Supernatural: Destiny. escrita por theblackqueen


Capítulo 11
The Little Time Of Our Lives.


Notas iniciais do capítulo

Primeiro eu espero que ninguém me mande uma bomba-relógio enrolada para presente depois desse capítulo. Confesso que fiz e refiz zilhões de vezes e estou muito insegura sobre ele. (sim, eu sou auto-crítica)!
Eu não sei se vão gostar de final do caso. Sobre a cena do Impala (Yeah, I know, season 4), mas não resisti em fazer algo parecido. Mereço tijoladas por causa disso, eu sei. Eu quero a opinião sincera de vocês (e do Tony Ramos -Q?) se está legal. Se eu mereço ser jogada no Purgatório das escritoras (isso existe?) e tal...



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Se no primeiro instante Dean não conseguiu pensar em nada, agora as coisas estavam claras diante dos seus olhos. E não é que ele não ligasse, apenas sentia que não era tão importante assim. A medida em que Dean ia avançando por aquela rua escura, deixando para trás o próprio irmão e o amado Impala, sentia como se pela primeira vez na vida o peso que carregava tivesse saído das suas costas. Ela o guiou até um quartinho que ficava nos fundos de um pequeno mercadinho três ou quatro ruas depois do bar. Abriu a porta. A garota ligou a luz e o pequeno quartinho se iluminou revelando não mais que uma cama e um guarda-roupas. Ela e Dean entraram no minúsculo espaço e quase imediatamente os lábios dos dois estavam grudados. Um beijo tranquilo. Os lábios dela eram tão doces que faziam Dean desejar beijá-los todo o tempo. Foi depositando selinhos uma, duas, três vezes antes de se encararem.

— Você sabe o que eu sou, não é? — Ela perguntou com a voz baixa.

Dean demorou alguns segundos, mas assentiu.

— E você sabe quem eu sou. — Dean afirmou sereno, a garota apenas baixou o olhar. — E o que eu tenho que fazer.

— Sei que é um caçador, Dean.

Os dois se encararam.

— E agora? — Ele perguntou com cuidado. — Vai me matar?

Ela sorriu de forma triste.

— Não. — Respondeu tomando certa distância do corpo de Dean, agora ele parecia confuso. — É bem ao contrário. Você vai me matar. Foi esse o motivo que me levou a me aproximar de você no bar ontem.

Dean balançou a cabeça como se espantasse moscas enquanto encarava a garota tenso, confuso e incrédulo.

— Não entendo.

— Eu quero morrer, Dean. — Ela sentou na beirada da cama, apoiou os cotovelos no joelho e inclinou um pouco a cabeça. — Eu estou cansada.

Agora parecia desesperada.

— Cansada? — Ele sentou ao seu lado.

Ela o encarou.

— De quem eu sou. — Ela engoliu a seco com a voz falha. — Da minha condição.

— Ser um Selkie... — Dean encarou a garota de aparência frágil, ela era tão perfeita, não importava quantas vezes ele olhasse para ela.

Perfeições não são reais.

Mas era um absurdo dizer que ela era uma ameaça.

— Eu sei que você tem que me matar e eu não me importo. — A voz dela soou resignada, Dean sentiu uma pontada de tristeza no coração. — Eu até desejo morrer.

— Não pode estar falando sério! — Ele disse.

Estava fazendo força para se concentrar. Lutava contra o desejo de dizer a ela que ela não morreria. Mas ela era a caça. Dean sempre foi objetivo nas caçadas. Era o que tinha que ser feito. Era o certo. Ele simplesmente ia e fazia. Mas agora parecia uma tortura. Talvez fosse o encanto.

— Acha loucura alguém desejar morrer, Dean? — Sorriu triste. — Sabe o quanto é difícil viver assim? Eu ando pela terra há muitos anos...

— Matando as pessoas?! — Dean a interrompeu, sua voz saiu mais dura do que ele planejou.

Ela pareceu entrar na defensiva.

— Eu não escolhi isso. É o meu instinto. — Confessou. — Quando você se sente ameaçado por uma criatura, o que você faz? Quando um animal se sente acuado, o que ele faz?

— Mas eles não te ameaçaram...

— É bem pior do que isso, se você quer saber. — Ela o cortou. — A rejeição é pior do que a morte.

