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POV Jason Grace

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Apertei o volante com tanta força que os nós dos meus dedos ficaram brancos pela falta de circulação. Eu estava nervoso, ansioso, eu realmente não sabia o que dizer, e a apesar disso, a única certeza que eu tinha era a de que eu precisava dizer alguma coisa. A situação atual era insustentável, e eu resolvi que tentaria resolver isso de uma vez por todas.

Se eu falhasse, pelo menos não fora por ser um covarde.

Olhei no relógio e, ah, que maravilha! Um minuto inteiro desde a última vez que checara o horário. Eu não sabia se ele viria ou não, mas de qualquer forma iria esperar... Se Leo queria ver o fim da nossa amizade, que carregasse a culpa sozinho.

Beep.

Sem hesitação, peguei o celular e abri a mensagem que Leo acabara de me enviar, respondendo a que eu tinha mandado horas antes.

Não temos nada para conversar. – Leo

Um sentimento de indignação tomou conta de mim, quase se tornando raiva, provavelmente porque eu não era acostumado com rejeição e, isso vindo de alguém tão próximo doía mais do que eu gostaria de admitir.

Vamos lá Jason, você nunca foi de desistir.

Com um novo sentimento de confiança, digitei o número que conhecia de cabeça e esperei que ele atendesse a minha ligação.

Claro que isso não aconteceu.

— Hey! Aqui é o Leo, se eu não estiver te ignorando, provavelmente estou muito ocupado para atender então... Deixe o seu recado! Eu retorno assim que puder. Ou não.

Típico.

— Leo, aqui é o Jason. Por favor, me liga quando ouvir isso. E-eu... Eu preciso falar com você, ok? Eu sei que não estamos nos melhores termos, mas você ainda é meu melhor amigo e se quiser mudar isso, vai ter que olhar nos meus olhos enquanto fala.

Baguncei meu cabelo, encostando a testa no volante em seguida. Enviara aquela mensagem no momento em que estacionara o carro, e não conseguia pensar em mais nada desde então. Ele voltaria atrás, simplesmente não era da natureza do Valdez abandonar um amigo. Senti meu celular vibrar na minha coxa.

Rapidamente o peguei e não pude evitar um sorriso enquanto uma onda de alívio tomava conta de mim. Na tela do celular, uma foto de Leo dormindo com a boca aberta e um pênis desenhado na testa.

Não era a melhor foto dele, mas para que servem os amigos?

— Hey. – Eu disse, esperançoso.

— Jason. – Ele respondeu seriamente, o que é totalmente incomum da parte dele.

Respirei fundo, resolvendo ir direto ao ponto.

— Eu realmente preciso falar com você, esclarecer algumas coisas, tratar de outras. Você pode me encontrar agora?

A linha ficou silenciosa pelo o que me pareceu uma eternidade, mas ele finalmente suspirou e respondeu:

— Okay, Jay. Não é como se eu tivesse mais o que fazer...

Eu sorri, esquecendo por um instante de que ainda tinha muito trabalho se quisesse recuperar o meu melhor amigo.

— Ótimo! Onde você quer me encontrar?

— May’s? – Ele perguntou.

Todo o meu corpo ficou tenso, de todos os lugares do mundo ele não poderia estar querendo me encontrar justo onde eu poderia encontrar a pessoa que eu mais detestava no momento.

— Não, lá não. Eu não quero ver o Luke, longa história. – Suspirei. – Eu precisei vir na Thunder n’ Lightning deixar alguns documentos para a gerente, será que você pode vir até aqui? Depois podemos caminhar até o parque...

— Gostei da ideia. – Ele me cortou. – Bastante espaço para desovar o seu corpo, caso você consiga me irritar ainda mais.

Sorri minimamente dando de ombros, esquecendo completamente que ele não podia me ver. Ele tentou soar o mais ameaçador possível, mas eu ouvi o fantasma de um sorriso em seu tom.

— Que ideia adorável! – Eu disse.

— Te vejo em quinze minutos. – E ele desligou sem falar mais uma palavra.

Apanhando a pasta de documentos que meu pai enviara (e que eu deveria ter entregado horas atrás), desci do carro e comecei a andar até a entrada principal da loja. Eu já me sentia muito melhor por ainda existir a possibilidade de salvação da minha amizade com o Leo, mas meu humor melhorou mil vezes quando olhei para dentro da Thunder n’ Lightning.

Ora ora, temos Piper McLean aqui.

Sorrindo abertamente, acelerei meu passo. Ela estava prestes a sair da loja, eu não queria perder a oportunidade de conversar, leia-se encher a paciência, dela. Coloco meus óculos escuros que estavam no meu bolso e sigo despreocupadamente, mas franzo o cenho a notar algo errado. Ella, uma de nossas vendedoras tentava dizer algo, mas Piper não parecia nem um pouco disposta a ouvir. Ela parecia genuinamente irritada.

— Você sabe quem eu sou? – Ela falou erguendo um pouco a voz. – Com esse tipo de acusação eu posso garantir que você não trabalhe nem como ambulante na praia!

— Senhora, é a política da loja. – Ella ainda estava sendo o mais profissional possível, mas pude sentir sua hesitação. – Eu acredito em você, mas infelizmente os detectores soaram e-

— Eu não dou a mínima pros seus detectores. – Piper interrompeu. – Vocês deviam investir mais em manutenção, porque claramente temos um engano aqui.

De repente tudo fez sentido.

Suspirei fundo, sacudindo a cabeça. Preciso pensar rápido.

É isso.

Mandei uma mensagem para Leo, esperando que ele se apressasse.

