso jovial. – Bem, estou certa de que C. C. vai querer falar com vocês pessoalmente antes do luau. Me sigam, por favor.

A Verdade é que eu e Jake já estávamos acostumados com armadilhas - é por isso que eu tenho medo de Hotéis... - e usualmente aquelas armadilhas pareciam coisas boas inicialmente. Enfim, eu esperava que a qualquer minuto a prancheta da moça se transformasse em uma serpente, um demônio ou coisa assim.

Nos estávamos encalorados, cansados e famintos, e quando a moça mencionou um luau, meu estômago sentou nas patas traseiras e implorou como um cachorrinho. Jake disse:

- Acho que... Não pode fazer mal. - disse ele. 

O olhei de volta, é claro que podia, mas para falar aquilo, ele deveria estar com mais fome que eu. E isso meus queridos, é relativamente impossível.

Nós seguimos a moça de qualquer modo. Mantive as mãos nos bolsos onde eu guardava minhas únicas defesas mágicas - Anaklusmos e as pílulas de Hermes.

O lugar era simplesmente fantástico. Havia mármore branco e água azul para onde quer que eu olhasse. Havia terraços na encosta da montanha, com piscinas em todos os níveis, conectadas por tobogãs de água, e cascatas, e tubos pelos quais dava para nadar. Fontes aspergiam água no ar, tomando formas impossíveis, como águias voando e cavalos galopando eu já estava virando o rosto para olhar a expressão de Tyler com tudo aquilo...

Parei de andar.

- Megan? - chamou Jake. - Vocês esta legal? Parece meio pálida...

- Eu... - comecei. - Estou bem, vamos...

Passamos por todo tipo de animal domesticado. Uma tartaruga marinha cochilava em uma pilha de toalhas de praia. Um leopardo dormia esticado no trampolim. Os hóspedes do resort – só mulheres jovens, até onde eu podia ver – descansavam em espreguiçadeiras, bebendo coquetéis de frutas ou lendo revistas enquanto substâncias pegajosas de ervas secavam em seus rostos e manicures de uniforme branco faziam suas unhas. Jake parecia meio desconfortável dentre aquilo tudo, acho que ele prefere o táxi da Danação do que um Spa no meio do mar de Monstros.

Falando isso, parece até estranho não? No meio do mar de Monstros... Será que aquelas manicures não eram... Sei lá... Algum tipo de hidra, ou um monstro canibal, ou até mesmo... Ninjas gregos?

Subimos uma escadaria em direção ao que parecia ser o edifício principal, ouvi uma voz de uma mulher cantando, esta pairava no ar como uma canção de ninar - tive vontade de sentar aos seus pés e cochilar ali mesmo - A letra era em alguma língua que não o grego antigo, mas igualmente velha... De qualquer modo eu entendia sobre o que falava - luar em olivas, as cores da aurora. E mágica. Algo sobre mágica...

Adentramos em um grande salão cuja parede da frente era toda de janelas. A parede de trás estava repleta de espelhos, fazendo com que o salão parecia não acabar nunca. Havia um conjunto de móveis brancos caros, e sobre uma mesa em um canto havia uma grande gaiola de arame. A gaiola parecia deslocada em meio de todo aquele luxo, mas nem pensei muito nisso, porque naquela hora eu vi a dona da voz... e, DI IMMORTALES! Estava sentada em frente a um tear do tamanho de uma tevê de tela grande, as mãos tecendo fios coloridos para cima e para baixo com espantosa habilidade.

A tapeçaria brilhava como se fosse tridimensional – o cenário de uma cascata tão real que eu podia ver a água se movendo e as nuvens pairando em um céu de tecido.

Tomei folego.

- Nossa... - falei encantada.

A mulher se virou para nos ver. Sorriu. Os longos cabelos escuros estavam trançados com fios de ouro. Tinha olhos verdes penetrantes e usava um vestido preto sedoso com formas que pareciam mover-se no tecido: sombras de animais, preto sobre preto, como cervos correndo por uma floresta à noite.

- Parece que agrada-lhe querida... - disse ela.

- Sim, é lindo. - falei.

Nossa anfitriã apenas sorriu.

– Tem bom gosto, minha querida. Estou tão contente por vocês terem vindo. Meu nome é C.C. - disse ela com a voz macia como seda.

Os animais na gaiola do canto começaram a se agitar. Deduzi que deviam ser porquinhos-da-índia. 

- E como se chamam?  - perguntou C.C. tirando minha atenção dos porcos-da-índia.

- É... - comecei. - Me chamam de Megan, e esse é Jake.

Ela examinou Jake com o olhar e terminou com um quê de desaprovação.

- Oh, céus... - gemeu ela. - Você realmente precisa da minha ajuda...

Jake franziu a testa confuso.

- Senhora?

C.C. chamou a moça de tailleur.

- Hylla, leve Megan para dar uma voltinha? - disse ela. - Mostre a ela o que temos disponível. As roupas precisarão ser trocadas. E o cabelo, céus! Faremos uma consultoria de imagem completa depois que eu falar com este jovem cavalheiro...

Me senti realmente mal, mesmo assim ao mesmo instante meio que confusa.

- Imagem completa? - perguntou Jake.

- O que tem o meu cabelo? - perguntei magoada.

C.C. deu um sorriso bondoso erguendo meu rosto pelo queixo.

- Querida, você é adorável, sem dúvidas disso! Mas não está mostrando a si mesma ou seus talentos nem um pouco. É muito potencial desperdiçado!

Ri.

- Desculpe, mas não entendo...

– Bem, você certamente não está feliz do jeito que é! Céus, não existe uma única pessoa que esteja. Mas não se preocupe. - ela segurou meu rosto entre as mãos. - Podemos melhorar qualquer um aqui no spa. Hylla vai lhe mostrar o que quero dizer. Você, minha querida, precisa revelar seu verdadeiro eu!

- Verdadeiro eu? - perguntei. - O que vai fazer com Jake?

C.C. lhe lançou um olhar triste...

- Jake requer minha atenção pessoal. Ele vai dar muito mais trabalho que você.

Jake bufou.

- E eu ainda estou aqui... - disse. - A quem interessar...

– Hylla, quer levar Megan para dar uma voltinha? Mostre a ela o que temos. As roupas precisarão ser trocadas com certeza. E o cabelo, oh céus! Faremos uma consultoria de imagem completa depois que eu falar com este jovem cavalheiro.

- Imagem completa? - perguntou Jake.

- O que tem o meu cabelo? - perguntei.

C.C. deu um sorriso bondoso.

– Minha querida, você é adorável. Sem dúvida! Mas não está mostrando a si mesma ou seus talentos nem um pouco. É muito potencial desperdiçado!

Eu ri.

- Potencial?

– Bem, você certamente não está feliz do jeito que é! Céus, não existe uma única pessoa que esteja. Mas não se preocupe. Podemos melhorar qualquer um aqui no spa. Hylla vai lhe mostrar o que quero dizer. Você, minha querida, precisa revelar seu verdadeiro eu!

Mandei um olhar para Jake que dizia "Socorro", mas era tarde, eu sabia que tinha algo errado naquele lugar, Hylla me arrastou antes de eu dizer qualquer coisa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Talvez o próximo capítulo demore a sair, T.T bem, galera comentem e... é, tchau kisses e etc....



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crônicas Do Olimpo - O Mar De Monstros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.