Liz Ou A Guardiã escrita por CR


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais um feliz ano novo para todos e todas!
De seguida, mil e um perdões pela demora em atualizar e postar um novo capítulo. Principalmente a De Perogini por lhe ter prometido algo que não pude cumprir. A faculdade anda a ocupar a maior parte do meu tempo, mas como já disse antes, eu nunca irei desistir desta história. É impensável para mim.
Resta-me, por último, desejar-vos uma boa leitura e antecipar que neste capítulo iremos mais a fundo no coração de um certo elfo loiro. Boa leitura \^o^//



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Lindelea rina en' edhel Legolas (mela)

Legolas viu Liz desaparecer com Ibetu ao entrar no seu quarto e, de seguida, olhou para Thranduil, seu pai, e Doe, ambos olhando-o com uma certa desilusão.

– O que foi? – Perguntou ele, cruzando os braços sobre o peito, numa típica postura defensiva.

– Diz-me, Thranduil, como é que há ainda elfos capazes de magoar pessoas que amam? – Doe perguntou, ignorando a questão de Legolas, que suspirou profundamente.

– Não sei, talvez devesses perguntar à Liz. – Legolas respondeu friamente.

– Filho, ouve, não queres falar sobre tudo isto? Vem comigo, eu ouço-te, tu ouves-me e…

– Eu preciso de ficar um tempo sozinho.

– Ficar sozinho não é a resposta para tudo. – Doe respondeu rigidamente. – Eu sei que somos Elfos e apreciamos a solidão, mas devias ser mais inteligente do que isso. Talvez devesses até mesmo falar com a Liz.

– Não. – Legolas disse rispidamente. – Eu preciso de andar um pouco, antes que diga mais coisas das quais me arrependa.

– Filho…

– Boa noite! – Ele desejou, saindo do corredor e indo para o seu quarto, e parando congelado assim que entrou e viu a sua cama vazia, lembrando-se dos dias em que Liz dormira lá apenas por não querer ficar sozinha, por querer ficar com ele…

Flashback on

Legolas tinha andado a vigiar os bosques e sentia-se exausto, pronto para entrar no mundo dos sonhos élficos quando entrou no quarto. Quando se deu conta dos seus arredores, quase gritou de surpresa.

A pequena Liz estava deitada na sua cama, dormindo com a respiração pesada. Ela havia chegado há três meses mas nunca se atrevera a fazer aquilo, a ir buscar abrigo em alguém. Essa era a razão da surpresa de Legolas, que se sentou ao lado da ruiva na cama, tentando pensar como descansar através dos sonhos élficos sem a importunar.

– Leg… - Ela sussurrou ainda meio a dormir, mas os olhos abertos, fitando-o. – Legolas, eu estou a dormir na tua cama, está bem? – Ela perguntou, fechando de novo os olhos.

– Oh, estás a perguntar-me se está bem depois de estares a dormir? O que farás se disser que não? Sais?

– Por favor diz que está bem eu dormir aqui. Eu estou tão quentinha e não quero ir para o meu quarto para ficar sozinha. – Ela pediu, puxando-o para ele se deitar, o que ele fez rapidamente, sentindo ela abraçá-lo pela cintura.

– Estava a brincar contigo. É claro que podes ficar. – Legolas sussurrou. – Mas podias ter pedido a algum elfo para me ir chamar, escusavas de ter ficado sozinha.

– Eu sei, mas não importa. Estás aqui agora, e isso é bom. – Ela sussurrou, abrindo os seus olhos e sorrindo abertamente para Legolas, cuja respiração parou. – Agora, entra nos teus sonhos élficos e sonha comigo. Tem uma boa noite, à tua maneira, claro!

– Boa noite! – Ele retorquiu, beijando-lhe a testa e vendo-a fechar os olhos para dormir.

*
Pensando agora bem no assunto, Liz sempre parecera gostar da companhia de Legolas, depositando nele toda a sua confiança, o que agradava ao elfo, pois ele também adorava a companhia da pequena Liz, ou apenas da Liz. Fechando os olhos, ele transportou as suas memórias até Narmdroel, quando fora consolar Liz da morte de sua mãe…

Liz pegou na mão de Legolas, guiando-o com ela calmamente.

– Para onde estamos a ir? – Ele perguntou à agora adolescente, afinal tinha agora treze anos.

