A Morte Lhe Cai Bem escrita por MahDants


Capítulo 3
|| Conversas no Facebook


Notas iniciais do capítulo

Heey pipocas... Desculpem a demora! Vai um capítulo aí?



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“Agora eu entendo quando você menstrua” Gale digitou do nada no bate-papo naquela tarde.

Uma tarde depois do meu desagradável encontro com Peeta Mellark. Quando mamãe perguntou, cheia de expectativas, o que tinha achado de todos eles falei que Snow era estranhamente legal, que Prim era uma fofa, mas não consegui falar a verdade sobre o Peeta. Quer dizer, eu ia arruinar a felicidade dela dizendo que odiava o filho do namorado dela, então, quando ela perguntou como eu tinha sujado meu livro respondi que tinha deixado cair, sem querer. A má notícia é que ela não ia comprar outro. RIP A Culpa é Das Estrelas.

“O que?” respondi Gale.

“Eu tô morto de cólica” ele digitou e caí na gargalhada.

“Como assim?”

“Cólica, Katniss, cólica” ele disse e naquela altura, eu já chorava. “Meninos também sentem cólica, sabia?”

“Mas cólica menstrual é diferente... E é um tanto estranho você vim falar isso pra mim”

“Diferente como?” ele perguntou. “Eu tô quase morrendo!”

“Cólica menstrual é dez vezes pior”

“Será que se eu pedir o remédio de cólica da minha mãe ela vai achar que sou gay?”

“Pudim” eu respondi e fechei a conversa.

Fiquei no twitter até decidir que precisava ver alguma amiga, então liguei pra Clove e ela disse que na segunda-feira, no dia seguinte, ela iria para a minha casa. Então fui reler A Menina Que Roubava Livros e antes que eu acabasse dormindo, vovó entrou em meu quarto.

Eu era um pouco distante dela. Não que eu fizesse isso de propósito, mas ela havia nascido em outra época... Era cheia de cultura e não era de demonstrar afeto. Quando eu e mamãe fomos morar com ela, eu tinha cinco anos e precisava de carinho. Mamãe passava o dia trabalhando e minha avó passava o dia fora. Mesmo assim, eram muitas as horas que passava em casa sem me dar atenção. E eu cresci assim, distante da minha avó. Com medo de me aproximar e receber uma patada em resposta.

– Olha a postura, Katniss – ela resmungou assim que adentrou o quarto. Fechei o livro, desencostei da parede, ajeitei a postura e esperei que ela continuasse: - Vou fazer um bolo. Você quer de chocolate ou doce de leite?

– Eu... – não sabia o que responder. Vovó nunca se preocupava com minha opinião, não me fazia agrados... A não ser comprar tudo o que eu pedia, todos os livros que queria (menos A Culpa É Das Estrelas, por ordem de mamãe, para eu “aprender a ser mais cuidadosa com meus livros”), mas isso não significava muita coisa. Era só material, dinheiro, nada vinha do coração... – Chocolate, vó.

– Você lê com o livro próximo demais ao rosto, vai acabar com miopia.

Depois disso voltei a ler o livro mais longe do rosto e com a coluna ereta, mas logo a posição começou a ficar desagradável e voltei à costumeira posição de ler livros. Acabei dormindo meia hora depois, ainda com a luz acesa e o livro nas mãos.

Acordei estranhamente cedo e fiquei na cama, com preguiça de levantar, até a hora da Clove chegar. E nessa hora fui obrigada a tomar banho e ficar apresentável para receber minha amiga. Assistimos Esposa de Mentirinha comendo o bolo de chocolate de vovó e estávamos nos preparando para o jogo das vinte perguntas quando mamãe entrou no quarto, em seu horário de almoço.

– Oi Clove – mamãe a cumprimentou.

– Oi tia – ela respondeu sorrindo.

– Katniss, estava falando com Snow no telefone – ela informou. – E pensamos... Esse ano, porque não comemoramos seu aniversário na nossa casa de praia em Cornualha?

– O que o Snow tem haver com isso? – perguntei desconfiada.

– Eu estava comentando que faltavam duas semanas pro seu aniversário e ele sugeriu – ela explicou. – Estávamos pensando em ir eu, ele, Peeta, Prim, Gloss e Cashmere.

