A Morte Lhe Cai Bem escrita por MahDants


Capítulo 12
|| Guia de Sobrevivência de Uma Lady


Notas iniciais do capítulo

Os 25 reviews vieram rapidinho! Viram? Caiu o dedo?
Só posto o próximo com 25 também, ok?
Espero que gostem do capítulo ^^ Eu realmente não achei grande coisa, mas é meio fundamental pra história prosseguir. E ignorem o título.



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– Você é completamente pirada – Madge falou com uma expressão incrédula no rosto.

Havia chegado cedo na escola e ela estava vazia, com exceção de mim, Madge e Finnick. A coisa mais estranha do mundo era ver aqueles corredores vazios, quando eu estava acostumada a vê-los cheios de adolescentes desesperados por fofoca e sexo. Mas ali estávamos nós: sentados em uma das mesas redondas da cantina, conversando calmamente sobre o nosso final de semana.

Eu contei a minha sexta-feira, desde o prólogo ao epílogo. Contei sobre o Gloss no banheiro e o chilique do Mellark ao ver o cabelo azul. A melhor parte foi o Snow rindo quando viu o filho e o proibindo de pintar de loiro novamente. Segundo Snow, o Mellark deveria aprender uma lição e pela primeira vez minha mãe não brigou comigo por algo que eu fiz com aquele idiota.

– Eu não vou pra escola assim! – berrou Peeta. Prim, Gloss e eu rolávamos no chão de tanto rir.

– E você acha certo ter rasgado o pinguim da Katniss? – Snow falou duro, embora eu tivesse certeza que ele estava se divertindo com aquilo.

– Eu te odeio, Everdeen! – ele berrou, socando a parede.

– É recíproco, meu querido, pode ter certeza.

Ele fez uma cara confusa. Será que sabia o significado de reciprocidade?

– O que você usou no shampoo, Katniss? – perguntou mamãe.

– Ela não pode levar toda a culpa – se pronunciou Gloss. – Eu ajudei.

– Não estou brigando com ela, apenas perguntando.

– Acetona e tinta guache azul.

– Ah, a acetona vai fazer com que a água tire a tinta com o tempo. Mas pode levar... Duas semanas, talvez – falou mamãe.

Ela era química. Trabalhava com fórmulas de suco, criando os sabores e melhorando os aromas. Na maioria das vezes, eu era a cobaia do público jovem. De qualquer forma, se ela dizia que em duas semanas sairia, é porque realmente sairia.

– Ótimo – disse Snow. – Tempo necessário para o castigo. Vou tomar banho.

– Não lave o cabelo, tio – gritou Gloss, rindo. – Ou vai ficar igual ao Peeta.

– Você tá fazendo cosplay da Demi Lovato, mano? – brincou Prim. Todos riram.

– Primrose! – ralhou Cashmere. – É claro que ele quer parecer um avatar.

– Calem a boca! – ele mandou, indo para o quarto. O lado oposto do banheiro, no corredor.

– Katniss, pare com isso – pediu mamãe, quando Cashmere foi falar com Peeta. – E se o Snow ficasse com raiva?

– Mas ele não ficou.

Entretanto, eu saí da casa do Snow morta de vergonha. Acordei com os lençóis sujos de sangue. Sangue este que saía das minhas pernas, mas foi só quando cheguei em casa que descobri que não se passava de ketchup e mais uma das vinganças do Mellark.

Enquanto escutava minha playlist A Culpa é das Estrelas no sábado de tarde, encarando o teto branco do meu quarto, pensei em Peeta Mellark. Pensei em quando ele me chamou de grossa e pensei em Madge. Eu realmente queria mudar... De qualquer forma, meus principais pensamentos eram: desistir da guerra.

Começou com meu livro, depois o celular dele, depois meu pinguim de pelúcia, então o seu cabelo e por último minhas pernas. Aonde isso ia nos levar? Não parecia infantilidade demais, aprontar um com o outro? É claro que parecia.