– Para o meu quarto. – Ela respondeu, sussurrando e entrando no compartimento.

Legolas não teve tempo para admirar a decoração do quarto de Liz, que lhe fazia lembrar os quartos de Rivendell, pois, de repente, a ruiva estava a abrir a sua cama e a puxá-lo para lá junto com ela.

– Deita-te comigo, por favor. – Ela pediu. – Eu sei que não dormes, mas eu… eu preciso, eu… eu não consigo dormir mais de duas horas por dia desde que… desde que…

– Hey! – Legolas deitou-se ao seu lado, abraçando-a fortemente e ela suspirou aliviada com a sua recetividade. – Eu entendo, e eu prometo estar aqui quando acordares. Apenas dorme.

– Em primeiro conta-me coisas de ti, de Mirkwood… - Ela pediu, colocando a sua cabeça no tronco de Legolas e fechando os olhos. – Tu já encontraste o amor?

Quando Legolas não lhe respondeu imediatamente, ele ouviu o coração da sua amiga bater, talvez com medo da resposta do loiro e sentiu-se ser abraçado mais fortemente.

– Legolas… - Ela subiu o seu rosto para junto do dele, dando-lhe um beijo na face. – Quem é esse ser? – Ela perguntou contra o pescoço do loiro que suspirou.

– Ninguém, Liz, ninguém. Coração vazio como sempre. – Ele respondeu rapidamente.

– O teu coração nunca estará vazio… - Ela murmurou. – E eu tenho a certeza de que vais encontrar o amor e que serás muito feliz com o ser que envolverá o teu coração.

– Assim espero, um dia. – Ele sussurrou, apertando-a mais contra ele.

– Eu não quis nada disto! – Liz disse-lhe uns minutos depois. – Ela… ela morreu por minha culpa, mas eu não quis, eu…

– A culpa não é tua. A Melody é a tua mãe, claro que te protegeria de todos os perigos, mas tu não tens culpa da sua morte. Quem a matou tem culpa. – Legolas assegurou-lhe, beijando-lhe os cabelos ruivos, tentando consola-la.

– Eles eram tantos… - Liz retorquiu. – Eu podia ter dito onde estava o meu Anel, eu devia ter ganho tempo até o meu pai se aperceber do perigo… Eu… Eu fui tão teimosa, não quis dizer-lhes, mesmo eles ameaçando a vida da minha mãe, mesmo eles ameaçando a… - Liz parou de repente, e Legolas sentiu-se confuso, pois reparara que ela se interrompera com medo do que ia dizer. – Eu devia ter dado mais luta.

– Liz, para de te culpar! Tu és uma criança, esses homens é que são os culpados.

– O problema é mesmo eu ser uma criança. – Ela sussurrou alto o suficiente para ele ouvir. – Eu tenho que crescer, tenho que me tornar forte como tu, como o meu ada, como a minha mãe… Não posso esperar que lutem por mim, eu tenho que aprender a defender-me para não colocar mais ninguém em risco.

– Mesmo que cresças, as pessoas que estão hoje ao teu lado seguirão ao teu lado e proteger-te-ão. Mesmo que cresças, todos os que te amam hoje te amarão amanhã e lutarão por ti, correrão riscos por ti…

– Mas eu não quero… Eu não quero que mais ninguém que eu ame morra. – Liz explicou-lhe. – Se eu crescer, eu posso afastar-me das pessoas que amo, posso ir viver sozinha, esconder-me talvez até chegar à altura da minha missão.

– Tu não te podes afastar daqueles que amas, são aquilo que te sustem. – Legolas disse suavemente, embora o seu coração estivesse acelerado de desespero. – Não podes abandonar as pessoas, não podes privá-las de passar momentos contigo. O amor é forte, ele protege-nos a todos, ele une-nos… Se te afastares, terás menos força e serás ainda mais infeliz.

– Isso é impossível. Eu serei mais infeliz se colocar mais alguém em risco. Eu quero que aqueles que amam vivam, quero que não conheçam a dor. Se eu tiver que os abandonar e sofrer para que tal aconteça, tudo bem.

– Só que estarás a fazer sofrer todos também. Todos os que te amam sofrerão sem ti.

– Mas, pelo menos, estarão vivos.

– De que serve uma vida sem amor?

