Supernatural: Destiny. escrita por theblackqueen
Notas iniciais do capítulo
Eu não sei se vão gostar do final do caso. Eu fiz e refiz, acho que sou meio ruim em cenas de drama. Mas enfim... Estamos quase terminando uma das fases da fanfic, mas os mistérios continuaram. Hahaha. Beijos ♥
Demorei a assimilar o que Ash, do outro lado da linha, havia dito.
— O que? — Estreitei o olhar para a escuridão. — Onde? Como assim?
Uma sensação estranha tomou conta de mim. Nunca esperei saber algo sobre a minha mãe. E já havia me conformado com isso. Mas agora ter alguma informação dela ao meu alcance me fez sentir uma insegurança.
— Eu achei um provável nome. — Ele continuou. — Infelizmente ainda não consegui finalizar a pesquisa, mas eu acho que descobri o nome da sua mãe.
— Como assim, Ash?
— Eu pesquisei pelos arquivos daquela região do Kansas, qualquer coisa que pudesse relacionar com a sua família. — Ash foi contando. — Achei a ficha de uma mulher, o nome dela era Christine Wecker.
— E porque ela pode ser minha mãe? — Indaguei. — E porque essa tal Christine tinha uma ficha?
— Uma pergunta por vez. — Pediu Ash, em seguida continuou. — Essa Christine era professora de uma escola católica em Coffeyville. Pelo que eu sei, a tal Christine era filha única de um velho que morava em White Hill e quando ele morreu, ela se enfiou no convento Gran Salvador.
— Você está dizendo que minha mãe era freira? — Eu franzi a testa.
Aquilo era estranho.
— Parece que sim. — Continuou. — Sabe-se que ela engravidou, mas a criança supostamente morreu. Depois disso a Christine enlouqueceu e as informações acabam ai.
— Ainda não entendi porque ela seria minha mãe!? — Insisti.
— A criança nasceu em 09 de setembro de 1986. — Respondeu. — Uma menina.
— Mesmo assim. — Continuei indagando. — E mesmo que o bebê não tivesse morrido, porque seria eu?
— O nome de solteiro da mãe da Christine, Evelyn Casttle. — Explicou ele. — Era o nome do meio da Christine também. — Pausou. — Essa é a melhor pista que eu tenho.
— Você disse que não finalizou a pesquisa...
— Eu ainda não consegui achar o paradeiro de Christine Wecker. — Ele disse. — Mas estou fazendo o que eu posso...
— Eu sei, Ash. — Disse depois de um longo suspiro. — Obrigado mesmo.
— Não por isso. E nos avise qualquer novidade.
Finalizou.
Eu fiquei alguns segundos imóvel, encarando o nada. Será que saber de tudo isso tinha sido realmente bom? Quer dizer... O que me angustiava agora era não saber o que realmente havia acontecido. Se Christine erra a minha mãe de verdade, poderiam os demônios ter sido o motivo desse desaparecimento?
Acabei despertando dos meus pensamentos quando percebi alguém se aproximando. Sam Winchester deslizava lentamente em minha direção e escorou-se ao meu lado, primeiro encarando a escuridão que estava à nossa frente. Depois senti que relaxou os ombros e me encarou.
— Tudo bem?
— Claro. — Disse sem muita vontade, desviei o olhar para o lugar onde Melizza e Dean conversavam alegremente com os outros.
— Tem certeza? — Ele arqueou uma das sobrancelhas com um sorriso de lado.
— Porque? — Estreitei o olhar com um sorriso fraco, meio sem jeito.
— Você está ai, quieta. — Ele disse. — Parece triste.
— Não é tristeza. — Voltei a encarar a escuridão, um pouco mais à frente o portão do cemitério. — É só... Não sei. — Hesitei. — Acabei de saber uma coisa.
— Coisa? — Ele se interessou. — Que coisa?
— Um amigo nosso está fazendo uma pesquisa para mim. — Pausei. — E talvez tenha achado uma pista da quem é minha mãe.
— O que foi que ele descobriu?
— Que talvez minha mãe foi uma irmã do convento que ficou grávida e enlouqueceu depois que o bebê nasceu. — Resumi.
