Impávida. escrita por Lucas Piascentini


Capítulo 5
Capítulo 5 — Faísca.


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, peço perdão pela demora dessa capítulo. Eu estava sem inspiração e tudo que eu escrevia não fazia sentido. Além do mais, eu estava viajando, então isso dificultou as coisas. Enfim, este se tornou o meu capítulo predileto, espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/388215/chapter/5

Se você pensa que existe alguma cidade que nunca dorme tão bela quando esta, você está totalmente enganado”


Desperto incerta. Duvidosa. Eu nem sei sobre o que devo pensar, o que devo sentir. Lembro-me então, finalmente, que hoje terei excursão para o centro de Elo. Na minha cidade, ou melhor, na minha antiga cidade, a do meu antigo elemento, água, chamamos o centro de Elo de Faísca, acredito que alguns aqui devem chamar da mesma forma. Penso em perguntar a alguém, mas o quarto está vazio. Talvez eu tenha perdido a hora, até que me lembro que estou na enfermaria. Pergunto-me mentalmente das enfermeiras e uma surge na porta.

— Kingsley? — Não reconheço a enfermeira loura que surge na porta.

— Sim. — Respondo, provando que estou acordada.

— Você deve se trocar. Em vinte minutos o teu irmão virá buscá-la.

— Ah, sim. — Digo. — Ótimo.

Mexo-me na cama, tentando encontrar a maneira certa de me sentar. Todas resultam em dor nas minhas costas, ou até mesmo, dor nas pernas. Elas encontram-se vermelhas, apesar de quase curadas. Desejo saber em quanto tempo será que estarei totalmente boa. Espero que hoje não ocorra nada muito complicado ou algo que me sujeite a machucados, não sei se aguentaria mais. Olho para meus pés pela primeira vez em dois ou três dias, não sei quantos dias eu permaneci desacordada, percebo que ele está cheio de bolhas. Gostaria de usar meu tênis para ir, mas sei que seria dolorido demais para usá-los. Peço a enfermeira um tênis qualquer dois números maiores que o meu, pois somente assim eu não sentirei dor nos meus pés.

— É uma pena que seu machucado não sarou, estava previsto que esta queimadura ia sarar até hoje. — A enfermeira diz.

— Sim... Mas resistirei.

Pelo menos, espero.

Ponho uma blusa com a ajuda da moça, que descubro que seu nome é Cassie, o mesmo que o meu. Chamo-a de Bottas, seu sobrenome, assim como ela me chama de Kingsley. Tenho aflição de chamar alguém pelo mesmo nome que o meu, porque o nome é meu e acho que ele só deve pertencer a mim e a mais ninguém. Sou possessiva em relação a tudo.

Levanto-me e olho-me no espelho. Visto um suéter laranja quase vermelho e uma calça colada preta. Meu suéter possui o símbolo do elemento Fogo. Particularmente, acho-o lindo. Por cima dele, ponho minha jaqueta de couro, pois estou tremendo de frio. Não gosto muito de usá-la, já que ela tampa a beleza do suéter do qual eu visto. Sento-me vagarosamente a mesa ao lado da minha maca, e mal começo a escrever alguma coisa, em uma folha de papel, que meu irmão chega no quarto afobado.

— Estamos atrasados.

Ele me puxa pelo braço e eu não consigo se quer empurrá-lo, a dor é intensa, contraio meus músculos e minha perna se move sem minha permissão, é como se alguém me empurrasse. É como se eu estivesse sendo ajudada. Minha perna no mesmo instante para de doer. Estou curada? O tênis folgado que uso não machuca, mas já não machucava antes. Mas minhas pernas não doem. Não ouso pedir a Alaric que pare para eu verificar, tenho certeza que ele iria se irritar se eu pedisse. Em questão de horário meu irmão é do tipo mais controlado possível. Eu não. Sempre cheguei atrasada em todos meus compromissos. Meu pai costumava implicar comigo nessa questão.

Pegamos o elevador, provavelmente para sairmos do vulcão, aproveito os segundos livres e puxo minha calça, logo vejo que não há mais machucados em minha perna. Ela nem vermelha está. O elevador apita e as portas se abrem numa velocidade que não consigo abaixar as minhas calças. Peter está em frente a porta, como se soubesse que eu estivesse lá e ele estivesse me esperando. Ele encara minhas pernas de maneira nada sútil. Abaixo as pernas das calças rapidamente.

