Seria possível a existência de seres sobrenaturais? A maioria das pessoas vive enxergando o mundo somente no preto e no branco. Eu sempre gostei mais da área cinzenta. Ver as coisas como elas são, aparentemente, é realmente mais fácil, mas não é nada fascinante. Eu não sabia se Damon estava só brincando comigo, ou se ele me contou um segredo seu.

Quando cheguei à escola e confesso, queria muito vê-lo.

- Elena! – ouvi Caroline me chamando.

- oi!

- quero te perguntar uma coisa. – ela me puxou pela mão até uma mesa do refeitório, que estava quase vazio.

- o que foi? – eu me sentei.

- o que ta acontecendo com você? A vida toda agente reclamou de não ter um menino gato e legal aqui e aí quando aparece, você trata ele daquele jeito?

 Olhei pra baixo. Era verdade. Decidi desabafar.

- a verdade é que desde que eu vi ele pensei que ele era igual a esses idiotas aqui da escola.

- e ainda pensa assim? Agente falou com ele, você viu que ele é legal. Só o fato de ele ter sentado com agente e não com os “populares”, já diz muito sobre ele...

- eu sei. Quer dizer, eu não sei. Ontem eu vi ele falando com os popula-diotas.

Caroline franziu o cenho e olhou para as mãos.

- e tem umas coisas sobre ele... Sobre a história dele que eu, não sei... – continuei.

- ah, deixa a história do garoto em paz! Não deve ter sido nada fácil pra ele. Mas, para de falar besteira, ele é o maior gato! Você devia ficar animada com isso!

- e acha que eu não to?

- não foi o que pareceu.

- olha, eu sei que eu tratei o Damon de um jeito meio estranho mas é que eu não achei que só porque ele é um completo gato, com o corpo o máximo, que eu devia tratar ele como uma adolescentizinha iludida.

- concordo. – uma voz masculina falou atrás de mim. Eu já sabia quem era, mas me virei e quase morri com o sorriso que estava na cara do Damon. – quer dizer, concordo com a última parte, com o resto aí eu já não sei...

Eu juro que pensei em várias opções: a) sair correndo feito uma louca e não voltar pra escola por um tempo.  b) me suicidar na frente deles mesmo. Que vergonha...

- ah, Damon... Han...

Caroline se acabava de rir atrás de mim e ele continuava sorrindo. O sinal finalmente tocou e eu fui pra sala.

- nossa, olha a hora ne – dei uma risadinha nervosa e saí.

Como tínhamos a primeira aula (a da Bruxa) todos os dias, eu sabia que ele estava atrás de mim e queria tanto saber o que ele estava pensando...

No almoço Caroline e Mat estavam super animados:

- hoje vai ter o jogo das finais, e é maior chance da nossa escola vencer!

- tomara que ganhem porque eu to doidinha pra ter festa! – Caroline disse arrumando os cachos loiros.

- você joga no time? – Damon perguntou para Mat.

- ele é o mascote do time – eu respondi.

- você se veste de esquilo? – Damon perguntou rindo.

- é e eu sou muito adorado ta legal! – Mat disse.

Era ridículo. O time ter o nome de esquilo e o Mat se vestir de um. Odeio futebol!

- já pensou em entrar no time Damon? – Caroline perguntou.

- ah eu não sei.

- joga futebol? – Mat se ajeitou no banco.

- na verdade, jogo sim. Eu nem considerei em entrar no time esse ano.

- devia pensar nisso. – Caroline amava os caras do time.

- hum. Mas e a festa? – Damon mudou de assunto.

- sempre que o time ganha acontece uma festa na casa de um dos jogadores. Todo mundo é convidado.  – respondi.

- e é claro que agente vai! Não é Damon? – Caroline olhou com sua carinha de súplica.

- claro, por que não? – ele olhou pra mim e sorriu.

Eu sorri de volta. Nunca fui muito fã de festas, mas essa, veio em boa hora.

 À noite Caroline e Mat me buscaram em casa e quando chegamos no estádio da escola, encontramos Damon. Ele estava lindo! Com uma camiseta, uma calça jeans preta e all star. Sentamos em um banco da arquibancada, Mat, Caroline, eu e Damon, nessa ordem.

