Impávida. escrita por Lucas Piascentini


Capítulo 2
Capítulo 2 — Mal Elaborada.


Notas iniciais do capítulo

Fui rápido para postar porque eu estava meio estressado e escrevi bastante. A escrita me acalma, não sei se o próximo capítulo será divulgado tão rápido. Tenho que fazer revisões etc.



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Anuncio minha decisão, mesmo que de última hora.”


Fico calada, minha mente dói quando Wanessa diz o que diz. As palavras soam em minha mente, como uma bala de um tiro de um bandido. Pergunto-me se serei a próxima. Não desejo pensar mais nisso. Tento pensar em uma maneira óbvia pelo qual aquela pessoa, a pessoa que era que nem eu, que teve duas opções no Veridícontest, morreu. Desejo ser esperta o bastante para descobrir. Mas sei que não sou. Saio da sala com a mente latejando. Uma enfermeira encosta-se a meus ombros, a fim de me levar a ala hospitalar, pois devo tomar a injeção. A injeção... Meu coração palpita só de pensar nela.




Desde pequena temo injeções. Desde pequena fui sujeita a vários tipos dela. Seja contra insetos medonhos ou prevenções de doenças, como câncer. E toda vez que sou obrigada a tomá-las, desmaio. Não desejo que isso ocorra. O desmaio é a fraqueza vital de alguém, e não desejo ser fraca. Jamais desejaria. Tampouco desejo agora.


Sigo a enfermeira. Ela tem feições gentis, assim como a voz. Lembra-me a gentileza comum entre os moradores das Nações Elementares do Sul, coisa que eu não sou, gentil.

Quando chegamos a ala hospital, ela manda eu sentar. Faço-o. Ela pega uma injeção com uma longa agulha. Tremo ao ver. Aquilo deve ter cerca de vinte centímetros ou mais.

— Abaixe a cabeça. — Ela ordena.

Faço sem objeções. Sinto a agulha perfurar meu corpo. Sinto como se minha mente quisesse ceder ao objetivo dela. Apagar minha memória recente. Seria bom não me lembrar do medo que sinto agora. Do medo da minha morte. Seria bom saber que tive dois resultados apenas e que não há nenhuma consequência ruim sobre isso. Seria bom fugir de tudo que ocorreu. Seria ótimo na verdade. Mesmo assim resisto. Sei que meu cérebro está guerreando nesse exato momento contra esse vírus. Sei que está havendo uma guerra dentro de mim.

Dói. Sinto um arder em meu corpo. Mas permaneço imóvel calada, esperando meus anticorpos combaterem esse vírus. Não, não é um vírus, e se é, é do pior tipo. Não faço a mínima ideia do que são feitos esses remédios criados pelos elementares. Tampouco desejo saber.

Fico estável. Gotas de suor caem da minha testa. Sorrio da maneira mais sincera que consigo.

— Está tudo bem? — Pergunta-me a enfermeira.

— Sim. — Respondo suavemente. — Quais são os efeitos dessa injeção?

— Bom, em minutos você esquecerá o que você vivenciou, porém saberá seu resultado. Quando você atingir a idade de vinte e cinco anos, sua mente irá se recordar desse teste.

Ninguém jamais havia me dito sobre isso. Não sabia que aos vinte e cinco anos voltaria a lembrar do que vi. Então por que essa injeção? Não sou capaz de acreditar que o objetivo central desta injeção é fazer com que nós nos esquecemos o que vimos. É óbvio que não é. Penso em perguntar a Luke quando chegar em casa, já que ele trabalha no Departamento de Decisões Políticas. Talvez ele saiba. Lembro-me então que certa vez, quando eu estava no balanço sendo empurrada pela minha mãe, em um dos parques centrais da cidade, quando perguntei para ela porque não vivemos em paz junto com os humanos, ela sussurrou em meu ouvido:

“— Não sejas tão curiosa menina, as vezes, é melhor não sabermos os motivos de algumas coisas, e se soubermos, talvez, possamos até virarmos pó em mãos da sociedade.”

Só agora essas palavras me fazem sentido.