— E então você prefere deixar de existir? — Dean indagou. — Se jogar na mão de um caçador?

— Eu não vou deixar realmente de existir. — Ela disse. — Eu vou para um lugar, lugar para onde todos nós vamos.

— Nós? — O Winchester franziu a testa.

— Os filhos da minha mãe, claro. — Ela explicou, embora isso estivesse longe da compreensão de Dean agora. — De qualquer jeito, eu acredito que tudo pode ser melhor do que uma vida assim. Você se apaixona, diz a verdade, a pessoa te olha como uma aberração, ai você a mata.

— Talvez haja uma forma de...

— Reverter? — Ela completou. — Não há. Eu não fui transformada Dean, eu nasci assim.

— Porque eu? — Foi a pergunta dele.

Porque ele?

Justo ele que já estava com um pé no inferno, preocupado com o futuro de Sam que sempre foi sua responsabilidade. Doía ter que matá-la, Sam tinha razão, ela era o espelho de tudo que ele já amou.

— Eu sabia que você me entenderia. — Respondeu. — Assim que eu te vi, eu soube. Só você poderia me entender. E eu não queria morrer sem que pelo menos uma vez alguém me entendesse.

— Do que está falando?

— De sentir a morte como uma forma de descansar. — Explicou. — De passar a vida querendo uma coisa que é arrancada de você. Se sentir só. Perdido. Confuso.

— Eu não quero morrer. — Dean disse com sinceridade.

— Eu sei que não quer ir para o inferno, Dean. — Ela continuou. — Mas sei que está farto. Tudo foi arrancado de você. Sua mãe, seu pai... A sua família quando seu irmão foi para a faculdade. Tudo que você amou. E eu entendo. Eu passei por isso.

— Morrer não vai servir para mudar nada disso. — Disse ele.

— Mas vai parar a dor, no meu caso. — Disse a garota. — Selkies nascem para histórias de amor e tragédia. Nada além. E não se pode mudar seu destino.

— Você decide seu destino. — Contrariou Dean, o que a fez sorrir.

Deu um selinho no rapaz.

— Pense sempre assim.

Os dois se encararam antes de um novo beijo.

Os lábios de Dean cobriram os da garota com certo desespero.

O beijo não durou muito, foi um beijo de despedida.

Ao se separarem, ela lhe entregou uma chave.

— É de um armário de um deposito abandonado aqui perto. — Disse ao Winchester. — Vá. Queime.

Mesmo contra a vontade, ele assentiu.

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Alguém bateu na porta.

Melizza sobressaltou. Já estava esperando Dean há quase uma hora, ela já estava impaciente. Rapidamente levantou-se do sofá onde estava na frente da TV e foi abrir a porta. Eu a segui com o olhar, escorada na cama enquanto lia meu livro. Não era Dean. Era Sam. E ele parecia aflito.

— O Dean sumiu. — Disse ele, o que bastou para que eu também ficasse de pé. — Nós estávamos no bar. Eu falava com o garçom e o barman, ele foi me esperar lá fora. Ele simplesmente sumiu.

— Acha que foi o Selkie? — Melizza indagou com certo desespero.

— Aposto que sim. — Respondi.

Sam me encarou e eu vi a preocupação nos olhos dele.

Entramos no carro, no Impala, e voltamos ao bar gay. Já estava lotado e mal podíamos caminhar na rua pela quantidade de carros. Melizza ia de pessoa em pessoa perguntando se alguma delas havia visto Dean.

Sem sucesso.

De repente o celular de Sam chamou. Era Bobby.

— ... Acho que achei uma forma de aprisionar um Selkie. — Foi dizendo o caçador.

Eu não o conhecia.

Melizza havia me contado que Bobby Singer era o caçador mais esperto que já conheceu. Inteligente, perspicaz. Um pouco rabugento à primeira vista, mas um grande apoio a quem o cerca.

— Bobby, o Dean sumiu. — Sam cortou.

— Idiotas! — Ouvimos ele dizer do outro lado da linha.

— Concordo. — Melizza comentou em tom baixo.

— Já tentou ligar para os celulares? — Ouvimos Bobby perguntar.

O volume da ligação era alto.

— Já. — Sam respondeu. — Ele não entende.

