A Morte Lhe Cai Bem escrita por MahDants


Capítulo 2
|| Arranjando Um Inimigo


Notas iniciais do capítulo

Heey! Então... Quem já leu minhas fics sabe que eu nunca escrevi nada com palavrão, mas devo avisar que essa é diferente. Contém mente poluída e linguagem imprópria... É a vida, certo? Espero que gostem, pipocas *-*



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Dezoito anos antes.

Como começar? Acho melhor pelo começo. Eu tinha quinze anos e meus cabelos nessa época eram um terror. Eu tinha espinhas na cara e era gorda. Bom, talvez eu esteja exagerando. Eu até que era bonitinha. Não era gorda, sofria de anorexia e nem sabia. Pra falar a verdade, somente anos depois, vendo minhas fotos de adolescente descobri ter um corpo perfeitamente normal. Quanto às espinhas... Bom, às vezes apareciam.

Eu morava com minha avó e minha mãe. Brigava constantemente com ela, talvez pra chamar atenção, já que ela vivia trabalhando. Meus pais eram separados e eu tinha uma madrasta e uma irmã por parte de pai. Meu pai também não me dava muita atenção, mas este, eu preferia não contrariar.

Entretanto, com todo o estresse de mamãe e a, hm, demência de papai, eu os amava mais que tudo.

De qualquer maneira, tudo começou em uma semana no meio de agosto, quando eu estava aproveitando minhas férias e sendo feliz. Minha rotina era sempre a mesma: acordar de uma hora, ficar no computador a tarde toda ainda de pijama e de noite, umas onze horas da noite, depois do banho, pegar um livro e ficar até quatro da manhã lendo. Eu era apaixonada por livros. Uma paixão tão grande que é incapaz de ser explicada. Livros era a única coisa que me acalmava e confesso que preferia ler um bom livro a assistir filmes Hollywoodianos.

Claro que nem todos os dias eram iguais. Às vezes a Clove, minha melhor amiga, ia para minha casa. Às vezes eu, ela e Johanna íamos ao shopping ou ao cinema. Raras vezes eu ia pra casa da Johanna tomar banho de piscina e raras vezes eu passava horas no telefone com a Madge. Mas basicamente, minhas férias eram a tarde no bate-papo com o Gale.

Gale era um esquisitão excluído da sociedade. Ele era da minha sala, mas as meninas tinham nojo dele e os meninos – por mais que não admitissem -, medo. E eu era a única amiga dele, mas nós apenas nos falávamos por Facebook. Não é que eu tivesse vergonha de ser amiga dele, mas... Tá, era isso. E eu sabia que era errado, afinal, ele era meu amigo, mas eu não queria as pessoas tirando sarro da minha cara. Já não bastava a Glimmer. Ela até que era minha amiga, mas a falsidade saltava dos seus olhos. Era aquele tipo de pessoa que se você aborrecesse, ela vira sua inimiga e de quebra, consegue pôr todos contra você. Uma vez, até a Clove ficou contra mim.

E eu não era o exemplo de popularidade pra conseguir todos contra ela. Claro que quando ela me ofendia, eu rebatia a altura. Sabia pegar na ferida e deixar ela pra baixo. Eu tinha a famosa língua venenosa, mas mesmo assim, ela saía ganhando.

Bom... Voltando aonde tudo começou: naquele dia em especial, eu não tinha dormido de quatro horas, como de costume, e sim de oito da manhã. Consequentemente, passei o dia dormindo e quando minha mãe chegou do trabalho, obviamente me mandou acordar e tomar um banho. Mas eu estava com tanto sono!

Eram seis horas e eu já estava acordada, mas mesmo assim lutava para levantar da cama.

Uma coisa sobre mim: eu era muito preguiçosa. E dormia com um pinguim de pelúcia chamado Danny. Então... Eu e Danny ficamos abraçados por alguns minutos até eu decidir que estava na hora de me levantar. Então levantei e fui direto para o computador.

– Então a Cinderela acordou? – mamãe perguntou quando entrou no quarto, minutos depois.