– Porque você e o Peeta se odeiam? – perguntou Finnick. Eu estava confortável conversando com ele naquela manhã.

– Porque sim... – dei de ombros.

– Finnick, ela não vai falar pra você! – Madge revirou os olhos. – Dá o fora daqui.

– Como é? – ele se fez de ofendido. – Vocês estão me expulsando?

– Você ouviu – Madge soltou uma risada. – Vai. Olha, o Marvel acabou de chegar na escola.

– Só porque o Marvel tá aqui.

Observei Finnick ir embora. Ele havia cortado o cabelo e parecia diferente demais, enquanto Madge também havia cortado o cabelo neste fim de semana, mas mal se dava para notar. Quando ele deu um soquinho na mão fechada de Marvel, me virei para a Madge e comecei a contar a história, do começo ao fim.

– Ele está certo – ela falou, por fim.

– Em relação a que?

– Meninos não gostam de meninas assim. Meninos gostam de achar que tem o controle. Entenda, ele vai querer ter aquela certeza que pode cuidar de você, mesmo que você não precise. Você precisa ser inteligente, mas não mais que ele. Precisa ser corajosa e ter atitude, mas não mais que ele.

– O que você sugere que eu faça? – suspirei.

– Oh, eu vou amar te ajudar com isso!

– Você não vai fazer nenhuma transformação maluca em mim, vai?

– Não estou querendo mudar seu externo, apenas te transformar em uma dama.

– Estou ouvindo.

– Não fale palavrão. É horrível. Cada vez que você falar, coloque dois reais em um pote. Esse dinheiro, no final você vai dar para a caridade. Outra coisa: se preocupe com as pessoas, se mostre prestativa. Seja amigável com todos e mostre que eles têm apoio em você quando precisarem. Caso o Peeta venha lhe provocar, vou te dar a resposta que vai deixa-lo morto de raiva.

– Qual?

– O silêncio. Se tem uma coisa que as pessoas odeiam é quando elas estão raivosas e a outra pessoa continua paciente. Isso é fundamental, Katniss. Se controle e fique de boca fechada. Você vai ver que ele vai morrer de raiva, se esse for seu objetivo.

– Meu objetivo é o fazer sumir.

– Pois seja uma dama – ela sugeriu sorrindo. – Quanto aos outros meninos: você lê tanto, tem bastante conteúdo em mente... Converse sobre eles, mas não tagarele. Sorria para tudo e todos.

– Não gosto de sorrir.

– Mas você vai. Você tem que mostrar aos outros o quanto é feliz e linda. Seu sorriso é maravilhoso! Sorria mais, sim?

– Isso vai me fazer ser delicada?

– Você vai ver. Com o tempo, você vai parecer a Barbie.

Eu sorri com a ideia. Parecia tão diferente do que eu era antes e isso faria mamãe feliz, papai feliz, vovó feliz, Madge feliz, Finnick feliz, e até mesmo o Mellark. Pensei em Clove... Não, ela diria que eu estava virando uma vadia louca pra dar, falsa até dizer chega, mas então eu pensei em mim.

Independente do que Clove, Madge, ou qualquer outra pessoa dissesse, eu queria aquilo. Queria ser delicada, porque foi o que minha mãe me ensinou que era certo. Clove quem me mostrou o outro caminho, mas o que minha mãe sempre me ensinou foi ser uma dama. Eu tinha na cabeça, mesmo que não quisesse, que falar palavrão e pensar segundas intenções com tudo, era bastante errado.

Eu queria ser certa.

– Podemos sentar? – perguntou Finnick, com Marvel e Cato ao seu lado.

– Eu preciso ir, Kat – Madge deu um beijinho no meu rosto. – As meninas estão ali e preciso falar com elas. Vejo você depois, gatona.

– Pudim.

Marvel riu e se sentou.

