Depois que saí do quarto de hóspedes da Casa Grande, decidi que não queria ficar mais nem um segundo naquele acampamento. Viajei nas sombras sem rumo, parei em vários lugares e fiquei pensando sobre a profecia. Portas da morte... Por favor, que isso não tenha nada a ver com meu pai! Pensei. Era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.

Repassei em minha cabeça todos os acontecimentos do dia. Não foram poucos. Pra começar nós havíamos participado (e vencido) da batalha contra Cronos, depois Rachel virou o Oráculo e depois tivemos aquela conversa. Comecei a repassar também cada mísero detalhe da conversa. Não sei nem o que eu estava pensando ao ir até o quarto dela! Eu havia ido escondido, se Quíron me visse lá, não sei o que teria acontecido. Mas sei que seria até melhor.

Um ano atrás eu havia conhecido Rachel. Não demorou para que ela conseguisse fazer com que eu me apaixonasse – e isso não é algo fácil para filhos de Hades -. E agora isso. Sim, eu sabia que ela era o Oráculo. Mas aquele momento... eu não pude evitar... Argh. Não gostei dessa sensação de “estar apaixonado”. Um garoto que convive com fantasma todos os dias tem seu coração disparado só ao ver uma garota? Não faz sentido! Repassei também o que ela falou sobre Bianca.

Ah, Bianca... como eu queria que você estivesse aqui nesse momento! Estremeci ao recordar que conhecera Rachel justamente na época que estava tentando trazer Bianca de volta. Foi aí que eu tive uma idéia. As portas da morte. A profecia dizia algo sobre isso, sobre as portas da morte, que poderiam estar abertas. E se...?

É isso! Se a profecia realmente já estiver se cumprindo, talvez as portas da morte estejam abertas. E talvez eu possa trazer Bianca de volta.

Eu costumava ver Bianca na maioria das vezes em que ia até o Mundo Inferior, poderia não ser difícil encontrá-la. Eu nem sabia se as portas da morte estavam realmente abertas, mas tinha que tentar. Bianca poderia me fazer esquecer tudo o que eu havia passado. E eu iria trazê-la de volta.

Não demorou para que eu me visse no Mundo Inferior. Nos últimos anos, desde que descobri ser filho de Hades, era praticamente só onde eu passava o tempo. Conversava com Bianca, com Beckendorf e outros mortos. Pode ser estranho para alguém ir “casualmente” conversar com alguns mortos, mas eu sou filho de Hades, tenho meus direitos!

Não encontrei Bianca no Elísios. Sabia que era loucura, mas ainda assim fui procurá-la nos Asfódelos. Ao invés disso, encontrei outra pessoa. Hazel Levesque, sentada embaixo de uma árvore sem folhas, olhando fixamente para o chão. Eu já havia conversado com seu fantasma antes, mas tudo o que eu sabia é que ela era filha de Plutão, a forma romana de Hades.

Lembrei do outro acampamento que eu descobri há um tempo. Acampamento Júpiter, na Nova Roma. Acho que Hazel merecia mais uma chance de viver. Assim como eu merecia mais uma chance de ter uma irmã. Caminhei até ela.

- Hazel? – chamei. Ela olhou para cima.

- Nico.

Sua voz era triste, como sempre. Estendi minha mão.

- Vamos.

- O quê? Para onde?

- As portas da morte estão abertas, Hazel. Você terá mais uma chance para viver.

Ela pareceu considerar a situação, mas olhou envolta.

- Mas... a minha mãe...

- Não vamos conseguir encontrar sua mãe. Eu sinto muito. Mas essa é sua chance. Venha.

Ela olhou em volta, como se fosse procurar sua mãe pela última vez e segurou minha mão.

Muito bem. É agora. Você pode levá-la de volta, as Portas da Morte estão abertas.

E então nos vimos no cemitério de Nova Orleans, em frente ao seu túmulo.

- Como... – balbuciou ela – Nós estamos...

- Sim. A profecia já começou a ser cumprida. As Portas da Morte estão abertas, e alguém tem que fechá-las. Urgente.