– Quem é Gloss e Cashmere? – perguntei ainda mais desconfiada.

– Sobrinhos do Snow – ela respondeu. – E você podia levar a Clove e mais duas amigas.

– Oba! – exclamou Clove. – A senhora é demais, tia, eu amo a praia de Porthcurno. Vamos pra lá, certo?

– Por acaso existe alguma outra praia em Cornualha? – perguntei revirando os olhos. – Eu vou pensar mãe. Tchau.

– Tá me expulsando?

– Tô – respondi. – Tchau.

– Mal agradecida... – ela murmurou e saiu.

Pude ver em seus olhos que ela ficara mesmo chateada e que eu tinha mesmo sido grossa, mas agora era tarde. Já falei, depois daria um jeito de me desculpar com ela. Enquanto isso, minha amiga Clove me encarava com os olhos cerrados e podia ver a língua fervendo para me despejar um monte de perguntas a respeito de Peeta. E foi exatamente isso que ela fez:

– Quem é esse? Snow, Peeta, Prim...

– Ah, Snow é o novo namorado de mamãe – expliquei. – E Peeta e Prim são os filhos dele.

– E quando você pretendia me contar isso?

– Ah, sei lá – dei de ombros. – Vamos jogar o jogo das vinte perguntas ou não?

O jogo das vinte perguntas era um jogo que já existia, mas que eu e Clove jogamos um pouquinho diferente. Nada demais, era apenas verdadeiro ou falso para as perguntas feitas. E se a pessoa se recusasse a responder, deveria pagar um mico. Não valia mentir, e tanto eu como Clove erámos honestas nesse quesito.

– Mas eu quero saber sobre Peeta e Prim!

– Use suas perguntas – falei.

– Isso é injusto! – a baixinha reclamou. – Começa.

– Você ficou com o Cato nessas férias. Verdadeiro ou Falso?

– Falso, eu nem vi o Cato nessas férias! – ela respondeu. – Peeta e Prim são irmãos gêmeos. Verdadeiro ou Falso?

– Gêmeos, Clove? – perguntei e ela me olhou feio. – Falso. Peeta tem dezesseis anos e Prim tem doze. Você está perdidamente apaixonada pelo Cato. Verdadeiro ou Falso?

– Eu me recuso a responder isso – ela informou.

– Vai ter que pagar um mico... – cantarolei. – Você vai ter que ligar pro Cato e dizer que está morrendo de cólica. E vai pedir pra ele comprar absorvente pra você!

– Você é má, Katniss – ela disse. – Eu não vou fazer isso!

– Qual é, Clove – reclamei. – Vai ter que fazer! Ou então assumir que está perdidamente apaixonada pelo Cato.

– Esquece o Cato, porra! – ela gritou.

– Mas você o ama.

– Não coloque palavras na minha boca – ela pediu. - Coloque uvas e me abane.

– Sim, vossa realeza – brinquei.

– Eu não quero brincar do jogo das vinte perguntas – ela disse. – Eu quero saber desse tal Peeta! Ele é bonito?

– Ele é baixinho – respondi. – E tem a bunda grande.

– Você não me respondeu – ela observou.

– Tá, ele é bonito – respondi revirando os olhos. – Mas é insuportável!

– O que ele te fez? – ela riu.

– Ele jogou meu livro na lama.

– Não! – ela exclamou lentamente com a mão na boca. – Qual era o livro?

– A Culpa É Das Estrelas.

– Teu favorito! – ela disse e começou a rir da minha cara.

– Para de rir.

– Era teu livro favorito... – ela deitou na cama, com as mãos na barriga, ainda rindo.

– Para de rir.

– E ele ficou sujo...

– Para de rir, cacete! – gritei e ela parou.

– Olha o palavreado, Katniss Everdeen – gritou mamãe da cozinha.

– Desculpa! – gritei de volta.

– O que a gente vai fazer agora? – Clove perguntou. – Eu tô com tédio.

– Eu também – respondi e me deitei.

– Vamos passar trote? – ela sugeriu.

– Tô sem crédito.

– Que pobre, Katniss.

