Liz Ou A Guardiã escrita por CR


Capítulo 34
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

ESTA NOTA E A NOTA FINAL SÃO AMBAS IMPORTANTES. LEIAM!!!
Oi oi oi! Mil perdões por esta tão grande demora. Eu iria postar o próximo capítulo já semana passada, ou duas semanas atrás, mas o carregador da bateria do meu laptop avariou e estive séculos procurando um outro carregador indicado.
Então, este capítulo é um pouco diferente dos outros, porque Liz partilha uma história do tempo em que andava "fugida". No entanto, tenho boas notícias... Se tudo correr bem, é muito possível que eu poste o próximo capítulo nos próximos três dias, porque já tenho quase todo escrito, tenho só que alterar alguns pedaços com os quais ainda não estou satisfeita. E o próximo capítulo vai ter algumas cenas *quentes* (interpretem como quiserem)
Antes de passarem para a história: Não se esquecem que Senhor dos Anéis pertence ao incomparável Professor Tolkien, então algumas semelhanças com o universo não são coincidências, mas sim intencionais mesmo.
Boa leitura, caras e caros leitoras e leitores!



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Como Fracassos se tornam Esperança

Liz foi acordada três horas depois pelo som de vozes baixas e, levantando e aproximando-se da porta, pôde distinguir as vozes de Ibetu e Thranduil, que dizia:

— Mas quem terá dito?

— Não sei. – Ibetu respondeu. – Provavelmente um espião, pode até ser um animal… Era isto que ela temia.

— Mas ainda nada está perdido. – Thranduil falou. – Eles até podem saber que a Guardiã está connosco mas não sabem que é a Liz da Irmandade do Anel.

— O inimigo não vai demorar muito a concluir isso, Thranduil. – Ela ouvia o pai dar passos pelo corredor. – Vamos lidar com o mais urgente agora. Os nossos inimigos que vêm atacar Mirkwood apressaram o passo, por isso a batalha está mais próxima do que o esperado. Os guerreiros já estão nos seus postos devidos, Legolas está a alinhar todas as pontas soltas.

— Linidus está a cuidar da retaguarda. – Thranduil adicionou. – Mas a ajuda que Gandalf disse que viria ainda não chegou. Temos os teus guerreiros e os de Doe felizmente.

— Meu pai! – Ela ouviu a voz de Legolas se juntar. – A frente já está toda preparada, já todos sabem os seus lugares e como agir. Linidus também já alinhou a retaguarda e Doe está a distribuir os animais.

— Agora temos de tratar da vossa retirada. – Ibetu falou.

— Mas vocês não se podem dar ao luxo de perder guerreiros quando a ajuda de Gandalf ainda não chegou. – Legolas retorquiu.

— Legolas, vocês têm de voltar para a missão. – Ibetu afirmou.

— Mas é a minha terra! – Ele disse a custo.

— Não te preocupes, meu filho! – Thranduil disse por fim. – Nós vamos conseguir e com grande sucesso.

— Eu e Liz vamos precisar de dois cavalos e de ir o mais depressa possível antes que as notícias cheguem a outros inimigos. – Legolas disse preocupadamente.

— Arod e Hecnor serão perfeitos. – Thranduil disse. – Seria melhor se tivéssemos águias, no entanto.

— Devíamos acordá-la então. – Ibetu declarou. – Faltam quatro horas para a alvorada.

Liz saiu de perto da porta rapidamente, preparando o seu saco com o que precisava para partir enquanto algumas lágrimas caíam pelo seu rosto. Mais uma vez, pusera as pessoas que amava em risco, ou pelo menos num risco maior do que o necessário. Preparando o seu arco e flecha, presente de Celeborn e Galadriel, e pondo a espada à cintura e a mochila às costas, ela estava preparada para partir.

Mais uma vez, teria que caminhar sozinha, pois não aguentava colocar Legolas em perigo, ele não pedira nada daquela complicação que a Guardiã sempre trazia consigo. Galadriel tinha razão, devia ter ficado calada. Fora egoísta quando se revelara a Legolas, pois não aguentara a amabilidade com que ele a tratava sem saber quem de facto ela era. Nada fazia mais sentido do que partir sozinha.