— Ela enlouqueceu? — Ele enrugou a testa.
— E depois sumiu. — Completei. — E eu até entendo a parte em que ela enlouquece, afinal ela era freira. Deve ter se sentido culpada.
— Mas como pode ter certeza que o bebê é você? — Me perguntou.
— Não tenho. — Disse sincera. — O bebê até foi dado como morto, mas algumas coisas apontam para mim. Certeza, certeza eu não tenho.
— Entendo. — Ele disse, depois houve um breve silencio. — Talvez seja melhor investigar mais antes de tirar conclusões.
— Eu sei. — Respondi prontamente. — Mas é inevitável essa sensação estranha. Eu nunca soube nada dos meus pais.
— Sempre viveu no orfanato?
— Sempre. — Respondi. — Nunca havia saído do Kansas até parar em Nebraska, no bar de caçadores que eu disse, junto com a Mel e o senhor Ruso. E agora... — Pausei voltando a encará-lo. — Estou aqui.
Sorri sem graça.
— Elisabeth...? — Pareceu um pouco atrapalhado agora. — Elisa, assim que isso acabar... Acho que deveria se afastar de tudo isso, ir viver uma vida normal. Você é muito nova, tem uma vida toda pela frente, não tem porquê...
— Você não gosta de ser caçador, não é?! — Cortei, ele me encarou por um momento. — Porque está caçando então?
— Você sabe porquê.
— Pelo demônio que matou sua mãe? — Indaguei, ele assentiu. — Só por isso?
Ele hesitou um pouco, depois desviou o olhar para frente.
— Eu tinha uma namorada e ela morreu. — Respondeu depois de alguns segundos.
— O que a matou? — Indaguei estreitando o olhar para a figura ao meu lado. — Ele?
Ele não respondeu.
Melizza e Dean se aproximaram nesse momento, o que me fez enrijecer levemente. Melizza me encarou maldosa.
— O que vocês estão fazendo ai? — Ela indagou. — Rezando para o anjo da guarda?
— Claro. — Respondi com ironia. — Eis uma coisa que eu não acredito mais. Anjos.
— Anjos existem sim! — Melizza replicou.
— Eu também não acredito. — Dean deu de ombros.
— Claro, você é um idiota! — A loira torceu o nariz.
— Estava demorando... — Resmungou. — Você deve acreditar em papai Noel também...
— Anjos existem, só isso. — Ela balançou a cabeça como se o pescoço doesse. — Vamos dormir? Amanhã bem cedo temos que estar à caminho da rodovia.
— É uma ótima ideia. — Concordei.
Mas antes de entrarmos no Ford, Dean fez questão de provocar:
— Sonha com os anjos, Melizza.
E a loira fechou a cara.
Não demorou para que Melizza adormecesse no banco do motorista. Eu fechei os olhos assim que os sons vindos das barracas cessaram. Dean e Sam também se recolheram para dentro do Impala. Fui sentindo o sono se aproximar, mas aquela não foi uma boa noite. O relógio já marcava 00:00, eu ainda não havia dormido de fato. Só cochilos. A verdade é que eu sempre demorei para dormir e aquilo havia piorado depois daquela noite em White Hill. Pesadelos eram frequentes. Eu acho que algo em mim queria evitá-los, por isso demorava a pegar no sono. E isso até que foi bom naquele momento.
Eu ouvi um som.
Agudo e baixo, como um grito de um animalzinho pequeno. Mas não era bem isso, eu acho. De qualquer forma abri os olhos e encarei o vidro da frente do Ford. Nada mais que o Impala à nossa frente, com os faróis de trás acesos. Ao redor, escuridão. Pelo espelho retrovisor vi as barracas e nenhum movimento naquela volta. Mais atrás se erguiam os portões de ferro do cemitério. Me arrepiei nesse momento. Aquilo era bizarro, eu devo admitir. Mas não foi o que me assustou mais. Eu realmente senti algo ao redor do carro, se movia silenciosamente.
Chacoalhei Melizza.
— Que foi? — Perguntou ainda sonolenta, me encarava.
— Tem alguma coisa aqui.
Ela franziu a testa.