– Encontrarão amor em outro lado.

– Não, não encontraremos! – Legolas exclamou, virando-lhe o rosto para si e olhando-a nos olhos. – Eu não encontrarei o amor que sinto por ti em outro lado, porque tu és única. O teu pai não encontrará o amor que sente por ti em outro lado, porque tu és única. A tua avó o mesmo… Será que não percebes que o amor não se substitui?

– Não peço uma substituição. Talvez um esquecimento.

– Como esperas que a tua própria família se esqueça de ti? – Legolas perguntou. – E eu, Liz? Eu sou um Elfo, eu não me esqueço tão facilmente assim e… E, mesmo que fosse um humano, eu jamais me esqueceria de alguém tão especial quanto tu. Não me deixes, não nos deixes!

– Oh, Legolas… - Ela abraçou fortemente. – Eu… Eu gosto que estejas aqui comigo, já se passou quase um ano desde que minha nana morreu, mas eu não consigo ser feliz. A tua presença, no entanto, dá-me alguma alegria.

– Eu devia ter vindo mais cedo. – Legolas sussurrou. – Mas eu estava com os Dunedain num treino especial e só soube da notícia meses mais tarde. Se não fosse uma notícia tão importante, saberia ainda mais tarde. E a viagem demorou ainda mais tempo… Eu queria ter-te apoiado mais. – Disse ele, lembrando-se das longas conversas com Aragorn sobre Arwen e sobre o coração aparentemente sem dona de Legolas.

– O que importa é que estás aqui agora. – Ela disse-lhe abraçando-o de novo e fechando os olhos, acabando por adormecer.

***

Liz acordou calmamente. Lá fora estava escuro, era de noite e Legolas continuava ao seu lado na cama, meditando sobre todos os acontecimentos.

– O quê? – Ela virou-se, vendo Legolas que olhava agora para ela, desfazendo o abraço que os unia. – Eu pensei que tivesses sido um sonho, mas estás aqui. – Ela sorriu, beijando-o no rosto longamente.

– Sim, estou. – Ele retribuiu-lhe o sorriso, que ela notou mesmo estando escuro. – Já estás a dormir há dois dias… Estava preocupado.

– Dois dias? Devo cheirar horrivelmente. – Ela comentou surpreendida e tentando afastar-se do loiro que a puxou para si.

– Como estás?

– Melhor, muito melhor… - Ela respondeu. – Meu Ilúvatar, eu preciso de falar com o meu ada, eu tenho sido uma péssima filha.

– Não te preocupes! – Legolas disse-lhe. – Ele compreende.

– Tu és demasiado bom, eu não mereço todo esse teu carinho, eu… - Ela interrompeu-se olhando-o. – Eu já não sou a menina que tu conheceste, Legolas.

– Não. – Ele concordou. – E isso deixa-me triste.

Liz suspirou, virando-se de costas para o loiro, que não compreendeu a ação da menina. Será que ele dissera algo de errado?

– Eu já estava à espera que me rejeitasses por já não ser a menina pura que conheceste em Mirkwood. Na verdade, nem mesmo eu posso dizer que gosto da pessoa em quem me tornei, o meu coração está tão pesado, Legolas. Eu sinto que posso ser feliz com o tempo, mas nunca mais terei a felicidade com que sonhei quando criança.

– Tu serás muito feliz, Liz, eu prometo. Nem que para isso, eu tenha que mover as nuvens, tu serás feliz. E nunca, ouviste bem?, jamais te rejeitarei! Toda a gente cresce, toda a gente se magoa, a missão dos amigos dessas pessoas não é afastar-se ou rejeitar, mas sim apoiar. Eu estou aqui para tudo aquilo que precisares. Se quiseres que fique contigo aqui para sempre, eu fico, se eu souber que isso te fará feliz. Se quiseres que me vá embora, eu vou, se isso te fizer feliz.

– Eu não quero que te vás embora. – Liz disse, virando-se para ele e mostrando-lhe os seus olhos húmidos. – Eu quero que fiques a meu lado para sempre. Eu quero estar contigo.

– Oh, cara Liz…

– Eu sabia, vais dizer que não podes, não é? Vais dizer que tens coisas mais importantes a fazer. Vais dizer que sou uma egoísta, e eu nem posso contrargumentar porque é verdade.