Saio da sala com a cabeça nas nuvens, caminho até o elevador, que está vazio. Preciso de ar. Minha cabeça lateja. Dói pensar. Não quero me recordar de nada. Aperto o botão de descer.

“Elevador descendo”.



Diz a voz robótica do elevador, as vezes me esqueço que os elevadores tem essa voz tão falsa quanto meu sorriso dado a enfermeira, espero que ela tenha caído.

“Térreo”.

Anuncia o elevador.

Saio ao som da voz do elevador:

“Aperte um botão para subir”.

Olho séria para o nada. Por quê estou tão séria? Pergunto a mim mesma. Ninguém me responde. Eu não esqueci do que houve no Veridícontest, percebo. Lembro-me da voz gélida e rouca sussurrando em meu ouvido que deveria mostrar a Wanessa minha dominação espectral. Encosto a mão no meu bolso. Sinto um papel. O símbolo do Fogo penso eu.

Nasci no lugar errado. Digo a mim mesma.

Sim, você nasceu”

Meus pensamentos respondem sem eu ao menos comandá-los. Estou dopada, sinto. Preciso ir para casa.

Caminho por entre os grandes prédios da minha cidade. Garoa fraco. Imagino que essa cidade poderia ser chamada de “Cidade da Garoa”, toda vez que eu estou nela, está garoando. Ando uns vinte minutos, minha cabeça está longe... Muito longe. Tento me lembrar o que eu fiz na conjuração espectral. Sou incapaz, quero dizer, lembro-me da sala, lembro-me de atirando algo sobre os bonecos, mas não lembro o que era esse algo. Pergunto-me como posso ter tido uma nota tão boa quando nem sei o que eu fiz. Sei que essa é uma das muitas perguntas que eu tenho em minha mente e que provavelmente não encontrarei a resposta, se é que estarei viva para procurá-las.

Sento-me em um banco, em uma das praças. Vejo uma placa jogada entre os jardins, leio: “Praça da Sé”. Imagino como deveria ser esse lugar quando havia humanos aqui. Quando só havia humanos. Sinto um pouco de dó deles. Gostaria de saber como seria minha vida se por acaso uma outra espécie de ser chegasse à Terra para tentar dominá-la. Deito minha cabeça no banco. Reflito. Desejo alguma coisa para minha cabeça parar de doer. A injeção já deveria ter tido seu efeito, já deveria ter apagado as minhas lembranças recentes. Mas elas ainda continuam na minha cabeça. Será que minha resistência, no momento da aplicação, fez com que eu criasse anticorpos para detê-la? Acho que não, meu corpo não é tão rápido, anticorpos não agem em uma velocidade como a da luz.

Fecho meus olhos tapando a luz do sol da minha visão. Sinto gotículas de água caírem sobre meu rosto. Elas estão geladas, minha pele dói quando elas caem. Uma dor quase tão prazerosa quanto a da minha unha sangrando. Abro os olhos. Sento-me.

Observo uma catedral semidestruída, acredito que a tempos atrás ela deveria trazer vários visitantes. Tento imaginar o porquê dos elementares não terem restaurado esta catedral. Aproximo-me dela. Branca. Olho um pouco além. Percebo o quanto esse lugar é bonito. As árvores que enfeitam. A catedral no centro. É tudo belo. Então, por quê os elementares não a restauraram? Sei que não obterei respostas, mas a pergunta machuca minha mente. Meu relógio de pulso apita. Deveria estar em casa agora. Ponho o capuz da minha blusa. Ando vagarosamente, olhando por onde piso, até minha casa. Sinto-me arruinada. Sinto-me indecisa. Preciso achar respostas para minhas perguntas. Preciso saber se eu morrerei por ter habilidade de conjurar dois elementos tão bem. Preciso saber que elemento seguirei.



Chego à minha casa juntamente a meu irmão. Ele me encara de maneira perturbadora.

— E então? — Pergunto.



— Não sei se devo falar — diz ele. — Mas e você?

— Não sei se devo falar. — Digo, revidando.

Ele morde as bochechas como costumo fazer. Ajusta os óculos quadrados, passa as mãos nos cabelos.

— Fogo. — Fala ele finalmente.