— O que poderia ser? — Perguntou sonolenta.
— Eu não sei. O Jason?! — Ironizei.
Nesse momento ouvimos claro sons de passos e nós nos viramos para trás, para o lugar de onde vinha o som.
Não havia ninguém.
Vi Melizza pegar o telefone agilmente e discar. No carro da frente houve uma lenta movimentação e Dean se acordou. Olhou a tela do telefone e olhou para trás, para o vidro, encontrando nossos olhares alertas. Então atendeu.
— Dean, tem alguma coisa aqui perto. — Melizza disse rapidamente.
Foi o que bastou para ele também perceber os passos. Havia algum ser ali. E eu podia jurar que era invisível. Ouvíamos os passos, mas a figura não se fazia evidente. Nossa primeira ação foi ligar os motores e sair dali o mais rápido possível. E foi o que fizemos.
Esse foi o nosso erro.
Pela escuridão da estrada de chão o Impala abria caminho. Seguíamos o Impala logo atrás. Dez ou quinze minutos depois os carros pararam. Não parecia ter motivo, apenas pararam de funcionar. Dean tentou mais uma ou duas vezes fazer o Impala pegar, mas sem sucesso. Melizza e eu logo saímos do carro, cada uma com uma lanterna. Sam segurava outra. Dean bateu a porta do carro e resmungou em bom tom:
— Que porcaria! — Depois encarou o carro. — Desculpa, princesa, não é com você.
— E agora? — A pergunta saiu de Melizza, mas não houve tempo para a resposta.
Eu e Dean fomos arremessados para o lado direito, Sam e Melizza para o lado esquerdo da pista. Algo muito forte nos atirou contra as arvores e ficamos quase imóveis. Em uma fração de segundos algo começou a nos atacar. Não víamos nada além de escuridão e as lanternas jogadas ao redor dos carros.
O monstro invisível aparentemente tinha garras afiadas. Em bem pouco tempo eu já sentia meu sangue escorrer pelo meu rosto. Era como uma lamina que cortava minha pele, a dor era aguda, já estava desesperada.
Todos estávamos.
— São daevas. — Dean gritou assim que pode.
Todos nós estávamos passando pelo mesmo tormento. Os Daevas são demônios da sombra. São animalescos, ferozes. Sua única fraqueza é a luz. Coisa que estava longe do nosso alcance.
De repente tudo parou.
Tive a impressão que o tempo havia parado.
Tudo. O vento. As garras. Mesmo assim estávamos presos pela maldita força invisível. Suspensos no ar com as costas tão grudadas nas arvores que já doía. Pés poucos centímetros do chão. Engoli a seco quando notei passos. Vinham em nossa direção. Poucos segundos depois tínhamos em nossa frente uma mulher bem mais alta que eu ou Melizza, cabelos longos e negros. Usava jeans e camiseta. Ela encarou um a um, depois abriu um sorriso maldoso.
— Olá crianças. — Disse com a voz macia. — Finalmente conheço Dean e Sam Winchester e a pequena loirinha, Melizza. A outra eu já conheço.
— Que? — Perguntei cerrando os dentes, fazendo uma força extrema por causa da ardência em meu rosto. — Quem é você?
— Claro que não me reconheceu, sua bobinha. — Ela continuava com o sorriso no rosto. — Esse corpinho é melhor que o outro.
— Padre Roy?
— Ops! — Ela disse. — Quase. Última chance, criança.
— Irmã Blanda!?
— Pois é, pequena Elisabeth. — Ela continuou. — Você tem faltado a missa, desse jeito vai para o inferno.
— Cadê meu pai, sua maldita vadia?! — Melizza vociferou.
A outra a encarou, seus olhos ficaram negros.
— Se divertindo um pouco, cadela. — O tom era mais agressivo. — Nós estamos nos divertindo muito com ele.
— Filha da mãe! — Rugiu Dean e a mulher outra vez se voltou para nós.
— É com essa boca que beija sua mãe, Dean? — Sorriu movendo a mão como um aceno, o que aparentemente impediu Sam e Dean de dizerem qualquer coisa. — O papo não é com vocês, fiquem quietos!