– Não é isso. Eu ficaria ao teu lado para sempre, mas tu não te podes esconder eternamente sob o meu braço. Existe um mundo inteiro lá fora, um mundo que prometeste conhecer, lembras-te? Ainda existe tanto da vida.

– Eu sei. – Ela levantou-se da cama, sentindo o frio da noite e dirigindo-se à janela para olhar as estrelas. – Hoje é lua nova. – Ela disse, sentando-se no parapeito e olhando para o céu. – A minha mãe dizia que a lua nova é o tempo favorito dos criminosos, porque ela oculta os crimes. Existe uma cidade perto de Gondor que permite que crimes sejam cometidos em noites de lua nova, por isso, a maior parte das pessoas fecha-se nessa altura em suas casas. Eu não sabia disso e então não percebi por que estava fechada em casa. Por isso saí pé ante pé. Eu amo andar à noite, o mundo parece ser um lugar novo quando o sol se esconde: mais misterioso, de uma certa maneira, mais belo. Logo que saí, a noite estava tremendamente silenciosa, todos os meus instintos gritavam para voltar para casa, que algo estava errado, que o silêncio significava muito mais que a ausência de som.

“No entanto, não o fiz. Continuei a andar. Como podes imaginar, a noite estava escura, mas ainda havia alguma luz das estrelas e eu própria tinha uma lamparina comigo. Não estava a sorrir, e de algum modo, essa reação me assustava, porque tu me conheces, Legolas, eu estava com os meus pais na altura, eu amava a vida, eu sorria para ela. De repente, quando virava uma esquina ouvi um grito de uma mulher, o tom era assustado, aterrorizado como se temesse pela sua alma. Os meus instintos não me disseram para me afastar nessa altura, mas mandaram-me correr em direção a esse grito de angústia, e foi o que fiz.

“Nunca mais vou esquecer o rosto daquela mulher. – Os olhos de Liz pareciam perdidos. – Parecia que os olhos dela queriam sair do seu rosto, como se não quisessem ver o que lhe estava a acontecer. Ela sangrava enquanto um homem e uma mulher lhe batiam com paus de madeira. E eu gritei para que eles parassem.

“Foi assim que vi a maldade que a raça humana é capaz de cometer, e que nem a lua queria ver. Será por isso que a lua se esconde, Legolas? Para não ver a feiura do mundo? Será que também ela abomina aquilo em que me tornei? Existe mesmo algo mais para mim, além desta permanência de lua nova? E será que o facto de ser mulher, de ser humana me faz corrupta?

– Como é que podes dizer isso? A tua mãe, a tua avó… Elas são as melhores pessoas que podem existir e são humanas.

– Sim, eu sei disso. Eu sei. Mas também os homens que a mataram o eram. Também o homem que matei o era.

– Tu mataste um homem? Eu…

– Matei. – Ela disse, olhando para as suas mãos. – E… Ainda sinto o sangue dele nas minhas mãos. Ele queria fazer-me mal, mas… Mas nada torna essa morte mais fácil, é como se tudo o que eu era se tenha perdido no momento em que matei esse homem.

– Oh, Liz… - Ele disse, abraçando-a por trás.

– Como é que eu faço para me esquecer?

– Não esqueces, infelizmente. Mas talvez a sensação melhore se pensares que ele poderia ter feito mal a muita outra gente se não o tivesses feito.

– Isso é suficiente para ti? – Ela perguntou. – É suficiente saberes que esse homem poderia ter feito mal a outras pessoas para que me consigas talvez… perdoar?

– Não há nada a perdoar, Lizzie. Eu teria matado esse homem também. Quem me dera que o tivesse feito para não carregares essa culpa contigo. – Ele confessou ao seu ouvido. – Daria a minha vida eterna para não sofreres, seja de que maneira for.

– Eu… eu vou sofrer muito, vejo nas estrelas, sinto no interior do meu ser, de que conhecerei grande sofrimento. Morte, sangue, guerra, lágrimas… - Ela chorava agora. – Mas sempre que me lembrar de ti, terei razões para sorrir, porque não conheço ser mais belo no mundo que tu, meu amigo. Nem acredito que conhecerei em toda a minha vida imortal.

– Eu conheço. – Ele declarou, movendo o rosto da ruiva com cuidado e unindo as suas testas, mostrando um pequeno sorriso. – És o ser mais belo do mundo, cara, preciosa Liz e eu prometo que irei provar-to, não hoje, não amanhã, mas um dia. Eu prometo.

