Bad Karma escrita por IsaaVianna LB, Cristina V


Capítulo 13
11. I Will Dare - Team One


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeeeey! Gente, vocês querem ver minha morte, porque eu passei mais de uma semana sem postar... Ok, eu entendo! Aconteceram uns problemas técnicos: Saúde, escola, capítulo uma merda e afins... Bem, not a big deal!Se isso compensar, esse capítulo é maior do que a cara-de-pau do Jason! Tentei diminuir, sério, tentei de todas as formas! kkkk Mas não dava! Então, aqui está! Aqui temos os desafios do primeiro time, formado por Clarisse, Jason, Chris, Piper e Rachel! Espero que gostem! Aviso: OTH e TW no capítulo!Boa leitura!!



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– E você vai mesmo fazer isso? Quer dizer... É o Leo!– Perguntou Chris.

– Vou. –Jason respondeu sem hesitar. – E sabe por quê? Porque ele acha que eu não vou conseguir. Não tenho nada a perder e estou sendo subestimado.

– Ele é bom... –Argumentou o outro.

–Mas eu sou melhor.

Ao meninas ali presentes reviraram os olhos. Egocentrismo, a gente se vê por aqui!

– O que diz no seu envelope? – Chris mais uma vez perguntou ao loiro, que abria uma bebida energética com a boca enquanto segurava todos os envelopes do time nas mãos. Imaginava que Leo faria algo. Não poderia ser coincidência ser convidado para essa noite de desafios logo depois de ter brigado com o moreno. Agora o time estava do lado de fora do café combinando suas estratégias enquanto o outro estava agrupado a alguns metros dali, ao redor do carro de Percy.

– Concentre-se no seu envelope, dude... –Respondeu grosseiramente. Não tinha nada contra Chris, mas o nervosismo o estava tirando do sério. – Odeio ter que quer fazer isso com As Panteras, mas iremos nos separar. Assim podemos fazer os desafios ao mesmo tempo e acabar logo com isso.

– Mas isso é trapaça! – Protestou Clarisse.

– Temo que não está entendendo direito a estratégia, sweetheart... Usar a astúcia nunca é trapaça. Temos um destino, e várias estradas. - um sorriso de pura malicia preencheu a face de traços másculos do loiro. - Ficará um envelope para cada dupla. Eles nos disseram claramente que somos times com a intenção de dar a entender que todos nós deveríamos realizar cada um desses desafios. – Uma pausa. – Porém, disseram para que montássemos a nossa estratégia, times trabalham em equipe e, para o bem do time, vamos dividir as tarefas de modo que cada dupla ficará com um desafio, e Rachel com outro. Sobrando apenas o envelope com o desafio de pontos extra.

Todos o encararam e tentavam absorver. A verdade era que Jason era maníaco por controle. Ele pegara e lera todos os envelopes assim que Silena os entregou. Ninguém dissera nada sobre ele liderar o time, mas ele sabia que ninguém ousaria o contrariar. Ele era Jason Grace. Ele arrumara uma forma de burlar as regras do jogo sem parecer que estava burlando as regras do jogo.

– Chris vai com a estressadinha. – Chris sorriu, sem deixar de expressar sua satisfação. Os olhos de Clarisse brilharam em raiva. Ela queria mostrar a Jason quem era a “estressadinha”... Ou pelo menos fazer jus ao apelido ridículo que acabara de ganhar. Ela abriu a boca para protestar, mas ele estendeu a mão para entregar um envelope para a dupla não dando a ela a chance de se manifestar. –Rachel, se importa de ir sozinha?

Rachel franziu o cenho, mas apenas sorriu negando com a cabeça. Mais uma hipnotizada pelo azul profundo nos olhos do loiro ditador.

– Ótimo! – Seu sorriso se alargou depois de ele ter tomado outro gole da bebida. –Piper, você vem comigo.

Ela gargalhou.

– Querido, sugiro que diminua o volume da água oxigenada que você usa... Está começando a afetar o que deveria ser um cérebro.

– Piper. Você. Vem. Comigo. – Ele disse estreitando os olhos.

– E por que diabos eu faria isso?

– Porque esse é o seu primeiro desafio. – Ele estendeu o envelope e Piper pegou com violência. Tudo o que menos precisava era ficar a noite inteira ao lado daquele loiro egocêntrico.

Ela leu o conteúdo e teve que rir. Achou ofensivo, aquilo era uma ofensa a sua capacidade... Bufou.

– Tsc... Por favor! Eu poderia fazer isso dormindo.

– Ótimo. Prove.

Piper notou que a frase do loiro veio cheia de desafio. Optou por aceitar ir com ele afinal, precisaria mesmo de um acompanhante e acabar com os planos de Silena para Chris e Clarisse estava fora de cogitação.

– Se eu sentir que você está pensando, se é que você faz isso, em se aproveitar da situação... –Piper preferiu deixar a ameaça pairando. Aquilo soava melhor, com toda certeza.

– Acredite, se eu quiser me aproveitar de alguma coisa, você também estará aproveitando. – Deu uma piscadela e outro gole na bebida. Foi fuzilado pelos olhos caleidoscópicos da castanha logo em seguida.

– Jason, meu envelope... – Pediu Rachel que estava estranhamente calada.

– Ah, claro... –Ele entregou o último envelope. – Avisem se tiverem qualquer imprevisto. Boa sorte e sejam rápidos e não se esqueçam de olhar a parte de trás do cartão do desafio. A segunda parte da tarefa está lá.

***

Sem reserva e sem espera, consiga a melhor mesa para dois

no restaurando mais badalado

Da cidade...”

– Okay, então tudo o que eu tenho que fazer é pegar uma mesa?

– Sem ter que esperar. Este é o melhor restaurante da cidade... –Relembrou Jason. Ele começava a pensar que aquilo poderia ser realmente sobre diversão, mas desistiu da ideia quando lembrou que era de Leo que se tratava.

Parou de se importar. Leo queria se divertir à suas custas, mas nem por isso ele precisava não aproveitar a noite. Se divertiria do seu jeito. Discretamente, sorriu maliciosamente.

– Francamente, eu esperava mais de Leo. –Ela bufou descendo do carro de Jason. – Já que ele insiste em desperdiçar meu tempo poderia pelo menos fazer desafios melhores... Mas o que eu não faria por ele, certo?! –Disse a última parte mais para si mesma, mas Jason ouviu. Então Piper gostava de Leo? Isso era assunto para outra hora, não poderia irritar a garota. Não ainda.

Foda-se, pensou Jason.

– Talvez você preferisse fazer o desafio com Leo...