— O que você quer? — Perguntei. — Mataram Emily, Judy, Elena, Alicia, Rebecca, crianças... O que mais?
— Você sabe. — Ela respondeu, por um minuto me encarou. — Sabe até mais do que deveria... Me diga, criança, como soube de sua mãe? — Mel e Dean me encaram sem entender. — Enfim... Nós não queríamos que fosse assim, verdade.
— Claro. — Ironizei o máximo que eu pude. — Antes eu teria que assinar o seguro de vida, não é mesmo?
Ela sorriu.
Se virou para encarar Melizza.
— Amanhã às 16:00 no velho galpão de farinha em Magnolia. — Disse à Mel. — As duas lá ou o seu pai morre. Ah... E deixem os cães de guarda na coleira.
Ela sumiu.
Tudo sumiu. Os faróis do Impala e do Ford se ligaram, o que significava que os daevas haviam ido embora. Finalmente estávamos livres, a força que nos segurava havia sumido. Caímos no chão. As respirações falhas e cansadas. Machucados. Nos encaramos. Dean e Sam estavam feridos, bem mais do que nós. Melizza, tinha um lado do rosto arranhado, assim como eu. Sangrava. Aquilo sim era digno de um filme de terror.
E estava longe de acabar.
Quando o sol nasceu nós já estávamos a caminho de Magnolia. Paramos por um momento antes de entrar na cidade para improvisar curativos e tentar criar um plano com o pouco que tínhamos. Na verdade, que eles tinham. Eu mal sabia o que fazer se fosse atacada por um demônio. Me sentia terrivelmente idiota. Mas minhas suspeitas estavam confirmadas agora. Eu tinha algo a ver com isso. E eu ia pôr um ponto final. Faria tudo que fosse preciso. Não só por Giuseph e Melizza. Por Rebecca. Por todo mundo que morreu por causa daqueles desgraçados.
— Talvez fosse melhor vocês não irem. — Mel disse em certo momento e com isso eu concordava.
Não queria que nada acontecesse com Dean ou Sam. Eles não estavam metidos na história e poderia ser perigoso, bem mais perigoso para os dois uma vez que a mãe foi morta por um demônio que o pai caça desde então.
— Nem vem. — Cortou Dean. — A gente aguenta. Vamos acabar o que começamos e vamos fazer isso direito. Vamos exorcizar os desgraçados.
Sam preparava a água benta.
— Rituale Romanum? — Melizza indagou.
— Touché.
— O que é isso? — Perguntei cruzando os braços.
— Exorcismo. — Melizza respondeu. — Nada de cabeça girando e jato de vomito, fique tranquila.
— Vamos atrás de um demônio. — Disse com ironia. — Não dá para ficar calma.
— Você sabe latim? — Sam me perguntou.
— Pai nosso serve? — Era o que eu tinha aprendido na época das aulas de religião.
Sam franziu e relaxou a testa.
— Não aqui. — Disse ele. — Vem, vou te mostrar o ritual.
E o tempo parecia não passar.
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O plano era simples. Dean e Sam Winchester acompanhariam as jovens e ele teria John Winchester nas mãos. Tudo o que precisava estava tão perto. Logo Elisabeth voltaria para onde jamais deveria ter saído. John não só entregaria o Colt, mas facilmente faria o pacto para salvar a vida dos filhos. Logo ele estaria também no lugar onde era necessário. John tinha que ir para o inferno.
Depois poderiam despachar a outra garota e o caçador à sua frente. Eles não eram necessários. Nem Dean, não agora pelo menos. Elisabeth era necessária. E Sam, esse sem dúvidas era necessário.
Era o plano perfeito. Dois coelhos com uma cajadada só. Pelo menos era o que Azazel acreditava no início daquela manhã. Mas a medida em que o dia ia avançando, ele começou a mudar a sua percepção. Encarou por um momento o outro demônio mais ao fundo da loja. Ele ficava dando ordens para todos, até mesmo aos demônios de Azazel. Sua condição de príncipe não lhe fazia superior e Azazel sempre tratava de recordá-lo de uma coisa: “ele” não era seu líder.
