Agora ele atravessava quarto com o violão. Estava especialmente lindo com aqueles suspensórios e ela sentia que ele viera por algo bom... Talvez para comemorar o anúncio da volta do N’Sync. “Silena, você sabe do meu desejo carnal por você, certo?” “Sim” –ela disse. Justin agora sorria e abria alguns botões da camiseta. “Então eu quero que você escute o que eu tenho pra dizer...” Começou a tocar os acordes no violão e ela só pensava no quanto iria sambar na cara das amigas quando contasse que o próprio Justin Timberlake queria seu corpo nu. “Would you be my girlfriend? Would you be my girlfriend girlfriend girlfriend…” Então os acordes mudaram… “Hey, hey…”

(Hey, Hey) Silena se mecheu na cama. Ela havia dormido com eles de novo? Bye, Bye, Bye! Bye, Bye...Bye, Bye...Oh, Oh…

Ela sorriu. Murmurou coisas desconexas…

So now it's time to leave and make it alone –Oi? I know that I can't take no more It ain't no lie I wanna see you out that door Baby, bye, bye, bye...

(Tradução: Então agora é hora de partir e seguir sozinho.Eu sei que não posso mais aguentar, isso não é mentira. Eu quero te ver sair por aquela porta porta, baby, tchau, tchau, tchau...)

−NÃO ME DEIXE JUSTIN!!!!! –Ela acordou sobressaltada, caindo da cama logo em seguida e aliviou-se ao perceber que era apenas o seu celular tocando. Ainda sentindo as dores da queda e uma vontade imensa de quebrar a cara do infame que atrapalhara seu sonho lindo, ela pegou o celular e viu o nome do futuro cadáver não identificado que tirariam de dentro do rio na manhã seguinte: Percy J.

−Alô? –Ela disse sem ânimo- Eu espero que você tenha tipo, um ÓTIMO motivo pra me tirar dos braços do Justin!

−Silena eu... Queria dizer que... Eu passei com o carro em cima da Prada, sua cadela.

PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII – O coração de Silena parou. Ela queria enfiar o telefone na goela daquele atropelador de... Mas ela não iria chorar, pois como diria Clarisse Lispector, “Chorar não vai trazer de volta seu cão, a não ser que suas lágrimas tenham cheiro de ração”.

Mas espera, ela não tinha cadela.

−VAI SE FUDER, JACKSON. –Acalmou o tom. –Agora para de me enrolar... COMO FOI O ENCONTRO EM SÉRIE? –Agora ela falava em um tom super entusiasmado.

−Então... Era sobre isso mesmo que eu queria falar. Corria tudo bem, mas eu ferrei com tudo e agora ela não me atende. O que eu devo fazer? –Silena quase enfartou de verdade. Como assim? Ela passara horas e horas pra bolar aquilo, gastou sua caligrafia, reservou mesa em restaurante, ouviu o sermão de Rachel por usar de tanto papel naquilo pra esse idiota defenestrar*? [N/Isaa: Querem saber o que é defenestrar? Passem na minha outra fanfic! O Link segue lá em baixo!]

−Você foi atrás dela?

−Eu tinha que pagar a conta!

Silena respirou fundo, tentando se controlar.

−Okay, olha... Me conta exatamente o que aconteceu.

−Então... –Percy começou.

Algum tempo antes...

−E qual é o seu segredo? –Annabeth perguntou rapidamente, querendo mudar de assunto. O que o Percy teria pra esconder de todos?

−E aí, Percy! –Eles se viraram para o lado e deram de cara com Nico di Ângelo, Will Solace, Ethan Nakamura, Grover Underwood e Jake Mason. Percy engoliu seco. O time estava parado diante dos seus olhos. Ele não sabia como reagir e, dentre todas, escolheu a pior. Tinha que ser o Cabeça-de-algas mesmo.

−Hey caras! –Ele disse- Como vão?

−O que é isso?- Perguntou Nico se referindo à Annabeth, aquele jantar “romântico” e o que aquilo parecia.

−Err... Vocês conhecem a Annabeth Chase, minha monitora, não?- Disse em um tom casual.

Nico semicerrou os olhos castanhos.

−Parece mais um encontro... –Percy teve vontade de estrangular o amigo -e primo- com as próprias mãos. Precisava colocar lenha na fogueira? Tinha puxado à mãe mesmo... Maria di Ângelo era aquele tipo de vizinha que fica na espreita pra saber de tudo o que acontece e sair dizimando fofocas por aí... Ele iria acabar com a reputação de ambos. Percy forçou um riso, mas falou com convicção:

− Não. Definitivamente isso não é um encontro. –Nico não acreditara em uma palavra, mas resolveu sair e levar sua turma.