Aproximando-se da varanda do quarto, olhou para as estrelas, tentando organizar os seus pensamentos, delinear o seu percurso e a sua estratégia. Limpando as lágrimas, acalmou-se. Caminhando sozinha seria mais rápida e não se sentiria culpada pelo perigo que os outros corriam por a acompanhar.

— Minha doce e querida Floresta de Mirkwood, o teu nome de Floresta Negra pouco reflete a tua verdadeira natureza, pura e bela. De ti, levo apenas doces memórias, memórias de um tempo em que ser feliz era fácil e ser triste era apenas um estado passageiro. Foste tu que me deu o meu primeiro amor e fico feliz sabendo, sentindo que estarás intata mesmo depois de centenas, milhares de dias e de noites que virão, porque, de algum modo, não fisicamente, estarei sempre aqui.

Liz acenou negativamente com a cabeça para si, sorrindo sozinha. Conseguia ver alguns elfos a preparem as armas para a batalha e sentia-se culpada, mas sentia-se feliz vendo aqueles elfos e aquelas elfas a lutarem pela sua terra, pela beleza e simplicidade daquele lugar, que lhes era querido. Era por esse amor, por essa união que ela acreditava que a tarefa de destruir Sauron era importante. A Terra Média precisava de se unir mais uma vez. Elfos, Humanos, Anões, Hobbits, todas essas raças deviam unir-se como nos tempos Antigos, reconhecer os valores de cada um e trabalhar para um bem comum. Talvez destruindo a fonte do mal isto fosse possível.

Acalmando-se, o seu sorriso morreu. Não podia negar que ainda lhe pesava a tristeza por se separar de Legolas assim, com tanta mágoa entre eles, mas não havia salvação possível. Ela tinha uma missão perigosa e ninguém se tinha oferecido para esse perigo tão grande, logo, ela não tinha o direito de pedir nada em troca. No entanto…

Ela não podia deixar de esquecer que já abandonara muita gente ao longo da sua vida, já fugira demasiado tempo das pessoas, talvez, mais uma vez, estivesse a cometer um erro. Talvez ela estivesse a cometer os mesmos erros do passado.

— Liz! – Legolas entrou no quarto, vendo-a em pé junto da varanda.

— Não sabes bater? – Ela perguntou, virando-se rapidamente para o elfo loiro, que a analisava friamente.

— Estás a planear ir a algum lado? – Ele perguntou, olhando, com desconfiança, para a mochila às costas de Liz.

— Estava apenas a preparar as minhas coisas. – Ela respondeu rígida e lentamente.

— Eu vim contar-te algo importante. – Ele comentou. – Algo que precisas de saber.

— Eu ouvi a conversa, já sei que o inimigo sabe que eu estou aqui e que, por isso, vai chegar mais cedo do que o previsto. – Ela interrompeu-o antes mesmo que ele pudesse começar. – Por isso é que me estava a preparar.

— Só partimos pela alvorada. – Ele informou.

— Certo. – Ela concordou, pousando a sua mochila na mesinha de cabeceira e tirando o Anel de Paz do seu pescoço, colocando-o junto com as suas coisas, e não deixou de reparar no olhar de Legolas sobre ele.

— Tu estavas a planear partir sem mim, não estavas?

— Estava, mas já não o estou. Eu percebi que, se fugisse mais uma vez, estaria a cometer um erro. – Ela respondeu. – De qualquer modo, o nosso caminho é o mesmo, pelo menos até Rohan. O que é que estás a fazer? – Ela perguntou, vendo-o pegar no seu Anel de Paz.

— A certificar-me de que não partes sem mim. Eu não vou poder ficar a vigiar-te, então prefiro jogar pelo seguro, levando isto comigo. – Ele disse, colocando o fio em volta do seu pescoço.

— Eu já não sou nenhuma criança, não preciso que me vigiem.

— Eu sei que já não és uma criança. Se o fosses, ainda me ouvirias. – Ele respondeu.

— Dá-me o Anel da Paz, imediatamente! – Ela disse, estendendo a mão com exigência.

— Para que fujas? Não!

— Legolas Greenleaf, se não me deres o Anel imediatamente, eu prometo por Ilúvatar que não hesitarei em lutar para o ter de volta! – Ela bradou.

— Ah, claro… - Ele foi interrompido quando Liz lhe deu um pontapé, atirando-o ao chão por o apanhar desprevenido.

