Liz Ou A Guardiã escrita por CR


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Dobradinha! Pois é! Eu não disse que estava feliz?

Boa leitura!



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Capítulo 19

E se?

Liz acordou meio dorida e estremunhada, ainda era de noite, mas quase madrugada, ela poderia dizer.

Legolas estava de pé, fitando a noite escura, e Aragorn acordava, erguendo-se.

– Eles estão muito, muito longe. – Legolas sussurrou, voltando-se com tristeza para Aragorn. – Sei em meu coração que não descansaram esta noite. Só uma águia os alcançaria agora.

– Mesmo assim, ainda vamos segui-los como pudermos. – Aragorn abaixou-se para acordar Gimli. – Vamos, temos de continuar.

– Mas ainda é de noite! – Gimli respondeu, levantando-se no entanto.

Liz ergueu-se igualmente passando a mão pelo cabelo e respirando fundo. Olhou para Legolas, sentia o aroma do Elfo intensamente.

– Nem Legolas conseguiria vê-los nesta escuridão no topo de um monte.

– Em nenhum lado os conseguiria ver, mestre Gimli. – Legolas falou. – Eles estão muito distantes.

Aragorn baixou-se, escutando o chão, a terra, os ruídos que dela vinham, enquanto todos fazia silêncio.

– Os pés dos nossos inimigos estão muito distantes e quase inaudíveis. Mas pode-se ouvir claramente ruídos de cascos de cavalo. Estão a ir para o norte. Pergunto-me o que acontecerá nesta terra. – Aragorn falou, levantando-se.

– Vamos! – Disse Legolas.

“Assim começou o terceiro dia de sua busca. Durante todas as longas horas de nuvem e sol vacilante, eles quase não pararam, algumas horas andando em grandes passadas, outras correndo, como se nenhum cansaço pudesse extinguir o fogo que lhes queimava o coração. Raramente falavam. Atravessaram a ampla solidão e seus mantos élficos desapareceram contra o fundo dos campos cinza-esverdeados; mesmo na fria luz do sol do meio-dia, poucos olhos, com a exceção dos élficos, poderiam tê-los notado, até que estivessem bem próximos. Sempre agradeciam em seus corações à Senhora de Lórien pela dádiva do lembas, pois podiam comê-lo e encontrar novas forças até mesmo enquanto corriam.

Durante todo o dia, a trilha do inimigo conduziu sempre em frente, indo para o noroeste sem interrupção ou curva. Quando outra vez o dia se acabava, chegaram a encostas longas e sem árvores, onde o solo se elevava, crescendo em direção a uma fileira de colinas baixas e corcovadas à frente.

A trilha dos orcs ficou mais fraca, conforme rumava para o norte na direção delas, pois o solo era mais duro e a grama mais curta. Lá adiante, à esquerda, o rio Entágua fazia curvas, um fio prateado no chão verde. Não se via qualquer ser em movimento. Aragorn muito se surpreendia pelo fato de não estarem vendo sinais de animais ou homens. As moradias dos rohirrim ficavam, em sua maioria, muitas léguas ao sul, sob as bordas das Montanhas Brancas, que eram cobertas de florestas, agora escondidas por névoa e nuvem; apesar disso, os Senhores dos Cavalos costumavam anteriormente manter muitos rebanhos e criações de cavalos no Estemnete, região ao leste de seu reino, e ali os pastores costumavam vagar com muita frequência, vivendo em acampamentos e tendas, mesmo durante o inverno.

Mas agora toda a região estava vazia, e havia um silêncio que não parecia ser a quietude da paz.

Ao crepúsculo pararam novamente. Agora já tinham avançado cerca de doze léguas na planície de Rohan, e a muralha das Emyn Muil se perdia nas sombras do leste.

A lua jovem brilhava num céu enevoado, mas emanava pouca luz, e as estrelas estavam veladas.

– Agora sou eu quem sente falta de um tempo para descansar, ou de uma pausa em nossa caçada – disse Legolas. – Os orcs correram na nossa frente como se estivessem sendo perseguidos pelos chicotes de Sauron. Receio que já tenham atingido a floresta e as escuras colinas, e que exatamente agora estejam entrando nas sombras das árvores.

Gimli rangeu os dentes.

– Este é um final triste para toda nossa esperança e nosso esforço! – Disse ele.