Piper parou de andar e encarou os olhos muito azuis de Jason.

– O que a Silena te disse?

– Nada! –Defendeu Jason. – A gente anda bastante por aí, amores de colegial são fáceis de analisar. Tipo, quem anda com quem, essas coisas. Você e Leo obviamente têm alguma coisa.

– Nós tivemos algo. –Corrigiu Piper. –Algo falso e doloroso que eu não quero falar sobre.

– Justo. –Jason disse.

–Mas e você...? –Piper quis saber. –Eu não consigo imaginar um ser vivo disposto a namorar você...

– A questão é: Por que eu namoraria elas? –Ele ergueu as sobrancelhas. – Eu posso simplesmente ficar com elas ao invés disso. Sabe, amigos com benefícios... Sem compromisso. Ah, e caso não tenha entendido, isso foi sim uma proposta.

Normalmente ela se surpreenderia, mas nem se deu o trabalho quando lembrou-se de que era Jason Grace ali na sua frente.

– Não acho que isso daria certo. –Ela disse. –Alguém sempre acaba machucado.

–Nah. Tente olhar por outro lado... –Ele argumentou e ela questionou em silêncio com uma arqueada de sobrancelha. – Pense nisso: Você fez sexo esse ano e eu também... Mas eu não terminei aqui dizendo o quanto isso foi doloroso.

Piper contou silenciosamente até dez. E deu a ele o mesmo silêncio como resposta.

Entraram em silêncio no restaurante que estava cheio. Piper caminhou com confiança até a recepção, onde um homem bem vestido e polido fazia algumas anotações.

– Olá, eu estava pensando...

– Nome? –Ele a cortou sem cerimônias. Aquilo chocou Piper, que pôde ouvir o riso abafado de Jason atrás de si.

Ela suspirou, se apoiando no balcão e fazendo a sua melhor expressão sedutora.

– Piper McLean. –Ela disse com um tom de voz perigosamente acentuado. Jason se arrepiou, mas isso não produzira nem de longe o mesmo efeito no homem atrás do balcão.

– Não.

A expressão de Piper mudou de ‘sensual’ para ‘indignada’.

– Você nem checou a sua lista. –Ela controlou o tom de voz. Estava ficando levemente irritada.

– Talvez tenha outro nome... – O homem de olhos verdes disse em tom de desculpas e um sorriso. Ambos falsos, claro.

– Angelina Jolie. – Piper arriscou.

– Não.

– A rainha Elizabeth.

– Não.

– Rainha de Sabá! –Estreitou os olhos.

– Não.

– Rainha dos Corações?

– Não.

– Que tal A Rainha de bateria?

– Creio que não.

Jason ficaria a assistindo tentar a noite inteira, mas a parte mais divertida ainda estava por vir, assim que os dois conseguissem a mesa. Olhando para o homem, ele apontou com o queixo para um lugar mais afastado. Longe dos ouvidos de Piper, ele poderia conseguir realizar o desafio. Ele fez um sinal para que Piper esperasse e o homem o seguiu até dois metros dali.

A garota nem teve tempo de se sentir frustrada, pois, pouquíssimo tempo depois, eles voltaram.

– Mesa para dois. Por aqui senhor... – Ele disse adentrando mais o salão do restaurante.

O queixo de Piper só não caiu porque estava muito bem grudado. Seja lá qual foi a macumba de Jason, deu certo. Muito certo. E ela se sentia com muita raiva disso. Raiva do garoto rico, raiva da facilidade que ele teve para aquilo e mais raiva ainda de ele conseguir despertar nela algum sentimento. Sim, porque por mais que não fosse bom, raiva era sim um sentimento.

– Como você fez isso? –Ela colocou a mão no quadril.

Jason abriu um largo sorriso e fechou com um dedo a boca dela que se abrira sem seu consentimento.

– Eu sou Jason Grace. – Piper bufou. Aquilo parecia ser resposta para tudo no mundo de Jason. O fato é que Piper não sabia que o restaurante era só mais um negócio dos Jacksons naquela cidade pacata. O gerente demorara a reconhecer, mas Jason realmente só precisou dizer quem era.

–Vamos parceira! –Ele disse ironicamente.

O clima do lugar era bem romântico. Velas e música clássica. Os dois adolescentes não se encaixavam naquele lugar aonde acordos de negócios e pedidos de casamento eram feitos. Depois de devidamente acomodados na melhor mesa do restaurante, Piper alfinetou:

– Agora eu entendo tudo... Você combinou com Leo. –Ela sorriu diante da confusão dele. – Você não consegue um encontro, se muda de cidade e engana pessoas para jantarem com você?

Jason sorriu em escárnio. Se aquela garota soubesse com quem estava falando... Percebendo que seria melhor para suas intenções futuras, entrou na brincadeira:

– Nossa! Você me expôs completamente agora. – Ele a olhou mais profundamente. – Me sinto pelado.

Piper não riu e isso o incomodou de alguma forma.

– E você? Qual a sua história? – Perguntou dando um gole no vinho que nem deveria ser servido à menores. O olhar da garota estava longe.

– Entediada e ignorada. – A resposta surpreendeu mais a ela mesma do que a Jason. As palavras saíram sem permissão. Atrevidas, isso sim.

O loiro sentiu a subintendência da frase. E faria de tudo para que ela continuasse com a guarda baixa.

– Entediada talvez... –Ele disse. – Mas duvido que já tenha sido ignorada por um cara na vida...

Ela o olhou como se um chifre verde estivesse nascendo em sua testa.

– Quero dizer em casa, gênio. –Revirou os olhos que sob aquela luz pareciam unicamente com cor de folhas secas. – Caras são fáceis. – Ela queria provocar, então pela segunda vez na noite, sua voz assumiu o tom sensual, mas dessa vez veio quase como um sussurro. – Geralmente eles se apaixonam por mim no primeiro... patético... jantarzinho.

Mais uma vez, o corpo de Jason reagiu àquele tom de voz. A indireta não ajudou muito. Quem essa garota pensava que era para brincar com ele dessa maneira? Os olhos dele escureceram. Ela não brincaria sozinha.

– Ah é? –Ele perguntou. O tom de voz frio como mármore. – E pelo que eles se apaixonam primeiro? Pelo roubo de lojas ou pelo distúrbio alimentar?

Piper piscou. Ele estava blefando... Teria que estar. O garoto estava na cidade há três dias, não podia saber uma coisa dessas. Ela riu em escárnio e não deixou seu rosto transparecer nenhuma emoção além dessa.