— O meu anel! – Ela mandou de novo.

— Não! – Ele disse, levantando-se rapidamente. – Por que razão queres fugir de novo?

— Eu não quero! – Ela exclamou. – Mas, se quisesse, não serias tu quem me impediria.

— Não te deixes enganar. Eu não cometerei, de novo, o erro de confiar em ti.

— Tu não tens o direito de o carregar. – Ela avançou sobre ele que se esquivou rapidamente.

— Não me faças rir, sabes bem que não és mais rápida do que eu.

— Eu não teria tanta certeza. É verdade que és um elfo, mas eu também sou, em parte. – Ela saltou sobre ele, tentando arrancar o pendente do pescoço do loiro, que a empurrou, afastando-a.

— Eu já disse o que tinha a dizer. Eu preciso de ter este anel comigo para me certificar de que não foges.

— Para! – Ela ordenou, levantando-se e olhando altivamente. – Se quiseres, eu acompanho-te para todo o lado, mas… Eu não suporto ver-te com ele, como se… - Ela interrompeu-se com os olhos arregalados ao se dar conta do que ia dizer.

— Como se o quê? – Perguntou Legolas, tirando lentamente o pendente do pescoço, mas sem o estender para Liz.

— Nada! – Ela disse, tirando-lhe rapidamente o pendente e colocando-o no seu pescoço. – Onde vamos?

— Eu preciso de ir ajudar Doe a distribuir os animais. – Legolas respondeu, abrindo a porta do quarto da ruiva, que saiu ao seu lado, ambos caminhando em silêncio.

— Ah, Legolas, Liz! Que bom que vos vejo ju… - Doe interrompeu-se, observando melhor o ambiente entre eles.

— Eles não são muito novos? – Liz sussurrou para Thranduil que estava a fazer uma pausa de falar com os seus conselheiros. A ruiva apontava para alguns dos elfos ali presentes.

— Os nossos elfos mais novos são bem treinados e ninguém é obrigado a participar na luta, mas todos querem.

— Eles ainda nem cinquenta anos devem ter, alteza.

— Thranduil, cara Liz, Thranduil basta. – O rei sorriu tristemente. – Eles não são maiores, mas são tempos de grandes necessidades, da máxima importância.

— Liz! – Ela ouviu uma voz que ela reconhecia de algum lado chamá-la e viu um vulto avançar rapidamente para ela, sem conseguir distinguir muito bem a figura tal era a velocidade a que se movia.

— Para! – Legolas colocou-se rapidamente à frente de Liz, fazendo com que a figura que avançasse para a ruiva embatesse fortemente nele.

— Felesriel? – Liz perguntou, vendo a elfa loira no sentada no chão a gemer e a esfregar a cabeça, parecendo em dores. – Legolas, no que estavas a pensar? É a Ri!

— Liz, és mesmo tu! – Felesriel levantou-se do chão para a abraçar fortemente. – Eu ouvi uns rumores, mas… Oh, Eru, és mesmo. Uau! Tu estás tão linda! Uau! Mas que olhar tão maduro é esse? Uau!

Liz riu-se. Felesriel sempre havia sido a mais espampanante dos amigos nos tempos em que ela passara em Mirkwood, e parecia que isso não mudara.

— Já viste o Maerthîr? Ele está tão lindo! Não te iria dizer não de novo! – Ela exclamou, e Liz viu que começavam a chamar a atenção. – A Foenewn está a namorar com o Angrenes… Oh, eu não devia ter dito isto, era segredo. – Liz riu-se mais uma vez. – Mas é completamente inocente. – Felesriel acrescentou numa voz ainda mais alta, fazendo Liz gargalhar ainda mais alto desta vez, como se não houvesse uma guerra às portas. – A Miluiewn está a ver se fica com um cervo, ela é uma das melhores guerreiras de Mirkwood, apesar de ser muito nova, mas ela disse que, se fosse mesmo verdade que estavas aqui, gostaria de te ver. O Hannelas está com o Maerthîr. Estão a treinar, eu acho. Eu vi-te na celebração de ontem em memória da tua mãe, mas eu não sabia que eras tu. Eu suspeitava, mas éramos tão crianças na altura, que… sei lá, pensei que ainda serias uma criança. É estúpido! Uau! Uau! Hey, sua alteza! – Ela virou-se de repente ao aperceber-se de Legolas e Thranduil em cada lado de Liz. Thranduil sorria suavemente. – Perdão! – Ela pediu, esfregando a sua cabeça de novo, como se lembrasse a dor que Legolas provocara. – Eu sou muito rápida, mas eu ia parar antes de atingir a Liz.

