Três Reis Contra O Tempo escrita por Lord Iraferre


Capítulo 30
Uma Relação de Amor e Ódio Parte 2




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— Como você tem tanta certeza? Aquilo pode ser apenas um pombo gigante. — diz Brady tentando soar otimista, a sombra solta uma enorme labareda em direção à noite. — Ainda assim pode ser apenas um pombo gigante, com gases semelhantes aos do Boomer.

— Aquele é o dragão dos meus pesadelos! — diz Mikayla apontando para a sombra que se locomovia na direção deles. — Como eu disse antes, por causa dele eu fiquei semanas sem dormir.

— Pensei que você tinha ficado semanas sem dormir, por causa do poema... — diz Brady confuso. — Seja especifica garota, porque eu não estou entendendo mais nada.

— Aquele é o dragão do poema!

— Mesmo que seja um dragão, qual é a chance dele estar vindo em nossa direção? Quer dizer, ele só deve estar esticando as asas, para impressionar uma dragoa bonitona. — diz Brady pegando seu Bandolim e o chapéu.

— Eu vou ser bem direta com você. — diz Mikayla pegando Brady pelos ombros e encarando seus olhos. — Corra o mais rápido que puder, porque se aquele dragão nos alcançar, nós vamos virar espetinho! Vamos fritar, torrar, tostar, entendeu?

— Em alto e bom cuspe. — diz Brady limpando a saliva de seu rosto.

— SIMPLISMENTE CORRA!!! — diz Mikayla perdendo a paciência.

O rugido do dragão soa mais próximo e os dois começam a correr. Devido ao terreno pedregoso o avanço é lento e árduo, levando os dois a arfarem em questão de segundos.

— Vamos seguir pelo rio. — diz Mikayla.

Os dois começam a acompanhar a curva do rio, correndo nas águas rasas e pedregosas, contra a corrente.

No desespero da fuga Mikayla tropeça entre duas rochas.

— ARGH!! — diz Mikayla deixando o machado e a tocha cair na água.

A escuridão engole o mundo por completo.

— Quem apagou a luz? — diz Brady parando de correr.

— Brady, eu estou aqui!! — diz Mikayla, rangendo por causa da dor que tomava sua perna. — Meu pé está preso entre duas rochas! Eu acho que quebrei o tornozelo.

Brady chapeia a esmo até encontrar a Mikayla.

— E eu acho que me borrei quando a luz da tocha se apagou. — diz Brady puxando os braços de Mikayla.

— Cuidado! - diz Mikayla em um espasmo agonizante. — Desse jeito você vai arrancar minha perna fora!

— Foi mal... — diz Brady se abaixando ao lado de Mikayla. — Eu pensei que estava puxando seus braços, e não as pernas. O que me faz me perguntar: você está plantando bananeira?

— Eram os meus braços que você puxou, mais como eu disse meu pé está preso. — diz Mikayla impaciente.

— E o que você quer que eu faça? — diz Brady. — Fala logo mulher, um dragão de vinte toneladas está se aproximando para nos matar.

— Com delicadeza, tente achar meu pé e ajude-me a soltá-lo das rochas. — diz Mikayla tentando se acalmar.

— Consegui!! — diz Brady triunfante, apalpando um dos pés de Mikayla nas mãos. — Nossa que macio...

— Esse pé não, seu idiota! O outro!

— Desculpe se eu não tenho visão noturna, senhorita “não toque no pé errado” — diz Brady irritado. — Esse é o seu pé preso? — diz Brady esperançoso.

— É, cuidado com ele, AI! — Mikayla dá um tapa, no que acreditou ser a cabeça de Brady.

— Ei! É isso o que eu recebo por tentar te ajudar?

— Pare de fazer cócegas nele! — diz Mikayla furiosa, dando outro tapa.

— Desculpe, é que eu não consegui resistir. — diz Brady dando uma risadinha.