— Perdão. — Ele fala corado.

Encaro-o e não o respondo.

— Vamos, Alaric? — Digo.

— Claro. — Ele olha para mim. — A propósito, bom dia.

Eu rio e digo bom dia a ele.

Saímos de dentro do elevador e Peter começa a nos seguir. Sinto-me desconfortável e acho que Peter repara, então ele para. Meu irmão, vira para trás quando percebe que Peter não está mais atrás de nós.

— Peter, você não veem?

Peter me encara e vê meu olhar suplicante para que ele não venha. Eu não gosto dele por algum motivo que desconheço.

— Vou no banheiro e já vou indo. — Ele fala para meu irmão. — Vão na frente.

Sorrio aliviada.

— O.K.

Saímos andando, vou seguindo meu irmão que aparentemente está nervoso. Vejo como suas mãos treme. Sinto vontade de gritar por ele. Não sei porque, mas sempre tive compaixão, acho que esse é o nome da palavra, pelos outros. Sempre senti o que os outros sentiam, quando via alguém chorando, sentia vontade de chorar. Quando via alguém tremendo, sentia vontade de tremer, sentia o medo e até mesmo os anseios das pessoas a minha volta. Essa característica, tento afirmar a mim mesma, que é boa. Mas não é. Não aqui em Elo onde todos ligam só para a sua chama, para o seu brilho, e esta característica e uma das minhas dúvidas se escolhi o elemento certo.

Meu medo de não ter escolhido o elemento certo é claro, se eu não conseguir conviver com o povo de Elo, se eu não aguentar eu serei morta no pior lugar que alguém pode desejar, no Campo das Dores. Todos os Continentes tem um, o daqui, senão me engano, fica na antiga Alemanha, em um dos milhares campos de concentrações que não eram abitados até agora. Até a chegada dos Elementares. Ninguém sabe ao certo o que ocorre lá, pois quem vai para lá, nunca sai vivo.

— Bom dia! — Diz Lucca quando entro na estação de trem.

O sol brilha intensamente, apesar de não haver se quer uma gota de calor emanando dele. Eu já sabia que aqui era mais frio que o meu antigo Continente. O motivo para que aqui seja mais frio é o desafio. No frio a dominação do fogo é mais fraca, assim exige muito mais dos dominadores, os Elementares de Fogo apreciam o desafio, coisa que eu também aprecio.

— Não vai me responder, Cassie? — Lucca me pergunta intrigado.

— Não. — Respondo tão fria quanto a brisa gelada que atinge meu rosto.

— Nossa, vejo que você voltou a ser uma...— Ele para por um instante. — Como é mesmo o nome? — Ninguém responde.— Ah, é, chata. Típico do seu elemento de origem.

Encaro-o e não sinto se quer um pingo de dor no que ele diz, sei que ele faz essas afirmações para me atingir.

— Só não digo que você voltou a ser o mesmo implicante dos Elementares nascidos em Elo porque não sei se é aqui sua Casa de Nascença, mas se não é, fique sabendo que você entrou muito bem no seu papel, ou melhor, se transformou com toda certeza, em um Elementar do Fogo.

Ele me encara. Sinto que ganhei a luta, até que percebo que o que eu disse foi um elogio a ele, pois ele quer mesmo ser um elementar de Fogo. Sinto ódio de mim mesma. Ele não tem humanidade como os elementares de água e por isso não se ofende.

