Dois Cafés Com Creme E A Conta, Por Favor escrita por Gio


Capítulo 12
Claustrofobia


Notas iniciais do capítulo

Postando agora porque eu escrevi agora.
Perdoem-me.
Amo vcs. Ah, Melzinhaa, thanks pela recomendação, sua linda.
XOXO



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Ela já estava quase fechando o portão quando ele buzinou.

                “Ei! Não vai me chamar para almoçar?”, reclamou, fingindo-se ofendido.

                Reyna revirou os olhos. “Se espera que eu te chame para comer todos os dias, está redondamente enganado.”

                “Como a senhorita pretende ir para o trabalho depois?”, e então jogou sujo.

                Reyna bufou, como um pônei enraivecido por grudarem chiclete em sua crina felpuda. “Entra.”

                E com a sua serelepe alegria de pseudo-projeto-de-jóquei, ele saiu pulando até o portão. “Eu adoro quando as garotas tomam a atitude e me convidam para sair.”

                “Isso não foi um convite.”, ela resmungou entre os dentes.

                “Mas eu temo que eu seja cara de pau o suficiente para aceitar mesmo assim.”, e deu de ombros. Abriu a porta e então fez uma maldita reverência. “Primeiro as damas.”

                E então, ela queria lhe fazer uma careta mentalmente.

XXX

                Não que ela gostasse de usar elevadores. E depois do incidente-do-ano-retrasado, onde ela, Annabeth e uma senhorinha de idade tinham ficado presas por 3 horas no elevador com a tal senhora mostrando todo seu potencial com problemas gástricos e de mau odor, ela meio que tinha tomado um trauma.

                Mas hoje, que se danasse o trauma, porque ela apenas não podia mais aguentar uma palavra proferida por aquele promíscuo de orelhas pontudas.

                E, minha nossa! Como ele falava. Então perdia a linha de raciocínio. E quando ela pensava que ele iria calar a boca, ele voltava a tagarelar sobre um assunto totalmente diferente.

                Apertou o botão de subir e ficou esperando até que o elevador chegasse. E controlando a vontade de abrir a porta agora mesmo e empurrar o pobre garoto na direção do poço sem fundo. Acidentes acontecem, não é mesmo?

                O elevador chegou. É uma pena, ele tinha sido mais rápido que ela. Sorte dessa vez, garoto.

                Entrou e apretou o botão do terceiro andar. A porta fechou e ele se sentiu claustrofóbica. Mas era rápido, certo? Prendeu a respiração e fechou os olhos.

                Primeiro, segundo andar... E então, nada de terceiro.

XXX

                Reyna já tinha ido e voltado do inferno várias vezes, mas nunca tinha chegado tão perto do próprio Hades.

                Passar horas com uma senhorinha flatulenta? Haha. Isso era fichinha comparado ao fato de aturar um claustrofóbico Valdez por mais que horas a fio.

                E ela não tinha nem uma barrinha de cereais.

XXX

                O que mesmo que o psiquiatra tinha dito? Ah, sim. Conte até 96 em números ordinais, soletre seu nome de trás pra frente. E o mais importante: Não entre em pânico.

                Prenda a respiração, evite piscar os olhos e vá para seu lugar feliz.

                Ahn, qual era mesmo o lugar feliz? Não pense num armário, numa cabine de banheiro público ou numa caixa de papelão.

                E por favor, não se lembre de esquecer doo closet da mãe.

                Então ele gritou.

                “Qual.O.Seu.Problema?”, ela perguntou extremamente séria.

                Ele engoliu em seco. Nessas horas ele invejava as pessoas que conseguiam prender a respiração por sete minutos.

                Reyna se sentou no chão e abriu a bolsa. Discou o número da portaria. “Alô?”, e então olhou para a expressão apavorada do colega. “Sim, seu Carlos. É uma emergência. Eu estou presa no elevador com um ser claustrofóbico.”, então ela fez silêncio e assentiu várias vezes seguidas.

                Desligou o telefone. “Hora de perder seus medos.”

XXX

                A primeira coisa que ela tinha aprendido num workshop de psicologia foi que os medos geralmente vêm de algum trauma na infância.

                Tirou um bloco e uma caneta da mochila. “Conte-me então, Valdez. Quais foram suas experiências ruins com lugares ao longo da vida?”

                Porém ele não respondeu. Apenas se sentou no chão e abraçou os joelhos.

                Ela queria rir, mas talvez soasse desrespeitoso.

                Tirou alguns caramelos da bolsa e estendeu a mão em direção ao garoto. Ela se sentia alimentando um bichinho arisco e selvagem na savana africana. A qualquer momento ele poderia mordê-la. “Você quer?”

                Ele acenou com a cabeça e esticou a mão timidamente. Adestramento de animais ariscos, é assim que começa. Então depois você começa com os truques mais complexos, e, em pouco tempo, ele já sabe latir o alfabeto egípcio.

                Pouco provável. Ela não tinha caramelos suficientes.

                Ele abriu o plástico e amassou, fazendo um barulho inconveniente.

                Ela preferia a senhora flatulenta.

                Leo começou a relaxar aos poucos, momento a momento que o açúcar fazia efeito em seus nervos. Os músculos não estavam mais tão retesados e ele não se imaginava comprimido em uma caixa de liquidificador.

                Trinta e dois, trinta e um, trinta, vinte e nove... cinco, quatro, três, dois, um. Respirou fundo.

                Reyna rolou os olhos. “Eu prometo que o elevador não vai cair.”

                Ele deu de ombros. Ela tirou o celular da mochila. “Preciso avisar que vou chegar atrasada no trabalho.”

                Leo abriu mais um caramelo enquanto Reyna discava. “Eu fiquei preso num closet de sapatos de salto por três horas.”, ele sussurrou.

                Ela tentou não rir.

                “Só não diga que tem medo de sapatos altos.”, ela brincou.

                “Desde que não os calcem em mim.”, e deu de ombros. “Sinceramente, eu posso imaginar o quão assustador deve ser pisar em cima de duas estacas de acrílico.”

                Ela apoiou o rosto nas mãos. “É o preço que se paga pela beleza.”

                “Quero deixar registrado que ninguém fica bonito sobre aquelas pseudo-estacas.”

                Ela riu. “Você parece melhor.”

                “Encontrei meu lugar feliz.”, ele explicou, enquanto esticava as pernas e estalava os dedos das mãos.

                “Que por acaso é...”, e então fez a menção para que ele continuasse.

                “Por mais incrível que pareça, eu acho que é aqui. Preso no meu pior pesadelo, com a pessoa que mais me odeia e comendo doces que me farão ter cáries precocemente. É como se eu estivesse provando para mim mesmo que nada mais pode dar errado.”

                “Legal a sua filosofia. Vou me enfurnar numa caverna de répteis para perder o medo de salamandras.”, ela ironizou.

                “Salamandras são anfíbios.”

                “Você entendeu o espírito da coisa.”, ela argumentou.

                “Pena que eu ainda não consiga entender você.”, ele deu de ombros.

                E então a porta foi destrancada.

                “Alguém pediu ajuda?”, falou o técnico.

                Péssimo momento, meu senhor. Foi o que Leo pensou.

                Mas talvez ela tivesse mais caramelos e palavras gentis para momentos difíceis.


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Notas finais do capítulo

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