Fico indecisa do que dizer a ele, não sei qual vou decidir ainda. Não faço a mínima ideia do que fazer. Então digo tentando não transparecer que pensei demais para responder:

— Fogo.

Ele me encara.

— Acho melhor não contarmos a mamãe. — Ele diz. — Nem se ela perguntar.

Olho séria para ele.

— Ela não vai perguntar. — Digo.

Ele não responde, sabe que estou certa. Só agora reparo na cor da minha casa. Azul quase branco. Para mim, essa cor sempre foi branca. Acho que nunca quis realmente vê-la. Entramos sutilmente em casa. Minha mãe, como sempre, está na cozinha fazendo o jantar, lembro-me que hoje é o meu dia de limpar a sujeira. A porta abre minutos depois que chego. Luke.

— Qual de vocês foi? — Grita ele enraivecido. Não me dou ao trabalho de responder, sei muito bem do que fala e fui eu. Eu que rasguei atrás a blusa dele. Eu o odeio e quero que ele morra e não ligo se eu tenha que fazer ele passar “vergonha” em seu trabalho.

Minha mãe, ao ouvir o som da voz dele, para de fazer o que está fazendo e parte em direção a ele, beija-o suavemente, fazendo massagens em seu ombro. Discordo totalmente de sua atitude, mas não digo nada. Estou sentada no sofá junto a meu irmão. Ele está deitado sobre meus seios, parece desiludido. Espero que não seja por causa do resultado do teste, mas sei que foi, eu sempre soube que seu sonho era o Ar e não o Fogo e sinto dó por isso. Penso então em perguntar a ele o que ocorreu na sala, porque não foi escolhido para a de ar. Sei que ele conjura o ar como ninguém... Penso a respeito disso e falo, mesmo que sem querer:

— Mas o que aconteceu na sala?

Ele se levanta de meus seios, me encara com aquelas órbitas obscuras. Alaric é bonito, eu sei. Se não fossemos irmãos até poderia querer namorá-lo. Não... Ele é nojento.

— Você tá brincando comigo? Obviamente eu não me lembro.

Esqueço-me totalmente da injeção. Só a mim ela não afetou. Eu me lembro de tudo o que houve. Lembro-me como deveria me lembrar, de cada cena, de cada atitude minha. Até da voz rouca sussurrando em meu ouvido. Ele me encara.

— Espera. — Ele morde as bochechas. — Você se lembra?

Fico calada. Meu coração bate mais forte. Não devo responder. Calo-me e ameaço levantar.

— O que aconteceu lá? O que tivemos que fazer? — Ele fala sussurrando e me prendendo pelos braços. Mordo os lábios.

— Tivemos que mostrar nossas habilidades em cada elemento. — Digo baixo.

Ele me encara, perplexo. Não deveria contar a ele. Observo que Luke estava prestando atenção no que eu dizia. Não. Espero que ele não tenha entendido o que eu disse. Não confio nele.

— O que você disse?

A voz grossa de Luke entope meus ouvidos. Encaro-o.

— Nada.

Saio da sala em direção ao meu quarto, correndo, não quero que ninguém me segure dessa vez. Não vou responder perguntas. Quando chego ao meu quarto me jogo na cama. Olho para o teto, vendo as estrelas que colei quando era pequena. Eu não suporto olhá-las. Quero morrer. Seguro as lágrimas que ameaçam a escorrer do meu rosto. Eu me odeio. Não deveria ter falado. Luke trabalha para a política e não duvido que foi nossa sociedade que matou aquela pessoa que Wanessa disse. Eu sei que foi. E se foi... Eles vão me matar. Além do mais, não sei qual seria a advertência que tomaria se descobrissem o que eu fiz. Se descobrissem que lutei contra o vírus.

Fico deitada por horas, sem ao menos me movimentar, tento amenizar meus pensamentos, mas é como se fosse um turbilhão de ideias, de inseguranças, de medos.

Alguém bate na porta interrompendo meus medos. Desperto, praticamente, de um outro mundo.

— Não enche. — Digo mal-humorada enxugando minhas lágrimas.

— Não é o Luke. — Não sou capaz de discernir a voz. — Sou eu, Alaric.

