Um restaurante.

Mas não era um restaurante comum, ficava no píer. Na cabeça de Percy, Silena havia se superado. O encontro estava sendo incrivelmente divertido e, estar ali, do lado de Annabeth vendo as luzes da cidade refletidas na água parecia o momento perfeito. Eles finalmente se sentaram e Percy pegou um dos dois envelopes que estavam embaixo da plaquinha de “reservado”, enquanto um garçom bem vestido entregava o cardápio para a loira.

−Honestamente, eu estou com o pé atrás- Disse Percy encarando o envelope.

−Me dá logo isso – Riu Annabeth tomando o envelope da mão do moreno. O segundo ainda estava sobre a mesa, perto do saleiro – Ok... “Peça seu prato favorito para a outra pessoa”.

Percy fez uma careta. Ele detestava admitir, mas era totalmente “fresco” com sua comida... Até as cores ele gostava que estivessem combinando! Azul, de preferência. E ele detestava vegetais... Magra do jeito que era Annabeth, só devia comer mato e molho shoyo.

−Alguma chance do seu prato favorito ser bisteca? –Perguntou receoso.

−Claro... Comemos muito disso lá em casa! –Ironizou a loira revirando os olhos. Esses riquinhos...

Percy quis rir, mas perdeu meio que finalmente percebera o que estava fazendo. Ele estava mesmo em um encontro com Annabeth Chase? Um encontro?

−Sabe... Eu não tenho muita experiência nesse assunto, então... –Começou ele.

−Escolher o prato?-Ela perguntou um tanto perplexa.

−Não! –Respondeu ele como se fosse óbvio. –Tipo... Com a Rachel eram só festas, jogos e teatro. Nós nunca fizemos nada parecido com isso. Isso é diferente.

Ela assentiu.

−“Diferente” bom, ou diferente e estranho? –Ele realmente estava a confundindo.

−Não, é bom... –Ele sorriu- E foi muito bem você ter vindo. –Ela assentiu novamente, isso a fez lembrar de quando seu irmão mais velho tinha dito que quando ela ficava sem jeito ou ouvia uma história por muito tempo, parecia um calango: Apenas balançava a cabeça assentindo. Prendeu o riso... Ele acharia que ela estava rindo dele.

***

Silena andava de um lado para o outro. Foram incontáveis as vezes em que montou todo um look detetive-sexy pra ir dar uma espiada no encontro de Percy e Annabeth. Ela não gostava de estar no escuro... Optou por ir dormir, qualquer que fosse o final do encontro ela já se sentiria menos culpada e talvez, só talvez, conseguisse acalmar aqueles deuses mal amados. Ela deitou na cama e tentou dormir. Tentou, pois nenhuma das posições lhe parecia confortável o suficiente e nenhum zoológico pulador-de-cercas inteiro conseguiu fazê-la pregar seus lindos olhinhos azuis.

E se Charles não gostasse dela? E se ela não conseguisse exorcizar esse encosto de sua vida? Ela precisava de um plano B... Se Percy e Annabeth não dessem certo, ela tinha que ter uma garantia, mas a lista era tão grande que ela simplesmente não conseguia escolher seus novos diminuidores-de-carma, e muito menos, pensar em como faria para juntar pessoas. Separar era fácil, agora juntar que era bom...

Sempre tinha sido assim, mas ela não fazia por querer... Bem, não na maioria das vezes. Sua teoria era a de que ela nunca quebrava um coração eles apenas... Escorregavam e quebravam. Acidentes, entende? Ela suspirou. Pegou o celular e começou a atualizar as redes sociais. Céus, quanto recalque, pensou quando leu algumas das difamações deixadas em seu perfil no facebook. As perguntas no Ask.fm iam de “Onde comprou os sapatos que estava usando mais cedo?” à “Como você ainda não tem herpes, vadia?” Ela suspirou novamente. Coisas desse tipo estavam se tornando tão frequentes que ela estava começando a acreditar.

