Nas Asas Da Escuridão escrita por Nyx


Capítulo 5
Confusão




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Ele me olhou com um ar debochado. E aquilo me deu uma raiva danada. Ele tinha o dom de me tirar do sério.

-Qual parte do “Eu odeio tomar susto” você não entendeu? –eu quase gritei com ele.

Ele se levantou e pulou para o galho onde eu estava. Ele aparentemente estava bem. Fiquei olhando para ele desconfiada.

-Me desculpe. Não foi minha intenção te assustar.- Ele sentou-se de frente pra mim.

-De boas intenções o inferno está cheio. – eu disse.

-Nisso você tem razão. – e sorriu. Ele pareceu apreciar este comentário.

_E como foram seus exames. O que aconteceu com você?

-Bem, -ele suspirou- vou ter que fazer exames mais detalhados, que não existem aqui nesta cidade. O médico acha que foi uma queda de pressão momentânea. Mas ele ainda não sabe.

Não preciso nem falar que isso não me convenceu. Mas minha estratégia era a observação e absorção de informações.

-Sei...- e folheei meu livro desinteressadamente.

Ele não levou o assunto adiante. Pelo contrário, logo me fez uma pergunta.

-O que você fez nestes dois dias?- ele parecia realmente interessado.

-Bem, eu li. E li. E li de novo.

Ele sorriu e eu sorri de volta.

-Ah, e também tomei banho na cachoeira. - Ainda não sei por que tive que fazer este último comentário.

Ele ficou sério e depois sorriu novamente.

-Não acredito que perdi isso! Você tomando banho na cachoeira... O que você estava vestindo?

Resolvi ser perversa.

-Ué, nada!

Eu vi quando ele comprimiu os lábios e me olhou de um jeito diferente, que parecia ver até a minha alma.

-Você está brincando, não é? – Ele quis saber.

Fiz a cara mais inocente do mundo.

-Você nunca tomou banho de cachoeira?

-Não sem roupa, mas vou adorar a experiência com você.

Eu gargalhei.

-Claro que não. – eu devia mesmo ter perdido o juízo. Se Kelly pudesse me ver agora, ela iria achar que enlouqueci. Mas uma coisa era verdade: eu não conseguia agir normalmente quando estava perto dele. Com esse pensamento, me ajeitei para descer. Ele segurou a minha mão e meu coração quase saiu pela boca.

-Já vai descer?

-É melhor eu entrar. Vou ver se a vovó está precisando de ajuda para preparar o jantar.

Ele soltou minha mão.

-Tudo bem. Eu vou com você.

Bem, não tinha jeito mesmo. Ele desceu primeiro e fui logo atrás dele. Quando entramos em casa vovó já tinha feito tudo. Nós jantamos conversando animadamente. Contei sobre minha escola, meus amigos, meus pais, minha irmã... Eu abri minha boca e parecia que não ia fechar nunca mais. Vovó e Gabriel riam de como eu narrava as histórias de todos. Foi muito agradável. Depois do jantar resolvemos assistir a um pouco de TV. Vovó sentou-se na poltrona dela e eu sentei junto com Gabriel no sofá em frente a TV.

Resolvemos assistir um filme de suspense que estava passando. Não é meu gênero de filme preferido, mas vovó e Gabriel queriam e eles foram a maioria. Mas acontece que quando eu não quero ver determinada coisa, eu não presto atenção e geralmente acabo dormindo. E foi o que aconteceu.

Quando  acordei ainda estava na sala. A luz estava acesa e a Tv estava desligada. Olhei para o relógio acima da TV. Nossa! Eram quase uma hora da manhã. Mas o que mais me deixou abismada foi ver que Gabriel dormia. Debaixo de mim. Nós estávamos abraçados naquele pequeno espaço do sofá. Mas minha pergunta era uma só: como aquilo tinha acontecido?

Ele parecia um anjo dormindo. Estava até suspirando. Eu podia ficar assim para sempre. Deitei minha cabeça em seu peito novamente. Eu nunca mais ia querer sair dali.

Sentir o cheiro dele era muito bom. Eu nunca tinha me sentido daquele jeito com Daniel. Nas últimas semanas, eu não gostava nem que ele me beijasse. Olhei para Gabriel de novo. Agora ele não estava dormindo mais. Ele estava me olhando intensamente. Fiz menção de levantar, mas ele me apertou entre seus braços.

Senti meu corpo se arrepiar completamente. Eu não conseguia desviar meus olhos dos dele. Ele então segurou meu rosto entre as mãos e aproximou seu rosto do meu. Eu não conseguia me mover. Minha respiração ficou acelerada e comecei a suar frio.