– Eu só acho que quem dorme demais é a Bela Adormecida – falei com um tom de sarcasmo na voz. Ela odiava isso.

– Mais respeito comigo, mocinha – ela disse. – Eu tô namorando.

– O cara do barzinho?

– É, Katniss, o cara do barzinho – ela respondeu revirando os olhos e indo desligar o ar-condicionado.

– Ah, não, mãe! Vai fazer calor – resmunguei.

– Quero nem saber! Esse negócio passou o dia ligado.

– Chata – cantarolei. – Mas me fala sobre o cara do barzinho.

– O nome dele é Snow – ela disse e fiz uma careta. – O que foi?

– Snow? Tipo... Snow White? – brinquei gargalhando e desviando a atenção do computador para olhar para minha mãe.

Os fios loiros dela estavam sumindo e dando lugar a tonalidade castanha, sua cor original. Seus olhos cintilavam como uma apaixonada e não pude deixar de sorrir. Minha mãe era minha melhor amiga, mesmo brigando às vezes. Acho que talvez fosse por isso que brigávamos tanto. Ela me dava liberdade pra falar sobre qualquer coisa, conversar sobre qualquer coisa... E nossas opiniões eram tão diferentes! Mas naquele momento, olhando ela com um sorriso bobo no rosto, eu não pude deixar de ficar feliz. Minha mãe, mais do que ninguém, merecia essa felicidade que ela estava sentindo. E se o tal do Snow a deixava feliz, eu estava feliz.

– Tá, foi mal – me desculpei. – Conta mais.

– Snow é o sobrenome. Coriolanus Snow Mellark. Mas odeia o nome dele, então todos o chamam somente de Snow – ela explicou. – E ele tem dois filhos.

– Putz – exclamei. – Quer dizer que tem uma ex-mulher pra te encher o saco.

– Duas.

– Duas? – perguntei rindo da cara de desolação da minha mãe.

– Duas – ela respondeu. – Uma, a mãe do menino mais velho, ele me garantiu que era da paz. Mas a outra...

– É o capeta em pessoa?

– Katniss! – mamãe ralhou e revirei os olhos. – Praticamente isso. Ela é mãe da menina mais nova, Prim, parece. E se separaram recentemente.

– Recentemente?

– É – ela respondeu. – E nós queremos marcar um almoço. Sabe... Para apresentar vocês. Você ao Peeta e à Prim.

– Peeta e Prim? – perguntei levantando a sobrancelha e virando para o computador novamente. – Gostei dos nomes.

– Peeta tem tua idade e Prim, doze anos.

– Pudim, mãe, pudim – falei e ela saiu do quarto, percebendo que eu já estava ligada ao computador.

E era verdade, eu estava atualizando a minha estante no Skoob, adicionando o livro que li na madrugada passada. Depois fui mexer no twitter e de oito horas, Gale veio falar comigo.

“Iaê” ele digitou. “Tudo bom?”

“Tudo, e contigo?” digitei. “Aff, porque toda conversa de Facebook/MSN começa assim?”

“Tá revoltada hoje, Catnip?”

“Não. Me. Chame. De. Catnip” digitei cada palavra por linha.

“Tudo bem, Catnip”

“Ora porra, eu tô falando que não gosto dessa merda de apelido e tu continua?”

“É”

“Que se foda” digitei e saí.

É... Tem quem me chamasse de bipolar, mas o Gale sabia que eu odiava esse apelido. E bom, tem gente que diz que odeia alguma coisa, mas lá no fundo adora. Tipo, a Clove vivia rabiscando meu caderno e eu era uma pessoa extremamente perfeccionista, então eu reclamava e passava alguns minutos sem falar com ela. Mas no fundo? Eu não me incomodava. Só que esse apelido do Gale, não era assim. Eu realmente odiava e não me pergunte por quê. Ele também não gostava de “Gayle”, então o que custava me respeitar?

Procurei no Google algum site com a terceira temporada completa de Pretty Little Liars e assisti uns dois episódios até ir tomar banho e atacar a geladeira. Depois coloquei Pepsi no copo de plástico verde, fiz uma trança lateral e me sentei na cama, abraçada a Danny para ler O Teorema Katherine. Um tempo depois, mamãe entrou no quarto falando que tinha acabado de conversar com o tal Snow e que no sábado iríamos ao parque da cidade, fazer as apresentações.

