Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 15
15: Sol Adormecido


Notas iniciais do capítulo

Não consigo me segurar,
Pergunto-me o que há de errado comigo?

* Lithium



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Não achei Zora, o circo vazio parecia respeitar meu momento estranho de luto. Caminhei para fora, tentando me localizar em meio a floresta banhada por um fraco sol fraco que brilhava em meu rosto. Eu sabia onde o cemitério ficava, não me perguntem como....apenas sabia e isso me assustava.

Segui pelas ruas, sabendo do meu destino e não me importo muito ou parado para olhar com admiração os ilusionistas fazendo truques com garotos de rua, ou barbeiros cantando enquanto afiavam suas navalhas. Tudo parecia tranquilo e normal.

O cemitério de Egerver era um lugar sombrio, mesmo estando um sol fraco e dia, tudo nele parecia grudado em sombras negras. O portão de ferro fundido, era guardado por dois anjos sem asas, olhando com tristeza para o céu, como se esperando sua sentença final. O caminho era ladeado por pedras grandes e escuras, cheias de limbo e folhas secas que quebravam ao toque do meu pé, tudo ao redor era cercado por grandes árvores que impediam o sol de penetrar em todo cemitério.

Os túmulos eram dos mais variados, mas todos eram da mesma cor cinzenta com cruzes grandes e estatuas sombrias chorando sobre quem ali jazia eternamente. As poucas flores que existiam, pareciam ser feitas de papel, pálidas e já murchas. Parei de imediato, enquanto não muito longe, um cortejo estava sendo feito.

Abaixei a cabeça em sinal de respeito, enquanto desviava do pessoal trajando roupas escuras e grandes guarda-chuvas de renda. Caminhei em saber direito, quem era o tal “garoto morto” e me sentindo perdida em meio as lapides.

- Procurando por algum em especial? -me virei para trás, onde um homem magro de pele pálida me encarava com um sorriso sem dentes, ele parecia ser o zelador, pois usava um gasto macacão preto e trazia em mãos uma pá.

- Eu bem estava procurando o...-como dizer isso sem parecer desrespeitosa? Mas não havia outra forma -O garoto morto...

- Há claro, o pequenino -disse em um suspirar cansado -Apenas siga reto e logo achará.

- Obrigada -sorri enquanto voltava a fazer meu caminho, apertando as folhas contra meu peito. Na verdade era uma construção bem visível, havia um anjo de asas abertas, com as mãos juntas e olhos fechados, como se estivesse em uma oração silenciosa. Sua lapide não era muito grande, com uma pequena foto de um garotinho de cabelos loiros com um grande sorriso de olhos vivos e brilhantes, um maravilhoso e triste tom dourado. Seu nome estava em relevo escuro, junto a uma inscrição: “Você não estará sozinho, nunca”  Dustin Erstanding.

Isso era tão triste, mais do que triste era uma dor que parecia queimar em meu peito querendo achar caminho até minha boca e gritar, eu queria gritar por esse garotinho de olhar inocente. Mas eu nunca consigo chorar para tudo ou gritar para tudo.

Eu tinha meus próprios pesadelos, mas a dor dos outros parecia de certa forma ser também a minha. Acho que algo a ver, com fato de ser uma caçadora de sonhos.

Me agachei na grama úmida, passando a mão em sua lapide fria e notando que estava bem cuidada e cheia de flores, não flores murchas e sim vivas. Rosas em cor sangue exalando um perfume melancólico e outras pequenas brancas, demonstrando um sinal de paz silencioso.

- Sinto por você pequeno Dustin -disse enquanto pegava o pergaminho com sua poesia e deixava logo abaixo de sua foto -Espero que esteja em paz.

Então me levantei, dando um breve aceno de cabeça ao garoto morto e sua triste poesia. Agora meus pés pareciam se mexer sozinhos, não fazia ideia de onde estava seguindo mas com um gelo na barriga, sabia que era o tumulo de Felícia.

Que não era exatamente um túmulo, eu estava de frente para um solitário mausoléu de pedras brancas, com a entrada cheia de pilares de mármore escuro. Subi alguns degraus, lendo na parede suja, a placa prateada: Família Desmund.

Suspirei sentindo algo balançar friamente no meu interior, isso era um sentimento claro de perda.

Mas a perda de que?

- Sua falta de ambição e curiosidade me enoja! -não virei para trás, eu estava cansada de ficar assustada com qualquer um, mas essa voz me lembrava de que não se trava apenas de qualquer um. Uma voz ao mesmo tempo suave e cavernosa, a mesma que poderia enlouquecer qualquer, a mesma que traria destruição e morte a sua vida.

- Porque isso lhe interessa de qualquer forma?-perguntei sendo mesmo ríspida e não me importando se ele me mataria ou distorceria minha mente, eu sentia raiva agora. Me virei e ele tinha um sorriso nos lábios, que não chegavam até os olhos, mas já era alguma coisa.

-  Se quer saber certas coisas e descobrir tantas outras, o certo não é ficar choramingando pelos cantos.

Hó sim, ele tinha razão mas não daria lhe daria o gosto de me ver questionando o que ele tinha acabado de dizer.

- E bem o que faz aqui? Novamente disposto a distorcer minha mente! -disse no meu maior tom frio, enquanto ele se escorava com um olhar tedioso nas pilastras.

- Aquilo foi divertido, mas não, apenas recolhendo algumas almas que resolveram passear-então voltou sua atenção para mim -E você, escolhendo o melhor lugar para jazer na eternidade?

Engoli em seco, sentindo minhas mãos suarem frias e tremerem de leve. Kizzy controle... ele não lhe assusta... não lhe assusta.

Isso era muita mentira, ele me assustava até os ossos! Mas como tenho meu orgulho, não o deixaria saber disso, apesar que desconfiava que ele já sabia.

- Apenas fazendo algumas...visitas.

Ele se aproximou e tentei manter o foco de que em um piscar de olhos ele poderia me matar e não fiquei babando por seus olhos esmeralda.

- O que lhe interessa na família Desmund?

- Eu...é...-tentei caçar alguma coisa na minha mente mas nada havia, e seu olhar questionador não ajudava em nada, suspirei em frustração -Eu não sei.

Ele se afastou, parecendo procurar alguma coisa em meu rosto e suspirou enquanto bagunçava os cabelos negros.

- Você é estranha -disse para si mesmo enquanto apertava os olhos em minha direção -Acho que não nos apresentamos da devida e correta forma, sou Casper.

- Kizzy -suspirei, enquanto ele ainda não desgrudava os olhos do meu rosto, isso era uma trégua?

Então sorriu, acho que leu meus pensamentos, pois a próxima coisa que me disse, me fez ficar em alertas total.

- Gosto de saber um pouco mais sobre minhas vitimas.

Paralisei, temendo seu próximo passo, ele apenas sorriu para sim mesmo, gostando enquanto com certeza via medo e fascinação em meus olhos. Com facilidade, ele abriu as portas do mausoléu, que fizeram um rangido assombroso, como um grito solitário.

 - O que está procurando?-perguntei, enquanto ele deixava passagem para que eu entrasse.

O mesmo apenas deu de ombros, enquanto olhava para longe.

- Sua alma.


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