Impávida. escrita por Lucas Piascentini


Capítulo 3
Capítulo 3 — Amargurada.


Notas iniciais do capítulo

Esse ficou um pouco menor que os dois primeiros, mas tá ai! Hahahahaha.



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"Eu quero continuar deixando as lágrimas escorrerem, de uma forma ou de outra, elas me acalmam."

Saio o mais rápido que eu posso do palco. O mais rápido que minhas pernas conseguem correr. Meu coração palpita tão rápido que não sei como não explodo. Todos olham para mim chocados. Vejo o olhar de Luke e sei bem que ele percebeu. Ele com certeza percebeu que eu sou uma dominadora Espectral e também uma dominadora do Fogo. Desejo não ter levantado. Desejo ter permanecido em minha cama. Desejo nunca ter saído de lá. Eu quero mais que tudo me jogar entre lençóis e chorar. Eu sou fraca. Eu não suporto nada. Eu mereço morrer. Seguro as lágrimas que ameaçam cair. Vejo meu irmão, Alaric, olhando sério para mim. Olho para ele e não consigo conter a vontade de chorar. Effie está anunciando Peter Koian, não presto atenção, saio correndo por entre a multidão. Sei que não devo, mas faço-o. Talvez as consequências sejam duras, severas, mas não as temo, porque não temo a morte. Não, não temo, aliás, a desejo.

Minhas mãos abrem a porta do salão, deixando então, um grande feixe de luz solar entrar na sala. Effie olha para a porta com sinal de desaprovação, enquanto um garoto com nome de Julian Louis está fazendo a escolha de seu elemento. Não presto atenção nela, só saio. Caminho rapidamente. Vejo o céu pelas paredes de vidro. Penso em ficar em um canto, escondida, admirando apenas o céu, pensando no Deus que todos dizem que se encontra entre estas nuvens. Tenho minhas dúvidas. Mas não fico observando as nuvens como gostaria. Entro no elevador, aperto o botão para descermos. Vejo meu irmão saindo da sala. Mexo os dedos em sinal negativo, e com a outra mão, quando percebo que ele está correndo para pegar o elevador, aperto o botão de fechar as portas.

“Fechando”.

A voz robótica diz. E as portas se fecham exatamente quando meu irmão entra.

— Você está louca? — Ele grita quando minhas lágrimas começam a escorrer. — Você está pensando o quê? Que a Sociedade está de brincadeira? Eles vão te matar sua tonta! Você tem que voltar agora para o auditório!

Não respondo, sou incapaz. Estou soluçando. Abraço-o. Ele me empurra. Minhas lágrimas escorrem em maior velocidade, soluço mais. Ele aperta o botão no elevador, observo, mesmo estando com a visão falha, que estamos a subir.

— Não vou entrar no auditório. — Digo, fazendo o maior esforço que posso. — Não desse jeito.

Ele me encara.

— Você está ótima. — Ele mente.

Saímos do elevador. Peço a ele que espere alguns minutos para que eu possa me recompor.

Vamos, Cassie. Pare... Você é capaz.

Não digo, não porque não desejo, e sim por que estou muito envergonhada para dizer. Tenho vergonha da minha fraqueza.

Recomponha-se.

Em minutos, estou recuperada. Minhas lágrimas, meus soluços, tudo cessa. Parece simples e frio quando alguém lê, mas não, não é assim. Eu faço o maior esforço que alguém poderia fazer para parar de chorar, para deixar de me sentir fraca. Eu quero continuar deixando as lágrimas escorrerem, de uma forma ou de outra, elas me acalmam.

Entramos, eu e Alaric, dentro do auditório. Passo despercebida pelas pessoas, ninguém me encara. Acredito que eles já devem ter esquecido do meu pequeno... Erro. Effie anuncia o fim das escolhas.

