Nas Asas Da Escuridão escrita por Nyx


Capítulo 4
Mistérios




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Gabriel ainda repousava sua cabeça no meu colo. Minha avó parecia preocupada ao extremo. Eu não estava entendendo nada.

-Já se sente um pouco melhor? Consegue levantar? – Perguntei a ele.

-Acho que sim. Obrigada. –Ele respondeu, tentando se levantar.

-Gabriel, o que está acontecendo? – Minha avó perguntou praticamente gritando.

-Vovó! –A repreendi. Não era momento. Ela não precisava fazer aquela cena.

Ele abaixou a cabeça e se dirigiu cambaleando para a porta da cozinha. Eu fui em seu auxílio.

-Eu exijo saber o que aconteceu. –Ela nos acompanhou.

-Não aconteceu nada! Eu só me senti mal. - Ele respondeu com um rosto muito sério, fitando minha avó com certa intensidade, que eu fiquei sem graça. Não um tipo de olhar romântico. Mas o tipo de olhar que te põe em seu lugar.

Minha avó pareceu entender o recado e não o questionou mais. Minha “sirene” soou novamente. Aquilo estava ficando cada vez pior. Mas eu ia descobrir.

Fui escorando-o até o quarto dele e o ajudei a deitar na cama. O quarto dele era igual ao meu.

-Obrigado por se preocupar comigo.

-Imagina, não foi nada. Mas o que aconteceu? Te vi dormindo na sala e nem meia hora depois você estava caído lá fora. Se estava se sentindo mal, porque não me chamou? – Acho que fiquei um pouco brava com ele.

-Ainda estou tentando entender. Isso nunca me aconteceu.

Olhei para ele desconfiada. Ele não parecia estar mentindo. Ele ajeitou o travesseiro atrás da cabeça e fechou os olhos.

-Então você precisa de um médico. Para te examinar e ver o que se passa. – Sugeri.

Ele abriu os olhos e olhou para o teto. Ele estava pensando no que me dizer. Tive certeza disso.

-Você tem razão. Vou pedir para sua avó ver isso pra mim. – Ele suspirou e voltou a fechar os olhos.

Esperto, muito esperto. Eu nunca tinha ficado tão desconfiada em toda minha vida.

-Remedinho milagroso aquele que a vovó te deu! – Cutuquei.

Ele sorriu e abriu os olhos novamente.

-Aprecio a sua preocupação, mas agora eu gostaria de descansar um pouco.

Nossa! Ele me dispensou. Na cara dura. Também, eu tinha que concordar que eu estava sendo muito insistente. Mas por hora eu iria deixa-lo sozinho. Era fato que ele não queria responder.

-Tudo bem. –respondi. –Qualquer coisa que precisar é só me chamar.

-O que eu precisar? –ele deu aquele sorriso que me desconcertava.

-Nem tudo. Vejo que já está ficando melhor. – Dei as costas para ele e saí do quarto. Minha avó ia ter que me explicar direitinho toda aquela reação dela.

Encontrei minha avó andando de um lado para o outro no quarto dela. Ela realmente estava muito preocupada. Resolvi ser direta.

-Vovó, o que está acontecendo???

Ela me olhou assustada e ficou em silêncio.

-Eu já notei que está acontecendo alguma coisa aqui. Não engoli essa história do Gabriel morar aqui com você por uns tempos. Está achando que eu sou alguma boba? E o que aconteceu lá fora? Toda aquela troca de olhares. Eu quero saber o que se passa.

Ela me olhou muito assustada. Vi que ela não sabia o que responder. Eu tinha certeza de que ela ia me enrolar, igual ao Gabriel.

-Existem muitas coisas que você não sabe ainda. E não é o momento para saber.

-O que eu não posso saber? –que papo era aquele?

Ela me abraçou e eu fiquei sem reação.

-O seu destino foi traçado antes mesmo de você nascer.

-Como? Como assim? –fiquei assustada.

-No tempo certo você vai saber. Não pergunte mais nada, porque eu não posso contar.

Ela parecia um pouco aflita. Mas esta história de destino traçado ficou meio estranha. Será que ela tinha bebido alguma coisa?

Tudo ficou mais complicado ainda na minha cabeça. Eu não sabia o que pensar. Olhei para os olhos lacrimejantes da minha avó e dei um beijo no rosto dela. Eu queria confortá-la. Será que Gabriel era tão importante assim para ela? Será que ele era tão importante a tal ponto de toda esta confusão? Meu Deus! Então veio um pensamento escabroso na minha mente. Na hora me afastei dela. Será que eles...

-Vovó! Você e o Gabriel estão...- não consegui terminar

Ela na hora entendeu e começou a gargalhar.

-Camilla! Claro que não? De onde tirou esta ideia? –ela parecia tão enojada quanto eu. –Ele é uma criança.

-Não sei vovó! Passou pela minha cabeça. Eu estou no escuro! –isso era verdade.

Ela passou as mãos pelos seus cabelos brancos e curtos e suspirou. Vi que ela não ia me falar nada também. Destino, não é? Então íamos ver. Eu dava qualquer coisa para não me envolver em nada e ficar tranquila na minha, mas quando eu me envolvia, nem que todos os anjos do céu descessem na Terra, eu ia parar. Se uma coisa eu tinha de sobra, essa coisa era a paciência.

-Tudo bem, -respondi –quando achar que deve, você me conta onde é o tumulto. Dei um sorriso forçado pra ela e fui para o meu quarto. Acho que ninguém ia querer jantar. Que história maluca. Mas amanhã ia ser outro dia.

Não vi Gabriel por dois dias. Minha avó tinha dito que ele estava na cidade fazendo exames. Aproveitei este tempo para ler e pensar na vida. Naquele dia, eu estava sentada no galho de uma árvore. Era um cajueiro muito antigo que vovó tinha no quintal. Não era uma árvore alta, mas possuía galhos grossos que acomodavam perfeitamente.

Aquela história maluca tinha me feito esquecer de tudo. Da minha família, dos meus amigos, do Daniel...

Eu estava decidida que minha história com Daniel ia ficar no passado. De uma vez por todas. Esse negócio de “vamos ser amigos” não ia existir. Não tinha como. Eu sabia que ele não ia aceitar isso muito bem. Por mais que eu tivesse um carinho muito grande por ele, não daria para seguir normalmente.

Eu tinha o apoio da Kelly e isso ia ser suficiente no início. Isso me lembrou que eu tinha que dar sinal de vida. Quando eu estava aqui em Montes, não gostava que ninguém me ligasse. Eu ligava quando tinha vontade. E eles me respeitavam. Estava no meu quarto dia aqui e muita coisa tinha acontecido.

Eu estava lendo um romance. Eu amava ler um romance bem meloso. Mas no momento, eu tinha meu olhar nas páginas e não conseguia ler nada. Eu estava preocupada com ele. Gabriel. Será que tudo estava bem? Se a “pessoa” possuísse um celular, eu poderia ligar... Tomara que não estivesse acontecendo nada sério. Ele até que podia ser boa companhia quando não estava falando suas gracinhas. E o pior era admitir pra mim mesma que eu gostava de ouvir.

Fechei o livro e encostei-o no peito. Comecei a sorrir pensando na primeira manhã ali, com ele fazendo comentário da minha camisola...

-Espero que este sorriso tão lindo seja por minha causa.

Eu tomei um susto e quase caí da árvore. Ele estava ali, no galho ao lado, sentado me observando com um daqueles sorrisos arrasadores.

-Mas como é que você chegou aí sem eu perceber? – e fiz uma cara nada boa.


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Notas finais do capítulo

O que acham que pode estar acontecendo??? :)