Bem ao Lado escrita por Alessa Petroski


Capítulo 20
Capítulo 20




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Cheguei ao condomínio de Giane torcendo para ser tarde demais para encontrá-la acordada, mesmo tendo acabado de ver em meu relógio de pulso que não passava das sete. As luzes do condomínio estavam acesas e da cabine do porteiro brilhava uma luz azulada, vinda provavelmente da televisão.

Minha avó só faltou me jogar do carro ainda em movimento, por isso corri logo para aquela cabine. Bati nela com força, fazendo o vidro balançar com o impacto do meu corpo e assustando o porteiro que virou um balde de pipocas no colo.

Esperei ele se limpar, tentando entender se a minha imagem estava tão ruim a ponto de assustar alguém. Parei diante a porta de entrada que era toda espelhada e eu mesma tive que admitir que não estava no meu melhor dia. Meus braços estavam cheios de respingos de tinta e meu cabelo parecia um ninho de pássaro. Enquanto o porteiro terminava de recolher a pipoca eu tentava arrumar a fera que era meu cabelo.

– Boa noite, senhorita – o porteiro disse abaixando uma janela na lateral da cabine.

– Desculpe, eu sei que está tarde...

– Que nada, senhorita! – ele exclamou me interrompendo – A senhorita iria se assustar com a hora que algumas mulheres entram aqui, alguns homens também. Para fazer sei lá o quê. Sé é que entende. – ele piscou.

– Não, eu não entendo – falei um pouco assustada.

– Ah, não? – ele pressionou.

– Então, voltando ao que interessa eu vim visitar a senhorita Giane Gábrio - falei com dificuldade para lembrar o sobrenome da Giane, temendo que o porteiro não o reconhecesse porque a Giane morava com a mãe, o padrasto e o irmão que atendiam por um sobrenome desconhecido para mim.

O porteiro baixo e magro, vestido em um uniforme que tinha aroma de manteiga começou a digitar em um pequeno computador fixado a uma bancada, que tomava metade do espaço daquele cubículo. Ele demorou mais do que eu gostaria.

Tentei me distrair olhando para os prédios mais próximos da entrada. Aquele conjunto tinha um número de prédios idênticos que me faria perder-me mesmo tendo uma placa de identificação. Eu sabia disso porque já havia me perdido no condomínio da minha prima que era muito parecido com este, mas que ficava do outro lado da cidade.

– Moça? – o porteiro atraiu minha atenção – Você está falando da ruiva chave de cadeia, não é?

– Estou? – soou mais como uma pergunta mesmo eu tendo certeza de que falávamos da mesma pessoa.

– Prédio 4, apartamento 24 – ele sorriu, mostrando dentes com aparelho.

Alguns degraus depois eu me encontrava paralisada em frente a uma porta branca, encarando o número 24 afixado nela com um prego. Havia mais três portas ali quase que idênticas, o que mudava era apenas o número fixado a porta. E todas tinham plantas com folhas longas e delgadas enterradas em jarros altos e brancos. Imaginei cada um daqueles jarros como guardas altos de um palácio ainda não explorado.

Bati na porta e logo ela foi aberta. A pessoa que a abriu com total de certeza não era quem eu esperava, eu nem sequer havia chegado a imaginar algo do tipo. Ele estava apenas com um short preto que deixava um pouco a mostra sua cueca, o peito de Lucius estava descoberto. Meu bom senso estava gritando para eu ignorar aquilo, mas era difícil ignorar uma barriga bem definida que parecia ter sido talhada no mármore. Ele era bem mais malhado do que eu havia imaginado.

Não que eu houvesse perdido meu tempo imaginado ele daquele jeito.

Não conscientemente, pelo menos.

O rosto do Lucius estava marcado pelo lençol da cama e o cabelo estava em um caos, anunciando aos quatro ventos que ele havia acabado de acordar. Gostei de tê-lo acordado.

– A noite foi boa, hein? – indaguei percebendo o cansaço em seu semblante mesmo não sendo tão tarde a ponto de um adolescente daquele estar na cama.

– Você não imagina o quanto – ele afirmou com sua familiar ironia.

– Você é o irmão da Giane.

– Desde que nossos pais se casaram – ele explicou – Não somos irmãos de sangue.

Isso eu já havia deduzido. Senti mais uma vez aquela dorzinha pelas coisas que Giane escondeu de mim, mas a conversa que tive com minha avó continuava fresca em minha memória. Repeti mentalmente o que ela havia me dito sobre não cobrar o que não se dá tantas vezes que as palavras começaram a perder seu sentido.

Lucius disse que iria me levar para ver Giane e devo confessar que se não fosse por isso eu sairia correndo dali. Eu era tão covarde e estúpida, mas já estava cansada de auto xingamento. Eu tinha que seguir em frente e deixar o trabalho de ser ofendida para os meus queridos fãs.

Algo na costa do Lucius atraiu minha atenção. Olhei mais atentamente e tive um pouco de dificuldade para distinguir o que era devido ao corredor ser um pouco escuro. No entanto, quando passamos bem embaixo de uma lâmpada vi perfeitamente aquela tatuagem, que se espalhava até a curva da cintura dele no lado direito do corpo. Era uma criatura mítica com cabeça e asas de águia ligadas a um corpo de um leão. Nunca havia visto o desenho de um grifo tão realista quanto aquele na pele de alguém.

Era belo e assustador ao mesmo tempo. Assim como Lucius era em boa parte do tempo que passávamos juntos.

– Não é educado secar a tatuagem dos outros – ele disse parando em frente à porta pintada de preto.

Esta porta estava em frente à outra também pintada de preto. Bem no fim havia outra porta da cor branca.

– Quem disse que estou fazendo isso? – indaguei na defensiva cruzando os braços sob o peito.

– Ou isso, ou você está secando meu bumbum empinado. Você é quem escolhe – ele repetiu o mesmo que eu ao cruzar os braços.

Meu rosto corou e senti vontade de enfiar minha cabeça em uma geladeira para ver se eu não ficava mais vermelha com o Lucius. Só que eu tinha uma ligeira sensação de que mesmo que eu andasse com uma bolsa de gelo no rosto ele ainda ficaria corado por causa daquele ser a minha frente, cujo bumbum eu nunca havia sequer olhado. Porém eu lembrava muito bem das meninas da escola falando sobre a parte de trás dele.

Lucius se aproximou mais de mim e eu senti que a aproximação nada tinha haver com o corredor estreito. Ele parou tão perto de mim que pude sentir sua respiração quente no topo da minha cabeça. Os olhos dele estavam mais negros do que nunca. Tão negros que me lembravam o céu que eu costumava observar a noite.

Ele se aproximou mais e bateu na porta a minha esquerda. O som fez com que eu recobrasse meu juízo e logo saí daquele céu sem estrelas que eram os olhos do Lucius.

– É o quarto dela.

Não precisei de mais nada para entrar no quarto dela. Entre enfrentar o Lucius e a Giane eu preferia entrar na cova dela. Porque em relação a ela eu conseguia entender meus sentimentos. Mas a cada dia que passava o que eu sentia pelo Lucius se mostrava mais complexo, obscuro e diferente do que eu estava costumada.


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