– Tu tá com crédito?

– Não. – ela deitou do meu lado e eu ri.

Suspirei e por incrível que pareça, comecei a pensar em Cato e Clove. Ela gostava dele, eu tinha certeza. Na verdade, nós duas gostamos dele na quinta série, mas era aquele gostar infantil, que não tinha futuro. Só que nos últimos dias eu vim acumulando a certeza de que o gostar de Clove cresceu e amadureceu.

Seria tão fofo eles dois juntos! Tudo bem que ele era um retardado que só queria saber de jogar LoL, o jogo mais jogado pela população masculina no mundo, mas mesmo assim eles ficariam fofos. Ele era alto e forte, ela baixinha e magrinha. Seria o contraste perfeito. Suspirei com isso... Eu queria encontrar o meu contraste.

– Pensando no amor, Katniss? – Clove perguntou ao meu lado. – Quem é?

– Por incrível que pareça, eu estava pensando em você e no Cato – admiti. – Fala a verdade, você gosta dele?

– Que merda, Katniss, esquece isso – ela pediu.

– Eu sou a tua melhor amiga! Não sou uma Glimmer da vida que vai sair espalhando toda e qualquer fofoca...

– A Glimmer é gente boa! – ela disse.

– Você que acha – falei. – E não fuja do assunto!

– O que ele veria em mim? – ela suspirou.

– Clove, Cato não é o mais popular da escola que só quer saber de meninas com peito e bunda. Eu posso não falar muito com ele, mas sei que ele não é desse tipo. Mesmo ele sendo bonito, as meninas com peito e bunda não querem saber dele, porque ele vive naquele grupinho de meninos que joga aquele jogo idiota.

– Esquece isso – ela pediu. – Vamos entrar no Facebook?

Assenti e liguei o computador. Ela arrastou uma cadeira para sentar ao meu lado e ficamos vendo as fotos dos meninos da nossa sala. Sem dúvida, Finnick era o mais gostoso e Cato o mais lindo. Tudo estava bem até que Gale resolveu vim falar comigo.

– Você fala com o Gale? – perguntou Clove de sobrancelha erguida.

– Ele... É legal – era verdade, ele era legal. Mas admito que no começo da nossa amizade, só falava com ele por pena.

“Tudo bom?” ele digitou.

“Você sabe que eu me irrito em começar uma conversa assim”

– Vamos trollar ele? – sugeriu Clove.

– Como?

– Observe.

“Mas tudo bem” ela digitou em meu lugar. “Posso confessar uma coisa?”

“Diga”

“Eu acho que te amo”

– Clove, sua puta! – gritei e recebi uma cara feia de vovó ao passar no corredor.

Eu tentava de todas as maneiras pegar o teclado de volta, mas a baixinha era rápida e forte. De modo que ela me paralisou e ficou rindo. Até que veio a resposta:

“Eu também”

– Puta que pariu, ele te ama, Katniss! – ela disse rindo e eu soltei uma risada fraca, mas ainda preocupada com o que ele estava pensando.

“Sabe, eu me peguei várias vezes perguntando a mim mesmo como seria nós dois juntos” ele continuou.

“E por quê?” Clove digitou.

“Porque sim, ué” ele digitou. “Eu já pensei em me matar. Você é a única pessoa que fala comigo e isso é um pouco deprimente. Então eu me liguei que você era especial... E é isso”

– Tá vendo o que tu fez, Clove? – perguntei brava.

– Você se importa? – ela perguntou.

– Sim – respondi honestamente.

– Que horror – ela exclamou, mas depois me soltou. – Deixa que eu arrumo a cagada!

“Rsrsrsrs” ela digitou. “Aqui é a Clove, Gale, a Katniss tá no banho. Mas pode deixar que eu apago a conversa e ela nunca vai saber”

“Ata” ele respondeu e saiu.

– Você acha isso legal? – perguntei.

– Foi divertido – ela disse.

– Não, não foi – respondi.

– Qual é, Katniss! A gente vai brigar por causa do Gale?

– Tá beleza, eu vou tomar banho – informei e saí do quarto.