– Com licença! –Ela disse aumentando o tom de voz esperando atrair o garçom. – Só uma curiosidade, qual é o prato mais caro do lugar?

O garçom e Jason a encaravam curiosamente.

– Bem, -começou o garçom. – Nós temos...

– Me parece delicioso! – Interrompeu Piper. –Eu vou querer dois. Estou faminta. –A última parte ela disse encarando o loiro que agora sorria.

Ele bateu palmas atraindo a atenção de alguns.

– Distração... Ótima jogada! –Ele disse. Piper sabia que ele percebera que ela fizera o pedido para abafar o “roubo de lojas”, mas pareceu o certo a se fazer. – Eu já volto.

Uma hora e vinte minutos depois...

I’m sexy and I know it...

O toque do celular de Jason quase fez com que ela pulasse de susto. Ele a deixara ali por um bom tempo. Ela estava falida. Não tinha fundos para pagar a conta, caso contrário, estaria bem longe dali.

Pegou o celular que estava sobre o envelope onde jazia do cartão do desafio e atendeu sem hesitar. Talvez quem estivesse ligando tivesse alguma pista de Jason.

– Alô? –Ela disse encarando as unhas.

Sabe, você não deveria estar atendendo meu telefone... – Ouviu a voz de Jason do outro lado da linha.

– E você não devia tê-lo deixado aqui.

Mas eu precisava falar com você. Não tenho o seu número... Ainda.

Piper revirou os olhos. Se dependesse dela, ele morreria na seca.

– Preferia passar para a Samara, de O Chamado. – Respondeu secamente. – E onde diabos você está?

Estou no Café.

– O que? – Ela disse sem acreditar. E só podia estar louco se achava que poderia fazer isso.

Vire o cartão do desafio.

Rapidamente, Piper abriu o envelope e releu a primeira parte. Virou em seguida e viu a parte que concluía o desafio.

“Coma e saia. Boa sorte aos caloteiros! SB&LV”

– Você não pode ter feito isso! –Ela disse à beira do desespero e pode ouvir a risada rouca e melodiosa de Jason na linha. – Olha, eu não tenho dinheiro para pagar essa conta! –Percebendo que tinha falado demais, acrescentou- E eu não estou com o cartão de crédito! Não posso fazer isso!

Por que não? Você já roubou antes! Além do mais, eu... te... desafio.

Piper sabia que ele estava sorrindo. Agradeceu aos céus por não estar de frente para Jason naquele momento. Estava corada de vergonha e com tanto ódio que possivelmente o mataria sem nem pensar duas vezes.

***

Raiva. Muita raiva mesmo.

Clarisse estava a ponto de soltar fogo pelas ventas. Pior do que enfrentar uma noite dos desafios ridícula, seria fazer isso ao lado da criatura que era campeã em ser idiota. Chris Rodriguez. A única pessoa no mundo capaz de tirar ela do sério com uma única palavra. Tudo bem que ela não era um grande exemplo de paciência e autocontrole, mas o pouco que tinha simplesmente evaporava quando ele estava por perto.

Sabia que por trás daquilo tinha dedo de Silena. Ela sempre quis que a amiga desse ouvidos às investidas de Chris, mas Clarisse nunca a escutava. Agora com essa desculpa de “diminuir carma” e esse jogo ridículo, havia encontrado pretexto suficiente. Mas ela quebraria tudo o que pudesse encontrar da tal boyband que a patricinha amava tanto. Começando por rasgar o pôster preferido do Justin Timberlake.

Ele, por outro lado, não poderia pensar em como poderia agradecer Silena e Leo pelo jogo, muito menos a Jason, pela disposição estratégica das duplas. Se sentia realmente feliz, mesmo sabendo que Clarisse vivia um péssimo momento. Para ele, estava tudo bem ela viver esse pesadelo, desde que ele continuasse a viver em seu sonho.

– Vai abrir esse envelope ou não? – Perguntou Clarisse querendo se livrar da tarefa o mais rápido possível.

Chris sorriu. Nada poderia o deixar pra baixo naquele momento. Nem mesmo todo o descontentamento ouvido na voz da garota. Ele abriu o envelope em silêncio e quase sorriu ao ler a parte da frente do cartão. Quase sorriu com a sorte que teve.

Vá até o cemitério...”

Chris esperou a reação exagerada de Clarisse. A reação que não veio, claro. Optou por acreditar que ela estava chocada demais para dizer qualquer coisa e resolveu se pronunciar.

– Então a durona está com medo? Eu te protejo, se for o caso...

– Não estou com medo, imbecil... É perfeito, já que estou planejando te matar mesmo...

Chris constatou que poderia morrer sem essa.

– Então vamos, o que está esperando, amor? –Ele disse piscando e abrindo a porta de seu carro para que ela entrasse. Ela se lamentou ter vindo de carona com Rachel. A ruiva, Piper e Jason já haviam saído há alguns minutos, restavam apenas os dois do time em frente do café, mas do outro lado da rua, o time dois inteiro parecia discutir algo.

Clarisse rosnou, entrando no carro em seguida.

– Estou esperando você ler o resto do desafio, idiota! –Ela disse impacientemente. – Ir ao cemitério seria fácil demais. Estamos falando de Silena e Leo, por favor... –Debochou da inocência do rapaz.

Ele parou para assimilar. Ela tinha razão. Tinha outra parte do desafio, pelo menos fora o que disseram lá dentro quando passavam as regras.

Vá até o cemitério...”

Chris leu novamente, em voz alta.

“...E tire uma foto em um túmulo aberto.

Pontos extras por esse! Boa sorte, infratores! SB&LV”

Clarisse encarava o castanho a sua frente com indiferença. Claramente, ela queria dizer “Viu?! Eu avisei”, mas decidiu que o silêncio junto daquela expressão seria a melhor opção.

– Tudo bem, eu deveria ter desconfiado... – Chris se rendeu. – Podemos ir agora?

– Isso é crime!

– Só se nos pegarem...

Clarisse encarou o garoto, que agora estava com sentado no banco do motorista, com as mãos sobre o volante. Suspirou cansadamente.

– Só mais uma coisa: Se você fizer gracinha, de qualquer tipo, eu acabo com você, Rodriguez. – O garoto gargalhou. – E eu estou falando sério.

– Tudo bem, gracinha. –Ele disse dando partida – Suas ameaças tornam tudo mais interessante.

– Vá se...

– Não desce de nível, Claire... –Ele advertiu ainda rindo. –Vamos, temos um cemitério pra invadir.

