Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 12
12: Seu fantasma no nevoeiro


Notas iniciais do capítulo

Silêncio minha querida criança, deve ser este caminho.
Para os que estão cansados das decepções da vida.
Descanse agora minha criança
Pois logo iremos novamente
Na calma e no silêncio.


Musica tema do capítulo: Come Little Children. Kate Covington.



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– Kizzy! -abri os olhos, saltando de algum lugar no impulso e por pouco não caindo ao chão. Olhei ao redor, sentindo meu rosto molhado e todo meu corpo tremer. Penélope estava se auto abraçando me encarando com estranheza, enquanto Julian fazia uma careta no canto escuro perto da porta -O que está havendo querida, gritou a noite toda.

Senti meu rosto se retrair, eu estava louca? Ou aquilo foi um pesadelo muito realista...segui para janela, abrindo as cortinas e dando de cara com uma manhã cinzenta e calma. Mas o que...

– Julian, você está bem?-perguntei caminhando em sua direção, seus olhos estavam inchados mas tirando isso ele parecia intacto, ele assentiu -Nem uma dor no pescoço ou algo do tipo.

– Não, estou bem -disse coçando os olhos e abrindo um bocejo -Mas porque você estava gritando?

Me sentei na cama, me sentindo esgotada....drenada. Suspirei fechando os olhos e tentando abrir um sorriso, o que não deu certo.

– Tive um pesadelo...ele era tão real....

– Não -disse Penélope olhando para janela e depois para mim, ela levou as mãos na cintura e bailou pelo quarto -Aquilo não foi um pesadelo, alguém andou distorcendo sua mente.

Nessa hora Julian se levantou e me deu um breve aceno e saiu do quarto, acho que ele sabia que Penélope gostaria de falar comigo em particular. Ela sentou na cama, pegando minha mão fria e me dando um olhar curioso.

– O que é isso?

– É colocar um pensamento realista em sua mente, algo que não existe. Na maioria das vezes são coisas cabulosas e terríveis, as únicas pessoas que podem fazer isso é quem mexe com magia negra, ou senhores da morte.

Fiz uma careta, sentindo meu sangue ferver com raiva e medo ao mesmo tempo. Claro, o caído estava se divertindo as minhas custas.

– O que de ontem foi real?-perguntei temendo sua resposta, ela apenas deu de ombros se levantando.

– Nossa conversa, as mortes no centro... então você foi se deitar e começou a gritar, virando a noite toda -então suspirou, me dando um olhar torto -Kizzy, onde esteve ontem?

Me senti mal por ter mentindo, então lhe contei tudo e ela ao invés de gritar ou me expulsar de sua casa, apenas suspirou me dando um olhar de apreensão, dizendo apenas: “Kizzy, tome cuidado a onde está se metendo....nada é aquilo que se parece, ainda mais nesse lugar, mas me prometa que nunca mais irá na fronteira!”

Eu assenti, mas não prometi. Acho que isso me fazia uma pessoa ruim, mas eu queria apenas saber quem eu era.


Não conseguia mais ficar em casa, estava me sentindo inquieta como se a qualquer momento, pudessem distorcer novamente minha mente. Falei para Penélope que iria fazer uma caminhada, elas apenas assentiu dizendo “Nada de fronteira, ou lhe tranco no sótão” não sabia se aquilo era real ou não, mas Julian que estava nas pontas dos pés para pegar um livro, me deu um olhar assustado.

– Não é um bom lugar Kizzy.

Penélope sorriu, se levantando e entregando o livro ao garotinho que ficou animado e absorto em sua leitura.

– Nunca deixei você naquele lugar, querido.

Os deixei em uma conversa tranquila, enquanto puxava meu capuz para meus cabelos frisados e caminhava na fria porém enevoada manhã de Egerver. Mesmo assim havia mulheres cantarolado, enquanto desfilavam com cestas cheias de flores selvagens e homens barbudos andando de carroça. Quando o mesmo homem que me mostrou a fronteira me viu, ele sorriu, com olhos brilhantes e tirou seu chapéu.

Sorri, apenas fazendo um ligeiro gesto com a cabeça. Nem mesmo parecia, que mais de seus moradores foram mortos, mesmo assim os olhares suspeito estampavam o rosto de todos.

Eu não estava andando aleatoriamente, tinha um destino em mente: O circo. Mas andar de cabeça baixa, temendo cada sombra que se esgueirava pelas lacunas da rua, me fazia parar e encarar com exatidão o que era.

Acho que preferia morrer logo de uma vez, do que passar por toda essa tortura psicológica. Mas eu sabia, que ele, queria que eu pensasse exatamente isso, então tentei deixar meus pensamentos um pouco mais iluminados, com a esperança de que no circo alguém teria de me informar de algo.

Deixei a cidade para trás, caminhando no cascalho barulhento, nem bem enxergando meus pés em meio a densa névoa que os cobria. Fiquei um pouco mais feliz, quando em meio as árvores consegui ver as tendas negras e brancas, se parecerem como uma bandeira de salvação.

Então escutei uma música. Não era exatamente uma música, se parecia mais com um múrmuro assombroso, perdido no silêncio e névoa que pairava no ar. Uma melodia doce, quase triste, que me fazia tremer de cima abaixo, sentindo cada fio do meu cabelo se arrepiar.

Venha pequena criança, irei te levar.

Para uma Terra de Encantos.

Venha pequena criança.

É hora de brincar

Aqui, no meu Jardim das Sombras.

Olhei ao redor, procurando a dona da voz mas o que via era apenas névoa e árvores. Risadas ecoavam ao redor, enquanto a musica era cantada para ninguém em particular, eu conhecia essa música....sim eu a conhecia! Mas de onde? Isso me frustrava.

Então em meio a névoa cinzenta, vi uma sombra dançar sozinha, bailando em sua própria solidão mórbida. Andei em sua direção, ouvindo as risadas se cessarem e apenas sua voz fantasmagórica rodopiar ao meu redor, seguindo de pequenos sons parecendo com um carrossel, me trazendo estranhos sentimentos.

Não via ainda muito bem sua fisionomia, enquanto dançava o vestido negro voava delicadamente ao seu redor, com um véu na mesma cor tampando seu rosto, mas a voz era clara e única. Ela se parecia com uma bailarina, uma triste bailarina de voz doce e mesmo assim tristonha.

Então se calou, parando de costas para mim. Cheguei mais perto, não conseguindo fazer meus passos pararem, ela voltou a dançar, se aproximando ainda de costas, com seus pés quase nem mesmo tocando o chão, então ficou na minha frente, com o véu cobrindo seu rosto.

Ergui minha mão, em sinal de olá, a garota fez o mesmo. Senti minhas sobrancelhas se juntarem, mas ela novamente começou a cantar, enquanto abaixava a mão e puxava seu véu para baixo, onde um rosto muito familiar se mostrou, o meu próprio rosto lívido e sereno, melancólico e delicado.

Me afastei em um passo assustado, mas ela apenas estendeu suas mãos enluvadas em minha direção, virando a cabeça de lado me encarando com olhos mortos, enquanto ainda cantava e me deixava cada vez mais perturbada:

Siga doce criança, eu vou te

Mostrar o caminho.

Entre toda a dor e a tristeza.

Ela parecia uma visão da própria morte, minha morte assombrosa e ao mesmo tempo pedindo por redenção.

Eu não fazia ideia do que isso significava.














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