As características dos elementares de fogo são as mais frias possíveis. Eles tentam fazer, a qualquer custo, que as pessoas sintam dor com palavras ou com machucados. Eles não ligam para o que as pessoas costumam dizer sobre eles, é como se nada os atingisse. Eu sempre senti inveja nesse ponto deles. Eu sempre quis ser fria igual eles. Eu sempre quis esquecer meus sentimentos. Principalmente quando conheci um garoto por quem eu me apaixonei. Foi ai que eu decidi que eu iria ser do Elemento Fogo, porque eu aprenderia a deixar meus sentimentos de lado, mas aí... Quando eu me desapaixonei perdi o interesse de deixar meus sentimentos. O mais estranho dessa paixão que eu tive é que eu não sabia ao menos o nome do garoto por quem eu era apaixonada, a única coisa que me recordo é que seus olhos... Seus olhos... Eram lindos e me afetavam de uma maneira perfeita. Cada vez que o via, meu coração tinha vontade de gritar, meus lábios contorciam... Eu queria ser dele. Essa paixão ocorreu quando eu tinha doze anos e durou até os meus quinze anos, depois disso, eu mudei de escola e nunca mais o vi. Nunca mais se quer olhei em teus olhos. Se olhei, não me recordo.

— Obrigado. — Desperto de meus pensamentos com a voz de Lucca, seguida de um sorriso.

— O trem já está chegando! — Grita Fabiana do outro lado da estação.

Só agora sou capaz de observar a estação. Ela é do estilo mais rudimentar possível. Feita de pedras, como se tivesse sido construída a muitos anos atrás, muitos séculos atrás.

— Rápido, aqui! — Grita o outro monitor, que não me recordo o nome. Algo com C, talvez Caio... Não... Carl.

Todos nós nos juntamos a ele.

— Meu conselho para quem nunca pegou trem é ficar de frente para ele, com as mãos estendidas... — Antes que ele possa terminar, o trem pega-nos.

Meus cabelos são primeiramente sugados pelas ondas quentes que o trem emite, minhas órbitas dos olhos parecem que estão entrando para dentro de meu cérebro. Meu sangue parece tentar sair de minha pele, como se meu corpo fosse uma prisão e ele fosse o fugitivo. Grito, mas minha voz não sai. Bato com a cabeça contra alguma coisa. Meus olhos se fecham na hora, acredito que desmaio.



Acordo como se não tivesse desmaiado. Como se fosse óbvio, olho para meus pés. Estou presa a linha branca que me liga a meu corpo. Meus olhos ainda estão despertando, por isso, vejo tudo escuro. Só depois de alguns segundos que minha visão atinge o ápice e vejo todos e todas. Existem três pessoas desmaiadas ao todo. Eu, Peter e alguém que não sei o nome. Cada monitor está envolta de um dos corpos, emitindo fogo acredito, no pulso de cada um. Olhos fechados.

— Eu sabia! — Alguém grita atrás de mim. — Eu sabia que você era que nem eu.

A voz masculina me atinge de uma maneira que quase desmaio no mundo dos espíritos.

— Peter? — Viro-me e encaro-o.

— Sim, eu sabia que você era uma dominadora dupla. Eu tinha certeza.

— Você não pode contar a ninguém... — Começo a suplicar.

— E por que eu contaria? Para você morrer? — Ele ri. — Só se eu fosse maluco.

— Como assim? — Digo no meu tom mais confuso.

Ele ri.

— Quer dizer que você não sabe? Os dominadores duplos todos tem um único fim, o Campo das Dores. Lá eles morrem. Isso é desonrante para qualquer família, ter um filho Duplo, ou como as pessoas costumam chamar, ter um filho Onipotente.

Olho para ele. Estou com medo. Sinto um frio na barriga. Sou uma Onipotente e isso quer dizer que tenho chances de morrer. Eu não desejo morrer. Muito pelo contrário. Eu quero ficar viva, mas o meu desejo, meu único desejo momentâneo, é saber o motivo de eu ter que morrer por ser uma Onipotente.

— Mas porque a gente deve morrer? — Pergunto.

— Não sei. — Ele responde.

— Peter! — Grita uma voz feminina atrás de mim. É Clarice. Eles se abraçam.

— Cassie essa é...

— Já nos conhecemos. — Digo. — Ela é Clarice.

— Se conhecem da onde? — Ele fala.

— Eu fui a primeira visita a ela. — Ela responde, ainda agarrada a Peter.

Ela me encara com aquele olhar mórbido dela. Peter olha para mim de uma maneira inexplicável. Sinto vergonha e ele percebe, desviando o seu olhar para Clarice.

— Então, Clarice foi a primeira Onipotente que conheci. Ela me explicou tudo o que ela sabia, mas até hoje, não entende o motivo de ter morrido. E nem se recorda de como morreu.