***

– Sabe, eu estive pensando... Talvez a gente nem precise tanto desses pontos extra! –Se rendeu Clarisse ao ouvir mais uma vez barulhos suspeitos no cemitério. Chris não estava muito diferente, mas não deixaria transparecer. A luz da lanterna começou a piscar para total desespero de Clarisse. – Droga Christopher Rodriguez! Não dava para ter trocado a bateria dessa lanterna?

Chris sorriu. Adorava quando a morena o chamava pelo nome completo.

– Desculpe se eu não sabia que teria que invadir um cemitério a noite! – Ele disse sarcasticamente. – E outra, a bateria está novinha em folha. Troquei as pilhas da última vez que invadi a escola com meus irmãos para roubar algumas coisas do vestiário feminino. Aliás, adorei seu conjunto preto... É sexy.

Ouviu um estalo e em seguida sentiu um acentuado ardor no ombro esquerdo. Clarisse o havia batido. Mas ele classificou com “tapa de amor”. A morena poderia ser muito mais violenta do que aquilo, se assim quisesse.

– Quando sairmos daqui, eu vou te bater pra valer! –Ela disse em um grito sussurrado. – E depois contarei que te matei porque roubou as roupas de baixo das líderes de torcida, então serei recebida com louvor. Menos um tarado no mundo.

Ele riu mais uma vez. A lanterna voltou a piscar.

– A propósito, quando foi mesmo? –Ela perguntou preocupada com o defeito da lanterna. Se os filmes que via estivessem certos, luzes piscando indicavam a presença de coisas sobrenaturais e, a menos que a pilha estivesse fraca, deveria mesmo começar a se preocupar. Percebendo o receio da garota, Chris decidiu se aproveitar. Clarisse não sabia que todas as vezes que a luz da lanterna piscava era porque Chris estava apertando o botão de ligar e desligar freneticamente. Adorava pregar peças.

– Na noite da festa do Jason, na casa dos Valdez. –Ele disse com a voz baixa. – Na noite do ontem, Clarisse. Você está sentindo? O lugar está ficando mais frio...

Eu não vou pro céu, pensou Chris, Ah, foda-se. Abrace o capeta, Chris.

Sabia que brincar com o psicológico da garota era errado, mas era uma oportunidade. Clarisse sentiu o ar pesar, e temia ver fumaça saindo de sua boca quando falasse devido ao frio. Sentiu que deveria ter saído melhor agasalhada de casa. Mais um barulho.

– Chris, vamos pra casa? –As palavras da morena o desarmaram completamente. Ele teve vontade de se bater por ter feito aquilo. Há muito percebera que suas brincadeiras, às vezes, passavam dos limites. Esse era um desses casos.

– Pegue o meu casaco. –Ele disse. Sabia que era inútil, que o frio que Clarisse estava sentindo era puramente psicológico, mas o casaco funcionaria também psicologicamente. Se ela achasse que estava sendo aquecida, ela se sentiria assim. O frio iria embora. Ela aceitou sem olhar o garoto diretamente nos olhos. Estranhara sua gentileza e a falta de cantadas. Talvez ele percebera o quão patética e medrosa ela parecia e desistira.

– Veja Claire, não tem ninguém. –Ele iluminou em volta deles, no lugar de onde viera o barulho, mostrando que era apenas o vento batendo nos galhos. –Seja lá o que fosse, parou de nos assombrar.

– Vamos acabar logo com isso. –Ela respondeu. –Não sou obrigada a ficar vendo a sua cara a noite inteira.

Definitivamente, ela voltara. Saíra do transe de medo.

– Essa é minha garota!

– Sua o caramba! –Ela disse enquanto passava por um túmulo branco. A lanterna, agora normal, apontara bruscamente em outra direção e Clarisse quase foi de encontro ao chão pela falta de visibilidade. – IDIOTA! VOCÊ DEVERIA ILUMINAR O CAMINHO!

– Desculpe, amor! –Ele disse visivelmente preocupado. – É só que eu acabei de encontrar o nosso túmulo vazio.

– E o que está esperando, demônio? –Ela retrucou olhando na direção da luz. – Vamos logo...

Eles se aproximaram do buraco, tomando cuidado para não tropeçarem em outros túmulos e afins.

– É perfeito! –disse o garoto quase sem conseguir disfarçar o desapontamento. Não queria que o desafio acabasse. – Vai servir... Pode ir.

Clarisse o encarou, arregalando os olhos.

– O que? Nem pensar, você não fez nada a noite inteira! –Ela protestou. –Por que eu tenho que ir?

– Você deixou seu celular no carro! Não poderia tirar as fotos... –Argumentou o garoto. Não era totalmente verdade, ele tirara o celular do bolso de Clarisse sem que ela percebesse quando ele colocou nela o seu casaco. Roubara, na verdade. -Além disso, você não conseguiria me tirar de dentro.

Clarisse o encarou frustrada. Apalpou os bolsos e podia jurar que atravessara os portões do cemitério com o celular, mas Chris tinha razão. O pior é que ele tinha razão. Nos dois casos. Clarisse era forte, mas não o bastante para tirar o garoto musculoso de lá de dentro. Ela estreitou os olhos.

– Eu realmente não gosto de você!

– Estou trabalhando nisso, meu bem. –Ele disse recebendo um olhar sanguinário que Clarisse lamentou ele não ter podido ver, já que estava muito escuro. Ela caminhou até a beira do túmulo, sentando-se. Pensava em pular, mas Chris tentou pegar a sua mão para diminuir o impacto de quando ela chegasse ao chão. Tentou, porque ao fazê-lo foi surpreendido por tapas da morena em suas mãos.

– Não ouse tocar em mim, Rodriguez. – Dito isso, ela se atirou dentro do túmulo. Ele murmurou alguma coisa e perguntou se ela estava bem. –Claro que sim!

Parecia que tudo o que a garota falava para ele era repleto de rancor e impaciência. Ele não entendia isso, já que era sempre muito agradável com ela.

– Ok, te vejo depois. –Ele se afastou da borda, rindo. Talvez nem sempre tão agradável. – Não se preocupe, não ficará sozinha. Ouvi por aí que os fantasmas sempre aparecem para fazer companhia...

Pela altura da voz, Clarisse notou que ele realmente estava se afastando. Uma onda de desespero se apoderou dela. Ele não ousaria... Ousaria?

– CHRIS NÃO SE ATREVA A ME DEIXAR AQUI!

Ele gargalhou, agora mais perto. Clarisse pôde vê-lo acima de si, na borda do buraco onde estava.

– Estava só brincando! –Mais risadas. Clarisse nunca se sentira tão aliviada e feliz por ouvir a voz do idiota – Espere só mais um pouco. Pra eu tirar uma foto.