– O que exatamente você quer dizer com pudim? – Finnick perguntou.

Olhei para os três garotos na minha frente. Antes de Gloss, antes do Mellark, eu teria vergonha e gaguejaria perto deles. Não sei o que havia dado em mim, mas eu parecia em paz. Eu queria, de verdade, criar amizade com eles. Os meninos pareciam tão legais!

– Pudim – eu sorri. – É apenas pudim.

– Eu quero dormir – falou Marvel, apoiando a cabeça na mão esquerda.

– Todos querem – concordei. – Mas eu preciso estudar se quiser ir pra Oxford.

– Quer ir pra Oxford? – Cato falou comigo pela primeira vez.

– Ou Cambridge. Eu vou tentar as duas.

– Só se você fosse uma gênia – Finnick comentou.

– Posso sentar com vocês? – Gale se aproximou.

Troquei um olhar com Finnick. Não sei se ele compartilhava o mesmo pensamento que eu, mas com certeza havia entendido meu ponto de vista.

– Senta aí, cara – permitiu Marvel.

Agora eu estava desconfortável. Gale gostava de mim e eu nunca havia conversado com ele na minha vida – pessoalmente, pelo menos -, além de ele ser bastante esquisito. Por exemplo, quando ele se sentou à mesa, ficou todo curvado, como se fosse um gigante dentro de uma casa de boneca; franziu as sobrancelhas de modo que pareciam ser uma só e sua testa era um acúmulo de suor. Tinha quase certeza que seu desodorante estava vencido.

Eu ainda estava encarando a imensidão verde de Finnick. Alguns segundos depois, chegamos silenciosamente à conclusão que Finnick era popular o suficiente para não haver problemas com o esquisitão sentando com a gente.

Depois, enquanto Cato e Finnick conversavam com Gale, comecei a olhar a cantina lotando. O que essas pessoas pensariam de mim, sentada em uma mesa com quatro meninos?

– Na maioria das vezes que você se pergunta o que as pessoas pensam de você, elas estão exatamente fazendo o mesmo – sussurrou Marvel, no meu ouvido.

– An?

– Você está olhando para elas, não está? – ele perguntou e eu acenei com a cabeça. Gale me olhava pelo canto do olho. – Elas olham de volta, certo? Enquanto você se pergunta o que elas pensam de você, porque tanto elas olham... Elas estão fazendo isso: se perguntando porque você tanto olha.

Olhei para ele e sorri.

– Obrigada.

– Ei, vocês dois – chamou Finnick. - Estamos tendo uma conversa em grupo.

Querendo ou não, eu corei.

– Foi mal – desculpou-se Marvel.

– Onde está Madge? – perguntou Gale e eu olhei pela primeira vez para ele. Seus olhos eram cinza.

– Foi falar com as amigas – respondi, corando.

Eu tinha vergonha de falar com os meninos ainda, tá legal? Entretanto, estava tentando mudar isso.

– E Clove?

Senti meu estômago embrulhar. Eu não havia visto ela, nem havia falado com ela. Na verdade, eu mal me lembrara de Clove nesses últimos dias. Que tipo de melhor amiga eu era?

– Vou procurar ela agora – levantei da mesa.

– Quer ajuda? – ofereceu Marvel.

– Adoraria – respondi, e comecei a andar com Marvel ao meu lado.

– Você está bem comunicativa ultimamente.

– É... Eu não costumava falar com os meninos.

– Porque não?

– Vergonha. Mas... Mas, eu quero mudar isso. Pedi ajuda ao Finnick.

– Você é legal, não deveria ter vergonha dos meninos – ele comentou e eu corei.

– É por isso que não gosto, olhe para as minhas bochechas! – pedi, ficando ainda mais vermelha, e ele riu. – É que... Sempre que um menino fala comigo ou sei lá o que, imagino que ele está flertando comigo só porque está falando comigo, e eu sei que não é isso, mas...

