Annabeth ainda não acreditava que realmente estava em um encontro com Percy Jackson. Horas atrás ela jurou para si mesma que jamais voltaria a encará-lo e agora, lá estavam eles, caminhando na calçada para chegar ao local de um encontro tramado pela patricinha egocêntrica que não aceitava menos do que ser o centro das atenções. Percy se perguntava se estavam em um velório ou algo assim... Desde que saíram da fachada do café não haviam dito uma palavra sequer ao outro. Ele estava ficando desconfortável... Como sempre ficava quando estava com ela.

−E a número três?- Ele quase pulou de susto. Não esperava que fosse ela a quebrar o silêncio. Agora se sentia um tremendo banana... Pensou em se fazer de desentendido, mas já tinha fama de lerdo, tudo o que menos precisava era reforçar a tese. Percebeu que ela esperava por uma resposta e não demorou a constatar:

−Sua lealdade ao Luke. –Annabeth estava sempre falando de Luke, isso o deixava um tanto intrigado. Antes de conhecê-la achou que os dois mantinham um romance, mas ela riu como uma hiena claustrofóbica quando ele a questionou. Percy nunca gostara dele... Era um desajustado que aparecera para tirar tudo o que pertencia a ele: Sua namorada – Ela não sabia, mas Percy sentia que Rachel nutria sentimentos por Luke-, o posto de ‘preferido’ do treinador, e até a posição que ele ocupava no basquete (Por sorte, ainda tinha o posto de capitão). A verdade era que eles eram iguaizinhos e, é como dizia Clarisse Lispector, “Se dois bicudos não se bicam, certamente bicarão um ao outro” (?). –Quero dizer, eu nem sempre gosto como isso termina influenciando nas suas atitudes, mas é legal...

Annabeth sorriu. Ela já havia pedido e Percy estava se esforçando para não expressar toda a sua raiva de Luke. Ela gostou daquilo.

−Ok... Três coisas que eu gosto em você...? –Perguntou a si mesma.

−Minha beleza! –Brincou Percy, na tentativa de descontrair o máximo e quebrar o gelo... Sem contar que assim talvez ela não notasse que ele estava corado. Annie deu uma risada sem graça, revirando os olhos. Realmente ele não era feio, a beleza dele era quase do tamanho do ego... Quase.

−Eu gosto do jeito que deixa eu me aproximar... Tipo, quando passa raiva com outras pessoas. Mesmo que seja o Luke – Dessa vez, ambos riram.

−Eu não tenho culpa se ele é a razão de todas as minhas desgraças... Tá, parei. –Ele passou sobre uma poça de água com cuidado e a segurou pelo braço para impedi-la de enfiar o pé na mesma. Ela sorriu em agradecimento- E a segunda?

−Eu gosto do seu sorriso quando você resolve um problema... –Ela ficava sempre a espreita quando lhe passava exercícios pra resolver, apenas para ver surgirem as covinhas nas bochechas. Sentia raiva por isso. Não podia gostar do cara mais gato e popular da escola... Seria surreal demais, estranho demais... Clichê demais. –E você não é feio... –Disse por fim, surpreendendo mais a si mesmo do que a Percy.

Em momento algum Percy desviara sua atenção dos números das lojas da rua St. Jude, e quando Annabeth fechou a boca, ele avistou o número 9605. Esse era o endereço. Percy sentiu as bochechas queimarem... Que droga era aquela? O que Annabeth pensaria quando percebesse que ele a estava levando para uma loja de calcinhas no primeiro encontro?

−ISSO É UMA LOJA DE CALCINHAS? –Ela perguntou boquiaberta. Se Silena achava que ela era uma biscate que ia pra cama no primeiro encontro, estava enganada. Annie entenda que fazia parte da cultura de vaca dela, mas chegava a ser ofensivo.

Percy assobiou.

−Belo trabalho, Silena... –E caiu na gargalhada.

Eles entraram na loja e resolveram que cada um procuraria de um lado... A loja nem era tão grande assim, seria rápido. Percy olhou mais um pouco e percebeu que a loja não era apenas de lingerie, o que o deixou muito mais confortável.

