Clarion sentiu-se despertar. A sua volta, escuridão total,. Uma música desafinada tocava cada vez mais alto. De repente alguém gritou e ela sentiu uma forte dor de cabeça, caindo de joelhos.

Quando conseguiu se recobrar da dor ela ouviu uma risada estranhamente familiar, ergueu um pouco a cabeça e viu aquele estranho vendedor de máscaras sorrindo para ela.

"Do que está rindo?" ela perguntou.

No momento que disse aquilo a música voltou a soar, junto com um barulho que parecia vir de um vento forte. Risadas sinistras ecoavam a toda volta.

Ela levantou-se.
"Pare com isso!" ela gritou para o homem, intencionando dar-lhe um tapa, mas ele simplesmente desapareceu e reapareceu mais adiante.

"Kitty!" ela gritou. "Eu sei que é você. Não está me assustando!"

As risadas e a música continuavam. Agora mais graves, menos humanas. A dor retornava, flash de luzes e sombras corriam a sua volta. O homem tinha desaparecido.

"Ladrão." ela ouviu uma voz ecoar distante, acusadora.

"Não roubei nada!" ela protestou em voz alta.

"Assassino!" Gritou outra voz.

Tinha a impressão de que não estavam falando com ela.

"Para com isso Kitty!" ela gritou.

Mais risadas, dessa vez pareciam pertencer a crianças. A música silenciara e ela viu os corredores do Sugar Rush, rodevam alguém.

"Criminoso!"

"Assassino!"

Eles gritavam e Clarion viu que eles rodeavam James.

"Não fiz nada!" ele protestou assustado.

"Você a matou!" alguém acusou.

Era difícil saber quem, as vozes soavam distorcidas, assim como as imagens sombrias.

"Você nem deveria estar aqui."

"Você é uma ameaça."

"Traidor!"

"Assassino!"

Eles voltaram a rir, enquanto James protestava que não fora ele e pedia para deixarem ele em paz.

"Para com isso Kitty!" Clarion gritou para a escuridão. "Foi você! Jay não teve nada a ver com isso!"

"Nós sabemos disso." A voz de Ganondorf sussurrou em seu ouvido." ela virou-se para encará-lo, mas ele não estava lá. "Eles não."

"Por que ele? Por que eu?"

"Abençoados, amaldiçoados. Destinos entrelaçados, a morte de um é certa." Recitou outra voz na escuridão.

A música e as risadas retornaram, junto com a dor de cabeça. Ela caiu de joelhos novamente. Uma corrente elétrica percorreu todo o seu corpo e ela gritou de dor. Outra vez. E mais uma. Ela sentia suas forças se esgotando rapidamente.

Outras vozes também gritavam. Muitas desconhecidas, outras conhecidas. Seus amigos. Estavam sofrendo e ela simplesmente não podia fazer nada.

Em meio aos gritos, a risada infantil e felina de Kitty.

Mesmo sentindo dor, Clarion se levantou. Mais risadas e aquela música sinistra e desafinada, aquele vento forte.
A dor voltou. Ela gritou novamente e dessa vez uma explosão de luz aconteceu.

Na Central, Ralph, Felix e Calhoun rodeavam a pequena Clarion, preocupados. Ela simplesmente estava ali, de joelhos feito uma estátua, metade ela, metade Kitty, olhos fechados, não parecia respirar, não parecia capaz de ouví-los.

Então em um tilt ela voltou a ser ela mesma completamente e se pôs em pé, expressão vazia, olhos sem vida.

E então ela gritou, uma explosão de luz a envolveu, metade dourada, metade prateada, então as duas luzes se separaram, uma sendo empurrada para a frente, a outra caindo no chão.

A primeira luz a se extinguir foi a prateada, da figura caída. Clarion, sem a máscara e aparentemente normal outra vez.

A luz dourada se extinguiu também, revelando uma figura alta e negra. Kitty, em sua forma completa, apenas seu rosto ainda lembrava um pouco que ela não passava de um espírito trancado em uma máscara, que por algum motivo ganhara vida e agora tinha um corpo.

Ela avançou para eles, ameaçadora.

"Ela realmente pensou que podia fazer alguma coisa... e realmente fez. Agora eu não tenho mais que me preocupar com ela tentando resistir a cada minuto."

"Não vai se safar dessa tão fácil." Calhoun se adiantou cambaleante, o veneno estava começando a drenar suas energias.

"É você quem vai me deter?" A gata perguntou, agarrando-a pelo pulso.

"Deixe meus amigos em paz!" A menina finalmente se levantou, seus olhos estavam prateados mas tirando isso ela parecia normal.

"Como você..."

"Parece com medo Kitty. Pensou que era tão fácil acabar comigo?"

Kitty largou Calhoun e aproximou-se da garota.

"Está mesmo me desafiando pirralha?"

"Um contra um. Sem truques com insetrônicos e sem envolver meus amigos nisso."