— E é com grande prazer, que eu, Effie Tris, anuncio o fim do Dia da Escolhas. Anuncio ainda, o fim dessa fase, para o começo da fase adulta para todos os nossos formandos. — Ela diz as frases com aquele sorriso branco dela. Todos batem palmas. Todos, exceto os que tiveram seus filhos outbounds. Viro meu rosto. — Chamo agora os monitores de cada Elemento para levarem seus respectivos outbounds para seus novos aposentos.”

Homens e mulheres surgem em cordas como se aquilo fosse um espetáculo, descem fazendo algumas acrobacias patéticas, percebo quem são os de fogo, pois sãos os que utilizam roupas pretas com detalhes em laranja, um tom quase vermelho. Há dois homens e uma mulher. Um dos homens tem cabelo loiro enquanto o outro escuro. Os dois possuem um físico definido, e a mulher é forte como eles. Apresenta, até, músculos, assim como uma barriga definida. Ela tem o cabelo negro, uma tatuagem saindo de seu pescoço e pegando um lado de seu rosto, é uma chama. O homem loiro possui duas cicatrizes, de queimadura, em seus braços.

Eles terminam sua apresentação lançando uma bola de fogo, que dura cinco segundos e some. Só consigo prestar atenção neles. Eu sei que eu escolhi, mesmo que sem querer, o certo. Sorrio.

Há aplausos mórbidos. Penso em como os elementares de Água são chatos, rabugentos. Meu sonho é ser como aqueles ali em cima do palco.

— Elementares Fogo! — Grita a menina morena quando os aplausos cessam. — Por aqui!

— Elementares Terra! Por aqui! — Grita um rapaz negro do outro canto da sala.

— Elementares Ar! — Grita outro.

Paro de prestar atenção e me levanto para seguir a moça morena. Alaric segura o meu braço. Não ouso tirar a mão, ele me passa segurança. Olho para o lado, é a primeira vez que vejo Christina e me surpreendo, pois ela segue o grupo de Hipnose. Jamais imaginei que ela quisesse este, e ontem... Ela parecia decidida a ir para Água, sem dúvidas alguma coisa aconteceu. Penso em ir correndo a ela perguntar. Penso, mas só penso mesmo.

Quando todos nós nos reunimos com nosso elemento, e os convidados para assistir o Dia da Escolha saem do auditório, as paredes do salão abaixam, como se tivessem sendo sugados para dentro do chão, revelando vários elevadores, cada elevador com um símbolo, o símbolo de cada elemento. Três pertenciam ao fogo, já que eles eram pretos e possuíam, na porta, o símbolo do fogo.

— Dividirei vocês em grupos! — Diz o loiro. — Um eu, Lucca, serei o monitor, outro Fabiana será a monitora e o outro Carl será o monitor. Entendido?

Ninguém responde.

— Entendido? — Ele fala com mais intensidade, girando as órbitas dos seus olhos negros.

— Entendido! — Grito, como se fosse a coisa mais normal do mundo responder a pergunta, e deveria ser, porém todos me encaram.

Lucca me encara de maneira... Não sei explicar como é o jeito que ele me encara, só sei que sinto a necessidade fugir meus olhos dos deles, encarando então o chão.

— Ora, ora, parece que finalmente encontrei alguém que não é antiquada nesse elemento. Como se chama?

Fico calada, não sei se respondo. Eu estou tremendo de medo, eu estou com medo de dizer alguma burrice, de fazer alguma chatice, de ser antiquada, como todos aqui.

— Cassie. — Respondo encarando-o firmemente. Vejo em teus olhos uma chama, bem lá no fundo, desejo aquela chama como nunca desejei algo em minha vida. Desejo ser o Fogo como ele é, como Wanessa era.

— Cassie... — Ele fala em um tom baixo. Todos me encaram. — Eu quero você para meu grupo. — Ele fala sorrindo.

