Respirei. Fiquei parada olhando pra ele por uns minutos. Percebi que estava de curativo onde eu havia atirado. Você pode achar que sou louca por ter uma arma em qualquer lugar que vou, mais eu sou uma advogada de crimes especiais, tenho que ter precaução.

– Não quero brigar. - ele disse baixo, quase em um sussurro, com as mãos erguidas.
– Eu não acredito em você.
– Amelie...
– Como sabe meu nome... Quem é você? - falei na defensiva.

– Eu quero me redimir da noite anterior... - ele disse colocando um pen drive em cima da mesa, o meu pen drive. - Aqui está, a única coisa que roubei de você ontem.

– O que você quer? - disse dando um passo pra frente, encarando-o.
– Greysson. Evan Greysson é a sua preocupação. - aquele homem começava a me preocupar. Evan Greysson é um dos meus clientes poderosos, que me contratava de vez em quando.

– O que...
– Só tenha cuidado Amelie, você tem assuntos arquivados que algumas pessoas querem, Greysson é uma delas...
– Como você...
''Amy?...'' Era Eva vindo no corredor.

– Podemos conversar depois, poderei explicar a você...
– Saí daqui... Some... - falei engolindo um puta medo que se aglomerava na minha garganta.

Ele abriu a porta e saiu.
E Eva entrou.

– Quem era esse? - Eva olhou por cima do ombro.
– Ninguém importante. Só mais um caso de divorcio entre um cara bebado e uma louca. - falei, colocando meu notebook dentro da pasta.
– Ok. Pra onde você quer ir?
Suspirei e sorri.

– Ok Eva, pra onde você quer ir? Desde de que saimos da clinica você me pergunta isso, eu quero ir pra casa, estou com a cabeça voando de ontem. - falei passando por ela e saindo. Ouvi o barulho do salto dela atras de mim.

– Só vamos jantar juntas, pra compensar o bolo de ontem. Amy...
– Tá bom Eva, vamos jantar juntas!! - falei fazendo um movimento com a mão.

Eu estava sem paciência, e Eva conseguia raspar o tacho do que restava de ''poço da paciencia'' e me deixar sem nada. O que era pra ser um fim de tarde normal, acabou sendo uma tarde de compras, ficamos rodando o shopping por horas até então irmos em um restaurante italiano e comer uma bonna pasta.

Eva me deixou em casa precisamente as oito horas da noite, perguntou se eu não queria dormir com ela no apartamento dela pra que não me sentisse sozinha e o pânico não me pegasse durante a madrugada.
Sabia que ele não seria tão rápido em vir atras de mim novamente, então eu achava que poderia dormir bem esta noite de sexta-feira.

Entrei em casa e coloquei as chaves em cima do balcão e fui olhando a correspondência, fui direto ao meu quarto, precisava de um banho.

Coloquei o notebook em cima da cama e pensei em quem queria me matar. Enquanto tirava a blusa, pensava nas ''pessoas'' que queriam isso.

– Foi uma tarde entediante?

Dei um grito e virei-me, e ela estava ele.
– Mas que porra você quer comigo?!?
Ele olhou pra mim e sorriu.
– Com você assim, vou começar a querer outras coisas.
Olhei pra baixo e percebi que estava sem blusa, só de sutiã e calça. Me enrolei na toalha.
– O que você quer? - falei irritada - E como entrou aqui?
– Arvore... Janela... - ele apontou pra janela. - Vim conversar... Você vai me da outro tiro?

Olhei desconfiada.

– Se for preciso...
Ficamos nos olhando por alguns minutos.
– Ok, desça e me espere no cozinha.

Ele desceu e imediatamente vesti uma blusa, prendi o cabelo em um coque alto e pus a arma na parte de trás da calça e desci. Ele estava sentado no banco com as mãos no balcão da cozinha. O sobretudo estava no banco ao lado. Ele olhou sobre o ombro.

– Eu não vou te machucar. - ele falou virando para mim - Eu entendo você está com medo, e vim pra te explicar tudo.
– Comece. - rebati ríspida.
– Eu fui contratado pra te matar, ao que tudo indica, você tem umas pesquisas sobre pessoas importantes arquivadas. Ontem mandaram ir atras de você para te tirar algumas coisas e quando peguei seu pen drive, vi que parece pior que eu imaginava. Amelie, você precisa esconder seus arquivos, ou destruí-los. Não descobri quem é que quer você morta, mas irei.

Minha garganta ardia, pus a mão na arma e puxei.

– Quem. É. Você? - perguntei pausadamente. - Você é um assassino de aluguel?
Ele levantou as mãos e jogou o cabelo pra tras.
– Sim, eu sou. Mas antes de matar, faço uma pesquisa sobre o alvo. Passei dois meses investigando você, mais so naquela noite tive a certeza de que você é inocente. De que você tenta mostrar uma coisa que está errada. Amelie...
– Dra. Verlac pra você. - falei ainda com arma apontada pra ele. - E é a ultima vez que pergunto, quem é você?
– Alexander Durten... Ame... Dra. Verlac... Eu quero ajudar você... - ele disse abaixando as mãos e ficou me olhando.

Eu podia ver nos olhos dele que ele falava a verdade. Mais como podia acreditar em uma pessoa que noite passada estava me roubando assuntos pessoais? E sem contar que esse homem passara dois meses.
Abaixei a arma e pus no cós da calça para que ficasse visível para ele. E fui direto para a geladeira pegar um copo d'água.

– Então, dois meses me seguindo... O que descobriu? - falei sentando-me em um banco que ficasse de frente para ele.
– Descobri que você gosta de café e não tem paciência com a sua amiga morena hiperativa. -ele sentou novamente no banco, ficando de frente para mim.
– Não acredito em você.
– Ok. Descobri também que você fala enquanto dorme, você gosta de livros e chocolate.
– Você me viu dormindo?
– Você deveria não deixar as janelas aberta enquanto dorme ou saí. - ele falou e olhou para baixo.

Fiquei olhando, procurando algum tipo de vestígio de que ele me atacaria e me mataria. Passaram-se trinta minutos, e não disse nada e nem ele.

– Eu tenho que ir. - ele quebrou o silencio, levantou do banco e pegou o sobretudo. Um reflexo impulsivo, segurei a arma. - Por favor, não atire em mim de novo... Espere pelo menos eu me curar desse primeiro. - E acenou com a cabeça pro braço.

– Saí daqui.

– Tenha cuidado. Eles estão te observando Dra. Verlac... E eu também estarei.
E então ele se foi.