– Bondade e generosidade não te faltam. – Ela disse, acariciando o rosto do loiro enquanto olhava para os seus olhos. – Deixa-me perder-me nesses orbes lindos, deixa-me ver as estrelas da tua alma, deixa-me entrar dentro do teu coração.

– Será que não percebes, pequena Liz? – Ele sorriu, fechando os olhos. – Um dia, eu juro-te, um dia perceberás. – E beijou-lhe demoradamente o rosto.

**

Legolas obrigou-se a despertar das suas vivas memórias de Liz. Uma das desvantagens de ser um elfo era que não se esquecia de nada, que todas as memórias eram quase tão vívidas como o momento em que haviam acontecido.

– Posso? – Legolas virou-se para a porta, onde estava Rosez. – Eu vim aqui falar contigo sobre a Liz.

– Já sabes?

– De ela ser a Guardiã? – Ela perguntou. – O Doe foi dizer-nos. Não posso dizer que me surpreendeu. – Rosez sorriu.

– Por que raios estás a sorrir? Que eu me lembro, não eras a sua maior fã.

– Tens razão. – Rosez sentou-se numa poltrona em frente a Legolas. – No entanto, penso que a culpa era mais minha do que dela. Eu negava o amor nessa altura, Legolas. Depois do que o Linidus tinha feito, eu… Eu não acreditava, sabes? Mas… Ela, a Liz era uma criança iluminada, que sabia o significado do amor de uma maneira pura que eu já havia esquecido há muito tempo. E eu via sempre esse amor puro cada vez que vocês se juntavam. Cada vez que ela olhava para ti com os olhos a brilhar como se fosses a maior maravilha deste mundo. E cada vez que tu olhavas para ela com o sorriso mais terno do mundo, como se o simples ato de ela estar ali, feliz, ou pelo menos, contente, fosse a melhor coisa que podia acontecer em toda a Terra Média. Era difícil ver o vosso amor que iluminava toda a Floresta Verde quando eu tinha sido rejeitada pelo meu. Além disso, o meu preconceito toldava-me. Ainda me tolda para ser sincera, mas tu já olhaste bem para ela? No momento que eu a vi toda crescida, o meu instinto dizia, Oh, meu Eru, esta é a Liz! Sabes, eu não pensei em Guardiã, eu não pensei naquela que supostamente ela teria de ser, ou seja, a Guardiã do Último Anel de Paz, mas sim aquela pequena Liz, crescida, mas ainda tão pequena. Eu nunca estive tão enganada na vida. Ela é a Liz, mas ela é também a Guardiã, e nada tem da pequena Liz, a não ser as memórias e os ensinamentos, está mais madura, mais forte, mais bela, está tão diferente…

– Eu sei. – Ele interrompeu-a.

– No entanto… Olha para ela, Legolas, olha mesmo para ela. Vê o que ela fez hoje aqui, comigo e com o teu irmão. Vê como ela continua a querer a felicidade das pessoas, a acreditar no amor. – Rosez pediu com um sorriso.

– Deve ser uma das poucas pessoas que ainda acredita nele.

– Não faças o mesmo que eu. Eu vivi amargurada anos da minha vida por negar o amor. Eu fui deixada para trás pela pessoa que mais amo neste mundo, mas Ilúvatar trouxe-mo, ele deu-me esse amor. E agora toda aquela amargura que me fez ter momentos de raiva por provavelmente a pessoa mais bela deste mundo e do outro, me parece inútil, algo da qual me envergonho.

– É diferente.

– Não é. – Ela declarou. – De que te serve essa amargura? Tu estás apaixonado pela criatura mais bela da Terra Média, tanto por dentro como por fora. Porquê esse sentimento tão amargo então?

– Porque… Porque ela abandonou-me, deixou-me para trás, e quando voltou, nem sequer me disse quem era. Porque… Porque eu não a reconheci, Rosez! Eu não a reconheci, eu… Eu não vi.

– Legolas…

– Tu percebes, não percebes? – Ele perguntou raivosamente.

– Sim, eu percebo. Mas, Legolas…

– Deixa-me sozinho. – Ele pediu suavemente.