Agora a câmera estava apontada para ela, que fazia uma careta. Algo na expressão de Chris mudou e ela percebeu que a luz que iluminou o garoto era alta demais para pertencer ao flash da câmera. E a lanterna estava nas mãos dela, desligada. Em um piscar de olhos, sentiu um vulto cair ao seu lado e, em seguida, foi puxada bruscamente para junto de Chris. Suas respirações se chocavam, em uma proximidade que a incomodava profundamente. Ele estava perto demais, apertando firmemente contra o seu corpo. A intenção era poder bloquear qualquer reação que ela pudesse ter, mas isso a deixou em choque.

– Shhh. –Ele colocou o dedo indicador sobre os lábios da garota apontando para a luz que iluminava o canto oposto do túmulo. Ele pulara o mais rápido que pôde, assim que viu os faróis do carro da polícia.

Já disse Carl, foi só um trote! –Ouviram uma voz abafada e uma barulho de porta de carro sendo fechada –Vamos dar somente mais uma olhada e voltamos, certo?

Não sei Bob, posso jurar que vi uma silhueta aqui perto um instante atrás. – A luz invadiu o túmulo em que os dois adolescentes permaneciam. Imóveis.

Talvez sejam fantasmas... –Caçoou o outro. As vozes ficando cada vez mais distantes. – Vamos voltar para o carro e esperar um pouco. Só tem uma saída, eles terão que passar por nós.

– O que pensa que está fazendo? –Sussurrou Clarisse, ao sentir um volume contra sua barriga. Mataria Silena mais tarde por colocá-la em uma situação tão constrangedora. Ela nem poderia correr para o outro lado, dos quatro, aquele era único canto do túmulo que permanecia escuro, fora do alcance dos faróis da viatura.

– N-nada. –Ele disse no mesmo tom sabendo exatamente ao quê ela se referia.

Ela estava constrangida demais para se irritar completamente.

– Mas parte de você está fazendo algo. –Ela usava de todo autocontrole para não empurrá-lo, mas toda sua frustração agora podia ser ouvida em sua voz. Se gritasse ou se movimentasse bruscamente, denunciaria sua localização.

– Oh. –Ele disse mais alto como se estivesse entendendo só naquele momento. Clarisse quis estapeá-lo ao sentir que o volume estava crescendo.

– Para! – Disse tentando transmitir toda a sua raiva em um sussurro.

– E-eu... –Ele começou, sem jeito. –Eu meio que não consigo controlar isso, Claire! – Respondeu com um tom de indignação. Ela suspirou. Ele tinha razão... Mais uma vez.

– Okay. –Ela se rendeu. – Vou me virar então. –Ele assentiu e ela se virou de costas para o peito do garoto. Realmente achou que fosse funcionar. Chris quase arfou.

– É... Claire? –Chamou ele.

– O que foi agora? –Ela respondeu. Estava ficando cada vez mais impaciente com aquilo tocando suas costas.

– Assim é pior. –Ele riu nervosamente. Ela também riu, mas foi da própria falta de sorte.

Ouviram o carro dar partida e ambos suspiraram aliviados. Permaneceram por algum tempo ali, apenas ouvindo um a respiração do outro no silêncio maçante. O volume estava sendo mais sentido do que ouvido, se é que vocês me entendem.

– Acho que eles já foram... – Constatou Chris. –Vamos, me dá ‘pezinho’.

– Tá me zoando né? –Protestou Clarisse. –Seus sapatos estão cheios de lama! Vai sujar minhas mãos!

– Ou você dá o ‘pezinho’ ou fica aqui comigo pra sempre, garotinha. – Ele disse revirando os olhos. Não pensou que Clarisse tivesse algum tipo de futilidade.

– Certo! –Ela rosnou. Ela entrelaçou os próprios dedos e se abaixou para que pudesse dar impulso suficiente para o garoto, que colocou um dos pés sobre as mãos da garota e se impulsionou para cima, alcançando a borda do túmulo e terminando de sair por conta própria. –Seu gordo! –Ela disse, chacoalhando as mãos e as erguendo em seguida. –Vamos, me tira daqui.

Ele a olhou ternamente. Parecia tão inofensiva naquele momento. Ele se ajoelhou e esticou os braços. Ela segurou firmemente os bíceps dele, e ele, nos braços dela, puxando-a em seguida. Ela rolou, parando desajeitadamente do lado de Chris.

– MALDITA NOITE DOS DESAFIOS! –Ela gritou- Quero dizer, de onde Leo e Silena tiraram essas coisas ridículas? Qual é a droga do objetivo?

Ela estava mais irritada que o normal. Mesmo no escuro, apenas pela luz da lua, Chris podia ver o quanto ela estava vermelha de raiva. Era bom Silena se cuidar.

– O objetivo é simples... –Ele disse encarando o vazio. Eles ainda estavam sentados na beira do túmulo, as pernas caíam para dentro. – Ver o quão longe você vai. Você enfrenta seus medos, e às vezes faz coisas que não faria se não estivesse sendo desafiado. Coisas que queria fazer e que as chamando de ‘desafio’ faz com que fique tudo bem por uma noite...

Clarisse franziu o cenho.

– ‘Coisas’ como o quê? –Ele a encarou.

– Como passar um tempo comigo.

***

Minutos atrás, May’s Coffee:

– Valdez? – Chamou Silena ao entrar de novo no estabelecimento. –Recebeu algo do time dois?

– Até agora nada. –Ele respondeu, checando o celular pela quarta vez naquele minuto. –Mas devem estar mandando algo a qualquer momento. Dei a eles a dica de se separarem por sms. Já que o outro time fez isso...

Silena o encarou mortalmente.

– Você não está sendo imparcial, Leo! –Protestou. – Okay, vamos ao que interessa... Lembra do desafio do cemitério? –Disse animadamente. – Chris e Clarisse pegaram! Lembre-me de agradecer Jason!

Leo revirou os olhos.

– E...?

– A polícia disse que está a caminho! –Ela dava pulinhos.

– VOCÊ CHAMOU A POLÍCA? FICOU MALUCA? –Leo a encarava furiosamente. Ela passara dos limites. Aquilo poderia resultar em cadeia.

– Ah qual é?! Isso vai apimentar as coisas. –Ela deu outro gole no café e checou o celular, que acabara de vibrar na outra mão. –Além do mais, eles estão bem... –Ela disse mostrando o que acabara de receber. A foto de prova e a sms de Clarisse, que a ameaçava de morte.

