Nas Asas Da Escuridão escrita por Nyx


Capítulo 9
Despedida




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Quando Gabriel chegou perto de mim, eu estava em choque.

-Camilla, você está bem?

-Onde você estava? –perguntei sem olhar pra ele.

Minha avó ainda estava nos meus braços. Eu não tinha conseguido soltá-la.

-Eu ouvi sua avó pedindo por socorro e corri ao encontro dela. Quando cheguei à estrada, ela já estava caída, muito machucada. Ela pediu para que eu desse uma olhada ao redor para ver se conseguia alcançar quem tinha feito isso com ela.

-E você conseguiu achar alguém?

-Eu consegui ver que um Anjo caído estava sobrevoando ali perto, mas quando me aproximei, ele desapareceu no ar.

-E como você diferencia Anjo Caído e Anjo?

-Os Anjos caídos têm as asas negras. Não é branca como a nossa.

-Foi o Daniel?

-Eu não consegui ver. Não cheguei perto o suficiente.

Ele se abaixou perto de mim e me abraçou.

-Camilla, eu prometo pra você que eu vou pegar quem fez isso com a sua avó.

-Não vai ser necessário. Eu vou resolver isso. Para alguma coisa estes poderes tem que servir. E se foi o Daniel, eu vou fazer com que ele vire poeira celestial.

-Camilla, lembre-se que você está aqui para que a paz seja estabelecida.

-E a justiça também. Não foi o que você disse?

Ele me olhou assustado, mas concordou.

-Então está na hora de começar a fazer justiça com as minhas próprias mãos...

Dois dias tinham passado. Era o dia do enterro da minha avó. Eu já tinha chorado todas as lágrimas que eu podia.

Meu pai estava inconsolável. Ele e minha mãe tinham ficado muito abalados. Eu tinha inventado que ela deveria ter sofrido um assalto na estrada e tinha fugido para casa, para me proteger.

Imagine se eu conto toda essa história de Anjo e Arcanjo? A esta hora eu estaria internada num hospício. Minha irmã estava sofrendo calada. Não tinha derramado uma lágrima. Eu sabia que isso ia surtir efeito mais tarde. Gabriel e eu achamos melhor não falar nada sobre a presença dele na casa da minha avó, visto que ninguém sabia que ele estava lá. Mas ele estava ali no enterro, junto comigo, como um amigo da escola.

Kelly que também estava ao meu lado o tempo todo, achou estranho apresentar Gabriel ao meu pai e minha mãe como amigo da escola, mas ela não disse nada.

Quando estavam quase fechando o caixão da minha avó, eis que surge todo de preto, aquele que eu queria literalmente matar: Daniel.

Ele tinha tido a audácia de ir ao enterro da minha avó. Eu não sabia se tinha sido ele, mas com certeza tinha sido alguém do grupo dele. Quando o vi abraçando meus parentes, minha vontade foi que saísse aquela energia das minhas mãos para jogá-lo lá fora.

Meu corpo começou a esquentar e eu sabia o que podia acontecer. Kelly que estava me amparando, ficou assustada.

-Camilla, o que está acontecendo? Você está passando mal?

Gabriel viu Daniel e olhou na minha direção. Na hora, ele viu o que estava acontecendo comigo e veio ao meu auxílio.

-Você precisa se controlar.

-Mas ele veio até aqui! Ele está querendo me provocar.

Quando vi que ele estava vindo na minha direção, senti minhas costas arderem. Isso não podia acontecer, mas eu não conseguia controlar.

-Kelly, tire-a daqui. Agora!

Kelly olhou pra ele com uma cara brava, mas obedeceu.

-Vem amiga. Vamos ao banheiro.

Eu estava tremendo toda, e aquelas asas iam sair. Quando vi a porta do banheiro, larguei a Kelly e corri. Eu tive sorte, porque foi passar pela porta do banheiro e elas surgiram. Ainda bem que não tinha ninguém do banheiro.

Kelly entrou logo atrás de mim e se chocou contra a parede. Ela me olhou de boca aberta, como se eu fosse um fantasma.

-Camilla, eu estou... vendo...

