Por Laura

Meu pai empalidece e nesse momento percebo que os meus temores eram relevantes, ele desvia os olhos dos meus devolve o Antônio aos meus braços e passa a andar de um lado para o outro no escritório volta e meia levando as mãos até os cabelos e por fim solta um longo suspiro.
– Laura minha filha eu preferia ter essa conversa com você apos a sua viagem, imagino que meu genro esteja feliz em levar a família para longe dos problemas e não quero ser eu a tirar a paz tão merecida que estão buscando com essa viagem.
– Pai assim o senhor me deixa ainda mais aflita, se estava preocupada antes agora nem se fala... vocês brigaram não foi? O senhor sempre fica mal quando briga com a mamãe.
– Laura...

Ele não consegue terminar a frase e rompe num choro silencioso voltando a sentar-se ao meu lado. O meu coração se comprime ao ver o meu pai neste estado, eu nunca vi meu pai deste jeito. Eu mudo o Antônio de braço e me achego junto ao meu pai tentando abraça-lo de alguma forma nem que seja num meio abraço.
– Não fica assim pai você conhece a mamãe ela é um pouco tempestiva e geniosa, mas tenho certeza que logo vocês se acertam... apesar daquele jeito torto dela ela te ama.
– Não Laura, foi por pensar desta forma que eu fui tão cego, tão negligente com o que acontecia e o que deixava de acontecer debaixo deste teto.
– Pai do jeito que o senhor fala parece que a minha mãe fez algo imperdoável.
– Pra mim foi Laura, eu nunca vou perdoar a sua mãe.
– Pai!
– Desculpa minha filha eu sei que você não tem nada ha ver com isso, e que independente de tudo ela continua sendo a sua mãe, eu nunca ousaria cobrar de você alguma tomada de partido nesta briga, mas por mim eu nunca mais queria ter de vê-la face a face.
– Pai para o senhor tomar uma atitude tão radical a minha mãe deve ter feito algo de muito grave.
– Fez Laura, eu sempre fui um homem pacifico, sempre fui tolerante demais com a sua mãe até quando eu descobri a forma desumana como ela agiu com a sua amiga Isabel eu ainda assim perdoei, ela agiu egoistamente, agiu de um jeito... um jeito que ia contra a todos os meus princípios e mesmo assim eu soube perdoar. Se naquela época eu soubesse de tudo...
– De tudo... de tudo o que?
– A sua mãe me traiu Laura, e não foi um pecadilho qualquer, um tropeço, sua mãe vem sendo infiel a muitos anos.

Eu olho horrorizada para o meu pai, tentando digerir o que ele me dizia... não conseguia pensar na minha mãe fazendo uma coisa dessas mas também não conseguia duvidar das palavras do meu pai.
– Eu nem sei o que dizer meu pai... eu nunca imaginei que a mamãe pudesse fazer uma coisa dessas, justo ela que sempre foi tão preocupada com a moral e os bons costumes.
– Eu sempre me deixei enganar por pensar assim... e me custou muito admitir que estava errado em meu julgamento, eu fui tão ingênuo minha filha... a sua mãe me manipulava feito uma marionete... você acredita que até a minha entrada no senado eu devo a ela? Sim ela foi a responsável pela minha indicação e sabe se lá Deus por mais o que.
– Mais porque? Como?
– Sua mãe nunca se conformou em perder o titulo de nobreza, e não sossegou enquanto a família não tivesse de volta o status que perdeu com a chegada da republica.
– Que horror meu pai o senhor deve estar arrasado.
– Arrasado é pouco minha filha, quando eu descobri a verdadeira face da mulher com quem me casei e amei todos esses anos meu mundo desabou... faltou muito pouco para eu perder a cabeça, sabe o quanto isso não faz sentido para mim Laura? Eu levantei a mão para ela, eu que sempre fui contra esse tipo de comportamento.

Eu o ouvia com atenção, nunca em toda minha vida tinha visto o meu pai naquele estado e imagina-lo levantando a mão para alguém simplesmente não me era possível, não o meu pai que criou a mim e ao meu irmão a banho-maria, eram rara as vezes na qual eu o ouvira ele levantar a voz e seus castigos sempre foram de leve tom o pulso forte sempre coube a minha mãe.
– Pai onde a minha mãe esta agora?
– Laura quando eu descobri o que a sua mãe havia feito, primeiro veio a descrença, a negação e depois a raiva, mas junto com todos esses sentimentos de uma coisa eu estava certo, não iria me manter casado com uma pessoa calculista e fria, uma pessoa que eu julgava conhecer, mas que de fato não conhecia... eu decidi pelo divorcio independente da repercussão que isso iria trazer para minha vida.
– Mas isso seria o fim pra minha mãe ela não iria aceitar o divorcio, o escândalo seria demais para o seu orgulho.
– Eu não pensei nisto na hora Laura eu estava cego pelo ódio.
– E ela como reagiu?
– Ela ficou fora de si Laura, eu nunca a vira daquele jeito... primeiro ela tentou se justificar dizendo que tudo o que fez foi para o bem da família, depois começou a gritar dizendo que não me perdoaria se eu lhe fizesse uma coisa dessas... Laura a sua mãe teve uma crise nervosa tão forte que fui obrigado a medica-la e no dia seguinte quando o efeito do remédio passou as coisas ficaram ainda piores... eu tive que recorrer ajuda e acabei por ter de interna-la.

– A minha mãe esta internada?

– Sim minha filha, eu estou esperando o medico responsável liberar a alta dela para poder seguir com o processo do divorcio e depois fazer o que tiver de ser feito para mandar a sua mãe para uma de nossas fazendas, não acredito que ela queira permanecer no Rio de Janeiro na condição de mulher divorciada.

– E quando será isso meu pai? O senhor já tem previsão de quando ela ira receber alta?

– Não minha filha o medico não conseguiu estipular, disse que algo na mente dela esta bloqueando o retorno dela para a realidade, é como se fosse um mecanismo para evitar o que esta por vir.

– O senhor acha que ela esta fingindo uma doença?

– Não sei Laura, mas também não duvidaria da sua mãe agora eu espero tudo.

– E se for assim como vai ser? Ela vai ser mantida no hospital?

– Se for o caso Laura ela não ira conseguir fingir muito tempo e logo saberemos da resposta.