— Sabe que o Dean corre perigo!? — Continuou Bobby. — O Selkie não escolhe suas vítimas por acaso. Eles sabem quem está mais fragilizado, eles sabem que seu irmão é caçador. Podem querer acabar com ele antes que seja ao contrário.

Sam ainda prestava atenção no que Bobby dizia do outro lado da linha e foi ai que vimos Dean. Ele vinha a pé. Cabisbaixo. Melizza deu um passo à frente apreensiva. Dean chegou até nós e passou reto, escorando-se no Impala. Eu e Sam nos encaramos confusos enquanto Melizza foi em direção do Winchester.

— O que aconteceu?

— Foi o Selkie, não foi? — Sam complementou a pergunta.

— Já acabou. — Disse o mais velho secamente. — Ela morreu.

— Como assim ela morreu? — Sam franziu a testa. — O que aconteceu?

— A Selkie morreu, eu já disse. — Elevou o tom de voz.

— O que aconteceu, Dean? — Melizza insistiu.

O Winchester relaxou os ombros e respirou fundo.

— Eu só estou cansado. — Disse ele.

— Dean...

— Já matei o que viemos caçar, satisfeito? — Ele cortou o irmão. — Mas uma pergunta sobre isso e eu juro que te dou um soco.

Sam franziu a testa.

Dean não estava bem. Não estava agindo como ele mesmo. Parecia mais um velho ranzinza. Mas a resposta não demorou a chegar. Bobby ainda estava no telefone e Sam relatou ao caçador a atitude do irmão quando eu e ele nos afastamos, deixando Melizza com Dean. Segundo Bobby, a reação de Dean era normal. Era fruto do contato com um Selkie. Bobby nos disse que encontrar um Selkie era como encontrar tudo o que você buscava, tudo o que você amava. Era como estar diante da criatura mais perfeita do mundo. Uma vez que o encanto acaba, aquela sensação que a presença deixou te faz sentir vazio. Tudo se torna sem sentido. Mas o caçador também disse que o sentimento não é permanente.

— Toma. — Sam estendeu uma garrafa de cerveja para o irmão, havia a conseguido dentro do bar. — Vai se sentir melhor.

— O álcool é sempre a solução. — Dean disse sarcasticamente e pegou a bebida.

— Esse é o fim de caso mais estranho que eu já vivi. — Mel disse. — Sem sangue, sem glória. Eu nem vi a cara da coisa.

— Já acabou, isso que importa. — Dean disse, queria finalizar o assunto.

Para mim continuava estranho.

— Dean, deveria ir descansar um pouco. — Sugeri.

— A noite é uma criança, princesa. — Ele disse abrindo um sorriso, esse sim era o Dean. — Ainda tem muito dia dos namorados para aproveitar.

Sam observou o irmão um pouco incrédulo, mas aliviado por Dean enfim voltar ao normal.

— É... Não. — Eu disse. — Eu quero mesmo voltar para o motel e dormir.

— Ela é chata sempre. — Mel disse implicante.

— Dá um tempo! — Bufei cruzando meus braços na cintura como se isso fosse afastar um pouco o frio.

— Então tenho uma promessa pendente. — Dean encarou Melizza.

Os dois se encararam por alguns segundos.

O vento frio soprou entre nós nos deixando ainda mais desconfortáveis.

Sam pigarreou.

— Deixamos Sam e Elisa nos seus devidos lugares. — Mel se apressou em dizer. — E ai vamos passear antes que eu me arrependa. Um raio não cai sempre no mesmo lugar.

— Não se preocupem comigo. — Disse a ela. — O motel é aqui perto, eu vou caminhando.

— Eu te acompanho. — Sam me sugeriu.

Nos encaramos timidamente. Me senti um pouco inquieta por isso. Não por não gostar da companhia do Sam, longe disso, mas havia decidido me concentrar em qualquer coisa que não me fizesse sentir como uma adolescente. E Sam, ele fazia eu me sentir assim. De qualquer jeito, Mel e Dean tinham coisas delicadas para conversar. Melizza estava decidida em salvar o Winchester mais velho do inferno. E embora eu achasse que não era a melhor hora, uma vez que há poucas horas Dean estava sob o encanto da Selkie, não queria ficar atrasando a conversa. Ignorei toda a ridícula timidez que tinha ao ficar perto de Sam e concordei.