Então eles começam a decidir quem vai para cada grupo. Ao todo somos doze outbounds do fogo. Eles dividem em quatro para cada grupo, meu grupo fica então no final, Peter Korian, Albert Félix, eu e Carlos Severo. Meu irmão não ficou no meu grupo. Percebo que sou a única menina aqui, nesse grupo, e ainda percebo que Peter, Albert e Carlos são os mais robustos de todos os noves outbounds. Percebo que sou a mais fraca dentre todos eles, também. Rezo para que não tenhamos que lutar, só esse pensamento já me afeta. Alaric olha para mim do grupo de Fabiana. Ele dá um tchauzinho em tentativa de me dar forças ou sei lá fazer o que, sei que faço o mesmo a ele. Entramos no elevador. No lugar que deveria ter botões, vejo um espaço com um formato de uma mão, imagino que deve ser um tipo de reconhecedor de digitais.

— A primeira vez, sempre é a pior, não vomitem no meu sapato. — Lucca diz, olhando principalmente, para mim. Não entendo o porquê, isso é só um elevador, penso eu.

Sinto vontade de gritar quando o elevador finalmente se mexe. Ele não se mexe, ele cai. O elevador está submerso, estamos no oceano. Ele começa a correr em uma velocidade tão grande que não sei a que posso comparar. Trens é algo precário perto disso aqui. Minha barriga está revirando, percebo que todos estão tão deslocados quanto eu, exceto, é claro, Lucca.

— Segura seu estômago ai. — Lucca diz rindo.

Não vejo graça. Sinto vontade de socar seu estômago, mas não mexo sequer um músculo, por medo de vomitar ou até mesmo de desmaiar. Meu coração palpita. Não estou com medo. Tento convencer a mim mesma.

— E vocês com essa musculatura toda estão tremendo? — Ele encara Albert, Peter e Carlos. Acho ridículo esse comentário. — Espero que vocês não sejam assim na primeira luta de vocês.

Meu coração sai pela boca. Quero gritar. A gente vai ter que lutar? Olho para o lado e vejo uma espécie de peixe, um gigante. Talvez se esse elevador não fosse tão rápido eu poderia apreciar esse lugar, talvez ele fosse até romântico, caso eu tivesse alguém. Mas eu não ligo muito para romance, uma particularidade minha. O elevador sobe, finalmente, e estamos já em outro continente, estamos finalmente na sede do elemento Fogo. Sorrio.

— O.K. — Começa a dizer Lucca. — Chegamos.

Isso é óbvio, mas não digo nada, tenho medo de levar uma cortada daquelas bem feias, afinal, Lucca parece ser do tipo que humilha alguém sempre que pode.

Saímos de dentro do elevador. Meu coração palpita. Estamos dentro de uma espécie de rocha. Quero perguntar onde estamos, até que meu querido irmão faz isso por mim, assim que o elevador dele pousa em terra viva é claro.

— Onde estamos? — Ele pergunta. A garota ao lado dele sorri.

— Sejam bem-vindos a Central do Fogo. — Reparo que ela surge de trás de uma pedra. Tem os cabelos gigantes, loiros. Expressão maquiavélica. Usa maquiagens do tipo muito forte, um batom quase preto. Seus olhos estão maquiados também de pretos. Ela é bela.

Ela caminha sutilmente entre o chão todo de pedra. Acho tudo lindo nesse lugar. Mas eu estou suando e odeio suor. Pergunto-me como ela consegue andar com saltos tão altos no meio dessas rochas.

— Vocês estão em um... — Ela encara Lucca — Como é mesmo o nome?

Ele a encara.

— Vulcão. — Ouço a voz dele, rouca.

— Isso!

Minha expressão de quem gostava do lugar some. Eu estou tremendo. Quero gritar. Quero fugir. Preciso de um copo de água. Se eu já tinha medo de morrer afogada em água de sal, imagine em lava.

— Meu nome é Marilyn Kaer. — Ela ri. — Sou a Presidente da Corporação dos Elementares do Fogo.

É impossível que exista uma presidenta assim. Minha mente um tanto vaga pensa sem que eu ao menos mande.

— Bom, só vim mesmo para dar um hello e desejar a vocês uma ótima estádia, e um ótimo desempenho. — Ela para de falar coçando a garganta. — Deixo então vocês com meus caros e eficientes monitores. — Ela ri e olha para Lucca. — Só não mate a garotinha com esses grandalhões.