"É muito doce da sua parte garota. Sua mãe também lutou assim. Mas era tarde de mais para ela, assim como é pra vocês. Não vão conseguir segurar os Insetrônicos aqui por muito tempo, eles vão destruir os jogos e seus personagens um a um, e toda essa sua batalha terá sido em vão. Vai se reúnir a sua doce mãezinha antes mesmo do que pensa."

Clarion acertou um soco em Kitty que a fez cambalear.

"Não se atreva a falar assim da minha mãe." A menina ameaçou furiosa.

"Muito bem docinho. Hora da batalha!"

Um Cy-Bug veio na direção de Clarion mas ele explodiu antes de alcançá-la, a menina olhou para trás e viu Felix com uma arma, ele e Ralph lutando contra os Insetrônicos. Ela aproveitou o momento e fez sua espada se materializar novamente em sua mão.

"Você não é páreo para mim pirralha." Kitty riu, fazendo o mesmo.

Clarion não respondeu, focada de mais na batalha. Normalmente ela estaria realmente perdendo o seu tempo já que não estava acostumada com espadas e Kitty parecia treinada para aquilo, mas desde que Kitty se separara dela ela sentia uma energia nova, algo muito forte que a impulsionava para a batalha.

Os Insetrônicos a volta dificultavam ainda mais as coisas, atenção e força redobrada, ela precisava...

De repente Vanellope saiu correndo do Sugar Rush, a atenção das duas guerreiras sendo desviada para a garotinha.

"Vani!" Clarion gritou quando um Cy-Bug voou na direção da pequena Presidente.

Um raio de luz partiu do bastão de doce que Vanellope segurava, desintegrando o monstro. O olhar das duas guerreiras recaiu sobre o medalhão vermelho no pescoço dela.

"Não pode ser!" Kitty murmurou furiosa e correu na direção da garota, antes de Clarion derreubá-la.

"Não vai machucá-la."

"E é você quem vai me impedir?"

Kitty conseguiu tirar a menina de cima dela, mas antes que pudesse alcançar Vanellope, que correra para junto dos amigos, Clarion tornou a atacá-la.

Os golpes da garota não pareciam surtir efeito na felina, como se ela não passasse de uma sombra. Ao contrário dela, Clarion volta e meia se feria, mas os machucados simplesmente desapareciam.

Então Clarion conseguiu golpear Kitty e atirá-la para longe. Ela correu para Vanellope.

"O que está fazendo aqui?"

Kitty tentava se livrar dos Insetrônicos que tentavam atacá-la a todo custo, para tentar retomar a batalha.

"Vim avisá-la. Você não pode derrotar Kitty, ela precisa ser aprisionada de volta."

"Como sabe disso?"

"Eu só sei. Robin me deu o feitiço."

"Ótimo! Passe pra cá."

"Você não pode." James respondeu "Só um feiticeiro pode fazer isso."

"Robin?" Clarion arriscou.

"Vanellope." James a corrigiu.

"Eu?"

"Ele deu o medalhão a você, não para te dar poderes, mas porque você tem os poderes."

"Como?"

"Não sei."

"Foi ele quem te disse isso?"

James assentiu.

Mas antes que algo mais fosse dito Kitty conseguiu alcançá-los. Tentou atacar Vanellope mas Clarion a deteu.

"Sua batalha é comigo Kitty!"

"Desde que a pestinha não se meta, acabo com você primeiro, e com ela depois."

O que? Deixar Vanellope se arriscar por ela? Normalmente ela diria não, mas se aquela era a única maneira de acabar com aquela batalha antes que tudo fosse destruído...

Alguns segundos de distração, Kitty a golpeou e a derrubou. Com o corpo todo dolorido ela encarou a gata.

"Não pode me machucar." Ela ainda desafiou ferozmente.

"Mesmo queridinha?" Para sua surpresa, Kitty arrancou-lhe o medalhão. Da mão da gata brilhou uma luz negra e

Clarion sentiu todo o seu corpo em chamas, ela gritou de dor.

"O que você disse?" Kittty provocou.

A dor parou, a menina respirou fundo antes de encarar sua adversária.

"Isso não é nada."

"Não faz ideia não é? Isso é só uma demonstração. Tudo o que você é está aqui na minha mão. Eu posso destruir você de uma vez só, ou fazer isso pouco a pouco."

Ela tocou o centro do medalhão e uma caixa de código se abriu. Clarion tinha dificuldade de ver o que ela estava fazendo, mas sentiu seu braço arder e um longo corte se formar ali.

Foi quando ela reagiu. Num movimento rápido ela mordeu Kitty, que gritou e por um momento aliviou um pouco a pressão que a prendia.

"Esquece que sou a única coisa que pode te atingir também."

Com o braço bom livre ela atingiu Kitty com um soco na cara e conseguiu deslizar para longe. Antes que a gata pudesse reagir, a menina derrubou-lhe com um chute, o medalhão deslizou para longe.