— Claro.

— Tem certeza? — Dean franziu a testa.

— Aham. — Sonorizei balançando a cabeça em afirmação. — Mas ainda acho que deveria ir descansar.

Dean não me respondeu.

Só entrou no Impala depois de abrir a porta para a loira. Eu os observei, por mais estranho que pareça, era a primeira vez que via Melizza feliz e sorridente. Não qualquer tipo de felicidade. Mel nunca estava realmente triste. Eu nunca vi ela para baixo, nem nos dias após a morte de seu pai, que foi a pior fase dela que eu já vi. Mas Mel nunca demonstrou tristeza, ela sabia guardar muito bem a dor para si. Mas dessa vez Melizza estava feliz mesmo. Feliz de verdade. E eu já vi Melizza sair com muitos garotos durante as caçadas. Ela não era uma santa. Muito menos certinha. Mas o Dean mexia com ela do jeito que nenhum outro mexeu. E seria outra grande perda para ela vê-lo morrer. Eu sabia que ela não ia desistir. Mas as coisas estavam fora do nosso controle.

O próximo ano não iria ser fácil. Aqueles eram realmente os últimos dias de paz, se é que podemos chamar aquilo de paz. Mas no meu caso, eram as últimas horas...


–~-~-~-

O Stony Lonesome Park não ficava muito longe do bar. Era um lugar com muitas arvores. Estava bem calmo. Nada mais que o som dos grilos e do vento balançando os galhos. Não era a ideia inicial de Dean, ele queria ir dançar, beber. Nada de calmaria. Não depois dos seus poucos minutos de depressão. Mas Melizza insistiu em conversar. Mulheres eram difíceis de convencer. Ainda mais aquela. Mas Dean não abriu mão da música. O toca-fitas do Impala começou a rodar uma coletânea de sons do AC/DC.

— O melhor. — Comentou para si mesmo, fechando a porta do Impala.

Melizza estava escorada no capô. A essa altura já estava arrependida de ter saído com aquele vestido. A temperatura estava consideravelmente baixa. O vestido além de ser curto deixava as costas descobertas, o que era péssimo naquele clima. Encarou o Winchester que não só trazia um engradado de cervejas, ele também trazia uma caixinha vermelha.

— Também vamos comemorar o natal? — Ela ergueu a sobrancelha.

Dean pareceu desajeitado ao entregar a caixinha. Pelo menos uma vez na vida queria fazer daquele jeito, exatamente como as pessoas normais fazem. A garota encarou a caixinha. No papelão haviam vários desenhos em formato de coração.

— Você nunca fez isso, não é? — Ela perguntou se divertindo muito com a situação.

— Não. — Foi a resposta franca de Dean.

Os dois riram. Ele deu a volta na frente da garota enquanto Melizza abria a caixa de chocolates. Isso era algo que Mel não esperava. Estranhou.

— Você está se sentindo bem? — Ela indagou.

— Porque?

— É chocolate! — Ela falou como se fosse algo de outro planeta.

— É o que todo mundo compra. — Ele deu de ombros.

— Sim, mas... Você?

— Porque eu não? — Fingiu indignação.

— Não faz o seu tipo. — Disse, depositou a caixinha aberta sobre o capô.

— Qual é o meu tipo? — Dean franziu a testa esperando a resposta.

— Um tipo de idiota, mas não um completo idiota. — Ela fez uma careta, seu tom era de brincadeira. — Mas vai tentando que você chega lá.

— Pode deixar. — Assentiu entrando na brincadeira.

Encarou os lábios de Melizza. E por instinto ela encarou os dele. Melizza estremeceu ao perceber que a respiração de Dean se aproximava do seu rosto. Ela pensou em recuar, pois o assunto que a trazia ali não era esse, era muito mais importante. Mas nem mesmo houve tempo para chegar a uma conclusão. Os lábios dele tocaram nos seus, estavam quentes e o gosto da cerveja não atrapalhou em nada. Até ajudou. Ela sentiu o toque dele, suas mãos sim estavam mais frias, tocou seu rosto com uma das e a outra entrelaçou em seus cabelos. A sensação foi nova, diferente para a garota. E Dean, finalmente tocando os lábios de Melizza, confirmou o que já desconfiava. Seus lábios eram doces, suaves, delicados. Embora profundo, não foi um beijo demorado.