Encaro-a.

— Você não faz nem ideia? — Pergunto.

— Não. — Ela afirma. — É difícil se lembrar de alguma coisa quando se é aplicada uma dose diária de uma coisa que não sei o nome, uma substância azulada. No Campo das Dores de onde eu morava, nós chamávamos aquilo de dose do Esquecimento. Eu esquecia até como era meu nome.

— Mas depois você se recordava de alguma coisa?

— É difícil dizer, às vezes, quando fecho os olhos, vejo cenas nítidas de gente apanhando, de sangue escorrendo de minhas costas... De cheiro de mofo e de sangue pútrido.

Calo-me e em segundos, Clarice desaparece de minha visão, assim como Peter.

Acordo e sinto cheiro de sangue. Minha cabeça sangra, percebo. Alguém está rindo de mim. Não dou a mínima atenção. Foco em alguma coisa, minha visão está bagunçada. Estou gelada como a neve que cai do lado de fora. Alguém se aproxima de mim e me abraça. Por algum motivo, sinto uma segurança que jamais senti quando alguém me tocou. Quero saber quem é, acima de tudo, quem é que está fazendo o sangue parar de escorrer de minha cabeça. Há um calor que entra dentro do machucado. O calor emana por toda minha cabeça, sinto-me como um vulcão, espero não estar pegando fogo... Espero que meu cabelo esteja intacto. Adormeço por alguns segundos e quando acordo, não há mais ninguém ao meu lado. Minha cabeça parou de sangrar. Estou bem. Sinto-me ótima, exceto pelo frio.



As luzes brilham do lado de fora. Não tenho tempo de apreciar as luzes, pois sou sugada para a plataforma. Desta vez, jogo meu corpo para trás, conseguindo então, cair de pé. Pergunto-me como Faísca pode estar de noite se quando saímos era de manhã. Demoramos tanto tempo?

Não há ninguém desacordado no momento. Todos conseguiram sobreviver a saída do trem. Alguns caídos e com a pele arranhada, joelhos machucados. Mas todos, vivos e não adormecidos. Todos estamos reunidos na plataforma. Todos, sem exceção. Nós nos reunimos em círculos e Lucca entra vorazmente dentro da roda.

— Bom, a primeira coisa que vou dizer é que se alguém por algum motivo sair de perto do grupo, nós deixaremos aqui mesmo e vocês serão encaminhados para o Campo das Dores. A segunda coisa que devo dizer é que está de noite aqui, pois, Faísca fica dentro de uma espécie de câmara protetora escura, como se fosse um túnel. Alguns de vocês perceberam quando estávamos adentrando o centro que do nada tudo ficou escuro, outros estavam desacordados e por isso não perceberam. — Eu juro que ele olhou diretamente para mim. — Enfim, é isso, e nosso tour, vai ser massa! — Ele termina rindo.

— Acompanhem-nos. — Diz Fabiana, segundos depois.

Saímos seguindo-os. Carl está à frente, em seguida vem Lucca e atrás Fabiana. Reparo na forma que Fabiana olha o corpo, a musculatura, de Lucca. De certo, eles tiveram ou tem algo. Meu olhar foge da sequência em que estamos para que eu possa observar a estação de trem. Esta é totalmente diferente da que vinhemos. Há guardas em todos os cantos, além do mais, ela parece ser feita de algum tipo de metal. Em cada divisória, no local onde mostra o número da plataforma, é possível ver um símbolo do fogo desenhado em ferro abaixo do numeral indicador. A estação de trem é toda preta com detalhes de um vermelho alaranjado, como tudo relacionado ao elemento fogo. O chão é meio que em 3D, pois se você olha diretamente para ele, parece que você está andando entre as chamas. Sorrio, pois jamais imaginei que caminharia um dia sobre as chamas.

Quando saímos da estação de trem, dou um leve suspiro, é tudo espetacular do lado de fora. Vejo prédios com cerca de noventa andares ou mais, arranha-céus tão belos que fico cega. Se você pensa que existe alguma cidade que nunca dorme tão bela quando esta, você está totalmente enganado, porque você não conhece isso daqui.