Os planos estavam prestes a mudar quando Azazel percebeu ter errado em apenas um ponto. Dos demônios presentes no velho armazém, só a leal Meg era de sua confiança. Sua filha. Foi dela que ele se aproximou, sorrateiramente, enquanto o outro demônio estava muito ocupado com o caçador, Giuseph Ruso.
— O Winchester. — Disse em tom baixo de modo que só a loira pudesse ouvir. — Ele não está com a arma.
Meg encarou o demônio incrédula.
— Como sabe?
— Liguei os pontos. — Azazel respondeu tranquilo. — Se estivesse com a arma, John não mandaria os filhos. Não iria expor sua fraqueza. Viria até nós. John não é covarde.
— E o que fazemos? — Meg indagou enrugando a testa.
Azazel encarou o outro de longe. Sorriu maldosamente. O outro não era seu problema. Nem ele, nem seus malditos planos.
— Eu tenho algumas ideias.
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Já passavam das 14:00 e a temperatura estava bem mais quente do que deveria. Estacionamos em frente a um terreno baldio. Melizza, embora evitasse demonstrar, estava aflita. Realmente aflita. Preocupada com o seu pai, com o que poderia estar acontecendo com ele e também com o que poderia acontecer com todos nós.
— Temos uma ideia que talvez possa dar certo. — Comentou Dean.
Estávamos na volta do Impala. Sam com o mapa aberto sobre o capô e laptop à sua frente.
— Eu vi a planta do velho armazém. — Sam continuou. — Ele fica bem perto do Eastside Park, onde fica o reservatório de água. E com certeza haverão demônios ao redor do armazém.
— E qual é a ideia? — Melizza franziu a testa.
— Fazer chover água benta. — Dean respondeu com um sorriso. — Nós mantemos os sapos lá fora e nos concentramos no príncipe.
— Isso é meio estranho saindo da sua boca. — Ela estreitou o olhar.
— Pegamos algumas mangueiras e ligamos na bomba do reservatório, ai é só abrir o registro. — Sam continuou.
— Eu e Sam fazemos isso e vocês entram. — Dean acrescentou. — Nós damos a volta e pegamos ele desprevenido.
— E se tiver mais demônios lá dentro? — Perguntei.
— A gente vai esticar a mangueira e tentamos neutralizar, pelo menos até completarmos o exorcismo principal. — Dean respondeu.
— Vocês duas não podem aceitar nenhum trato ou coisa assim. — Sam nos advertiu. — Só enrolem.
— Podemos convidar o capeta para jogar Uno?! — Mel brincou.
— Eu acho que era mais fácil eu ir e fazer o que eles querem. — Relaxei os ombros e tentem parecer segura.
— Demônios mentem. — Dean me disse. — Acredite, não daria certo.
— Para de falar como um Peru de Ação de Graças. — Mel disse incrédula.
— Perus não falam.
— Se falassem, seria assim. — Retrucou, depois suspirou. — Elisa, esse trabalho de caçar, ele consiste em salvar pessoas desses monstros. Não usá-los como isca.
— Ninguém vai ser isca. — Dean disse. — Vamos fazer isso juntos.
Olhei para Dean, depois para Sam. Eles eram exatamente isso. Eles não te abandonavam, mesmo que isso significasse arriscar a própria pele. A grandeza disso talvez não fosse consciente para eles, mas enquanto um Winchester existir no mundo, haverá esperança contra todo e qualquer mal. Talvez em alguma parte do caminho ambos chegaram a pensar que ser um Winchester era uma maldição. Mas está longe disso. E nada pode ser mais digno do que o negócio da família: Salvar pessoas e caçar todo o tipo de ser.
Se sacrificar pelos outros.
Mas claro que às vezes o que inferniza são os nossos próprios demônios.
O tempo passou o mais lentamente possível. Logo estávamos a caminho do armazém. O reservatório surgiu bem antes e para chegar ao topo, os garotos usaram uma escada. Depois de benta, agora era só a mangueira ser encaixada no último dos canos. O mais perto do armazém. E isso era o difícil, haviam demônios ao redor. Ai era só abrir o registro e o chão iria se encharcar de água benta. O que estava dentro não sairia, o que estava fora não entraria.