Confesso que nunca torci tanto pra que aquele time podre da escola vencesse. Nem eu entendia o porquê de estar tão animada com essa festa, mas eu sabia que tinha a ver com o Damon, se é que me entende.

Olhei pra ele e ele olhou na hora pra mim, sorrimos uma pra outro. Ele estava especialmente lindo naquela luz. Ele jogou a cabeça de lato pra tirar o cabelo incrivelmente preto dos olhos e se concentrou no jogo. Eu tava mais concentrada em sua postura.

Eu não entendia nada de futebol, mas tinha noção o bastante pra saber que aquele jogo tava demorando muito pra acabar!

- isso vai terminar logo não? – cheguei mais perto do Damon.

- calma, já ta acabando. Ele tocou minha perna. Fiquei olhando para suas mãos por um instante, eram realmente bonitas e isso é uma coisa importante pra mim viu!

Ele olhou pra mim e seguiu meu olhar e percebeu o que eu estava fazendo. Eu corei, ele sorriu e colocou o braço pelo meu ombro, me puxando pra perto de si. A partir desse momento, queria que o jogo passasse mais devagar (claro ne).

A triste realidade é que depois daquilo, o jogo só durou por mais uns 10 minutos, o que na minha cabeça foi muito pouco!

Todo mundo parecia muito feliz com a vitória (inútil) do time. Todos se cumprimentaram e nós fomos pra carro.

- hei Damon, quer vir com agente pra festa? – Mat perguntou.

Damon pareceu pensar por um instante e por fim respondeu:

- ta bom. – ele se sentou ao meu lado no banco de trás.

Olhei minha roupa, uma blusa com uma saia solta de cós alto e all star. Tudo bem, não sei se era apropriado pras festas sujas do pós jogo, mas servia no momento. Me virei e vi que Damon me encarava, eu sorri pra ele e olhei para a janela. A noite estava iluminada e a rua cheia pelos carros dos estudantes que estavam com os sons ligados e no último volume.

Eu tinha planos pra aquela festa sim. Precisava ficar com alguém, alguém legal. A última vez que fiquei com alguém, foi com a um ano atrás com o Tyler, e ele tava muito bêbado no dia e tarado também! E ele não é bem o tipo de cara legal. Até hoje quando me vê ele pisca ou manda beijo pra mim.

Quando entramos na festa, repensei meus conceitos e quase não entrei. Quase.

- uhuu a festa aqui ta demais! – Caroline entregou dois copos cheios pra mim e pra Damon.

- o que é isso? – perguntei olhando para o líquido vermelho no meu copo.

- ponche batizado. Divirtam-se. – ele piscou pra nós.

Nós nos entreolhamos. Meu coração estava a mil então, entrei na onda da bebida. Começamos a conversar com um grupo e durante a conversa nem percebi quantos copos virei. Assim como não percebi que Damon já não estava mais do meu lado.

Droga! Ia perder a noite porque não sei me controlar com a bebida! Fui para o jardim, o único lugar que estava menos ocupado. Saí da casa fedendo a álcool e cigarro, eu devia estar horrível.

- Elena?

- Damon. – ele estava atrás de mim.

- você ta bem? – ele colocou a mão nas minhas costas e me levou para um banquinho um pouco afastado da luz.

- ta tudo bem. – eu me sentei e olhei pra ele.

- bebeu muito? – ele riu.

Eu assenti. Acho mesmo que eu tinha exagerado.

- onde você tava? – perguntei enquanto ele tirava meu cabelo dos meus olhos.

- eu tava na área da piscina.

Abaixei os olhos, será que ele tinha ficado com alguém?

- você ta com fome? – ele perguntou parecendo preocupado.

- um pouco. E você?

- eu não como. – ele sorriu.

- ah. É mesmo. – eu falava como uma verdadeira bêbada.

Ele ainda estava com a mão no meu rosto, e foi se aproximando. Fechei meus olhos e senti nossos lábios se tocando. Isso! Eu tinha conseguindo!

De repente, ele se levantou e me puxou pela mão.

- vem, você tem que comer alguma coisa.