Eu suspirei. Eu não queria que ela soubesse dessa maneira.

-Sim, você está vendo.

-Isso são asas?

-Sim amiga, asas.

-Você é um anjo? Eu devo estar sonhando.

-Há três dias, eu também pensei isso. Que tudo não passava de um pesadelo. Mas só que acordei e tudo continuou igual.

-Você é assim desde quando?

-Acho que desde sempre, só que não tinha se manifestado. Foi assim que Gabriel me falou.

-E esse Gabriel é quem? Você nunca me falou dele.

- Gabriel? Nada de especial. Só meu marido.

-Camilla, você bateu a cabeça? Que história de marido é essa?

Minhas asas começaram a ficar mais leves, sinal de que estavam desaparecendo. Mas a esta altura, minha blusa já estava toda rasgada.

-Amiga, você me empresta o seu casaco? Tenho que esconder estes rasgos nas minhas costas.

Ela tirou seu casaco e me entregou.

-Você vai ter que me contar tudo tin tin por tin tin.

-Eu vou sim amiga, preciso desabafar toda esta droga.

Como eu ia contar pra Kelly que o namorado dela era um arcanjo também? Isso eu não podia contar. Cabia a ele. Ainda mais agora que ela tinha me visto.

-Amiga, pra mim não importa se você é anjo ou não. Importa que eu te amo e estou do seu lado.

Abracei a minha amiga e recebi seu carinho confortador. Eu precisava muito dela do meu lado para conseguir seguir em frente.

-Eu também amo você amiga.

-Camilla, você está bem?

Vi Gabriel e Miguel entrando no banheiro.

-Ei, você não pode entrar aqui. – eu adverti.

-Miguel, o que você está fazendo aqui? Você conhece esse cara? – Kelly logo perguntou.

-Conheço sim, meu amor. Ele é meu irmão.

-Como assim? Que história é essa de irmão?

-Vem comigo. –Miguel puxou Kelly pelas mãos.

-Acho que ela vai arrancar uma asa dele. –Gabriel sorriu.

-Pode ter certeza. Porque se meu gênio é ruim, o da Kelly é três vezes pior.

-Ela te viu, né?

-Viu sim. Mas ela ficou bem. Espero que Miguel conte tudo pra ela, porque eu não vou esconder nada dela.

-Pode ficar à vontade. Com certeza ele vai contar. Quer um abraço?

-Quero, mas acho melhor a gente sair daqui. Não vai ficar legal me encontrarem com um garoto dentro do banheiro feminino.

-Daniel foi embora?

-Sim. Miguel e eu o colocamos para fora sutilmente. Ele não gosta de atenção exagerada sobre ele.

Desta vez eu sorri.

-Imagino.

-E ele estava sozinho. E não tem poder suficiente contra mim. Ainda mais dois. Ele é apenas um Anjo Caído. Quando eles caem, seus poderes se reduzem pela metade.

-Entendi.

-Venha, já vão fechar o caixão. Venha se despedir da sua avó.

Quatro dias depois...

Eu não tinha notícias de Gabriel desde o enterro da vovó. Acho que estava me dando um tempo para ficar com minha família. Kelly só tinha me ligado hoje de manhã, marcando um encontro comigo na casa dela às quatro da tarde. Estava quase na hora.

Eu passei no mercado e comprei morangos e leite condensado. Nós sempre comíamos isso quando estávamos com algum assunto importante. E para o assunto de hoje, eu tinha comprado cinco caixas de morangos.

Quando cheguei à casa dela, a mãe dela veio falar comigo.

-Oi Camilla. Meus sentimentos pela sua perda.- Ela me deu um abraço.

-Obrigada tia Vera. A Kelly esta no quarto dela?

-Sim, está. Você sabe se ela e o Miguel brigaram?

-Não que eu saiba.

-Tem três dias que ela está trancada naquele quarto. E não quer me contar o que aconteceu.

É! Realmente ela deveria ter arrancado uma das asas do Miguel!

-Pode deixar que eu vou ver o que está acontecendo.

-Obrigada.

-Quando cheguei à porta do quarto dela, bati.