Levanto rapidamente, suspirando, e destranco a porta. Ele entra, como se fosse algo não permitido.

— O que você quer? — Falo.

— Queria ver como você estava... — Ele fala.

Dou um sorriso torto.

— Estou bem. — Minto.

— E a respeito da injeção — Sabia que ele não queria ver se eu estava bem. — Ele não ouviu nada.

Talvez queria sim, mas é duvidoso quando a preocupação sai de seu irmão.

— E se tivesse ouvido... — Ele para um minuto pensando se deve dizer. — Eu o mataria.

Rio.

— Você? — Falo em um tom debochante. Ele ri e sai do meu quarto, me deixando sozinha.

Só agora percebo que meu rosto está queimando. Talvez tenha alguma coisa haver com o meu choro. Espero que meus olhos não estejam vermelhos por causa do meu choro.

Caminho até a cama, sinto-me em ordem pela primeira vez no dia. Não tenho tempo para pensar em nada, estou exausta eu sei, durmo como se não fizesse isto há vinte dias.



Desperto ao som do meu despertador. São nove horas da manhã. Minha mente dói, continua doendo na verdade. Talvez eu deva tomar um comprimido, mas não quero. Sou forte o bastante pra aguentar uma dor como esta. Parto em direção ao banheiro, sou rápida, para que meu irmão não chegue primeiro do que eu. Sinto vontade de pentear meu cabelo. Assim o faço.

Escovo meus dentes. Olho-me no espelho. A espinha sumiu. Sorrio. Sinto-me bela. Talvez eu não seja tão feia quanto sempre pensei que fosse, meu irmão tinha razão, eu deveria pentear meu cabelo mais vezes.



Quando saio do banheiro, Alaric está semiacordado, em pé, esperando que eu saia do banheiro.

— Bom dia. — Digo, mesmo sabendo que ele não iria me responder.

É incrível como acordei de bom humor. Sigo em direção ao meu quarto, olho pela janela. Não está sol, mas não está chovendo, como sempre, está garoando. Ponho uma blusa fina, porém de manga longa, uma calça jeans e um tênis. Olho-me no espelho sentindo falta do meu cabelo bagunçado, mas quem realmente liga? Parto em direção as escadas da minha casa para a cozinha, sento-me, e como sempre, como uma torrada com café puro.

Alaric desce as escadas logo depois de mim. Ele está tenso. Eu também deveria estar, penso eu. Hoje é o dia da nossa escolha e eu não sei qual será a minha. Fogo ou Psico Espectral? Tento pensar e então, todos os problemas dos quais gostaria de fugir vem à tona.

— Penteou o cabelo hoje. — Comenta Alaric. — Está deslumbrante.

Tento sorrir, mas o sorriso não sai, na verdade, nem sei ao bem se prestei realmente atenção no que Alaric disse, minha mente está longe, estou pensando na minha escolha. Eu não estou preparada. Acho injusto eu tão cedo ter que fazer uma escolha pro resto da minha vida, quero dizer, e se de repente eu perceber que aquilo, o que eu escolhi, não é o que realmente eu quero? Penso em como é terrível essa ideia e tento esquecê-la. Engulo o café. Ele está tão amargo quanto meus pensamentos. Luke desce as escadas correndo, eu sei que ele que dará os primeiros minutos da Palestra Elementar. Fico trêmula só de pensar que ele será a última pessoa que verei da minha família antes de partir para outro continente. Até que me lembro de Alaric, ele estará lá.

— Estamos atrasados. — Anuncia Luke como senão tivéssemos relógio. Não me dou o trabalho de dizer nada.

Ele despeja um pouco do café em uma xícara e toma-o puro. Seguimos ele até o carro. Sento-me atrás, como sempre, e meu irmão na frente. Sinto-me mal. Esqueci de dar adeus a minha mãe. Amo-a, mas odeio-o. Ele começa a dirigir. Estamos indo bem rápido, e sorrio, gosto de adrenalina. Minha mente fica alguns minutos vaga, até que me lembro que não decidi qual eu vou escolher. Tenho vontade de gritar, mas sei que não posso. Quero voltar para minha cama. Sinto ódio de mim mesma por não ter decidido ontem em vez de dormir. Eu não tenho tempo e sei disso.

