Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 13
13: Abracadabra


Notas iniciais do capítulo

Um meio de saborear a noite
A elevação elusiva
Segue a loucura

*Nightwish



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- Bú! -me virei para trás com tudo, pronta para socar quem fosse, mas era apenas Zora com um olhar de espanto. Deixei toda adrenalina passar e tentei raciocinar direito, não havia mais música ou aparição....apenas eu em meio a uma floresta de cascalho com uma Zora de olhos arregalados para mim.

Talvez uma manhã comum.

- Me desculpe, estou um pouco...elétrica -comentei enquanto ela dava de ombros e sorria, Deus, como tudo isso era estranho.

- Tudo bem, pessoas de fora sempre agem assim nessa cidade, não sei porque -disse sorrindo, enquanto ajeitava o laço vermelho sangue nos cabelos -Então, estava indo para o circo?

- Sim, na verdade preciso fazer algumas perguntas a vocês.

Ela apenas abriu a boca, soltando um “haaa” mudo, enquanto fez sinal para que eu a seguisse. Mesmo não estando mais sozinha, olhava ao redor nas árvores, procurando alguma sombra idêntica a mim, cantarolando algo bizarro.

- Esse lugar tem alguma fama de amaldiçoado?-pergunto, enquanto a imponente fachada do circo aparecia, com uma elegante placa de madeira de letras pretas cursivas gritava: “Lacrimosa, onde seus sonhos podem ser tornar realidades ou virarem pesadelos” slogan um tanto....chamativo.

Zora riu, um som agradável e alto.

- Existe muitas lendas cercando esse lugar, dizem que as maldições são reais...mas quem vai saber, toda Egerver parece ter sido emergida em um buraco estranho e isolado.

- Concordo -comento, enquanto passávamos por uma cerquinha de arame farpado, cheio de flores brancas, com as pétalas iguais vidro deixando a aparência do lugar um pouco mais anormal do que já era. As portas estavam fechadas, não era exatamente uma porta, se parecia mais com uma grande cortina de veludo listrada, que de uma forma magicamente estranha parecia impenetrável.

Zora apenas cantarolou, enquanto puxava um fino fio dourado e as cortinas, como vestidos bailando se abriram para nós.

- Isso se chama ilusão -foi tudo o que disse, enquanto passávamos por um corredor cheio de velas em candelabros altos e cartazes de antigos espetáculos pendurados por finas tiras de seda. Saímos de frente para o palco, que estava todo escuro com as cadeiras vazias e o ar com o incrível cheiro de rosas, esse lugar transbordava magia -Vamos até o salão principal, assim poderá fazer suas perguntas em paz.

Novamente a escuridão nos engoliu, quando dei por mim estava em um corredor repletos de espelhos, que mostravam meu reflexo ora zangado, ora sorridente...ora triste, por sorte isso não era ilusão, já que Zora também parecia refletida. Ouvia barulhos de vozes, mesmo não sabendo de onde vinha, algumas horas até mesmo um som de piano se era ouvido tocar, por entre o labirinto bizarro que Lacrimosa era.

- A quanto tempo, esse circo está aqui?-perguntei, enquanto viramos em um tipo de esquina e Zora puxava uma cortina azul com manchas vermelhas para travessarmos a um salão oval, de teto de vidro.

- Me disseram que antigamente era um circo itinerante, mas corre a lenda que antes mesmo de Egerver existir, esse lugar já estava aqui -então abriu os braços -Bem vinda ao nosso covil.

No salão havia de tudo um pouco. Um pequeno palco, com um piano negro de cauda, onde um homem que parecia um esqueleto tocava sem notar nossa presença, gaiolas penduradas por fortes correntes, mostrando leões brancos e tigres com listras vermelhas dormindo. Argolas no teto, onde três garotas estavam se esticando, como se não temendo a queda que poderia leva-las a morte, do outro lado um homem limpava uma espada, retirando a cada hora uma da boca do garoto com olhar tedioso....

Uma total loucura.

- Esse lugar é bem...agitado -disse não conseguindo achar as palavras certas, mas acho que entendeu, pois sorriu.

- Agora imagine quando Penélope está aqui, ela deixa tudo isso ainda mais delirante.

Até imaginava mesmo. Zora continuou andando e eu a segui, passamos perto do garoto que vi no primeiro dia aqui, acho que seu nome era Enid. Ele estava olhando com desinteresse para uma bola de cristal, rodando seu dedo em circulas acima dela, fazendo com que a névoa verde lá de dentro se agitasse, apenas fez um gesto de cabeça quando nos viu passando.

- Eu sou a jornada! -gritou um homem enquanto flutuava pelo ar, amarrando em uma simples corda brilhante. Uma garota veio logo atrás, deixando seus cabelos voarem pelo ar, enquanto ela gritava de olhos fechados.

- Eu sou o destino!

Estava admirada, literalmente de boca aberta vendo o mundo louco e talvez divertido que eles viviam. Enquanto caminhávamos para uma outra cortina escura, notei no canto uma mulher usando muito anéis e colares, ela acariciava um gato gordo enquanto seus olhos brilhantes percorriam a mesa a sua frente.

- Quem é sua amiga Zora?-perguntou em uma voz alta, nos fazendo parar. Ela não retirou os olhos da mesa, mas quando se viraram notei ser de um celeste tom de azul.

- Essa é Kizzy e Kizzy essa é Madame Melida.

- Prazer -disse um pouco sem jeito, mas ela apenas sorriu, então não tive como não perguntar -O que a senhora é?

- Eu posso ser tudo o que você imaginar, um sonho, uma poesia, a inspiração que tanto precisa, a loucura...-então apertou os olhos me entregando uma flor vermelha sangue, que exalava um perfume forte -Eu sou a voz da terra do nunca.

Aceitei a flor, encarando com curiosidade seu rosto jovial e mesmo assim cheio de sabedoria, estava prestes a fazer mais perguntas mas Zora me puxou para longe dali, sorrindo para si mesma.

- Ela sempre diz a mesma coisa, se ficasse mais um tempo ela iria lhe perguntar algo, que certamente iria ficar martelando na sua cabeça até a morte.

Fiz um careta enquanto colocava a flor como um broche na minha blusa escura.

- Que seria?

Então se virou para mim, ainda sorrindo com uma pitada de loucura infame nesse gesto, seus olhos apertados, na luz pálida da luz parecendo brilhantes e extasiados.

- Como você sabe o que é real?


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