— Ri, está tudo bem. Desculpa por isso! – Liz pediu, vendo o vermelho da testa de Felesriel e curando-o com um pouco de magia.

— Uau, obrigada! – Ela disse, abraçando-a de novo. – Uau, é tão bom ver-te. Quando te foste embora, nós pensávamos que só te veríamos muito mais tarde quando te casasses com… - Ela interrompeu-se de novo, ficando corada de repente ao mesmo tempo que olhava para Legolas e tentava disfarçar. – E quando isso acontecesse, não… Bom, de qualquer maneira, só pensávamos que te veríamos quando já éramos todos oficialmente adultos. Estas circunstâncias não são as melhores.

— Pois não. – Liz concordou solenemente. – Eu lamento por isto tudo. Se isto está a acontecer tão cedo, é por minha culpa e nem sequer vou estar aqui para vos ajudar.

— Oh, Liz, então? Não sejas parva! Já ajudaste bastante. Quando tu te foste embora, o nosso grupo fugiu para ir até ao teu reino, sabias? Nós queríamos ver-te mais uma vez. Então fomos. E não sei como sobrevivemos três dias, porque não tínhamos comida. Fomos encontrados, claro, e depois começámos a ler e a preparar-nos para a batalha, a sabermos mais sobre a história da Terra Média e assim. E… - Ela tinha os olhos húmidos. – Ah, não imagino o que é estar no teu lugar, mas quero ajudar a manter algo deste mundo intato. Abomino a maldade. É por isso que estou hoje aqui, não quero que a maldade e a corrupção voltem a pisar Mirkwood de novo. Quero proteger aquilo que há de melhor no mundo. Por mim, por todos nós, também o deves fazer. Mas cumprindo a tua missão, pegar nesse anel e dar cabo de Sauron de uma vez por todas. – Felesriel disse e, logo de seguida, ouviu-se um cantar de guerra melodioso de um elfo ao seu lado, como se concordasse com as palavras ali proferidas.

— Guardiã! – Liz virou o seu olhar para um elfo que se aproximara dela, o seu rosto sereno. – Será que pode dizer umas palavras, talvez trocar umas histórias para a batalha que virá?

— Hum… - Liz levantou o olhar para a multidão que a olhava com expetativa. – Eu penso que quem o deve fazer é o Grande Rei Doe. É a ele que cabe a honra da primeira história.

— A honra é de quem os guerreiros querem, cara Guardiã! – Doe disse solenemente, dando-lhe um pequeno beijo nos lábios, como era da cerimónia.

— Certo! Claro! – Liz acendeu umas fogueiras com uma pequena magia e sentou-se no chão, vendo Legolas fazer o mesmo ao seu lado. – Por favor, sentem-se no chão, trocaremos histórias antes da batalha. Antes de mais, peço perdão por nem eu nem Legolas nos juntarmos a vocês amanhã quando a batalha começar. – Ela viu todos se sentarem. - Eu sei que muitos de vós pensam que havia outras pessoas mais dignas do meu Anel. – Liz tirou o anel de paz do pendente e colocou-o no dedo, fazendo com que este brilhasse uma luz pura, ofuscando alguns dos presentes. – Provavelmente têm razão, mas foi a mim que coube esta missão e, durante a minha caminhada, juntei muitas histórias de lutas, de lágrimas, mas também de sorrisos. Não há uma história de luta que se destaque de entre todas as batalhas que travei, mas acredito que uma das mais importantes foi uma que não envolveu armas, nada de arcos ou espadas, nada de lâminas ou machados.