Clarion tinha uma arma prateada apontada para Kitty.

"Quais são suas últimas palavras?" A menina perguntou com um sorriso maldoso.

"Você não tem coragem de atirar em mim." Kitty a desafiou.

Clarion engatilhou a arma.

"É fraca de mais para isso. Uma batalha é uma coisa, mas estou desarmada e indefesa, você não faria isso."

Clarion baixou a arma. Kitty se levantou com um sorriso triunfante.

"Está errada." A menina murmurou. "Primeiro, eu sei que isso não vai matá-la. E mesmo que fosse, misericórdia não é fraqueza." E num golpe rápido e um brilho prateado, Clarion tirou uma faca da bota e partiu a máscara de Kitty ao meio, quase separando-a em duas metades. O corpo da gata se desfez, mas a máscara vibrava e a ponta do corte brilhava, não ia demorar a se consertar.

"Vanellope, agora!"

Vanellope ascentiu e começou a invocar o feitiço para aprisionar Kitty. Os olhos de máscara brilharam e uma fumaça preta começou a sair debaixo dela enquanto Kitty tentava resistir.

Vanellope começou a sentir-se fraca e zonza, ela tinha medo de não conseguir quando sentiu a mão de James em seu ombro e uma energia forte emanando dali.

Juntos os dois terminaram o feitiço. Dos olhos da máscara saíram raios de luz e um grito assustador encheu o ar. A luz começou a atrair e destruir os Insetrônicos. Quando finalmente se extinguiu, tudo voltou a mais perfeita paz. A máscara ainda estava caída ali, sem vida, Clarion a apanhou.

"Terminou?" Os outros dois pequenos perguntaram.

Clarion bateu de leve na máscara e esperou uma reação. Como não veio ela sorriu.

"Sim. Terminou."

"Não muito bem." Murmurou James.

Calhoun estava inconsciente desde que Clarion e Kitty começaram a batalhar, parecia pior do que Vanellope quando fora infectada.

Clarion mordeu o lábio com nervosismo e evitou o olhar dos amigos. Pensar que, de uma forma indireta, tudo aquilo fora culpa dela.

Então seus olhos, novamente azuis, brilharam com uma ideia repentina.

"Alma por alma. Não sou uma feiticeira mas eu também não sou tão inútil assim."

Ela apanhou seu medalhão rapidamente e correu para a entrada do Hero's Duty.

"Onde você está indo?" Vanellope, James e Ralph correram atrás dela.

"Resolver uns problemas. Felix! Preciso de você! E de alguém mais para me ajudar."

"Eu vou." Ralph se ofereceu. "Vocês ficam aqui e em segurança crianças."

"Esperança ainda tá de pé!" Exclamou uma animada Clarion. "Eu ainda tô com a bola toda galera!"

James ficou preocupado ao ouví-la falando daquele jeito, mas Felix viu um pouco de esperança no sorriso da menina.

"E Vani, devolva o medalhão do Jay. Quanto a esse cajado, quando voltar para casa, guarde ele em um lugar bem seguro."

E com isso ela correu, forçando os dois a acompanhá-la.

"Tem certeza do que está fazendo pestinha?" Ralph perguntou.

"Aposto e ganho." A menina respondeu confiante. "O lugar ainda está cheio de Insetrônicos, você, Felix, precisa consertar o estrago de Kitty definitivamente dessa vez, vou arrumar uma escolta de segurança pra você."

"Eu não..."

"Não posso me arriscar a perder ninguém. Ralph, você vem comigo."

Ela deixou os dois sozinhos por alguns minutos, mas logo voltou. Ela apenas apontou a direção para Felix e saiu correndo, Ralph a seguiu.

"Onde exatamente estamos indo?"

"Só me siga Ralphie! Tô prometendo que tudo vai dar certo."

Ela parecia confiante e Ralph resolveu confiar nela, antes de perceber onde estavam.

"Clar, o que estamos fazendo aqui?"

Clarion não respondeu. Ela tirou algumas coisas de sua bolsa, plugou alguns cabos e em menos de dois minutos tinha conseguido acesso à sala do código.

"O que você está pensando em fazer?"

"Apenas confie em mim." Ela retirou uma corda da bolsa e amarrou uma ponta na cintura, entregando a outra pra Ralph, antes de mergulhar na sala. Ele até pensou em detê-la, mas confiava nela.

A menina retirou um fio da bolsa, as duas presilhas do cabelo, plugou cada ponta do fio em uma das presilhas, prendeu uma das presilhas na ponta do medalhão e a outra na caixa do código de Calhoun. Ela fechou os olhos e se concentrou em toda a sua energia. Ela sentiu uma descarga elétrica e fez o possível para segurar um grito, começou a sentir sua mente falhando, mas fez o possível para manter a concentração. Outra descarga e ela já mal sentia seu corpo e uma terceira finalmente a deixou inconsciente.