Tomei meu banho e enquanto lavava a cabeça, pensava nas palavras do Gale. Mas que droga! Agora, por mais que eu quisesse, eu não conseguiria trata-lo da mesma maneira. Isso tudo era novo pra mim, sabe... Alguém afim de mim. Eu tinha quinze anos, é verdade, faria dezesseis em alguns dias, mas nunca tive um namorado, nem alguém gostando de mim... Quanto mais me amando!

Não que eu ainda não tivesse beijado ninguém, claro que havia beijado. Meu primeiro beijo havia sido com Thresh, um garoto que tinha conhecido no meu inglês, e eu estava gostando dele. O problema é que ele não gostava de mim da mesma maneira, apenas sentia uma atração. Não deu certo, enfim. Depois disso fiquei com alguns meninos em algumas raras festas que fui, mas nunca namorei sério.

Desliguei o chuveiro pensando no quanto aquilo era deprimente. Encarei-me no espelho tentando encontrar o meu erro. Talvez fosse o meu rosto... Bochechas grandes demais. Ou meus peitos... Pequenos demais. Ou a minha barriga... Céus, como eu era gorda! O pior é que diziam pra mim que eu tinha um corpo excelente, mas eu estava vendo a gordura concentrada, bem ali, debaixo do meu nariz!

Eu já havia tentado diversas dietas, mas nada funcionava. Tentei a dieta do somente líquido e a dieta do alfabeto. Tentei comer só frutas e tentei parar de comer. Nunca cheguei a colocar tudo pra fora, praticar a bulimia, mas confesso que já havia pensado nisso. Suspirei saindo do banheiro e indo para meu quarto, tomando cuidado para não encontrar vovó no caminho – ela achava indecente o fato de eu caminhar de toalha pela casa, mesmo que não houvesse nenhum homem ali.

– Vire de costas, Clove – pedi e minha amiga deitou em minha cama, tampando os olhos para que eu pudesse trocar de roupa.

Assim que o fiz, ouvi o telefone tocar e esperei que vovó atendesse, pois não estava nenhum pouco afim de sair do meu quarto outra vez. Mas ela não o fez. Então esperei Enobaria, a empregada, atender. Mas ela também não o fez. Suspirei e fui atender a droga de telefone que não parava de tocar.

– Alô? – atendi.

– É a casa da tia Clara? – perguntou uma voz grossa que infelizmente, eu já tivera o desprazer de conhecer.

– Mellark?

– Katniss? – ele perguntou. – Ah, chama a tia Clara aí.

– Bom, ela está trabalhando. Gostaria de deixar algum recado? – indaguei formalmente.

– Pra que essa frescura?

– Que frescura? – fiz-me de desentendida.

– Ah, quer saber? – ele arrastou a voz. – Foda-se. Diz pra tua mãe que meu pai está louco atrás dela.

– Pudim – disse e desliguei o telefone.

Quando já estava no corredor de volta ao meu quarto, o telefone tocou novamente. Deus! O que eu fiz pra merecer isso? Bufei voltando para atendê-lo.

– O que é? – atendi mal humorada.

– Calma, docinho – Peeta riu.

– Vai falar o que quer ou não?

– Só queria te irritar – ele deixou claro. – Eu avisei que não iria querer confusão comigo.

– Confusão? Você querendo me irritar acha que me afeta? Só porque ligou de novo? – desdenhei. – Nossa, como você é rebelde. Vou ligar pra televisa e dizer que se forem fazer um remake daquela novela Rebelde, é pra te chamarem, porque né?

– E eu vou ligar pro zoológico e saber se algum animal fugiu – ele informou. – Acho que você poderia substituí-lo.

– Quantos anos você tem, Peeta? Quatro? – debochei. – Ah, por favor, vai aprender a dar fora nas pessoas e depois volta a falar comigo, falou?

Então bati forte o telefone no gancho. Ele realmente achava que estava me afetando? Que infantil! Ele era daqueles pirralhos de dez anos que nunca cresceram e acham que qualquer xingamento é capaz de ferir alguém. Tinha acabado de chegar a uma conclusão... Peeta Mellark era um merda.


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Notas finais do capítulo

Pouco Everlark, tô sabendo, mas... Mandem reviews *-* Beijos!