Há neve sintética caindo do céu, da farsa de céu. Sei que é sintética porque não é gélida, aliás, o clima aqui dentro é agradável, sinto a necessidade de tirar minha blusa de frio, mas não o faço. Olho para o teto/céu e vejo estrelas falsas. Imagino, que aqui, é sempre noite. Vejo pessoas do tipo mais diversos andando às ruas. Vejo, até, humanos deitados sobre bancos almofadados. Imagino a trabalheira que os Elementares tiveram ao construir a cidade. O horário é mostrado nos telões da cidade. Tudo brilha, percebo, até a neve. A neve, não é como deveria ser, tem um tom alaranjado avermelhado, mas muito fraco.

— Sejam bem-vindos à Faísca. — Anuncia Carl.

Todos batem palmas, exceto eu, que estou ocupada demais admirando a cidade. Não é todo dia que se vê algo tão belo. Dou graças a tudo que eu não perdi esse tour, aliás, seria uma pena se perdesse.

Começamos a andar pela cidade. Não imagino as coisas que há aqui, não faço ideia. Primeiramente, entramos num parque com o nome de Parque do Mundo. Na entrada, há grandes desenhos e os símbolos de todos elementos são desenhados, em ferro, embaixo do lugar que está escrito o nome do parque. Com o passar dos passos, vejo pomares de frutas que nem sabia da existência. Uma com o nome de Fruidoíde, criada em laboratório pela Nação do Ar. Uma árvore onde os frutos não são presos por galhos, ou coisa do gênero, eles simplesmente voam, flutuam. Há, nessa parte, uma estátua de um homem com a mão estendida e o fruto voando sobre a mão. Seu nome, vejo na placa embaixo da estátua, é Jorge Buichman.

Á seguir, entramos no pomar do fogo, vejo então umas árvores que estão em chamas, porém, vivas. Suas folhas são de um tom alaranjado, como folhas de outono. Elas produzem uma espécie de fruto, com o nome de Piroíde, o motivo? Bem, esse fruto quando ingerido queima a boca da pessoa, deixando as loucas, ou, piradas por alguns instantes. Os frutos fazem com que a pessoa, sem saber, conte tudo que saiba sobre algo ou alguém. Segundo Carl, ela é muito utilizada como objeto de tortura nos Campos das Dores. Imagino, no mesmo instante, se Clarice teve que se sujeitar a isso. Creio que sim. Há também uma estátua de um homem, com a Piroíde, que possui o formato triangular, na boca. Consigo ver no seu olhar, que ele está louco. É possível perceber também o prazer que o gosto da Piroíde tem, não consigo me conter, e pergunto:

— Qual o gosto da Piroíde?

Eles me encaram. (Eles = Meus monitores, o pessoal que está em Faísca e meus colegas).

— Bem... Dizem que a Piroíde tem o gosto do paraíso. Dizem que ela para cada pessoa tem um gosto diferente. Tem o gosto de seus anseios, de suas expectativas. E isso dá um êxtase a pessoa, que ela consegue confiar em tudo o que vê... Em todos. Assim, ela revela seus segredos a qualquer um que o pergunte. — Responde Carl.

Sorrio, e fico satisfeita com a explicação. Andamos mais e mais, passamos por pomares de todos os outros elementos. Passamos por estátuas diversas, por pessoas diversas, até quadros e exposições vimos. E quando saímos de lá, não sei se temos tempo para fazermos mais coisas. Observo no relógio a hora, são ainda, uma e doze da tarde.

— Partiremos para comer. — Algum dos monitores fala.

Começamos a andar rapidamente. É a primeira vez em Faísca que presto atenção nos meus passos, e presto atenção em meu irmão. Observo-o. Ele anda com Peter, ao seu lado. Seguro-me para não me juntar a eles. Fico calada, então, deixando as pessoas atravessarem à minha frente. Só depois que me torno a última do grupo que dou retorno aos meus passos, me sinto sozinha como jamais me senti. Acima de tudo, sinto falta dos abraços, do carinho de alguém. Do carinho da pessoa do trem. Penso em perguntar a alguém quem foi que estava comigo, mas não tenho coragem. Acho que não desejo saber no fundo, afinal, perderia o mistério e eu gosto de mistérios.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Reviews plis! Hahahahahaha



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Impávida." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.