Dean fez a volta com o carro na Hollensworth Street. Chegamos até os canos pelos fundos, então eu e Melizza demos a volta. Isso funcionou e distraiu os demônios no outro lado. Entramos no armazém. Era agora ou nunca.
Tudo estava escuro.
Pouca claridade passava entre as tabuas pregadas nas janelas naquele fim de tarde. O salão era grande. Haviam estantes para todos os lados com caixas empilhadas. Poeira. Olhamos para todos os lados e nada.
Um só sinal.
Um só movimento.
Tudo absurdamente quieto.
— Pai? — Chamou Melizza, nem um ruído foi escurado. — Pai?! — Gritou mais alto.
Nada.
Eu dei alguns passos segurando a lanterna, tremula. Nenhum ruído até então, nem dos dez ou mais demônios lá fora, nem dos Winchester.
— Tem alguma coisa errada! — Eu disse.
Melizza me encarou e logo encarou qualquer coisa atrás de mim.
Me virei.
— Droga. — Disse entredentes encarando a figura.
A mulher de antes.
— Olá, crianças. — Ela disse. — Achei que tinha dito sem cães de guarda.
Dois homens entraram por trás trazendo Dean e Sam.
Outro homem segurou Melizza pelo braço. Eu não faço a mínima ideia de onde esse saiu.
— Solta eles. — Disse, embora já estivesse congelada e tremula, tentei ser o mais corajosa possível. — Eu estou aqui. Agora soltem Giuseph e deixem eles em paz.
— Elisabeth! — Grunhiu Sam.
— Quietos! — Ordenou o demônio movendo as mãos para que nenhum som saísse da boca dos três.
— Se vão me matar, pelo menos quero ter certeza que os meus amigos vão estar bem. — Eu disse.
— Criança. — Ela sorriu com desdém. — Sua coragem é admirável. E eu adoraria ficar aqui e conversar, mas o momento não é esse.
— E então?
Antes mesmo que o demônio abrisse a boca, algo aconteceu. E eu nem fazia ideia do que, na época. Uma fumaça negra saiu imediatamente da boca da mulher e dos homens. Os corpos tombaram no chão. Era como se os demônios tivessem sido arrancados de dentro do corpo. Nós nos encaramos.
— Isso aconteceu com os demônios lá na frente. — Disse Dean. — Bem, quase isso. Os que estavam lá sumiram.
Sam e Dean cruzaram o armazém e o mais novo parou ao meu lado, já o mais velho foi direto até a porta de saída.
— O que está havendo? — Perguntei espantada.
— Eu não sei. — Respondeu Sam encarando todos os lados do armazém.
— Onde está meu pai? — Melizza perguntou.
Encaramos Sam que balançou a cabeça, ele não sabia.
— Puta que pariu! — Rugiu Dean chutando a porta. — Está trancada.
— Vamos pelo outro lado. — Sugeri.
E caminhamos em direção aos fundos. Poucos passos.
Foi ai que o que não esperávamos aconteceu.
— Pai! — Melizza gritou com toda a força que teve.
A figura que surgia era de Giuseph. Fisicamente fraco, roupas sujas e um aspecto nada saudável. Com um aceno ele colou Sam na parede, o que fez Dean segurar Melizza pelas costas.
— Não é o seu pai! — Dizia ele, mas a agonia dela era maior. — Mel, não é o seu pai.
Ele balançou a mão novamente, colando Dean em uma parede e Melizza na outra.
Apenas eu permaneci em pé.
Ele passou reto por mim. Nem olhou Dean ou Melizza.
Seus olhos estavam grudados em Sam.
— Então você é o bonequinho de plástico mais caro da coleção? — Dizia com ódio na voz, apertando fortemente os dentes. — Eu vou ensinar que comigo ninguém brinca.
Ele levantou a mão e apertou o punho.
— Sam! — Gritou Dean.
Sam urrou, o que me fez avançar.
— Quietinha ai, sua cadelinha. — Disse ele sem desviar os olhos de Sam que estava se contorcendo. — Você é o motivo de todos os problemas, para começar. Nunca deveria ter metido o nariz aonde não era da sua conta.