Os dois se encararam.

Por um momento Dean percebeu uma inquietação na loira.

— O que foi?

Mel hesitou em responder.

Cada vez mais ela tinha certeza que Dean era importante para ela. E cada vez mais queria arrumar uma forma de salvá-lo, mas agora todos os seus sentimentos se transformaram em aflição.

— Dean, eu preciso te falar uma coisa... — Melizza começou incerta, ele a encarou com atenção. — Lembra que eu te falei de um amigo? Ele me mandou mensagens hoje à tarde... — Dean assentiu, ela continuou. — O nome dele é Brian e é especialista em demonologia.

— Ele estuda demônios, é? — Ele disse com leve ironia. — Não tem mais nada de bom para fazer da vida?

— Ele acha que possa haver um meio de ajudar. — Ela disse, Dean ficou mais sério.

— Ajudar com o que?

— Com seu pacto. — Finalmente Melizza abriu o jogo, contou que sabia sobre o pacto.

E sentiu um peso saindo dos seus ombros. Dean vacilou. A sua posição não era tão cômoda. Não estava em seus planos falar sobre isso. Melizza nem deveria saber disso.

— Como sabe?

— Alguns dias depois da abertura do portão do inferno a Ellen ligou. — Melizza contou. — Ela nos falou do que tinha acontecido com o Sam, as crianças especiais e com o demônio do olho amarelo. Ela nos disse que você havia feito um pacto para salvar a vida do Sam.

— Melizza... — Ele começou, mas ela o cortou.

— Não é que eu não ache que você foi idiota, você é um idiota. — Ela foi dizendo. — Mas eu sei que o Sam é o mais importante para você. Eu não vou tacar pedras. O importante agora é te salvar do inferno.

Ele riu sem vontade.

— Foi por isso que quis sair comigo? — Ele perguntou.

— Também. — Ela afirmou sincera. — Tudo isso está me tirando o sono, Dean. Eu preciso arrumar um meio de te ajudar.

— Não há como me livrar do inferno. — A voz de Dean foi firme.

— Sim, há. — Melizza insistiu. — Meu amigo Brian disse que existe um feitiço. Ele pode quebrar o pacto. Desfazer o trato.

— E o Sam cai morto?! — Dean concluiu, Melizza não havia lembrado de tal detalhe; Sam. — Eu não vou pôr a vida do meu irmão em perigo.

— E a sua vida? — Ela perguntou olhando em seus olhos.

— Eu nem era para estar vivo. — Ele confessou. — Meu pai fez um pacto para me salvar. E se for para salvar o Sammy, eu não penso em mim.

Eles se encararam por um momento.

— Eu não sabia disso. — Disse ela. — Deve haver outro jeito...

— Não há outro jeito. — Ele a cortou.

Ela suspirou. Era como se o ar tivesse ficado mais pesado. Melizza nunca iria se dar por vencida. Não era do seu feitio. E não conseguia entender como Dean estava tão calmo e resignado. Mas na verdade ele já estava cansado. Esperanças eram inúteis. Não havia certeza alguma que matar o demônio do contrato ia cancelar o pacto.

— Quanto tempo? — Ela perguntou.

— Três meses, mais ou menos. — Ela arregalou os olhos, pasma, então o Winchester continuou. — E eu quero aproveitar cada minuto, cada dia que ainda me resta. Por isso quis fazer essa noite especial. Se esse for o meu último dia dos namorados...

Ela se levantou de repente se aproximando do Winchester.

— Eu vou até o inferno, Dean Winchester, e te busco a unha. — Melizza disse cerrando os dentes. — Mas você não vai morrer.

— Eu sou tão importante assim? — Ignorando a situação, Dean abriu o costumeiro sorriso mal-intencionado.

— Não fazem mais idiotas como você. — Ela respondeu relaxando, seu tom também era de brincadeira.

