Bem ao Lado escrita por Alessa Petroski


Capítulo 19
Capítulo 19




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– Boa noite, Ruby.

Olhei para quem me chamara e gritei quando reconheci minha avó dentro do seu carro. O carro estava em frente ao ateliê que eu acabara de deixar depois de ter conversado com o vigia sobre patos. Eu não tinha interesse em patos, mas pretendi ser gentil, o que resultou em meia hora de uma conversa que parecia ter durado uma eternidade.

– Quer entrar no carro, Ruby? E parar de drama?

– Aonde a senhora vai me levar? – perguntei estupidamente.

– Para Júpiter.

– Prefiro Vênus – digo entrando no carro – Como descobriu que eu estava aqui?

– Porque eu te conheço – ela respondeu ligando o carro.

– E a senhora veio preocupada atrás de mim?

– Não, eu vim porque queria dirigir mesmo - ela deu de ombros, a blusa de seda branca brilhando a fraca luz do carro.

– Vou fingir que não doeu.

– Por favor.

Eu ri e me calei porque não havia ninguém mais rápida em dar respostas além de mim do que minha avó. A mulher tinha um raciocínio rápido, ótimo para discussões.

– Ouvi sua discussão com a Giane – ela começou – Não quero tomar partido, mesmo gostando muito dela, mas acho que você extrapolou.

– Por quê?! – quase gritei.

Não tão quase assim porque o homem do carro ao lado olhou assustado para mim. Arregalei os olhos para ele e entortei a boca em uma expressão de terror. A mulher loira que estava com ele riu e ele fechou o vidro do carro ligeiramente assustado.

Eu era um amor de pessoa.

– Não quero que me interrompa, Ruby. Quantas vezes tenho que dizer que não se pode cobrar o que não se dá? – ela perguntou retoricamente com um leve tom de irritação – Você não contou tudo do seu passado a ela e ela também não tem a obrigação de fazer isto com você.

Minha avó tinha razão só que não consegui falar nada. Eu tinha dificuldade para levar a sério o que outros diziam por não gostar de intromissões. No entanto, quando minha avó falava eu tomava aquilo para mim, grata por ela abrir meus olhos quando eu errava. A única vez que não acatei o que ela disse foi quando eu a apresentei ao Vini e logo vi em sua expressão que ela não o aprovara. Ela até chegou a me dizer isso depois. Mas não me importei e acabei quebrando a cara com ele, que comprovou o que ela havia dito um tempo atrás.

“Um garoto que de tão mimado havia sido estragado. Um belo projeto de canalha que não passa de um manipulador.”

Às vezes, ela era tão clara no que dizia que eu chegava a me assustar.

– Vó? – perguntei.

– Sim, Ruby?

– Por que está tão avoada nestes dias?

– Não estou pronta para falar sobre isso. Mas prometo que te conto. Um dia.

Eu ri.

– Promete de mindinho?

Ela tirou o braço direito do volante e esticou o mindinho para mim. Eu fiz o mesmo com o meu braço bom, entrelaçando nossos dedos que eram tortos pela genética, lembrando das inúmeras vezes que ela me fez esta promessa de mindinho quando eu era pequena e ficava com medo do escuro.

– Pelo mindinho. Agora vamos visitar sua amiga.

– Eu tenho escolha? – indaguei covardemente.

– Não enquanto estiver no meu carro.

Cogitei pular do carro em movimento, mas sabia que naquela velocidade eu ganharia apenas mais um braço machucado e talvez, uma internação em uma clinica psiquiátrica.


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