O bramido do dragão quase fez os tímpanos dos dois estourar. O som soou incrivelmente próximo. Próximo demais.

Logo em seguida, fora do alcance de visão dos dois, houve uma explosão que iluminou toda a região. Aproveitando da luz repentina e da distração momentânea de Mikayla, Brady puxou o pé da menina com toda a força, e ele finalmente se soltou das rochas.

— AI! AI! AIIIII!!! — grita Mikayla se encolhendo, as duas mãos sobre o pé, lágrimas de dor escorrendo. — Por que você fez isso?

— Um rei deve estar disposto a fazer o que ninguém mais faria. — diz Brady. — Alem do mais o resultado foi melhor do que o esperado, e seu pé se soltou... Agora voltemos a nos preocupar com a fuga.

Mikayla se escorou em Brady e tentou dar um passo.

— Argh! Eu não vou conseguir. — diz Mikayla trincando os dentes.

— Claro que vai. — diz Brady determinado. — Porque eu não vou morrer aqui.

Ele novamente puxou Mikayla, e ambos ficaram de pé, lentamente eles começaram a caminhar entre a parte rasa do rio, sobe rochas viscosas, a contracorrente sobre os pés.

Houve uma nova explosão seguida de um clarão. Dessa vez foi possível ver um enorme dragão fazer um rasante enquanto vomitava chamas sobre a campina.

— Ao que parece ele não sabe onde estamos. — diz Mikayla fazendo do machado uma espécie de muleta. — Por isso ele vai queimar tudo. Temos que arranjar um esconderijo e aguardar ele ir embora.

— Jura? E qual é o plano B, convidar o dragão para uma dança? — diz Brady.

Eles começam a caminhar novamente, graças as chamas que incendiavam a campina, agora eles não precisavam mais de luz. O dragão rugia furioso dominando o céu.

— Ali — diz Brady apontando para uma parte do rio que adentrava uma caverna. — Talvez possamos nos esconder naquela entradinha.

— Nessa velocidade nunca chegaremos lá. — diz Mikayla arfando.

— Quer saber, eu resolvo isso. — diz Brady.

Um dos braços de Brady passa pela costa de Mikayla, enquanto o outro toma as pernas dela. Brady fazendo muita força, toma Mikayla sobre os braços e começa a carregá-la em direção a pequena caverna. Eles avançavam muito mais rápido assim.

— Puxa Mikayla! O que você come no almoço? Chumbo com arroz e feijão?

— Foi você que quis bancar o herói, me carregando. — diz Mikayla emburrada, ela olha por sobre o ombro dele e seus olhos se arregalam. — Eu não quero ser mesquinha, mais é melhor se apressar, o dragão está dando um rasante nessa direção!

— Droga, eu e minhas ideias brilhantes! — diz Brady correndo o mais rápido que podia sobre as pedras do rio.

Eles alcançaram a caverna, ela era bem pequena e apertada, mais os dois se enfiaram nela. Deitados eles se espremeram, um ao lado do outro. Cerca de dez segundos depois, de eles se acomodarem, o dragão passou rugindo e cuspindo chamas sobre o rio.

— Uhh Essa foi por pouco! — diz Brady ensopado e cansado.

— Foi mesmo. — diz Mikayla ainda sentindo a dor no tornozelo.

Estava escuro ali na caverna, e eles ficaram em silêncio recuperando as energias.

— Entre todo esse desespero eu aprendi algo. — diz Brady, depois de alguns minutos.

— O que você aprendeu, que não se deve prender a perna em duas rochas, quando um dragão furioso quer te devorar? — diz Mikayla de forma irônica.

— Não, embora isso tenha seu valor — diz Brady reflexivo. — Eu descobri que eu odeio Kunu Nemanu... E se ele ainda estiver vivo, vou fazer questão de colocá-lo na masmorra para o resto da vida dele.

Em parte por causa do alivio de ainda estar viva, Mikayla só conseguiu responder com uma risada involuntária.


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