Outra vez trocaram olhares e Dean se pôs de pé em frente a garota. Os dois foram se aproximando para outro beijo. Dessa vez mais profundo e com certo desespero. Dean deslizou seus lábios sobre os de Melizza e sua língua quente pediu passagem. Ele permitiu. O beijo foi acelerando, eles sentiam a respiração um do outro, quente, em suas faces. A língua de Dean ia explorando cada canto da boca da garota e ela acompanhava os movimentos. Melizza passou os braços na volta do pescoço do rapaz enquanto ele puxou-a pela cintura, colando os dois corpos. O toca-fitas do Impala executava uma das músicas gravadas na fita. Música essa que não sairia da lembrança dos dois por muito tempo.

It was one of those nights when you turn out the lights. And everything comes into view. She was taking her time, I was loosing my mind. There was nothing that she wouldn't do.

It wasn't the first, wasn't the last. She knew we were making love. I was so satisfied deep down inside. Like a hand in a velvet glove.

Dean a conduziu até o Impala. Já não eram só beijos. O desejo entre eles os conduzia para algo mais. Melizza mal conseguia pensar. Ela não era o tipo de garota fácil e conhecia muito bem os caçadores. Eles eram lobos sedutores, ferozes, fugindo da rotina da caça que se tornava uma cruel assassina. Fugindo até mesmo da solidão daquela vida. Mas com Dean a coisa era diferente. O toque da pele dele ardia. Era tão insano que fazia ela sentir como se estivesse prestes a explodir. Os lábios dele viajaram em seu pescoço depositando beijos enquanto ela cravava as unhas em seus ombros e arfava, procurava o ar.

Seems like a touch, a touch too much. Seems like a touch, a touch too much. Too much for my body, too much for my brain. This damn woman's gonna drive me insane. She has a touch, a touch too much.

Os dois lentamente caminharam até a lateral do Impala, abrindo a porta detrás. Não se desgrudaram por um segundo. Outra vez os lábios dele a buscaram, buscaram seus lábios. Sorvendo e mordiscando. A língua dele ansiosa passeava em sua boca enquanto ela apertava seu corpo contra o dele. Entraram na parte detrás do Impala com alguma dificuldade uma vez que os dois não se desgrudavam. Melizza se recostou no banco e o rapaz a cobriu, continuando a distribuir beijos em seu pescoço enquanto a garota arranhava suas costas por baixo da camisa.

She had the face of an angel, smiling with sin. The body of venus with arms. Dealin' with danger, strokin' my skin. Like a thunder and lightening storm.

Dean se ergueu, desabotoou a camisa e finalmente se livrou dela. A loira tratou de distribuir beijos no pescoço dele. A alça do vestido saiu logo e o Winchester depositou beijos em seus ombros, voltando a deitá-la no banco.

It wasn't the first, wasn't the last. It wasn't that she didn't care. She wanted it hard, wanted it fast. She liked it done medium rare.

Os dois se encararam por um momento.

As respirações falhas e os batimentos acelerados. Mel sorriu mordendo o lábio inferior. Era tarde demais para voltar atrás.

Seems like a touch, a touch too much. Seems like a touch, a touch too much. Too much for my body, too much for my brain. This damn woman's gonna drive me insane. She has a touch, a touch too much.

O vidro do Impala foi se embaçando aos poucos.

–~-~-~-


Sam e eu seguimos o caminho até o motel barato onde Melizza e eu nos hospedamos. A noite estava escura, sem muitas estrelas. A temperatura caiu bastante desde a tarde, o que é normal nessa época do ano. A certo momento ele me ofereceu a jaqueta. A fofura tinha nome e sobrenome.

Sam Winchester.

Conversamos sobre tudo pelo caminho. E ao mesmo tempo, sobre nada que realmente fosse importante. Ele me contou porque ia fazer direito, sem dúvidas teria dado um bom advogado. Falou da infância, do pai. Só passamos o tempo jogando conversa fora.

The Thorn Birds. — Ele me disse em certo momento, eu estava meio distraída e demorei segundos para entender do que ele se referia. — O que você me disse naquela vez, a lenda do pássaro, é deste livro.

— Ah... — Sorri sem jeito, assenti. — Isso mesmo.

— É meio estranho alguém que cresceu em um orfanato ler esse livro.

Eu acabei rindo. Ele tinha razão. Chegava a ser irônico.

— Eu não li no orfanato, li no Roadhouse. — Expliquei. — Ellen gostava de ler. Pelo menos ás vezes. Eu não li todo, mas gostei da introdução.