Ele ri juntamente aos outros monitores. Queria saber o motivo da piada, ou do que os levou a rir. Eu não tenho medo de ninguém do meu grupo. Nem de Peter, nem de Albert e nem de Carlos. Se eu tiver que lutar, tenho certeza que não serei a única a apanhar, porque bater eu também sei.

— Então... — Lucca olha para Fabiana — Vamos fazer o tour?

Ela faz um sinal na cabeça em concordância.

Vejo o olhar mortífero de Lucca encarando-nos, esse olhar me lembra um de uma cobra, mas, sem sombras de dúvidas, o dele é mais intenso. Sinto um arrepio na espinha como jamais senti antes quando ele me encara. Olho para o chão em tentativa de encontrar alguma coisa para me prender.

— PRESTEM ATENÇÃO! — Ele grita, mesmo que não haja necessidade, já que todos estamos quietos. Ele coça a garganta. — Durante o tour que faremos não quero nenhuma piadinha desagradável vindo de vocês. Devo dizer agora, que Fabiana e Carl prepararão a sala de treinamento. Nosso primeiro treinamento ocorrerá em três horas. E sim, trabalharemos duro por alguns motivos. O primeiro motivo é que vocês são fracos perto dos Elementares de Fogo que aqui estão.— Ele para um segundo para pensar — O segundo motivo é que vocês não tiveram nem sequer o treinamento que todos aqui tiveram, que vocês não fazem ideia das coisas que vocês verão e farão, e o terceiro e último motivo os fracos morrem aqui.

Todos se calam. Vejo Carl e Fabiana saírem por entre um túnel, pelo menos, imagino que seja um túnel.

Nós nos juntamos e formamos um único grupo. Ficamos então doze pessoas seguindo um garoto um pouco mais velho que nós. Sendo direta, ele aparenta ter vinte anos. Começamos a andar e o calor vai ficando maior a cada passo. Estou suando e vejo que todos também estão. Os óculos de Alaric, inclusive, escorregam de tão molhado que está seu rosto.

Andamos vagarosamente, não posso deixar de apreciar as rochas avermelhadas que vejo. Elas emanam um brilho alaranjado, em cada corredor há pequenas quantidades dessa rocha, há também as mais escuras, ou melhor, as comuns, que são exatamente as que escurecem o lugar. Estamos circulando meio que em um labirinto, entramos em várias buracos e não chegamos a lugar algum. Até que paramos.

— Esse aqui é o lugar mais respeitado de todo Elo, o lugar mais apreciado. Estou falando do vulcão em si. Esse vulcão tem como nome Etna. Segundo os livros da História de Elo, aqui se chamava Itália em alguns tempos atrás, quando os humanos dominavam esse lugar. Etna foi um vulcão ativo até três mil quatrocentos e noventa e oito, até que os elementares aprenderam a controlar essa atividade dele, foi quando formamos nossa nação. — Ele diz numa voz sútil. — Enfim, criamos aqui o Centro de Treinamento para Elementares Iniciantes, uma instituição de Ensino, que tem como último teste o “nadar na lava do vulcão”.

Olho para ele chocada. Eu me queimaria toda se nadasse nessa lava, ou melhor, eu morreria. Estou simplesmente horrorizada.

Ele percebe nosso terror, eu não sou a única amedrontada, na realidade, todos estamos.

Ele nos encara, com um olhar desprezível, gostaria de conseguir invadir sua mente para saber exatamente o que ele está pensando, algo ruim sobre nós, isso não tenho dúvidas.

Lucca segue a diante, entramos por um buraco circular que parece um cubículo, saímos então e meu coração palpita.

— Andem para o lado! — Ele grita.

Não entendo o que ele diz, apesar de estar logo atrás dele. Dou um passo para frente, dois... Três. Caio enquanto sinto um ar quente chegar cada vez mais próximo de mim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e por favor, reviews!