– Você não é normal, maninha... –Ele tomou o café da mão da garota, que protestou. – Isso fica comigo. Preciso estar acordado para mexer meus pauzinhos...

***

Rachel se perguntava onde estava com a cabeça quando aceitou enfrentar o desafio sozinha. Ah, claro, nos olhos hipnotizantes de Jason Grace. Sentia a suas entranhas tremerem e tinha praticamente certeza que não era pelo excesso de tofu e proteína de soja que havia ingerido aquele dia. Apertava fortemente o envelope contra o peito, sem coragem para abri-lo, tudo o que restava era andar. Andar sempre a acalmava, e foi por isso que abandonou o carro alguns metros depois do Café. Não era nem de longe uma pessoa corajosa, e, ser desafiada, não era uma coisa que a agradasse tanto quanto yoga ou salada.

Com um pesado suspiro, abriu o envelope, pensando que, seja lá o que fosse, não poderia ser pior do que as piadas que ouviria se chegasse ao Café sem fazê-lo.

“Vá ao bar mais barra pesada da cidade...”

Maconha? Se fosse, teria que agradecer, já havia fumado outras vezes nos acampamentos vegetarianos e hippies que frequentava nos verões. Sabia que havia outra parte do desafio, mas não teve coragem de virar o cartão, apenas o colocou novamente no envelope. Tinha um destino, aquilo parecia suficiente.

***

Já havia sido barrada em todas as suas tentativas. Não tinha idade e nem uma identidade falsa como os Stoll tinham. “Filha do dono” não adiantou, pois ela descobriu que duas lésbicas comandavam o lugar e nunca adotaram nenhuma criança durante a tentativa. A banda que se apresentaria ali naquela noite não tinha nenhuma flautista. Como pôde ver, as pessoas que iam até aquele bar, não deveriam mesmo curtir flauta de fole.

Ela pensou no que Silena faria. Mas é difícil pensar como uma pseudo-paty azarada e consumista quando se é uma hippie naturalista. Rachel riu a lembrar desse detalhe. Se perguntava como Silena poderia ter como melhores amigas pessoas que iam completamente opostas. Se perguntava como ela pôde ter se tornado amiga de Silena.

A mesma Silena que não duraria muito depois daquela noite.

Tinha certeza absoluta que não. Clarisse a mataria, com toda certeza.

Finalmente, uma ideia lhe ocorreu:

– AI MEU DEUS! AQUELA É A PARIS HILTON? – Era uma jogada de sorte. Mas que homem estranho não tinha uma queda pela loira da Casa De Cera? Eles olharam imediatamente. Bingo.

Com uma manobra de líder de torcida e uma distração do segurança, estava dentro. Ela havia se divertido, mas tinha certeza que o grandão não demoraria a encontrá-la. A música era desagradável, mas tocava baixinho para a sorte da ruiva que agora pedia um suco no bar. Olhou para os lados para ver se tudo ainda estava limpo.

– Você não deveria estar aqui...

Rachel quase pulou de susto. Vagarosamente, virou a cabeça, rezando para que não fosse o segurança. Os abriu lentamente e suspirou, aliviada, ao constatar que era apenas um garoto loiro, pálido e mal encarado tentando lhe passar uma cantada.

– Você também não... Mas olha só! –Ela rebateu dando o primeiro gole no suco. Quanta hipocrisia! Ao contrário dele, pelo menos ela fora obrigada a estar lá naquela noite. O suco estava horrível e a careta deve ter sido pior ainda, pois o garoto justificou:

– Aquele cara, - Apontou para um homem careca e tatuado que estava do balcão. – Pagou o garçom para ‘batizar’ sua bebida.

Rachel cuspiu todo o conteúdo que ainda jazia em sua boca, seu olhar denunciava que haveria morte.

– Não se preocupe, ele achou que fosse gostar... Sabe, já que não tem idade pra comprar bebida de verdade.

Isso tranqüilizou Rachel. Sua cabeça estava tão corrompida com o mal que via diariamente que achou que o desconhecido fizera aquilo para tirar proveito da situação.

– Mas ele ia tentar te levar pra cama... – Terminou o loiro frustrando os pensamentos anteriores da ruiva. Ele se perguntava quem aquela garota era. Não frequentava a sua escola e estava muito bem vestida para o tipo de garota que passava suas noites em bares como o Lótus. Se perguntava mais ainda por quê sentira o impulso de ser agradável com ela. Ele nunca era agradável.

O leve desespero que subia pela espinha da ruiva, afinal se o loiro estivesse sendo honesto poderia muito bem ter algo além de álcool naquela bebida, se agravou ainda mais ao ouvir um grito cheio de raiva vindo em sua direção.

– ALI! –O segurança da portaria trouxera reforços. Se colocassem maçanetas, dois brutamontes como aqueles seriam facilmente confundidos com dois armários. Armários muito feios e esquisitos. Eles caminhavam mais rapidamente em direção da ruiva. Ela arregalou os olhos, mas não reagiu.

– Ginger! – O loiro chamou. Ela continuava em choque, ele revirou os olhos, sabendo que se arrependeria disso em algum momento e a puxou pelo braço. – Tem uma saída pelos fundos do bar! – Quando estavam parados em frente a uma grande porta de metal, ele segurou as duas laterais do rosto dela, obrigando-a a encará-lo. – Eu vou sair e você fica parada aqui, bem aqui.

– M- mas... – Era muito bom pra ser verdade! Então ele a abandonaria? Claro que sim... Primeiro a própria pele, não? Burra.

– Sim, eles vão te encontrar. Mas você vai enrolar até que eu chegue com o carro, entendeu? – Ela assentiu, ainda mais confusa. Mas o que lhe restava fazer? - Encoste-se na porta. Eles vão achar que está encurralada e isso lhe dará mais tempo. Quando ouvir meu sinal, use o calcanhar pra empurrar a porta. O carro estará cerca de dois metros da porta e meio metro para a esquerda, então quando abrir não precisa procurar. Dê dois passos para trás, um para a esquerda e abra a porta do carro.

Ele desapareceu atrás da porta sem falar mais nada. Rachel ainda estava atônita. Quem aquele garoto pensava que era? O Zorro? Segundos depois, ela ouviu vozes e conteve, por pouco, a vontade de correr dali. Começava a pensar em um castigo doloroso o suficiente para dar a Silena... Talvez comer glúten...

– Olha só... –O segurança, aquele gigante, agora parado a sua frente, disse. – Acho que você confundiu meu amigo Hank aqui, com a Paris Hilton não?

– Olha, eu... Eu... –Ela começou, mas nada lhe veio à mente. Praguejou. Lei de Murphy atacando mais uma vez. Todas as respostas e argumentos haviam desaparecido. – Me desculpe.