−Ok, se essa é a sua história...

O time caminhou para o outro lado e Annabeth encarava friamente a imagem de Percy à sua frente. Ela definitivamente merecia todos os “Eu te avisei” que ganharia de Luke mais tarde. Ela estava dividida entre bater nele, sair andando, conversar com ele ou continuar encarando-o friamente fantasiando mil torturas para ele na mente.

−Annie eu... Me desculpe por isso.

−Você tem tanta vergonha assim de ser visto comigo? –Ela perguntou se controlando o máximo possível para não enfiar a faca que segurava na garganta de Percy. Ele precisava revidar, mas as palavras lhe fugiram... Nem ele mesmo pensara direito ao falar aquilo. Fizera somente para proteger a integridade de Annabeth ou, no dia seguinte, ela seria taxada como “mais uma” para a lista do riquinho mimado e galinha... Ele não aceitaria isso nunca, mas ao ouvir Annie dizer àquelas palavras, o que falara parecia mesmo horrível. Parecia que ele não queria ser visto com a nerd certinha, mas não passava de um mal entendido.

−NÃO! É que... Ele... Ele ia-

−Percy, por que você só é legal comigo quando estamos sozinhos? –Ele abriu a boca para retrucar, mas a resposta não veio. Annie sorriu da própria desgraça enquanto se levantava. –Sabe, por algumas horas eu comecei a pensar que você não é um baita filho de uma mãe como o Luke costuma dizer, mas você me enganou de novo! É um idiota egocêntrico que não vale nem esse prato horrível que me fez comer.

Ela se virou e começou a andar.

−Annie, espera!-Ele até fez menção de se levantar e correr atrás dela, mas ainda tinha que pagar a conta. Mas era melhor que deixasse que esfriasse a cabeça, tentaria falar com ela outra hora.

−E foi isso.

−Seu idiota! Por que diabos você fez isso? Não sabe o quanto isso machuca? Você precisa implorar por desculpas o quanto antes... Ai, como eu quero arrebentar a sua cara, Perseu.

−E se ela não quiser me ouvir?

−Se vira, querido... Vocês precisam se acertar! É pro meu próprio bem. Eu já fiz a minha parte, agora vê se para de ser acomodado, e corre atrás. Vá até a casa dela amanhã bem cedo e seja criativo.

−E se nada do que eu tentar der certo?

−Aí você se junta a mim no Clube dos Gatinhos ft. Ricos ft. Encalhados... –E desligou.

No dia seguinte, Percy não se levantou cedo para treinar, ele o fez para ir à casa de Annabeth. Ele estava arrependido pelo dia anterior, passara a noite inteira pensando em como pediria desculpas, mas ele não era a pessoa mais requisitada quando o assunto era usar o cérebro... Ou o seu projeto inacabado de massa encefálica.

Resolveu ir com a cara e a coragem mesmo afinal, não podia ser tão difícil assim.

Annabeth dormiu pouco. Ainda estava lamentando ser tão idiota e aceitado sair com aquele idiota de olhos verdes... Justo ela, que era tão intuitiva. Primeiro, ele era totalmente o seu oposto e inimigo declarado de seu melhor amigo, segundo, aquele “encontro” tinha sido ideia de Silena Beauregard! Isso já era motivo suficiente pra não querer ir, mas não... Ela estava tão encantada com a ideia de sair com Percy, que nem ao menos pensou nas consequências. Ela se repreendeu. Por que diabos ela não conseguia parar de pensar naquele maldito?! Estava parecendo aquelas garotas retardadas que lambem o chão que ele pisa. Levantou-se bem mais cedo que o normal e foi à casa de Luke, que ficava ao lado da sua. Ele, provavelmente estaria dormindo, mas ela não se importava. Precisava desabar.

Entrou sem cerimônias na casa bem decorada e silenciosa, sabia que Luke estava sozinho... Seu pai não morava com eles e May já deveria estar no café. Abriu a porta do quarto do loiro e o encontrou dormindo serenamente, apenas usando cuecas samba canção. Ela olhou para o quarto, a decoração sempre fora aquela... Times de basquete e bandas das quais ele gostava. Voltou o olhar a ele. Qualquer garota do Olympus High ficaria, no mínimo, animada com a ideia de ver Luke daquele jeito, mas quando viu a cena pela primeira vez –aos 10 anos de idade- Annabeth definiu o momento como “traumatizante”.