Saio do carro primeiro que todos. Entro rapidamente, sumindo na multidão que está ali, em frente ao prédio de ontem. O nome desse prédio é Elem, aqui é onde todas decisões do senado, da “democracia” ocorrem. Eles acreditam que isto aqui, onde eu estou sendo obrigado a escolher algo para o resto da minha vida é democracia. Eles acreditam que isso é também liberdade. Não acho isso, pois essa “liberdade” é uma pré escolhida. Opções, seria o termo correto.

Entro dentro do prédio, o mesmo de ontem, o todo de vidro. Hoje não há ninguém entregando tickets, assim, não perco meu tempo. Parto em direção ao auditório. Há centenas de pessoas no hall, não sei como todas caberão em um auditório. Entro no elevador rapidamente, aperto o botão do décimo andar. O elevador apita e avisa que estamos subindo. Bato minhas pernas desesperadamente. Mordo meus lábios, eles sangram. O gosto de ferrugem invade minha boca. Gosto dele. Gosto também da dor que meus dentes causam em meus lábios.

O elevador anuncia que chegamos a nosso destino. Saio em disparada. Quero pegar um lugar bom. Não sei de Christina, não sei de meu irmão. Sei de mim. Sempre fui meio egoísta, mas essa é uma característica própria que não desejo mudar, o egoísmo leva-me a não sofrer tanto com pessoas.

Sento-me em um dos melhores lugares daquela sala. Fico muda, esperando ansiosamente para começarem a chamarem os nomes. O meu talvez esteja um pouco longe, mas... Serei uma hora ou outra chamada, não é?

A sala começa a se encher. Vejo pessoas do tipo mais diversos entrarem, a maioria, que eu jamais havia visto. Elas entram e se sentam, algumas conversam, outras ficam tão pálidas e caladas e frias e amedrontadas e perdidas e... São tantas coisas que escreveria mais de quinze folhas para escrever todos os sentimentos que sinto e que, sei, que outras pessoas também sentem.

Penso no Verídicontest, ainda não sei ao certo o que vou escolher. Penso em como conjurei bem o fogo... Mas recordo-me que eu estava com medo e só por isso consegui conjurá-lo. Abro minhas mãos e tento conjurar o fogo novamente, faíscas surgem. Sim, eu sou capaz de dominar esse elemento. Penso então, como também dominei a força Psico Espectral bem, mesmo não sabendo como. Tento dominá-la, não consigo, mas sei que posso. Faço um pouco mais de força, imagino espectros circulando por entre o salão e no mesmo instante, minha mão cria uma pequena bola preta com espécies de raios roxos a circulando. Sorrio. Acho magnífico aquilo. Decido finalmente qual escolherei. Psico Espectral.

A palestra tem inicio, reparo bem que há pessoas de todos os tipos ali, de todas as feições, e reparo que há pessoas em pé por falta de cadeira. Fico feliz de ter sido rápida e pego um ótimo lugar. Meu padrasto diz coisas sobre as nações, presto atenção apenas na parte sobre o lema de cada nação.

“...A água tem como lema: “Cura através de todos os meios, ordem a partir do meio.” e é por isso que a água é a que possui a sede das decisões políticas, além da maioria dos jovens que saem daqui partir para a medicina, assim, criamos também os melhores médicos.” — Ele tosse duas vezes e torna a dizer — “Além de termos também a terra, a terra tem como lema “Vida entre os cacos, vida entre as dores, vida a partir do vago.” isto é, vida acima de tudo. A terra são os donos dos maiores produtos que temos, cultivadores natos. O ar tem como lema “Respirar vento, assoprar sabedoria, sentir música, dançar cheiro.” assim, esses são só criadores dos artistas. Mas chega de papo furado.” — Ele não termina de dizer sobre os outros elementos, fico com ódio. — Anunciem os formandos!

Effie Tris surge do meio do palco, junto a fumaças cor-de-rosa.

Patético.

Effie está usando um batom cor roxa, um roxo brilhante, uma lente verde, uma blusa branca, um casaco de pele tingido, também da cor roxa, e uma saia de um lilás um pouco claro para os padrões de beleza dela. Seus sapatos são lilás com detalhes dourados e seus cabelos estão em uma espécie de coque ridículo.