−Ah, qualé Annabeth! Isso vai ser moleza. Não vai levar nem cinco minutos.

...

...

...

Ok, esqueça a ideia de rápido. Já fazia mais de uma hora que Percy olhava em todas as arraias, todos os cabides, embaixo dos manequins... Annabeth já tinha desistido e agora checava os e-mails no celular.

−Sabidinha, isso seria muito mais rápido se você me ajudasse. –Revirou os olhos. Já estava irritado. –Annie não retrucou, colocou o celular novamente na bolsa e voltou a procurar. Não queria discutir com Percy.

−Eu vou matar aquela Barbie siliconada... –Revirou os olhos.

Percy foi até a única arraia que faltava, quando notou o envelope do mesmo tamanho do anterior anexado a um cabide que expunha um conjunto de lingerie. Da próxima vez, disse a si mesmo, começo a procurar por onde achar menos importante. Silena havia deixado o envelope lá mais cedo quando fora comprar roupas com Rachel... Precisara pagar à vendedora para que não o retirasse, mas correu tudo bem.

−Encontrei! –Annie o encarou com expectativa e por um momento ele se viu perdido naqueles olhos cinza... Balançou a cabeça para afastar aquele pensamento. Abriu o envelope e retirou o terceiro cartão da noite.

−Então leia, cabeça-de-alga.

Ele optou por ignorar o apelido.

−“Parabéns!

A próxima tarefa é bem fácil: Imediatamente, comprem um presente um para o outro e entreguem na ida para Rua La Belle Chevalier, 911. Juízo!”

−Aff... Isso é tãaao errado! –Protestou Annabeth, fazendo com que Percy risse.

−Quer desistir? –Ele perguntou. Ela franziu o cenho.

−Eu não disse isso –semicerrou os olhos- Vamos às compras!

Não muito longe dali, Silena faltava pouco roer as unhas de preocupação... Será que o encontro estava correndo bem? Eles estavam se divertindo? Ela rezava para que sim, pois seu encontro com Charles seria dali a poucos dias. Eles não poderiam estragar tudo! Ela já havia até comprado a roupa que usaria... Agora estava assistindo “Meninas Malvadas” enquanto ligava para Rachel ir lhe fazer companhia.

−Você viu a roupa da vendedora? Kkkkkkk –Gargalhava Percy ao sair da loja, contagiando Annabeth. Ambos seguravam embrulhos de presente.

−A roupa? Kkkkkk A roupa ou a falta dela? –Estendeu o embrulho ao garoto- Aqui, você primeiro.

Percy sorriu e pegou o presente. Quase não acreditou no que viu.

−Meias. –Disse sem entusiasmo.

−Eu não queria arriscar! –Era verdade, Annabeth sempre zelou por sua zona de conforto... Talvez fosse por isso que achava muito errado esse seu “envolvimento” com Percy . Não era certo. E se ele não gostasse do presente, pelo menos seria algo útil afinal, ele era atleta. Além do mais, acreditava que não existia nada melhor e mais preciso do que um belo par de meias. Não tinha como errar. Ele acabou rindo.

−O que você comprou pra mim? –Ela perguntou.

−Abra e veja... –Ele disse entregando-lhe o embrulho.

Só de sentir a textura do tecido, Annabeth quis virar um filhote de avestruz e enterrar a cara na terra... Ou talvez voltar até aquela poça de água e se afogar nela. Era muito macio... Seda pura.

−Wow... É muito bonito. –Não, Annabeth não recusaria. Parecia muito caro, mas Percy tinha muito dinheiro e, convenhamos, era seda pura! Ela riu. Estava começando a pensar como Silena. –Obrigada.

Percy assentiu colocando as mãos nos bolsos do casaco.

−Se nós odiarmos o próximo lugar, vamos comer só uma pizza, ok?

−Ok... –Ela respondeu.

Eles seguiram para o próximo destino –que não era muito longe dali- conversando animadamente sobre coisas banais. A noite até ali tinha sido bastante divertida.

Isso mesmo, até ali. Porque Percy não conseguiria não agir como um idiota por mais do que uma noite, Annabeth não engoliria seu orgulho e o carma de Silena não deixaria de acompanhar tudo o que ela planejasse.