−ACORDA OXIGENADO! –Ela gritou esperando uma reação totalmente diferente da que ele teve. Ele se mexeu puxando os lençóis cinza, abriu os olhos incrivelmente azuis calmamente e bateu na parte vazia da cama indicando para que se sentasse. Annabeth estranhou. Quem era aquele e o que tinha feito com Luke? Sim, porque ela já esperava uma gritaria e muitos palavrões. –Tá tudo bem com você, Luke?

−Ai que pergunta idiota, Annabeth... Eu acabei de ser acordado em pleno sábado por você! Se fosse outra garota pelo menos... Olha a hora vey. –Luke sorriu um pouco, mas não teve resposta. Annie se sentou no lugar indicado por pelo garoto, e ele a encarou melhor. Aquele filho de uma mãe, pensou. –Andou chorando. O que aquele corno dos infernos fez com você?

−Foi um fracasso. –Ela começou- Estávamos em um encontro e, no minuto seguinte, ele diz em alto e bom som que não estávamos em um encontro.

Luke não pareceu surpreso.

−E você encheu ele de porrada? –Annabeth franziu o cenho e negou. –Afff Annie. Me decepcionou... Mas não se preocupe, eu vou dar um jeito niss-

−Não Luke. Eu não quero que você faça nada. –Ela disse seriamente. Por mais idiota que Percy fosse, ela não queria vê-lo surrado, mas queria socar a própria face por pensar assim.

− Talvez se eu arrumar um daqueles bonecos de vudu... –Annabeth riu tristemente. –Você gosta daquele idiota, não é?! –De fato, aquilo soou mais como uma afirmação do que como uma pergunta. Ele se levantou da cama calçando seus chinelos e caminhou até a sua grande janela de vidro com detalhes brancos. E teve a visão do inferno. Ou melhor, do capeta mesmo. Percy Jackson, em pessoa acabara de estacionar o carro em frente a casa da amiga.

−Sei lá Luke... Depois dessas aulas, ele só foi diminuindo na escala de idiotice. Eu sei que ele é popular, que eu sou uma nerd... E também sei o quão idiota isso parece. E como é clichê, aff. Mas eu não consigo parar de pensar naquele imbecil. Sabe Luke, você tem sorte de nunca se apaixonar... Deve ser bem mais fácil.

Luke engoliu seco. Aquilo não era uma coisa da qual ele se orgulhasse... Geralmente ele tinha todas as garotas que ele queria, mas nenhuma o fazia querer se envolver. Eram todas iguais, todas um modelo de Barbie. Ele procurava algo mais... Não era como se ele não já tivesse se apaixonado. Ele apenas não sabia... E talvez fosse por isso que hoje ele tinha medo. Seu amor se foi tão rápido que ele nem teve tempo de definir o que sentia.

−Não é tão fácil como parece, mas eu sou foda... Sabe como é... –Ele pensou em deixar aquele idiota jogando todas as pedras que encontrasse na janela do Sr. E da Sra. Chase, mas achou injusto com Annabeth. Ele queria que ela fosse feliz... E se ela tinha mau gosto pra escolher o Jackson como amor, pelo menos tinha bom gosto pra escolher seu melhor amigo. –O que você falou foi muito, mas muuuito gay Annie. Eu acho que está na hora de você achar uma amiga mulher pra que ela possa suspirar e te dizer o quanto isso “é fofo”... Ainda mais quando você se acertar com aquele patife. –Ele revirou os olhos e ela negou com a cabeça. Não estava acreditando no que ouvira - A única coisa que eu posso te dizer nesse momento, é que você deveria estar dizendo isso a ele, não a mim.

−O que você quer dizer com isso, Luke? –Ele apontou pela janela e deu espaço para que ela passasse. –EU NÃO ACREDITO NA CARA-DE-PAU DESSE IDIOTA!

−Hey Annie! Baixa essa guarda... Se você continuar sendo orgulhosa assim, vai acabar sozinha. Pelo menos escuta o que ele tem pra dizer. Eu não estou defendendo aquele veado dos infernos, mas se for pra te ver feliz, vale.

−Filosofou agora... –Ela abraçou o amigo ainda rindo e foi lá. Estava pronta pra dar o maior de todos os gelos em Perseu Jackson... Mas como diria Clarice Lispector, o destino dorme de calças.