Os dias se passaram e continuei na mesma rotina de sempre. Acordar, computador, livro. Na quinta mamãe comprou mais três livros pra mim. Na sexta voltei a falar com Gale. O sábado tinha chegado e eu estava nervosa em relação àquela tarde. Digo, que me chame de besta, mas eu tinha vergonha dos meninos em geral. Eu sei que as meninas e meninos quebram essa barreira aos 11 ou 12 anos, mas eu não tinha quebrado. Não tinha amigos meninos – com exceção de Gale – e na minha vida toda nunca tive um namorado.

Enfim, acordei cedo naquele sábado e comecei a bolar estratégias. Gostava muito de mitologia grega e eu brincava com Clove dizendo que era filha de Atena, por mais que ela não entendesse nada quando eu abria a boca pra falar de deuses, Grécia e Olimpo. Então, como filha de Atena, era meu dever bolar estratégias em situações difíceis. Como aquela que eu me encontrava. No final da manhã, eu tinha decidido que iria ignorar eles o máximo possível, evitar olhar pra eles e focar no meu livro, que eu levaria dentro da bolsa. Lá, eu sentaria em baixo de uma bela árvore e passaria a tarde lendo. Fim.

Com essa ideia na cabeça, tomei meu banho, prendi meu cabelo e passei horas escolhendo uma roupa. É, eu estava nervosa. E sim, era por causa do tal Peeta. Não que eu estivesse sentindo uma atração por um menino que eu nem conhecia, era simplesmente pelo fato de ele ser um menino que eu não conhecia. No geral, meninos me deixavam nervosa.

Então eu fiquei de frente ao computador, vendo fotos do ator Alex Pettyfer. Sinceramente, aquele homem machucava meus ovários. Puta que pariu, como alguém nasce uma vez e nasce gostoso daquele jeito? Mas tudo bem, deixemos quieto. Até que ouvi uma buzina. Depois uma porta se abrindo, outra porta e outra porta. Depois batidas de portas. E o nome da minha mãe sendo chamado. O portão da minha casa sendo aberto. Eles tinham chegado. Mas eu continuei no meu computador, me fingindo de surda. Ouvi que mamãe tinha mandado a menina vim me chamar e rapidamente coloquei meus fones de ouvido, deitando na cama em seguida e fechando os olhos. Não sei porque fiz isso.

Senti mãozinhas quentes tirando um dos fones e abri os olhos, me deparando com uma menina de cabelos longos, lisos e louros. Seus olhos eram azuis, a pele branca como a de uma fada e ela sorria para mim. Sorrindo demais. Tudo bem se eu ficasse desconfiada? Beleza, ela tinha doze anos, mas ainda podia ser o capeta.

– Meu nome é Prim – ela disse ainda sorrindo.

– Eu sou a...

– A Katniss eu sei. Sua mãe está te chamando.

– Já estou indo – respondi me levantando.

Ela saiu do quarto e fui atrás dela, com meu celular no bolso do short e o livro A Culpa É Das Estrelas na mão. Minha mãe me poupou as apresentações e eu passei direto por Peeta e por Snow, sem nem olhar na cara deles. No carro, sentamos no banco de trás, eu, Prim e Peeta enquanto Snow dirigia. A pirralha me oferecia balas e Snow contava histórias constrangedoras do Peeta. Ele parecia legal, mas mesmo assim eu continuei em silêncio apenas escutando e tendo que reprimir a risada em algumas horas.

Chegamos no parque e eu continuei em silêncio. Snow e mamãe deram as mãos e foram na frente, com Prim atrás ao lado de Peeta. Eu fui por último. A única coisa que podia dizer que é Snow tinha a cabeça branca e barba e que Peeta era loiro e tinha uma bunda gigante. Tá, beleza, falar com meninos me assustava, mas isso não quer dizer que eu era uma santa. O Peeta tinha a bunda gigante sim.