Senti seu hálito perto demais da minha boca. Fechei meus olhos e decidi não interromper o momento. Então nossas bocas se juntaram e tomei outro susto.

-Hora das crianças irem para cama. Cada um no seu devido quarto. SEPARADOS.

Minha avó passou pela sala e quase caí do sofá. Ela não tinha olhado diretamente. E nem parecia ter ficado zangada. Eu estava morrendo de vergonha. Saí correndo para o meu quarto e me tranquei lá. Eu não tinha nem dado boa noite para ele. Logo depois de mim, ouvi a porta do quarto dele sendo fechada também.

Como eu ia ter coragem de olhar pra ele de novo? Geralmente eu não era assim tão fácil. Daniel tinha demorado quase quatro meses para que eu ficasse com ele. E cinco dias com Gabriel e já tínhamos quase nos beijado. Porque aquilo não tinha sido um beijo, beijo. Tinha sido como um selinho. Tinha até medo de pensar em como seria quatro meses de convivência com ele.

Eu não estava arrependida, mas sim envergonhada. E com muita raiva da minha avó. Ela poderia ter aparecido cinco minutinhos depois. Eu estaria satisfeita e não com esse sentimento de frustração.

E com certeza de manhã minha avó ia querer conversar sobre o assunto. Ia depender muito do meu humor. E eu não ia falar sobre isso com Gabriel. Ia fingir que nada aconteceu. Ia ser melhor. Mas se ele quisesse me beijar de novo, ia ser outra história.

Quando eu acordei, tudo estava no silêncio total. Fui ao banheiro fazer minha higiene pessoal e vi que Gabriel já tinha se levantado. Vovó também não estava no quarto dela. Dirigi-me para a cozinha. Quando estava me aproximando, ouvi minha avó e Gabriel cochichando. Resolvi ir me aproximando bem devagar para poder ouvir o que eles estavam falando.

-Você não está aqui pra isso Gabriel! – ela apontava o dedo na cara dele. Ele parecia muito calmo.

-Mas você também sabe que não tenho controle sobre isso quando estou perto dela.

Mas do que eles estavam falando?

- Você quer que aconteça aquilo que aconteceu da última vez? – vovó parecia bem determinada em fazer ele entender algo.

-Não vai acontecer de novo. – ele respondeu de cabeça baixa.

- Você tem que ser mais cuidadoso. Eu entendo perfeitamente e sei como é pra você, mas ela ainda não sabe.

Eles estavam falando de mim. Minha vontade era de aparecer e fazer um escândalo e perguntar o que daquela merda toda eu não sabia. Mas eu não podia deixar que eles percebessem que eu estava juntando informações. Que eu estava investigando.

Entrei na cozinha e eles se assustaram.

- Bom dia! – me virei para a geladeira e peguei uma garrafa de leite.

Eles me responderam e continuaram me olhando.

Resolvi na minha mente maquiavélica que a única maneira de descobrir o que estava acontecendo era investir no Gabriel. Entrar nas brincadeiras dele. Que ele não era indiferente a mim era óbvio. Mas como ele iria reagir se eu começasse a retribuir as brincadeiras? Ia ser divertido. E eu ia gostar também. Porque minha avó não ia me revelar nada.

-Que dia lindo! Está ótimo para um banho de cachoeira. Você me acompanha Gabriel? – Dei o olhar mais inocente que eu pude, para que eles não descobrissem que eu tinha ouvido. Eu devia ser atriz!

Ele olhou para a minha avó, como se pedisse permissão. Ela assentiu.

-O que foi? Vocês estão muito estranhos. Está acontecendo alguma coisa?

-Não minha querida. Está tudo bem. Aproveitem o dia de vocês. Preciso ir à cidade e devo voltar só de noite. Se comportem.

E ela deu um olhar na direção de Gabriel. Fingi que não percebi. Ela saiu e logo depois ouvi seu carro se afastar. Eu olhei para Gabriel e sorri. Ele não retribuiu o sorriso e percebi que a conversa com minha avó tinha surtido efeito nele. Mas não importava.

-Então, vamos? –perguntei.

- Tomar banho de cachoeira?

-Claro.

Ele deu um longo suspiro.

- Vai estar vestida, não é?

-Geralmente isto depende do meu humor. E hoje ele está ótimo!

Ele fez uma cara que eu quase ri. Parecia até um olhar assustado.

-Não se preocupe. Eu estou brincando. – eu disse rapidamente. Ele poderia querer não ir.

Fui para o meu quarto escolher um biquíni. Geralmente eu usava um maiô quando ia à cachoeira, mas hoje eu ia colocar um biquíni. Eu não estava para brincadeira. E ele ia me contar tudinho que estava acontecendo. Por bem ou por “mal”.


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