–Ah que gracinha, Ramirez... –Ele disse para o outro, em um tom de deboche que lhe gelou a espinha. – Ela é humilde. Mas, veja bem mocinha, não podemos ter adolescentes nas nossas dependências... – Se aproximava lentamente, realmente queria assustá-la. - Lucramos mais quando entregamos vocês para a polícia. Odeio fazer isso, mas são os negócios, querida...

Rachel estava apavorada. Quando o garoto daria o diabo do sinal? Ela pensou na pior das hipóteses. Talvez ele estivesse apenas brincando com ela. Por que ele a ajudaria? Eles nem ao menos se conheciam! Um dos grandalhões, Hank, pegou o celular do bolso. Estava preparada para a morte, esperando que, no mínimos, renascesse em um corpo longe da ingestão de aditivos, corantes e qualquer tipo de carne animal. Irônico. Morreria e nem ao menos tinha alguns incensos por perto.

– Espera, Hank. –Disse o outro brutamonte. – Onde está o garoto?

Uma buzina. Miraculosa buzina. A voz dos anjos. Nunca na sua vida se sentiu tão feliz pela existência daquele barulho irritante presente naquela lata ambulante de poluição. Ela dirigia, sim, mas um carro elétrico e totalmente sustentável.

No segundo seguinte, Rachel chutou a porta com o calcanhar, agradecendo não estar usando saltos, e as portas se abriram. Ela fez exatamente o que ele falou. Dois passos para trás, um para a esquerda, apalpou algo duro atrás de si. A lataria do carro. Se virou para o carro e encontrou a maçaneta, apertando-a em seguida. Ele acelerou e Rachel pôde ouvir o cheiro de borracha queimando. Droga. Mais poluentes sendo liberados!

– Obrigada. Muito obrigada mesmo. –Ela disse apertando o cinto. O garoto não tirava os olhos da rua escura. – Eu sinto muito por tudo isso... É só... Essa maldita noite dos desafios! Eu não queria que terminasse assim.

Até que percebeu a situação ridícula em que se encontrava, salva por um estranho poluidor com cara de quem comeu comida estragada da pior procedência possível, talvez tenha sido a adrenalina no sangue, mas não conseguiu segurar o riso. Dizer isso era pouco. A verdade é que ela teve uma crise de risos.

E não havia nada que ela odiasse mais do que a própria risada. Nem mesmo protestos com queima de pneus. O garoto ficaria com medo! Ela parecia uma ‘arara parindo’ quando ria daquela maneira... Se é que isso existe. Ele a espiou de canto de olho, essa garota era estranha, mas até mesmo deixou escapar um leve sorriso, logo ela parou de rir e caíram em um silêncio mortal. Rachel já começava a se perguntar se ele estava sequestrando-a ou coisa parecida.

– Conseguiu? –Ele finalmente disse algo.

– O que? –Ela respondeu idiotamente. Ele a encarou levantando a sobrancelha esquerda, como se fosse óbvio. –Ahhh, o desafio? –Ele assentiu. Ela era lenta, isso ele tinha certeza. Ela continuou tristemente. –Não... Eu sequer li ele por completo...

– Quanto tempo ainda tem? –Ele quis saber. Por algum motivo não identificado, simpatizara com a ruiva sentada ao seu lado. Mesmo ela se prestando a um papel tão idiota como uma noite de desafios, ela não merecia ser presa por estar se divertindo.

– Até meia noite... –Ele olhou o relógio do painel do carro. Dez e dezessete. Seja lá o que fosse, tinham tempo sobrando.

– Você vai concluir o desafio. –Ele disse. – Tem outro bar por aqui...

Ela sorriu, ainda que estranhasse a atitude do loiro.

– Obrigada... – Ela disse. – Como é mesmo o seu nome?

– Como é o seu nome? –Ele rebateu.

Garoto chato.

– Okay, eu me rendo, Rachel Dare.

Ele quase demonstrou reconhecimento quando ouviu o nome. Quase. Por isso nunca a tinha visto... A garota realmente não ia a sua escola. Ela ia para a dos ricos, do outro lado da cidade.

– Octavian. – Ele disse. – Esse é o meu nome.

– Frequenta o Olympus?

Ele riu.

– A mensalidade daquela escola é mais cara do que a minha casa. – Ele disse rindo tristemente. Rachel se sentiu mal por ele. Quis se desculpar, mas aquilo parecia bem pior.

– Bom, se quer saber, não está perdendo nada! Nem todos são ruivamente legais como eu. – Ela disse piscando um só olho. – Então, vamos realizar esse desafio ou o quê?

***

Antes de entrar no “Labirinto”, que era sem dúvidas o lugar com mais coisas ilícitas de toda a cidade, Rachel já sentia aquela insegurança se instalar em seu corpo. Não via como aquilo poderia dar certo. Pensou que estivesse apavorada quando estava do lado de fora, mas quando entrou, engoliu seco. Aquela fumaça com toda certeza não era de incenso. Muito menos aquele cheiro. Estava quase bêbada só de respirar no ambiente e, tinha certeza, se chegasse perto daquele canto afastado onde aqueles casais se agarravam, poderia sair grávida.

Okay, nem tanto.

De qualquer maneira, havia se divertido. Há muito não tinha uma noite tão agradável, e o mais estranho é que o responsável era alguém que ela nem ao menos conhecia de verdade. Ele a tirara de uma fria e agora estavam ali, tendo um bom momento.

– Isso é estranho, não é? – Disse ela quando estavam sentados em uma mesa perto dos banheiros. – Quero dizer, as pessoas não se conhecem e saem juntas assim... A menos que seja uma ficada. – Arregalou os olhos e, ao perceber que aquilo que falara poderia ser interpretado de forma errada, acrescentou rapidamente: - E não é.

Ele prendeu o riso ao ver ela se embaralhando.

– Eu não achei que fosse. –Ele deu de ombros. Ela era engraçada. Singular e engraçada, de um jeito só dela.– Além do mais, eu não faço mais isso.

– Isso...?

– Confie em mim, longa história... Você não vai querer saber.

– Você acha que duas pessoas podem se conhecer sem precisar conhecer suas longas histórias? – Rachel insistiu. Nesse momento queria ter o poder de persuasão de Silena, ou até mesmo o de ameaça de Clarisse.

– Claro. –Ele devolveu. Como a ruiva previra. Ele era misterioso demais para sair contando as coisas a uma estranha. – Ainda mais quando você não é mais o que era.

Ela se limitou a torcer o nariz.