– Para a esperança talvez, mas não para o esforço – disse Aragorn. Não voltaremos daqui. Mas estou cansado. – Olhou para trás, na direção do caminho pelo qual tinham vindo, na direção da noite que se formava no leste. - Existe alguma coisa estranha se operando nesta terra. Desconfio do silêncio. Desconfio até dessa lua pálida. As estrelas estão apagadas, e eu estou cansado como raramente estive antes, cansado como um guardião não deveria estar ao seguir uma trilha nítida. Há alguma disposição que empresta velocidade a nossos inimigos e põe diante de nós uma barreira invisível: um cansaço que é mais do coração que das pernas.

– É verdade! – Disse Legolas. – Isso eu já sei desde que descemos das Emyn Muil. Pois essa disposição não está atrás, mas à nossa frente.

Apontou na distância, sobre a terra de Rohan, para o oeste que escurecia sob a lua em forma de foice.

– Saruman! – Murmurou Aragorn. – Mas isso não deve fazer com que retomemos. Mais uma vez devemos parar, pois, vejam!, até mesmo a lua está sendo envolvida pelas nuvens que se adensam. Mas ao norte estará nossa estrada, entre colina e pântano, quando o dia retornar.”

Aragorn deitou-se e adormeceu imediatamente e Liz esperou que Gimli fizesse o mesmo, mas foi apanhada de surpresa quando tal não aconteceu. Gimli olhava para ela e Legolas, sentando-se na relva.

– O que se passa, Mestre Gimli? – Liz perguntou, sentando-se de frente para ele.

– Vocês não dormem? – Ele perguntou frontalmente.

– Ah, eu durmo! – Liz sorriu. – E adoro dormir numa caminha fofinha cheia de almofadas e com rosas à minha volta. Quando eu era criança tinha sempre rosas no meu quarto. Rosas ou outras flores, podiam ser margaridas que também têm um cheiro bom, mas rosas sempre foram as minhas prediletas. Quando era criança também tinha a mania de cantar canções antes de dormir, qualquer canção… Enfim…Bons velhos tempos! – Liz falou com os olhos molhados de recordações.

– Ai, Liz, eu por vezes pergunto-me como uma pessoa tão delicada como tu pode ser tão corajosa e guerreira, sempre com uma palavra nas situações mais difíceis. A delicadeza normalmente é um antónimo de luta.

– Obrigada por me achares delicada… - Liz mordeu o lábio inferior. – Há muito que deixei de ter uma cama fofinha cheia de almofadas. Ou mesmo um quarto só meu para poder pôr rosas nele. Nem canto canções antes de dormir… Não porque não queira, mas porque nunca mais tive possibilidade. No entanto, não consideres que delicadeza é contrária a luta, pois na nossa companhia temos um exemplo de delicadeza e um dos melhores guerreiros que eu já vi, e não estou a falar de mim.

– Eu também durmo. – Legolas sentou-se ao lado de Liz, relativamente perto, deixando-a surpreendida. – Durmo, descansando a minha mente ao percorrer os meus sonhos.

– Sonhos élficos? – Gimli perguntou. – Isso não é dormir! Os sonhos élficos são como recordações, tão nítidos como o mundo real.

– Mas é dormir! – Legolas reclamou.

– Dormir é fechar os olhos e ficar com a respiração pesada, enquanto todo o teu corpo relaxa. – Liz falou suavemente. – Simples assim.

– Mas o meu corpo relaxa! – Legolas defendeu-se.

– Como é possível o teu corpo relaxar se tu dormes, por assim dizer, enquanto caminhas de olhos abertos? – Gimli perguntou. – Isso eu nunca vou compreender totalmente. – E, dito isto, deitou-se e adormeceu.

Liz olhou para o céu, observando as estrelas atentamente e sorrindo quando pensou na sua mãe. Há muito tempo que não o fazia, pois só se lembrava da morte dela, mas agora ela conseguira lembrar-se do sorriso único que ela sempre lhe reservava.

– Boa noite! – Ela desejou, deitando-se e virando-se de costas para Legolas.

Fechou os olhos, conseguia ouvir Legolas respirar calmamente como se refletisse profundamente numa coisa ou como se dormisse, como só os elfos sabem dormir.

– O que é que se passa, Legolas?

– Nada! – Ele respondeu rapidamente. Ela virou-se para ele ainda de olhos fechados.