– Tu és um Elfo, aquelas memórias não podem ter simplesmente desaparecido. Aquele amor…

– Nenhuma memória desapareceu, e por isso mesmo me lembro do quanto ela me magoou.

– Talvez a culpa não tenha sido dela, já pensaste? Será que não esperaste demasiado de uma criança apenas? Será que não esperámos todos?

– Eu nunca lhe pedi nada. – Ele assegurou, levantando-se da cama.

– Eu sei que não. – Rosez respondeu com um aceno de cabeça. – Mas ainda assim, sabes bem que esperaste muito dela.

– Estás enganada. – Ele declarou. – Eu não esperava nada dela.

– É claro que esperavas, e é normal esperarmos coisas das pessoas de quem gostamos. Não é errado, mas talvez não devesses ser tão duro por elas não fazerem aquilo que esperas.

– Eu só quero ficar…

– Sozinho? – Rosez perguntou, levantando-se. – Tu é que sabes. – Ela virou-se para se ir embora. – Diz-me uma coisa, Legolas? – Ela perguntou, virando-se de novo para ele. – Tu sabes que ela te amou, certo? Que a pequena Liz te amava?

– Éramos amigos. – Ele disse com um sorriso. – Claro que sim.

– Mas mais do que isso.

– Ela era uma criança. Nem conhecia outro tipo de amor.

– Não conscientemente, acredito. – Ela concordou. – Mas talvez de maneira inconsciente.

– Rosez…

– E agora ela é uma adulta. – Rosez interrompeu-o. – Agora ela pode amar-te dessa maneira.

– Ela não me ama. – Legolas declarou. – Ela amou o Legolas que conheceu, mas olha bem para mim, eu não sou esse Legolas. Antes de ela partir, eu… o meu coração… Eu era uma pessoa diferente.

– Não eras, essa pessoa ainda está aí dentro por mais que a escondas.

– E ela, ela também não é a mesma pessoa, como tu disseste. Tem as memórias, não tão nítidas como as minhas, e é só. Temos os mesmos nomes de anos atrás, mas é como se fôssemos duas pessoas diferentes agora. Os sentimentos mudaram. Eu já não a amo. Deixei de a amar quando ela partiu. É por isso que ainda uso este anel. – Legolas disse, mostrando o anel de ervas a Rosez. – Fizemos uma promessa de deixar este anel quando encontrássemos o amor, e eu continuo a usá-lo. – Legolas contou-lhe, enquanto olhava para o seu anel. – Eu continuo a usá-lo. – Ele repetiu, acariciando o anel. – Eu continuo a usá-lo. – E ela não.

– Legolas…

– Deixa-me sozinho, por favor! – Ele pediu, virando o seu rosto para que ela não visse as suas lágrimas.

– Lembras-te de quando estávamos os três sentados na árvore a ver o sol a pôr-se? Eu intrometi-me nesse dia, eu sei que vocês faziam isso de vez em quando sozinhos, mas eu estraguei um pouco os vossos planos. Lembras-te de ela cantar mais uma vez a balada de Beren e Lúthien?

– Sim. – Ele disse, lembrando-se de ter chorado naquele dia enquanto olhava para Liz e a ouvia cantar tendo como fundo o céu laranja.

– Foi um momento triste e belo, como os melhores momentos o são mesmo que não o saibamos na hora. – Ela disse. – Foi aí que percebeste, não foi? Foi aí que percebeste que a vossa história seria semelhante, que iriam viver a felicidade e depois sofrer.

– Não. – Legolas respondeu. – Talvez eu tenha pensado isso, mas estava enganado. Não é assim connosco. Não é uma história de amor, é apenas uma história de mágoa.

– Eu tenho pena que penses isso. – Rosez declarou antes de se ir embora.

Legolas tentava parar as suas lágrimas mas sem grande sucesso. Além disso, mais memórias o invadiam como se ele não pudesse controlar a sua própria alma.

– Legolas…

Ele virou-se para ver Liz correr e já não foi a tempo de a impedir que ela saltasse para as suas costas e, devido a isso, os dois fossem ao chão.

– Liz…

– Pensei que me fosses amparar.

– Tu já estás muito crescida, já não é tão fácil como quando estavas em Mirkwood.

– Estás a dizer que já não suportas o meu peso?

– Fui apanhado de surpresa apenas. – Ele disse.