Sua mãe sempre dizia “Quem precisa ser uma boa pessoa quando se tem uma coleção de bolsas Chanel?”. Coisa que poucos sabiam, era que Silena se importava, também, com sua imagem interna... Mas quer saber? Ela misturou Activia e Johnnie Walker, ou seja, estava cagando e andando. [N/Isaa: Créditos pra Carol Montibeller! Tive que colocar, Carol! kkkkk] Tudo o que ela queria era segurar um bofe e ser feliz para sempre sem que esse carma interferisse. Mesmo já tendo começado, ela sabia que o caminho não ia ser fácil afinal, todas as suas ideias maléficas tinham que ser aplicadas no máximo de pessoas possível até a noite de seu encontro então... Quem seriam as próximas vítimas?

Hmm...

−É ISSO! –Ela exclamou contente quase se levantando da cama pra pular de emoção –Só não o fez porque estava definhando de preguiça. Pegou novamente o celular e digitou uma sms para Rachel:

Rach, vou precisar da sua ajuda com a minha próxima boa ação para benefício próprio! Já sei quem, já sei como... Não se preocupe, ainda não podemos ser presas, rs. Mas eu vou precisar de um álibi... E uma ocasião! Até amanhã. Beijos ;* SB.

***

−Você não poderia gostar de lagosta? –Percy disse enquanto enrolava o macarrão no garfo. Annabeth riu. Mauricinho incorrigível.

−Vey, macarrão com queijo é a comida dos deuses! –Replicou. Como pode uma pessoa não gostar de macarrão com queijo? Sua avozinha Réianismary devia estar se revirando no túmulo.

−Claro... Se os deuses tivesse cinco anos de idade! –Implicou Percy. Se pelo menos o molho fosse azul...

−Nem vem! Minha situação é bem pior! Eles sujaram meu prato com uma meleca estranha com gosto de batata com açúcar.

−Hey! –Percy gargalhou, mas decidiu não continuar a discussão. Desde o início, ele sabia que Annabeth não entenderia aquele prato. Por um momento a única coisa que se ouviu foi o barulho dos talheres batendo nos pratos. –E aí, pronta para o próximo cartão?

−Estou.

−Ok... –Foi a vez de Percy ler- “Conte um segredo que ninguém mais sabe sobre você”.

Annabeth piscou.

−Vish. –Os dois gargalharam. Ela tentava pensar em uma forma de desviar a atenção. Talvez ele esquecesse. O fato é que ela não sabia o quão focado Percy era... Bom, pelo menos quando o assunto interessava –Então... Quando eu estava na segunda série, roubei algumas balas.

−Aff. Isso não é um segredo... Todo mundo já fez isso! Me conta alguma coisa de verdade.

Ela suspirou e decidiu despejar tudo de uma só vez. Nem mesmo Luke sabia daquele segredo.

−Ano passado eu colei na prova de geometria.

−Oi? Annabeth Chase colou? –Ele achava que não tinha ouvido direito.

−Sim... –Agora o olhar dela tinha pesar. –Meu pai tinha viajado, minha mãe estava doente então eu tive que cuidar dela e não tive tempo pra estudar.

Percy não via grandes coisas... Ele e os amigos colavam em quase todos os testes desde o jardim de infância e ele não tinha o menor receio ou remorso. Era normal pra qualquer adolescente... Mas ela não era uma adolescente normal, isso ele em toda sua lerdeza já havia notado.

−Você foi pega?-Ele perguntou.

−Não –Deu de ombros- Mas essa não era a questão. Eu sabia o que eu tinha feito e isso não estava certo pra mim.

−E foi quando você decidiu ensinar? –Percy perguntou. Aquele pensamento realmente fazia sentido, mesmo que o raciocínio lógico dele não fosse dos melhores.

−Sim- Ela respondeu. –Eu achei que seria tipo uma penitência ou algo assim, mas eu acabei gostando no fim das contas... –Ela sorriu.

−Achei que era só pra ficar perto de mim- Disse Percy e Annabeth revirou os olhos. Ele tinha matado todas as aulas de modéstia.

−E qual é o seu segredo? –Annabeth perguntou rapidamente, querendo mudar de assunto. O que o Percy teria pra esconder de todos?