— Bom dia formandos, — diz ela — Assim que eu chamar seu nome, vocês devem subir ao palco, e sem dizer nada, apenas olhar para plateia e conjurar o elemento que vocês desejaram, fui clara? — Percebo que as três fileiras da frente estão vazias. — Mas, primeiramente anunciarei seus nomes, vocês caminharão até aqui a frente e sentarão da esquerda para a direita — Ela olha para mim diretamente — Devo completar que vocês devem subir pelo lado direito. — Ela dá um gritinho com o som da primeira letra do alfabeto — Já ia me esquecendo, os nomes serão chamados aos palcos por ordem alfabética crescente a partir dos sobrenomes.

Effie começa a anunciar os nomes, a pessoa do meio do auditório levanta e parte em direção as cadeiras. Sou chamada logo após “Alaric Kingsley”, meu irmão, sento ao lado dele, ouço-a chamando um garoto com o nome de Peter Korian, ele senta-se ao meu lado. Ele sorri para mim antes disso, não retribuo o sorriso. Entrelaço meus dedos aos de meu irmão. Ele olha para mim, mas não diz nada. Tampouco eu.

Após todos nós nos sentarmos, Effie começa a chamar nome por nome, a primeira pessoa possui o nome de “Carlos Albert” ele escolhe a água. Todos batem palma por ele ser um inboun. A primeira pessoa a se tornar um outbound² é Beatrice Buttergäin, ela escolhe o Ar, como o esperado, ninguém bate palma quando ela invoca o ar no palco sobre a palma de sua mão.

Quando chega nos sobrenomes com a letra “K”, de quarenta e cinco pessoas, quinze se tornaram outbounds. Três: Fogo, quatro: Terra, dois: Ar, três: Hipnose, três: Psico Espectral, totalizando quinze outbound. Finalmente é a vez de meu irmão. Vagarosamente ele anda até o lado direito do palco. Estamos quase na ponta do lado esquerdo, na segunda fileira. Cada fileira cabe quarenta pessoas e começam da esquerda para direita, isto é, somos os oitavos e nonos da segunda fileira. Ele finalmente sobe as escadas, estende a mão, sem dizer uma palavra como o esperado — devo dizer que parece simples só o observando, mas tenho ao menos ideia o quão conturbador deve estar o interior dele. Uma chama em formato de furacão surge em sua mão. Sorrio, apesar de ninguém bater palma. Quase me esqueço que sou a próxima se não fosse pela voz de Effie no microfone anunciando meu nome. Minha perna treme. Mordo minhas bochechas soltando um pouco de sangue. Ressalto que minha bochecha está toda mordida, e dói mais do que deveria. Ando o mais rápido que posso, mas com medo de tropeçar e cair no salão. O auditório está escuro, não tinha reparado antes, e uma luz me persegue, como se eu fosse um pop-star ou algo do gênero. Subo os degraus. Posiciono-me em frente o microfone, penso em dizer como eu odeio minha sociedade, como eu estou com medo, como eu estou confusa. Mas já estou decidida. Serei uma psico espectral. Estico minhas mãos para frente, emano energia psico espectral, mas quando simplesmente vejo, há uma chama roxeada nascendo em minha mão, tremo com medo de que isso seja um sinal de dupla dominação, fecho meus olhos e ordeno fogo em voz baixa. Quando vejo, o chão do auditório está em chamas, grito, e em seguida fecho minhas mãos, repudiando a destruição do lugar. Todos me olham como se eu não soubesse o que estou fazendo, talvez não saiba mesmo. Sinto-me no dever de dizer.

— Fogo. — Anuncio minha decisão, mesmo que de última hora.



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Notas finais do capítulo

¹Inbound - Elementares que continuam com seu elemento de nascença.
²Outbound - Elementares cujo saem de seu elemento de nascença.

Espero que tenham gostado e que não tenho nem um erro gramatical ou de digitação. Reli duas vezes e não encontrei nenhum, se tiver, por favor, avise-me! Deixem seus reviews!