“Uma das maiores lutas que já travei foi a tentar curar um pequeno menino numa aldeia, perto das montanhas solitárias. Um humano chamado Fralin. Ele tinha cinco anos quando o conheci, eu tinha dezoito, e já me via como maior de idade nessa altura, mas continuei a contar os meus anos. – Ela disse, arrancando gargalhadas em alguns. – Como era hábito na altura, eu ficava poucos meses em cada cidade e procurava abrigo junto a famílias que precisavam da minha ajuda, era assim que pagava a minha estadia, claro. Quando cheguei a essa cidade, perguntei onde era precisa a maior ajuda e indicaram-me a família dos apotecários. Os apotecários faziam punções e remédios para toda a gente, eles cobravam àqueles que podiam pagar, mas também ajudavam os que não podiam. E então eu fui. Fralin veio a correr receber-me e olhou para mim e disse: “tu vens ajudar-nos.” Os olhos azuis dele brilhavam de alegria e eu dei por mim a sorrir. Os apotecários receberam-me com sorrisos nos lábios. Todas as manhãs e todas as tardes fazia remédios. Sete meses depois, estávamos à mesa, numa refeição e Fralin estava adoentado e, como todas as crianças adoentadas, ainda mais curioso do que o normal. – Todos se riram, compreendendo o que ela falava. – Ele perguntava e perguntava. Queria saber quem eu era, o que fazia, de onde vinha, se tinha muitos amigos, onde estava a minha família, porque não tinha filhos.

“Sempre que o pequeno Fralin insistia, os pais dele diziam para se calar. No entanto, nesse dia, eu disse. Disse que era a Guardiã, disse que fugira de casa depois do que acontecera com minha mãe, disse que tinha uma missão perigosa, e que era possível que pessoas más me estivessem a perseguir. Os bondosos apotecários não me mandaram embora. Quanto mais, ficaram ainda mais meus amigos. Como se, de repente, nada nos separasse, nenhum segredo, nada.

“Fiquei mais três meses junto deles quando Fralin foi atingido por uma flecha. Eu estava a estender a roupa quando ele veio a correr com a flecha cravada no peito. – Liz vivia o momento de novo. – O meu primeiro instinto foi fazer magia e foi o que fiz, mas a flecha estava envenenada e eu não sabia que veneno era aquele. Então, tudo o que os meus feitiços faziam era tentar limpar o sangue dele, mas é magia complexa e eu não tinha treino suficiente.

“Os apotecários disseram que tinham que fazer punções, remédios, tudo para o salvar, e dia e noite o fizeram e eu ficava ao lado de Fralin fazendo toda a magia que conseguia para o manter vivo. Ele gemia de dor nos primeiros dias, mas depois a dor tornou-se surda e ele aguentava tudo como podia. Eu fazia feitiços. – Liz disse. – E feitiços e mais feitiços. O que comia era uma vez por dia quando a mãe de Fralin, a apotecária, tirava um tempinho para fazer a comida. Eu não podia parar.

“Um dia, Fralin virou-se para mim e não me reconheceu. Perguntou-me quem era, onde estavam os seus pais. Eu fiz mais um feitiço e respondi-lhe: “Sou Liz, aquela que está a ajudar os teus pais na apotecaria.” Não houve qualquer sinal de reconhecimento. E manteve-se assim. Fralin estava quase sempre inconsciente, mas quando acordava perguntava sempre o mesmo. E eu respondia sempre o mesmo. E era certo que sempre tinha a mesma reação.

“Eu estava exausta. Liggia e Gutus, os apotecários, sempre vinham tentar punções, remédios e nenhum surtia efeito. E eu continuava. No entanto… - Liz interrompeu-se. – Um dia, quando Liggia veio trazer-nos comida – eu também alimentava Fralin – eu disse-lhe que estava exausta. Que já não sentia mais a minha alma, que seria melhor que tanto ela como Gutus fossem colocar-se ao lado de Fralin para esperar que ele ficasse consciente e se despedissem dele. – Liz sentia as suas lágrimas. – Essa era a única esperança que eu lhes podia dar. A esperança da despedida.

“Liggia começou a chorar e aquela visão partiu-me o coração, eu sabia o que era estar assim, sem nada que fazer a não ser a despedida. Eu sabia o que era aquela dor, mas ao mesmo tempo, eu não sabia. Ela suplicou-me por mais tempo: “por favor, Liz, por favor, só mais um pouco de esperança”. E foi o que fiz, eu dei mais um pouco de esperança. Liggia e Gutus continuavam a sua procura e eu continuava com os meus feitiços, esperando, com uma loucura doida, que tudo aquilo parasse, que eu conseguisse curar Fralin. Eu comecei a recusar a comida, sentindo que, em vez de me fortalecer, me enfraquecia, pois eu já não a segurava no meu estômago.