– Eu não estou flertando com você.

– Eu sei. Mas isso não entra na minha cabeça. Espera... Isso é um flerte?

– Não, Katniss – ele riu. – Se te tranquiliza saber, eu não costumo sair flertando as garotas, só o Finnick. Mas...

– Do Finnick eu sei. Nunca levar a sério os flertes dele. Aham.

– Isso – ele falou e o sinal tocou.

– Preciso encontrar a Clove.

– Já viu no banheiro feminino?

– Não preciso... – respondi. – Ela tá bem ali com a Johanna.

– Então nos vemos depois – ele tocou no meu ombro e foi embora, em direção a sala de aula.

Clove tinha um coque na cabeça e estava rindo, enquanto Johanna fazia um monte de careta e escrevia em um papel alguma coisa que não conseguia identificar de longe. Uma ponta de ciúmes bateu em mim e eu fui falar com Clove, mesmo sendo a maior cara de pau.

– Podemos conversar, Clove? – pedi, sem olhar para ela.

– Não.

– Por favor.

– O que você quer, Katniss? Contar como a quinta-feira a tarde foi super legal com sua nova amiguinha Madge?

– Não! Eu sei que fui uma canalha, me desculpe...

– Você foi uma grande filha da puta, isso sim.

– Você poderia ser mais educada? – gritei, com algumas pessoas olhando a briga pelo canto do olho.

– E quem é que está gritando na minha cara? – ela gritou.

– Na verdade, agora, foi você – falei baixinho.

– Vá pra merda, Katniss – ela puxou Johanna pelo braço.

– Espero ver você e sua nova amiga quando chegar lá! – gritei para as costas das duas e senti meus olhos marejando enquanto subia a escada.

Sentei na última banca na aula de inglês e vi com o canto do olho quando Finnick se aproximou. Eu não sabia que fazíamos essa aula juntos. De qualquer maneira, arrumei um jeito de encostar minha cabeça no ombro dele enquanto chorava e ele segurava minha mão firmemente.

– Encontrou a Clove? – ele sussurrou e eu apenas fiz que sim com a cabeça. – Vai ficar tudo bem.

Perguntei-me como ele sabia que eu estava chorando por conta da Clove ou como ele sabia da briga. Foi quando percebi o quanto amizade feminina e masculina eram tão diferentes. O menino ia te apoiar, mesmo sem saber qual a situação direito. Já a menina, iria pedir todos os detalhes do acontecido e te dar um conselho, mas que nem sempre funcionaria.

Naquele momento, eu precisava de um menino.

– Obrigada – sussurrei, olhando nos olhos dele e enxugando minhas lágrimas.

– Continue chorando – ele aconselhou. – Faz bem para a alma e evita que você chore mais no futuro.

Eu sorri e encostei minha cabeça novamente no ombro dele. Vi quando o professor olhou para nós, mas logo sorriu e desviou o olhar. Ele, provavelmente, sabia que eu não estava bem. Eu gostei daquele cara!

– Estou bem – falei para o Finnick, sorrindo.

Ali, finalmente eu tinha um menino com quem contar. Acabei percebendo que todos esses anos evitando um amigo que possuísse um pênis foi apenas perda de tempo. Eles, talvez, fossem os melhores.


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Notas finais do capítulo

E esse capítulo foi para a Liz! Deuses, duas fanfics minhas recomendadas por ela *-* É meio que sei lá, uma honra. Eu só tenho a agradecer, principalmente pelos comentários mega fofos dela :3
(E fiquem a vontade para repetirem o ato dela ;)
Então... Quem é a amiga verdadeira de Katniss? Clove ou Madge? Deixem suas opiniões, adoraria ler!
Beijão, fofuchos *-* 25 reviews, uh?
PS: A Katniss vai se comportar melhor que uma dama no próximo capítulo e o Mellark vai espumar de raiva, muahaha.