-Se for a Camilla pode entrar. Se for qualquer outra pessoa, eu quero ficar sozinha.

Eu entrei e a vi deitada toda descabelada na cama dela. Com os olhos inchados e olheiras profundas. Eu vi que não era só eu que esta história tinha afetado.

Quando ela me viu, deu um sorriso triste. Mostrei para ela os morangos e o leite condensado.

-Eu estou precisando muito disto.

-Eu também amiga. – respondi.

Enquanto eu abria a lata de leite condensado e jogava em cima dos morangos, ela começou a falar.

-Eu terminei com ele.

Eu olhei pra ela assustada.

-Você fez o que?

-Eu disse que não queria ficar mais com ele. Ele mentiu pra mim. Tudo era mentira.

-Amiga, ele ama você!

-E eu o amo muito também. Mas que futuro nós vamos ter juntos. Ele é um Arcanjo, droga!

Então ele tinha contado tudo pra ela.

-Ele me contou tudo sobre você também. E sobre o Gabriel. Agora entendo a história do “marido”.

Eu ri dela. De nervoso. Eu sabia que a Kelly estava sofrendo demais.

-É amiga, isso tudo está uma loucura. Eu entendo você, mas Miguel não fez por mal. Só estava me protegendo. E se apaixonou por você. Ele não tinha permissão para contar. Eu também fiquei em choque. Ainda mais por conta do Daniel.

Nós ficamos conversando um longo tempo. Quando olhei no relógio, já passava das nove da noite.

-Tem certeza de que não tem volta com o Miguel? – perguntei.

-Eu não sei de nada no momento. O que mais me magoa era que todos os planos que fizemos juntos não vão acontecer. Ele não pode viver aqui, porque ele pode morrer. E eu não posso viver no Paraíso se não estiver morta. E mesmo se estivesse morta, ainda assim eu só seria uma alma. Quando vamos poder casar? Ou ter filhos?

-Mas vocês viveram tão bem até hoje.

-Isso tudo o que aconteceu, só serviu para me mostrar que eu não o conhecia realmente. Eu nunca fui a casa dele, ou conheci algum membro da família dele. E nunca desconfiei quando ele ficava sem falar comigo dois dias inteiros toda semana. Agora eu sei. Eu estou muito magoada.

-Eu te entendo. Só quero que saiba que eu estou aqui.

-Eu sei. Se bem que agora você é a “escolhida” do Paraíso...

Ela debochou de mim e rimos juntas. Mas isso não tinha tanta graça assim.

-E como você fica com o Gabriel?

-Ainda está meio confuso. Tem esse negócio da atração e memórias que eu tenho que resgatar. Não sei como vai ser. Não sei nem como controlar minhas asas. Mas acho que Rafael deve dar o ar da graça logo, logo.

-Ah, é verdade. Seu outro pai.

-Tem dias que não falo com o Gabriel, mas eles devem estar no Paraíso. Resolvendo o que fazer comigo e com meus poderes descontrolados.

-As aulas começam daqui a dois dias. Você vai voltar para a escola?

-Claro que sim, amiga. Vai até ser bom pra mim.

-Daniel vai estar lá.

-Eu já pensei nisso. E vou tentar me controlar. Preciso que você me ajude com isso.

-O que você quiser. Pode contar comigo. – ela me disse.

-O Miguel também vai estar la´. – lembrei a ela.

-Também vou querer que retribua a ajuda que eu vou te dar com isso. Não quero falar com ele por enquanto. Quero que mantenha ele longe de mim.

-Kelly, estudamos na mesma sala. Como vou fazer essa proeza?

-Faz ele ficar invisível, por favor.

-Amiga, sou um anjo. Não do X-Men.

-Que droga de poderes hein?

A abracei e fui embora para casa.

Acho que ia tentar fazer uma Yoga ou coisa do tipo. Tinha que treinar autocontrole. Porque senão eu não ia conseguir controlar minha raiva do Daniel e dos Anjos caídos. Eles tinham matado a minha avó. E isso não ia ficar assim.


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Notas finais do capítulo

O que acharam deste capítulo?????
:)

Pri