“Num outro dia, Fralin acordou de novo e perguntou-me: “Quem és tu? Onde estão os meus pais?” “Os teus pais estão a procurar uma cura para ti, Fralin, tu foste atingido por uma flecha. Lembras-te?” “Liz!”, ele exclamou e eu fiquei surpreendida por ele se lembrar de mim. “Eles queriam saber da Liz”. Ele disse. Eu desabei. Eu sabia que era um perigo, mas nunca pensei naquela possibilidade, até porque não encontrara nenhum perigo. “Liz”, Fralin exclamou de novo. “Liz, eu menti aos homens que queriam saber de ti e disse que te tinhas ido embora há dois meses, e eles acreditaram. Não precisas de ir embora, podes ficar com os meus pais. Eles vão precisar de ti quando eu morrer.” Aquela criança de seis anos estava pronta para morrer, sabia, aliás, que ia morrer e estava a dar-me a responsabilidade de cuidar dos seus pais, de apoiar os seus pais, mesmo depois de ter visto o perigo que eu havia colocado sobre ele.

“Quando Liggia veio, contei-lhe o que acontecera e ela desabou igualmente e disse que Fralin tinha razão. Que eu precisava de ficar, que eles precisavam de apoio, precisavam de alguém para tomar conta deles. E disse-me que ia chamar Gutus para se despedir e eu chorei mais uma vez. Quando Gutus veio, era a primeira vez em meses que eu o via e ele era a figura de um ser que amou demasiado e se magoou. Todos o éramos naquele pequeno quarto daquela pequena casa daquela pequena cidade.

“Naquele dia, eu fiz feitiços atrás de feitiços, esperando um momento em que Fralin ficasse consciente e quando finalmente aconteceu, estava quase a amanhecer e ele olhou para todos nós e disse: “Ah, a minha família.” Gutus e Liggia choravam e diziam que ia tudo ficar bem, que ele ia para um lugar melhor e que todos, um dia, se encontrariam, mas eu sabia que não. Eu sabia que nunca mais o iria ver, porque não ia para o mesmo lugar que ele, porque não iria para o mesmo lugar que minha mãe. Porque nem na morte somos todos iguais e eu quis odiar o mundo por causa disso. Mas não o fiz. E Fralin virou-se para mim com um sorriso e disse: “Obrigado por nos ajudares, Liz, eu sabia que o farias! E agora eu sei que não é só a nós que ajudarás, mas a toda a Terra Média.” Fralin virou-se para os seus pais e começou a falar com eles pausadamente. Eu não ouvi as últimas palavras de Fralin, eu não sei o que ele disse para confortar os pais, mas eu sei que ele os confortou, porque ele sabia que eles iriam sofrer mais do que ele. Quando ouvi silêncio, eu não queria acreditar, mas eu sabia que ele se estava a ir. Depois de meses tentando mantê-lo vivo, ele estava a partir. Então eu disse: “Fralin, lá, espero que conheças a minha mãe, ela vai ajudar-te com o que precisares no outro mundo.”

“Quando os olhos dele se fecharam, anunciando que se fora, eu abracei Gutus e Liggia, dando-lhes apoio, tentando confortá-los, tentando dar esperança, qualquer esperança. “Obrigado!” diziam eles enquanto choravam. Eles estavam a agradecer a existência de Fralin, mesmo este tendo partido tão novo, tão cedo.

“Fiquei mais um ano com os apotecários e, com o tempo, ficámos bem. Quando Liggia deu à luz um menino, vi que era a altura de partir. Vi que a minha missão ali acabara.