– O que estavas a fazer? – Ela perguntou, saindo de cima dele e olhando-o desconfiada.

– Eu estava apenas a… - Ele desviou o olhar da ruiva. – Eu…

– Tu estás a preparar-te para me mentir, não estás? – Ela perguntou, levantando-se e colocando os braços na cintura.

– Não. Sim. – Ele suspirou. – Desculpa! Eu ia ver o… Desculpa, Liz! – Ele disse, vendo que ela começava a chorar e levantando-se para lhe limpar as lágrimas. – Perdoa-me!

– Não. – Ela disse. – Eu percebo que queiras ver o local onde tudo aconteceu. Eu vou contigo.

– Não. – Ele disse, mas ela seguiu à frente e ele atrás.

– Foi aqui. – Ela declarou, começando a andar lentamente, vendo que a floresta parecia triste devido ao que ali acontecera. – A minha mãe despediu-se de nós aqui. Os homens apanharam-nos ali.

– Desculpa, Liz, tu não devias estar a passar por isto.

– Eu preciso de enfrentar a dor. – Ela declarou, limpando as lágrimas.

– O que…? – Legolas avançou a passos largos quando se deu conta da rosa de Mirkwood de que Liz e Melody haviam falado no dia em que a última morrera.

– Legolas…

– Esta rosa. – Ele observou, acariciando a rosa que acolheu o seu toque. – Ela estava aqui quando…?

– Sim. – Liz respondeu, vendo Legolas tirar rapidamente a sua mão da planta e olhando para a ruiva.

– Eu lamento imenso.

– Não é necessário.

– É. – Ele declarou, tentando arrancar a rosa da terra, a sua face raivosa, a sua aura hostil.

– Não! – Ela empurrou Legolas com uma certa violência, protegendo a rosa enquanto lágrimas caíam. – Por favor, não a tires!

– Liz, esta rosa é uma ofensa à memória da tua mãe. Não devia haver algo com este significado tão belo num local tão triste com a morte da Melody. – Ele disse.

– Eu não permitirei que a arranques como se ela não fizesse parte disto.

– Tu não percebes!

– Acabou, Legolas! A rosa permanecerá aqui, percebeste? – Ela exclamou, acariciando a rosa que acolheu o seu toque.

– Liz…

– Vamos embora daqui. – Ela declarou, pegando na mão de Legolas e conduzindo-o até ao palácio.

– Liz! – Ibetu exclamou, abraçando-a fortemente ao ver as suas lágrimas. – Como é que estás?

– Melhor! – Ela respondeu. – O Legolas ajudou. – Ela declarou. – Perdoa-me!

– Não há nada a perdoar! – Ele retorquiu, separando-se do abraço. De seguida, abraçou Legolas. – Muito obrigado! – Ele sussurrou ao seu ouvido.

– Onde está a avó? – Liz perguntou.

– Ela ausentou-se. Foi até Imladris. – Ele respondeu com um sorriso.

– É seguro permanecermos aqui? – Ela perguntou, tensa.

– Às portas da floresta, temos alguns dos Dunedain a assegurar-nos. – Ibetu respondeu. – Legolas trouxe-os.

– Mas durante todo o tempo em que Legolas não esteve aqui, quem estava?

– Muita gente, minha filha. – Ibetu respondeu docilmente.

– Desculpa, pai! – Ela pediu mais uma vez. – Mas quando eles se forem embora, teremos que deixar o reino mais uma vez, não? – Ela perguntou.

– Não penses agora nisso, querida Liz. – Pediu Legolas, abraçando-a pela cintura.

– Venham para dentro. – Ibetu pediu. – Vamos comer alguma coisa.

*

Legolas despertou de novo quando ouviu mais uma vez alguém bater à sua porta.

– Não quero ver ninguém. – Ele declarou.

– Que pena! – Declarou Dithinia, entrando no quarto e fechando a porta atrás de si.

– Dona Dithinia, por favor, eu não quero ser rude…

– Mas já estás um pouco atrasado para isso. – Ela disse. – Olha para ti! Nunca ninguém acreditaria que amaste a minha neta!

– Eu amei, por isso quem não o fizesse, estaria enganado. – Legolas respondeu friamente.

– Então, por que estás tu aqui e não a apoiá-la?