– Mas o que você era não é parte do que você é? – Ela queria uma resposta. De qualquer maneira, de um jeito ou de outro. E sim, Rachel reconhecia que era mimada, mas não gostava que as pessoas começassem a falar e não terminassem. Era irritante.Quase tão irritante quanto ela mesma estava sendo. Quase.

– Talvez. –Ele a estudou com o olhar. – Mas o que eu quero dizer, é que não preciso saber quem você era, tanto como a pessoa que está tentando ser...

– Okay, eu desisto. – Ela ergueu as mãos em sinal de rendimento. Ele quase riu. Por muitas vezes naquela noite se perguntava por quê diabos ainda estava com aquela garota... Apenas achou que seria bom. E surpreendeu-se ao perceber que realmente estava sendo bom. Ele estava sempre errado, mas não daquela vez.

– Pronta para o desafio? –Ela negou com a cabeça. Sabia que quando acabasse, teria que voltar para sua vida. Sua vida rica e miserável ao mesmo tempo. Deu mais uma olhada no lugar, que estava cada vez mais cheio.

– Posso?

– Por favor! –Ela riu, entregando-lhe o envelope. Ele o abriu, tirou o cartão e franziu o cenho em seguida. Wow, essa noite dos desafios era realmente para os fortes. Rachel tinha razão ao ficar com medo de enfrentá-la.

“Vá ao bar mais barra pesada da cidade... – Ele virou o cartão -Tire uma foto com um estranho em uma cabine fotográfica. Boa sorte ao caçador! Beijos! SB&LV”

– Só isso? – Perguntou Rachel chocada. Não que achasse ruim, mas esperava bem mais de Leo e Silena. O garoto assentiu. Perfeito. Ele era exatamente o que ela precisava: Um desconhecido. E era bem pegável. – Bem, acho que você não se importaria em me fazer outro favorzinho hoje, huh?

A verdade era que ele achara melhor contar aquela versão, mesmo não sendo a verdadeira. Precisava de mais um tempo para escolher as palavras, mesmo que fosse apenas alguns segundos.

– Garota, mais um favor, e você terá que me jurar sua alma. – Disfarçou e ela riu pela milésima vez naquela noite. Ele olhou em volta. Praticamente todos os estabelecimentos noturnos daquela cidade possuíam uma cabine fotográfica. Ficou satisfeito ao ver que aquele não era uma exceção. Ali, ao lado do bar, enxergou uma cabine amarela, com algumas luzes em volta das letras vermelhas garrafais. –Aquela deve servir...

– Vamos! –Ela disse. Ela o puxou pela mão, o conduzindo até a cabine. Entraram na cabine apertada e velha, ele inseriu uma moeda, mas antes de apertar o botão “start” disse:

– Então, eu tenho que confessar... – Ele não a encarava. Era demais para ele. – O cartão não dizia para tirar uma foto com um estranho em uma cabine fotográfica...

– Não? – Ela perguntou ajeitando o cabelo, como diria Silena, sempre preparada para o flash. – Então o que dizia?

– Dizia... Para dar uns amassos com um estranho em uma cabine fotográfica.

Rachel não pareceu surpresa. Isso sim parecia muito com algo que Silena e Leo pensariam.

– Em outra situação eu poderia manipular as fotos no photoshop muito rapidamente... Mas... Esses seus amigos são bem espertos. Não temos as fotos em mídia digital...

Rachel o olhou como se pedisse algo. Algo como socorro. O primeiro flash disparou e eles ainda se encaravam.

– Aí está o problema... Ah... –Ele começou sem jeito, mas ela rapidamente o cortou:

– Olha Octavian, dar uns amassos é muito mais fácil do que manipular fotos! E se você estava disposto a fazer isso, não deve se importar em... Ah, pelo amor de Deus, me ajuda! É só uma noite dos desafios...

Ela tinha razão. Que mal poderia fazer? Ele não poderia viver com medo pelo resto da vida e, se havia aprendido algo naquela noite, foi que correr riscos é divertido.

– Está certa... É só uma noite dos desafios, certo? Não é grande coisa...

Outro flash.

– Ah, pelo amor dos deuses! – Ela o puxou pela camisa sem nenhum aviso prévio, e o beijou. Sentiu um arrepio estranho, mas não era algo ruim, nem de longe. Ele, por outro lado, estava tão surpreso que congelou. Demorou a corresponder, mas quando o fez, foi com vigor.

Quando o ar faltou, eles se separaram. Ele ainda estava impassível, mas ela estava extremante corada. Aquilo tinha que ser efeito retardado da bebida batizada! Sim, tinha que ser.

***

– Então... –Rachel disse quando já estavam de volta a rua aonde Rachel deixara seu carro. – Já é quase meia noite, deveríamos voltar...

– Na verdade, ginger, eu não posso... Tenho que ir. – Ele disse colocando as mãos nos bolsos frontais das calças.

Ela não conseguiu disfarçar o descontentamento.

– Tem certeza que não quer vir comigo e conhecer os meus amigos? – Pediu.

– Hoje não... – Percebendo o desapontamento da ruiva, acrescentou: - Mas que tal... Me dar seu telefone?

Ela sorriu, pegando o celular dele para anotar o seu.

– Posso pegar o seu também? – A ruiva perguntou, devolvendo o celular do rapaz.

– Ginger, er... Foi só uma noite dos desafios, ok? – Ele se aproximou, a olhando nos olhos. Em seguida, entregou-lhe as fotos reveladas na cabine, mas não sem antes tirar uma para si, rasgando a última do filme. Gostava de recordações.

Ele deu um beijo na testa dela, e se afastou sem dizer mais nada. Rachel não acreditava que ele pudesse fazer isso, mas era exatamente o que estava fazendo. Mas as coisas eram assim, certo? Ela o usara, ele a usara... Ou não. Mas era bem menos doloroso pensar assim. Uma noite dos desafios, sem vínculo, sem sentimentos... Apenas o jogo.

– HEY! – Ele já estava a uma distância considerável, por isso ela elevou o tom de voz. Ele a encarou, já com a mão na maçaneta.

Ela sorriu.

– Eu te desafio a me ligar!


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Notas finais do capítulo

Gostaram? *-------* Bom, eu sei que o último ficou terrível, mas comentem pelos outros dois ok? aodhaisuhNo próximo teremos os desafios do próximo time e tenho uma surpresa::::: MANDEM IDEIAS DE DESAFIOS! AS MELHORES PODEM ENTRAR NA DARE NIGHT DOS PERSONAGENS! *------------*Beeeijos ;**Isaa