Depois de ser “transformada” no Oráculo e conversar um pouco com Percy, Quíron me levou até meu novo quarto na Casa Grande, para que eu pudesse descansar um pouco. Ele estava certo. Nunca estive tão cansada na minha vida! Porém não conseguia dormir. Eu não parava de pensar no que eu tinha acabado de fazer, e em como minha vida tinha dado voltas ao passar dos anos. Até antes de conhecer Percy, nunca havia imaginado que estaria aqui nesse momento. Mas agora eu me sinto feliz por ter feito essa escolha. Era o meu destino, e eu sabia disso.

Enquanto eu estava perdida em meus pensamentos, escutei alguém bater na porta.

- Entra! – gritei, para que pudessem ouvir do outro lado da porta. Eu imaginava que fosse Quíron ou até Apolo, mas, para minha surpresa, não era nenhum dos dois.

- Oi... – disse Nico, entrando meio tímido.

- Ah, oi, Nico! – respondi me sentando. Lembro que quando o conheci, Percy estava pensando que ele queria matá-lo para fazer uma troca de almas e trazer Bianca de volta, sua falecida irmã. Admito que naquela época fiquei com um pouco de medo daquele garoto, mas depois passei a considerá-lo como um amigo, assim como Percy. Eu sentia algo forte por Percy, mas Nico... eu não sei! Eu o admirava de alguma maneira.

- Você está bem? – perguntou, sentando na beirada da cama.

- Um pouco cansada, mas sim, estou bem!

- Eu fiquei realmente preocupado. Sabe... Você estava realmente morrendo.

- Tenho que admitir que também fiquei um pouco assustada...

- Ficou? – ele pareceu admirado – Quer dizer, você parecia tão natural lá...

- Bem, eu estava, mas não conseguia negar uma pontada de medo que eu sentia naquele momento. Mas eu sabia que era o meu destino, e que se eu morresse, iria morrer feliz por ter pelo menos tentado.

Percebi que ele olhou para o chão meio tristonho.

- O que houve? – quis saber

- Não é nada... é só...

- Bianca?

Seus olhos se arregalaram. Muito bem, Rachel. Faça pobres garotos que perderam a irmã se lembrarem disso.

- Ah, Nico... Eu... Eu sinto muito, mesmo.

- Tudo bem. Já faz dois anos, mas...

- Você sente muita falta dela?

- O quê?

- Bianca. Você sente falta dela?

Ele pareceu meio sem graça, mas assentiu com a cabeça.

- Muita.

Ficamos em um silêncio meio constrangedor, e, por um momento, tive uma imensa vontade de abraçá-lo, de dizer que entendia sua situação. Mas eu não entendia. Nunca perdi nenhum membro da minha família. Nico havia perdido a mãe quando era bem pequeno, por causa do último Oráculo de Delfos. Passou cinquenta anos preso em um cassino, onde sua única companhia era sua irmã. Seu pai, Hades, o odiava. E quando ele finalmente encontra “seu lugar”, perde sua irmã para sempre. Devo ter feito uma cara meio triste, misturada com pena, pois ele logo percebeu.

- Não precisa ficar assim. Eu já superei, Rachel.

- Eu sei, mas... – suspirei – tudo bem. Vamos mudar de assunto, que é melhor.

De repente, ele começou a olhar nos meus olhos. Eu fiz o mesmo. Seus olhos eram negros e tristes, mas havia algo que me fazia admirá-los. Eu queria que ficássemos presos naquele momento para sempre. Percebi que o que eu sentia por ele, era algo muito, muito especial, mais do que com Percy.

- Nico... eu... eu não posso. Acabei de me tornar o oráculo e...

- Eu sei... Eu entendo. Mas, Rachel. Eu só queria que você soubesse que... desde que eu te conheci, mesmo sendo só de vista, senti algo especial por você. Mas acho que você não percebeu. Você só ficava dando valor para o Percy, e eu aqui, tentando ser visto.

Meus olhos começaram a se encher de lágrimas. Ele estava certo. Eu não o havia notado por muito tempo, só pouco tempo atrás fui perceber que sentia algo diferente por ele. Mas agora já era tarde demais.

Como eu fiquei calada, ele continuou:

- Mas agora você é o Oráculo... e não há nada que eu possa fazer contra isso.

Eu tentava fazer, mas as palavras simplesmente não saíam. Comecei a me odiar por não ter percebido o que sentia antes. Por ter pensado que era Percy que eu amava. Como pude ser tão burra?

- Não me leve a mal, Rach. A culpa não foi sua...

Mas a culpa era minha sim. A culpa era toda minha e de mais ninguém. Dizendo aquilo, ele saiu e fechou a porta, me deixando sozinha novamente.