— Senhorita, se não abrir a bolsa, eu terei que chamar a polícia e informar a situação-

— Boa tarde! – Eu digo finalmente atravessando a porta, enquanto portava o meu melhor sorriso. – Algum problema aqui, senhoritas?

Piper ficou tão pálida que poderia facilmente se passar por um daqueles vampiros esquisitos da saga Crepúsculo. Ela tenta olhar diretamente nos meus olhos, mas eles estão bloqueados pelos óculos escuros.

— B-boa tarde, senhor Grace. – Ella faz uma leve reverência, enquanto os seguranças dão um passo para trás. - Na verdade sim, senhor. Os detectores da loja alarmaram quando a senhorita McLean estava prestes a atravessar a porta e agora ela está se recusando a abrir a bolsa.

— Isso foi porque você me acusou! Sua descompensada. – Piper agora estava vermelha, provavelmente por constrangimento.

— Reconheço que pode ter havido um engano, senhorita McLean, afinal, a inteligência artificial nem sempre é tão precisa. – Ella parou por dois segundos antes de continuar. – Porém, se a senhora apenas abrisse a bolsa...

— Eu não vou abrir coisa alguma! – Piper disse, me fazendo revirar os olhos.

— Pelos deuses, eu não tenho o dia todo! – Um dos seguranças puxou a bolsa de Piper e abriu, deixando cada um de nós chocados. Em questão de segundos, ele retirou dois conjuntos de lingerie que ainda estavam com o preço, murmurou algo incompreensível, jogando os produtos sobre o balcão. Ele então agarrou o braço dela e começou a arrastá-la para fora da loja.

Naquele momento, eu vi vermelho.

Caminhei em direção dele e o empurrei com força para longe dela.

— O QUE DIABOS VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – Eu digo, segurando-o pela gola.

— E-e-e-eu... Eu estou fazendo o meu trabalho, senhor Grace. – Ele respondeu gaguejando. O segurei com mais força, socando o seu rosto em seguida.

— O seu trabalho é lidar com a segurança da loja, não agredir clientes. – Disse entredentes, o empurrando para o chão.

— Jason. – Piper sussurrou colocando uma mão no meu ombro. Meu corpo inteiro relaxou, e tenho certeza que minha expressão se suavizou instantaneamente.

Eu sempre tive problemas em controlar a minha raiva, então quando vi aquele homem maltratando a Piper, eu perdi completamente o controle. E sim, não se combate violência com violência, mas não fui capaz de me conter.

Meu pai vai me matar.

Finalmente abri os olhos para encarar Piper. Ela estava me olhando com uma mistura de gratidão e... Medo? Hesitação? Não saberia dizer. Comecei a ajeitar as minhas roupas, caminhando em direção ao balcão onde o segurança havia colocado os produtos que tirara da bolsa de Piper. As operadoras de caixa (que eu nem havia notado até então) me encaravam com apreensão.

— Nada disso será reportado. – Eu disse, pegando os conjuntos. – Entendido?

Me virei para encarar os funcionários seriamente.

 — M-mas sr. Grace, ela estava roubando! – Ella disse, indignada.

— Eu NÃO estava roubando! – Piper protestou e eu tive que me segurar para não rir. Mais teimosa que uma mula.

Ella cruzou os braços com uma expressão cética.

— E como você explica os conjuntos estarem na sua bolsa, srta McLean?

Quando eu estava me preparando para abrir a boca e interferir, uma voz familiar preencheu meus ouvidos.

— Amor? Por que você está demorando tanto? Está meio frio lá fora. – Leo disse, e ao se aproximar, deu um selinho em Piper. Isso foi o bastante pra me fazer sentir uma pontada no peito. – Olá senhoritas. Cavalheiros! – Ele fez um leve aceno para os seguranças e se virou para mim. – Oxigenada!

Revirei os olhos, sorrindo levemente. Os olhos de Leo caem sobre os conjuntos que ainda estão em minha mão e ele semicerra os olhos por uma fração de segundo, antes de sorrir novamente e vir em minha direção.

Dei um olhar significativo, e ele sabia exatamente o que fazer. Já mencionei que o meu melhor amigo é a droga de um gênio?

— E-eu tive um problema com a segurança... – Piper finalmente abriu a boca. – Honestamente, nunca fui tão humilhada em toda a minha vida.

É sério isso, Piper? Bancando a vítima?

— Eu te disse que essa era uma péssima ideia, Piper! – Leo disse, rindo um pouco. – Desculpem a minha namorada, pessoal. Acontece que eu estava meio constrangido em entrar em uma loja exclusivamente feminina... E, bem, Piper não queria comprar lingerie sem que eu aprovasse antes. Estamos tentando apimentar a relação, sabem como é né? – Ele piscou para Ella, que parecia confusa como o primeiro episódio de Sense8. A expressão dele se tornou menos amigável. — Eu realmente não achei que ela pudesse passar por esse tipo de constrangimento, principalmente por ser cliente há tantos anos.

Antes que alguém pudesse falar qualquer coisa, eu interferi.

— Entendo completamente, Leo. Primeiramente me desculpo em nome da loja, nenhum cliente, especialmente nenhum amigo meu deve ser maltratado aqui. - Eu disse forçando um tom profissional. Leo acenou, mas existia um sorriso mínimo em seu olhar. — Bem, considerando todo o constrangimento desnecessário ao que submeteram a Piper, -Eu fuzilo o segurança com o olhar. -Eu insisto que aceite os conjuntos como um pedido de desculpas da Thunder n’ Lightning. Garanto que isso nunca mais se repetirá.

— Assim espero. – Piper disse, pegando os conjuntos da minha mão e caminhando para o caixa.

Continua...