Ele riu de leve. Acabei sorrindo ao encará-lo. E estava me sentindo meio retardada por ficar assim cada vez que estava perto dele.

— Tiveram notícias da Jo e da Ellen? — Ele me perguntou.

— Da última vez que Ellen ligou elas estavam na casa de amigos, se não me engano, passando o feriado de ano novo. — Respondi. — Elas estão bem, eu acho.

— Suas pesquisas sobre a sua mãe...?

— Paradas. — Suspirei pesadamente. — O Ash tinha tudo, se foi com o incêndio.

— Talvez possamos encontrar as pistas como o Ash fez. — Sam sugeriu.

— É, mas talvez... Talvez seja melhor assim. — Disse me voltando a ele, arrumei o cabelo que insistia em voar para todas as direções por causa do vento. — Os demônios estão no meio disso, se eu descobrir que eles a mataram ou pior, eu vou me sentir mais culpada ainda.

— Talvez ela esteja viva. — Sam considerou.

— É... — Maneei a cabeça, já havíamos chegado ao nosso destino, ou ao meu destino. — Sam, é melhor você levar o Mustang.

Mudei de assunto, mas na verdade a sugestão era cabível.

Dean e Melizza estavam com o Impala. E o motel onde Sam se hospedou com o irmão era bem mais longe.

— Não há necessidade. — Ele encarou o carro vermelho estacionado na lateral da calçada.

— Não, a chave está aqui. — Disse enquanto pegava a chave no bolso da calça, em seguida lhe joguei a chave que ele pegou no ar. — É melhor do que ir caminhando.

— E se você precisar?

— Não. — Eu disse. — Acho que não vamos precisar dela hoje. A Melizza deve voltar só de manhã... Vou aproveitar para organizar algumas coisas que estão pendentes. As caçadas não estão fáceis ultimamente.

— Nunca estão... — Ele disse em tom de comentário.

Sabe aqueles momentos em que você deseja desesperadamente ter um assunto, qualquer um, e de repente parece que não há nada de bom para ser dito? Pois é.... Esse foi um desses. E eu acho que para os dois.

Ele justou os lábios em uma linha reta, suspirando. Parecia também não ter nada para dizer. Pigarreei levemente.

— Então... Boa noite, Sam. — Disse finalmente.

Me senti um pouco contrariada, confesso. Me surpreendi ao ver que ele me encarava firmemente. Sustamos o olhar por alguns segundos. Eu só sei que algo nele me fazia ficar nervosa. O olhar. O sorriso. A voz...

— Boa noite. — Disse ele segundos depois, coçou a nuca um pouco sem graça. — E feliz dia dos namorados.

Sorri.

— Já passou da meia noite. — Tentei brincar, ele riu.

— Ainda é meia noite em algum lugar. — Foi a resposta dele.

Nos encaramos por mais alguns segundos.

Acenei e me voltei para o motel, subindo as escadas que me levariam ao segundo andar. O final da escada ficava no pátio de entrada, logo, assim que entravamos pelo portão, subíamos aos quartos. Caminhei devagar, cheguei a porta do meu quarto e respirei fundo antes de abrir.

Poderiam ter gritado “surpresa!”.


–~-~-~-

Sam não pode conter o sorriso.

Elisabeth era um poço de timidez, mesmo esforçando-se para ser como Melizza. E isso era agradável. Mas tentou afastar qualquer outro tipo de pensamento. Isso não era hora para essas coisas. Sam recuou, ainda de frente para escada e parou perto do Mustang vermelho que reluzia sob os postes de iluminação. Abriu a porta, mas antes de entrar sentiu algo lhe arrepiar. Um calafrio rápido. Sam ergueu a cabeça e encarou a rua.

Um grito.

A única imagem que lhe veio à cabeça foi de Jess presa ao teto pegando fogo. Foi puro instinto. Ou medo.

Elisa!

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Notas finais do capítulo

* música Touch Too Much (AC/DC)

* The Thorn Birds é um livro que já virou série (Pássaros Feridos) e conta a história de amor entre um padre e uma mulher - que ele conhece ainda bem jovem - e por ser impossível, os dois passam a vida infelizes. Vale a pena ler.