— Sammy! — Gritava Dean de forma desesperada.
— Pai! — Melizza gritava ao mesmo tempo.
— Solta ele! — Não aguentava ver Sam daquela forma. — Por favor!
Ele riu.
— Que estranha é a vida. — Dizia ele, se referia a algo que estava além da minha compreensão naquele momento. — Mas isso não é mais sobre você.
— O que quer dizer? — Indaguei.
— Olho por olho. — Disse ele, apertou ainda mais o punho e isso fez o Winchester gritar mais alto. — Demônio por demônio.
Entre o sorriso cínico do demônio no corpo do pai de Melizza e os gritos desesperados da loira e de Dean, eu fiz a única coisa que pensei naquele momento.
— Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas...
Ele se virou, deixando Sam por um momento.
— O que disse, sua cadelinha?
Recuei enquanto ele vinha em minha direção.
— Omnis incursio infernalis adversarii, omnis legio... — Dean continuou fazendo ele parar de repente.
— Omnis congregatio et secta diabolica, in nomine et virtute Domini Nostri Jesu Christi... — Melizza continuou do outro lado.
— Eradicare et effugare a Dei Ecclesia, ab animabus ad imaginem Dei conditis ac pretioso divini Agni sanguine redemptis... — Já dizíamos em coro.
O demônio no corpo de Giuseph já não dava um passo. Sam caiu no chão ofegante. Dean e Melizza também já estavam soltos, de pé, encarando o demônio firmes.
— Non ultra audeas, serpens callidissime, decipere humanum genus, dei Ecclesiam persequi, ac Dei electos excutere et cribrare sicut triticum...
Por mais que tentasse, o desgraçado não dava mais nenhum passo e por um momento parecia estar quase vomitando.
Ventava forte lá fora.
— Imperat tibi Deus altissimus, cui in magna tua superbia te similem haberi adhuc præsumis; qui omnes homines vult salvos fieri et ad agnitionem veritaris venire... — Continuamos.
O demônio parecia atormentado. Chiava. Arfava.
— Imperat tibi Deus Pater; imperat tibi Deus Filius; imperat tibi Deus Spiritus Sanctus...
Finalmente aconteceu.
A fumaça negra saiu da boca do pai da Melizza e afundou no chão como cinzas chamuscadas que simplesmente desapareceram. O corpo do pai de Mel tombou quase imóvel. Vi Dean ir até o irmão que também não estava nas melhores condições. Melizza correu até o pai.
— Pai! — Se ajoelhou ao seu lado, eu me aproximei e vi Giuseph fazer força para abrir os olhos. — Pai! Pai! Anda... Fala comigo...
Levantei o olhar para Dean que agora se aproximava enquanto o irmão se apoiava em seu ombro. Sam mantinha a mão no estomago, como se doesse.
— Pai! — Melizza chamou mais uma vez.
Giuseph abriu os olhos e engoliu a seco. Sorriu fracamente. A primeira coisa que viu foi o rosto da filha, pálido e desesperado. Levantou o olhar e logo atrás de Melizza estavam os dois rapazes de pé, apreensivos.
— Quem... É....? — Gaguejou, sua voz saiu baixa e fraca.
— Somos os filhos de John Winchester. — Dean respondeu. — O nosso pai nos pediu para ajudar.
Ele engoliu seco e fez mais esforço agora:
— Agradeçam ao... — A voz falhou. — Ao John por mim.
— Não pai, você mesmo vai agradecer. — Melizza tratou de dizer.
Ele encarou Mel com mais atenção.
— Sua mãe... — Ele disse. — Ela teria orgulho. Você é igualzinha a ela.
— Pai! — Melizza pareceu ficar mais nervosa.
Então ele desviou o olhar e finalmente me encarou. Eu enrijeci. A culpa era minha. Mas ele não pareceu me culpar. Seu olhar era de pena, quase compaixão.
— Sejam fortes. — Ele disse generalizando nós quatro, depois encarou Melizza. — Eu te amo, filha.
O olhar de Giuseph perdeu a luz vital fixado em Melizza.
Aquele foi seu adeus.
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