“Como eu bem disse, esta luta não é de armas, mas de vontades. Uma luta que eu travei contra o destino. E é uma das mais importantes porque me deu o verdadeiro significado de esperança. É verdade que eu não consegui salvar Fralin, e só Ilúvatar sabe o quanto isso ainda me magoa, mas eu dei esperança por algum tempo à sua família, e isso fez com que a sua família tentasse uma cura, tentasse uma fórmula para que ele ficasse bem. É essa que eu acredito ser a minha missão. A esperança. E enquanto houver isto, enquanto eu permanecer, eu dou esperança, e essa esperança faz com que os habitantes da Terra Média procurem uma espécie de cura, dá-lhes força para lutar. É de esperança que se tratam todas as batalhas. A esperança de que vocês vão conseguir, dá-vos força para que consigam. Pode ser que não tenham sucesso, como aconteceu com Fralin, mas eu acredito que sim, que terão. E vocês também. Por vezes, as nossas maiores batalhas não são aquelas das quais saímos vitoriosos, mas as que saímos derrotados, porque aprendemos com elas, e vemos o quanto elas nos fortalecem.

Ao mesmo tempo que dizia a última frase da história, Liz agitava os braços, o anel de paz a brilhar forte enquanto as armas se multiplicavam através da sua magia e as muralhas de madeira se fortaleciam à volta de todos, o que deslumbrava a audiência.

— Aquele fracasso, aquela perda foi importante para mim, porque me magoou, mas fez com que aperfeiçoasse a minha magia, fez com que me tornasse mais forte, e também porque me deu a conhecer um outro tipo de amor. O amor fraterno. A verdade é que Fralin foi meu irmão. Ainda o é. E fez-me forte! – Ela acrescentou. – E aquele fracasso, no passado, dá-me hoje a certeza de olhar para vocês e saber que vocês vencerão a batalha que se aproxima.

Quando Liz terminou, os elfos levantaram-se e começaram a dançar enquanto cantavam, seguindo o ritual daquele tipo de acontecimentos e Liz ergueu-se também, aproximando-se dos seus amigos dos tempos de Mirkwood que a abraçaram fortemente e a puxaram para dançar a melodia triste, mas ao mesmo tempo forte e carregada de esperança. Uma meloodia que alentava o coração dos presentes. Os sorrisos eram alguns, apesar do peso solene da batalha que aconteceria em um dia. As palavras eram trocadas em murmúrios, porque parecia errado falar em voz alta naquela cerimónia e Liz olhou para o céu, vendo as estrelas a testemunhar aquele momento tão marcante.

***

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer a todas as pessoas que leem e favoritam e, em particular, às pessoas que comentaram no capítulo anterior.

De Perogini: Muito obrigada pelo seu comentário! E me perdoe, cara, porque eu te prometi aquilo e só postei agora. Mil perdões sobretudo a você! (E sim, continuo sendo *britânica* nesse aspeto e vou pedir desculpa até ao fim dos meus dias.

Lyn Black: Muito obrigada pelo comentário GG! E não tem de pedir desculpa, eu acho que deve comentar quando tem tempo e lhe dá mais jeito. Eu seria muito hipócrita se a "odiasse" por isso, porque eu também sou horrível a postar os capítulos em tempo útil. Esta formalidade é um traço da fanfic no geral, mas sim, acredito que se note bastante por ser portuguesa. Espero ter respondido ao seu último comentário maravilhoso, mas se quiser saber mais, perguntar mais, não hesite em mandar MP, porque eu respondo. A leitora que agradeci anteriormente fá-lo muitas vezes. Por isso, não pense que eu não respondo.

Aquamarine Potter: Muito obrigada pelo seu comentário e bem-vinda a Liz ou a Guardiã! *fogos de artifício e purpurina de boas vindas* Espero que este capítulo tenha respondido a seu comentário.

Blue: Muito obrigada pelo seu comentário! E muito bem vinda! *garrafas de champanhe são abertas e música de boas vindas ao fundo*.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que este capítulo não responde a muitas perguntas sobre a situação de Liz e Legolas, mas eu sei que alguns queriam saber um pouco mais da caminhada da Liz enquanto esteve fugida e esta é uma espécie de *vista de olhos* para aquilo que foi.
Por tal, deixo um pedido aqui: quem daqueles que acompanham a história, estaria interessado em saber mais da história de Liz enquanto esteve fugida? E não só dela, mas do que Legolas e outras personagens estiveram a fazer nesse tempo? Eu pergunto isto, só para ver quem estaria interessado. Também me foi dada a ideia por uma leitora de fazer um "universo paralelo", onde Liz não teria fugido... É uma ideia que fica no ar. Me digam o que acham de tudo isto nos comentários.
Kiss kiss,
CR, a autora



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