– Eu sei que nós não somos mais do que pessoas que partilham uma missão, juntos numa caminhada que acabará mais cedo ou mais tarde, mas podes abrir-te comigo. Sou a única acordada neste momento. Não te odeio nem te desejo qualquer mal, muito pelo contrário. Tenho-te em grande consideração, caro Legolas. O que se passa?

– Eu estive a pensar… No desígnio de Eru…

– Ainda? – Ela perguntou, os olhos ainda fechados. – Se é por causa de eu não ter direito à vida eterna…

– Não… - Legolas respondeu, interrompendo-a. – É só… Ele não só concedeu a vida eterna aos membros da Irmandade, mas também aos seus amados.

– Sim, é verdade… E com certeza eles sentiram-se nobres por terem um destino igual à do teu povo, Legolas, e poderem-no partilhar com a pessoa que mais amam no mundo. – Ela falou suavemente.

– Mas… Por que razão não a concedeu a mim?

– Porque tu já possuis vida eterna. O Rei Celeborn explicou-o. – Ela respondeu.

– Sim, mas e a vida eterna para a pessoa que eu mais amo?

– Como assim? – Liz abriu os olhos, vendo Legolas deitado de lado olhando-a. – Legolas, tu és Elfo… A vossa vida já é eterna.

– A minha sim é eterna. Mas o facto de eu ser um Elfo não impede que não me apaixone por alguém de uma outra raça. – Ele explicou. – Tu conheces as histórias do meu povo, Liz, sabes bem.

– Mas tu vais apaixonar-te por alguém do teu povo, com certeza, Legolas! – Ela sorriu, embora a sua testa estivesse franzida.

– No coração ninguém manda, nem mesmo os membros do meu povo. – Ele falou suavemente. – Pode acontecer.

– Ouve… És um elfo, Legolas, ainda por cima de Mirkwood, não sentes grande simpatia por Anões, por isso, podemos metê-los de lado. Podemos pensar nos Hobbits do Shire, mas não vais conhecer mais nenhum para além de Frodo, Pippin e Merry, e se tu amares algum deles, não precisas de te preocupar, nem com Gimli, do povo anão, porque eles têm vida eterna. Existem claro, os humanos, mas tu desprezas a maior parte desse povo com exceção de Aragorn e de Midernia, a quem respeitas. No entanto, não vi amor nos teus olhos enquanto com ela falavas em Rivendell. E Aragorn já tem o seu coração entregue. – Liz usava um tom suave. – Quem resta é o teu próprio povo, e com qualquer membro dele serás feliz. – Ela voltou a fechar os olhos.

– E se… - Ela abriu os olhos. – E se o destino me pregar uma partida e eu me apaixonar por um mortal?

– Então, acho que o único conselho que te posso dar é viver esse amor ao máximo, mesmo que magoe os vossos destinos acabarem separados. Porque nada é mais triste do que não viver o amor.

– Mas para quê vive-lo se não acabaremos juntos?

– Para quê? – Ela perguntou, ofendida pela pergunta. – Legolas, se tu amares alguma pessoa, se te apaixonares por qualquer mortal, então é tua obrigação dar graças a Eru por teres encontrado tamanha dádiva. Porque há pessoas a quem essa dádiva não é concedida. – Ela acalmou-se. – O amor correspondido é a melhor coisa do mundo mesmo que esteja destinado a um fim prematuro. Mas chega deste diálogo, porque a vida não é feita de “ses”, e tal é muito improvável que aconteça.

– Sim… - Ele concordou calmamente, refletindo. – E eu sei bem o que fazer. Boa noite, Liz!

– Boa noite, Legolas! – Ela voltou os seus olhos para o céu, fitando a lua que pouco brilhava. – Estúpida lua que não cumpre a sua missão… Estúpida vida que não se cumpre… - Ela sussurrou e, virando-se para o lado, adormeceu profundamente, enquanto Legolas a olhava estranhamente.


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Notas finais do capítulo

Excesso de feelings talvez, vocês estão a pensar, mas fazer o quê? Era assim cheia de sentimentos que eu estava quando escrevi ontem

Espero que tenham gostado e por favor comentem nos dois capítulos ou nunca mais faço uma dobradinha, ouviram? (Eu sei que provavelmente esta ameaça não é verdadeira, mas nunca se sabe quanto tempo demorarei a atualizar, não é mesmo?) - CR versão malvada xD

Kiss kiss,

CR, a autora