Então... Meu plano foi perfeito. Prim começou a se balançar, mesmo sendo um pouco grandinha demais para isso, mamãe e Snow ficaram sentados num canto, Peeta no celular e eu, sentei na maravilhosa sombra da árvore e comecei meu livro. O dia teria sido perfeito, se não fosse interrompida por Peeta sentando ao meu lado.

– Eles pediram para eu vim aqui – ele explicou. – E me socializar com você.

– Ata – falei sem desgrudar os olhos do livro.

– Que livro é esse?

– A Culpa É Das Estrelas – respondi um pouco rápida demais.

Eu tinha consciência de que ele estava do meu lado, perto demais, e que se eu virasse, viraria um momento constrangedor, já que estaríamos a centímetros de distância e ele poderia me achar, sei lá, uma atirada. Então continuei lendo, até ele arrancar o livro das minhas mãos e começar a correr. No começo foi até divertido. Ele corria e eu ia atrás, rindo. Esse era o tipo de “odeio” que lá no fundo eu gostava.

Mas então ele jogou o livro na terra. A terra estava molhada. Tudo foi meio que em câmera lenta. Ele percebeu que eu tinha me aproximado e que ia conseguir pegar o livro, daí jogou, para tirar do meu alcance. Toda a diversão foi por água abaixo naquele momento e se tínhamos alguma chance de virar amigos, acabou ali. Ele derrubou meu livro no chão. Meu livro favorito no chão. O livro com a capa mais perfeita do mundo no chão. Sujo e molhado. Então ele começou a rir e eu me esqueci da vergonha, me esqueci que ele era um menino, esqueci que ele era filho do namorado da minha mãe...

– Vai se foder – falei lentamente, com a raiva dominando cada pedacinho do meu corpo, e alto o suficiente para somente ele ouvir. – Você jogou o meu livro?

– Você ia pegar! – ele disse rindo, como se fosse óbvio.

– Desde quando isso dá o direito pra um puto merda feito você jogar meu livro no chão?

– Maneira a linguagem, garota – ele pediu sorrindo torto.

– Um cacete! – falei me aproximando, já descontrolada.

– Você não vai querer arrumar briga comigo.

– E você acha que está certo?

– São só folhas, Katniss – ele riu pelo nariz. – É só derrubar algumas árvores e fazer outro livro. Na livraria tem um monte! E ainda dá pra ler esse aqui.

– Você acha que está certo... – afirmei. – Você é um grande imbecil.

– Você não vai querer arrumar briga comigo – ele repetiu.

– Adivinha? – perguntei com ironia. – Você já arrumou briga comigo.

– Tudo bem – ele riu e apanhou o livro. – Toma.

– Enfia no cu.

Dei as costas pro idiota e fui espumando de ódio para os balanços, onde Prim estava. Mesmo que nós duas fossemos velhas demais para isso, ficamos ali, nos balançando. Até que ela resolveu abrir a boca:

– Eu vi a briga – ela disse.

– Você ouviu? – perguntei arregalando os olhos.

– Não, só vi.

– Ele é sempre um idiota? – quis saber.

– Sempre – ela respondeu. – A minha sorte é que eu moro com minha mãe e não vivo direto com ele.

– Ele também mora com a mãe?

– Não, mora com papai. A mãe dele não mora na Inglaterra – ela respondeu. – Ele é um idiota.

– Tô sabendo. Acabei de descobrir.

– Se você quiser, eu posso pedir para papai comprar outro livro igual para você.

– Não precisa – eu sorri. – Sério.

Então passei a tarde conversando com Prim. No fim das contas, aquele sorrisinho não era falso. Tudo bem que ela era mimada e deixou claro que odiava minha mãe, mas que não tinha nada contra mim. Contanto que ela não desrespeitasse minha mãe, concordei que também não tinha nada contra ela.


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Notas finais do capítulo

Na boa... Se isso tivesse acontecido comigo eu simplesmente matava o Peeta... Eu assisto CSI, sei fazer parecer um acidente, muahaha.
Entonse pipocas... Reviews, sim?