– Porque amei no passado. – Ele declarou. – Aquela Liz morreu e aquele Legolas também.

– Não. A Liz continua na sua essência. Tu, Legolas, é que não o vês. – Dithinia disse. – Quem me dera que ela nunca tivesse vindo para aqui quando pequena, teria sofrido menos.

– Teria? – Ele perguntou, levantando-se irritado. – Lembras-te quem a ajudou a vir à tona quando a Melody se foi? Lembras-te de quem não estava lá?

– Estás a ser injusto comigo. Eu tinha as minhas próprias feridas para sarar.

– Também Ibetu, e ele permaneceu lá, junto dela. Tentando…

– Não foi o meu melhor momento, mas eu estou aqui agora, ao lado da Liz, amando-a ainda mais se possível.

– Pronto, considera-te uma substituta então. – Ele disse friamente. – Eu estava lá quando não estavas, e agora tu estás quando não estou.

– Tu não a amas, Legolas? És capaz de me dizer que não a amas?

– Sou capaz sim. Eu não a amo!

– Então, por que carga de água se entregaram um ao outro? – Legolas foi apanhado de surpresa. – E antes que perguntes, não, a Liz não me contou, mas uma mulher percebe essas coisas. Ou vais negar?

– Um ato simplesmente físico. Nem sabia que ela era a Guardiã quando o fiz. Quanto a ela, agora que sei quem é, penso que ela queria apenas uma miragem da ligação que tínhamos quando era uma criança, mas agora é uma adulta e terá outras necessidades.

– Tu… Como podes ser tão cruel? Tão rígido?

– Como disse, eu já não sou o mesmo.

– Mas eu vejo que ela não te é indiferente.

– Somos companheiros da Irmandade, temos experiências juntos, mas essas experiências estão separadas daquelas que eu tive com a pequena Liz.

– Então, não há maneira de a perdoares? – Ela perguntou.

– Perdoar? – Ele perguntou. – Não.

– Obrigada por seres consistente durante toda a nossa conversa.

– O que queres dizer com isso? – Ele perguntou, vendo-a ir-se embora do quarto.

– Legolas! – Thranduil disse, entrando no quarto do filho.

– Eu quero ficar sozinho! – Ele gritou. – Será que ninguém na Terra Média percebe isso?

– Por favor, filho! Tu vais querer saber o que quero contigo. Precisamos de ti, é urgente! – Ele disse gravemente.

********************************

Agradecimentos

Quero agradecer a todos os leitores desta história por não desistirem de mim. Muito obrigada por acompanharem a caminhada de Liz e da Irmandade do Anel. Muito obrigada. Agora, como quase sempre, agradecer especialmente aos que comentaram no capítulo anterior:

De Perogini: Muito obrigada pelo comentário! Como já disse, concordo que se revelar a Legolas foi o ato mais corajoso de Liz. É importante que os leitores como você sintam o que as personagens sentem. Muito obrigada e mil perdões por ter postado apenas agora.

AlyPikachu: Muito obrigada pelo seu comentário! E muito obrigada por ter elegido o capítulo anterior como um dos melhores. É um dos meus favoritos.

NanaAnonimaAnomaliaA: Muito obrigada pelo seu comentário! Uau! Eu sei, é mesmo muito raro um elfo chorar, mas o amor tem destas coisas ♥ love forever Mas muito obrigada mesmo por seu comentário maravilhoso. Amei!

Black Angel: Muito obrigada pelo seu comentário! E não se preocupe. Eu entendo que nem sempre se tem tempo. Bem vinda de volta. Estava com saudades! E concordo, Liz cresceu, amadureceu e agora os papéis se inverteram e espero que este capítulo mostre bem isso. Muito obrigada e continue comentando!

Meryl C: Muito obrigada pelo seu comentário! Muito obrigada por seus elogios! Eu realmente amei escrever o capítulo e é bom ver que coloquei os sentimentos das personagens para vocês sentirem. É muito bom ver isso. Me deixa muito emocionada. Continue seus comentários deliciosos!


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez, mil perdões pela demora!!!
O que acharam deste capítulo centrado nas memórias de Legolas, no que ele sente (ou no que ele diz sentir?) Por favor, comentem! Ou não! Façam como quiseram, leiam é aquilo que vos peço acima de tudo. E nunca desistem!
Kiss kiss,
CR, a autora



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