Três Reis Contra O Tempo escrita por Lord Iraferre


Capítulo 29
Uma Relação de Amor e Ódio Parte 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/386048/chapter/29

O caminho oeste era muito diferente do norte. Ali o cânion dava espaço para uma densa floresta retorcida. A escuridão da noite não melhorava a aparência sinistra do local. O avanço era lento, havia todo o tipo de coisa pelo caminho desde raízes contorcidas de árvores, pedras e até mesmo poças de água lamacenta.

— Rei Brady, por favor pare de respirar no meu cangote! — diz Mikayla trocando a tocha de mão. — Só porque você não tem uma tocha, não precisa colar em mim.

— Não me chame de rei — diz Brady. — Nós somos namorados, pode me chamar de "meu senhor" ou se preferir "meu sol e estrelas".

— Não somos namorados ainda — diz Mikayla. — Pelo menos até você resolver o problema com meu pai. Não precisa ter medo dele, sabia.

— Eu não tenho medo de seu pai. — diz Brady, Mikayla lhe lançou um olhar cético. — Tá bom, talvez bem lá no fundo, bem no fundo mesmo ele... Está ouvindo esse som?

— Brady não tente mudar de assunto. — diz Mikayla ficando irritada.

— Eu não estou tentando mudar de assunto — diz Brady indignado. — É que eu pensei ter ouvido alguns latidos... E eu estou me sentindo estranho, será que eles estão com problemas lá no acampamento?

— Primeiro você é estranho o tempo todo — diz Mikayla. — Segundo eu não pedi para você me seguir, e terceiro já passou da hora de você parar de ser infantil e enfrentar seus medos.

—- De novo esse papo sobre medo... Quantas vezes eu preciso lhe dizer, que eu não estou com medo?

— Não? — diz Mikayla. — Então porque você deu um pulo de dois metros, quando eu pisei numa casca de árvore dois minutos atrás?

— Eu estava alongando os músculos, estamos caminhando a várias horas e não estou acostumado a andar tanto assim desde a luta contra o Atogh. — diz Brady com uma careta.

— Estamos caminhando a menos de uma hora. — diz Mikayla categoricamente. — Admita que está com medo e eu lhe dou um beijo.

— É claro que eu estou com medo! — diz Brady entregando os pontos. — Eu estou com tanto medo que eu quase mijei nas calças quando me deparei com esta floresta... Agora que eu admiti eu quero meu prêmio.

— Enganei o bobo. — diz Mikayla dando risada da cara de Brady.

— Quem é infantil agora? — diz Brady irritado. — E vai dizer que não está com medo dessa floresta sombria, cheia de criaturas se movendo por entre as folhas?

— Eu não preciso mentir, eu estou com medo, e diferente de você eu não tento esconder isso. — diz Mikayla séria.

— Já que você foi sincera comigo, e diferente de você, eu vou lhe dar um beijo... — diz Brady tentando beijá-la.

— Boa tentativa, beijoqueiro. — diz Mikayla desviando, fazendo Brady beijar um tronco de árvore. — Não temos tempo para esse tipo de coisa agora.

— Aaaahh que saco! — diz Brady cuspindo pedaços de musgos da boca. — Qual é a graça de ter uma namorada, se eu nem posso beija-la?

— Namorar não se trata apenas de beijos, Brady, se trata de compromisso, fidelidade e aproveitar a companhia um do outro — diz Mikayla.

— Eu aproveitaria sua companhia, se não estivesse nessa selva estúpida. — diz Brady tropeçando em uma raiz e levantando irritado. — Sem contar com a presença desses mosquitos, cobras, sanguessugas e aquele dois olhos brilhantes nos encarando ali na frente... AAAAAAAAAHHHHHHHHHHH!!!!!!!!

Brady desesperado se agarra em Mikayla.

— Me de espaço! — diz Mikayla empurrando Brady com o cabo do machado. — Aquilo são vagalumes! E pare de fazer barulho ou como diria Kunu Nemanu: "vai acabar atraindo aquele que dorme nas sombras da noite".

— Mais é claro que são só vagalumes, eu só queria te testar. — diz Brady sem graça. — E eu jurava que Kunu Nemanu era um poeta de Kinkow.

— E é.

— E poetas não falam sobre amor e coisas belas como "seus olhos são minhas guias numa noite sem luar"? — diz Brady.

— Você também gosta de Kunu Nemanu? Pensei que você não suportava a leitura. — diz Mikayla impressionada com o quanto Brady ainda conseguia surpreendê-la.

— Gostar dele é uma palavra muito forte, digamos que eu li alguns de seus poemas. — diz Brady, evasivamente, escondendo o fato de que havia lido essa frase quando surrupiara o diário de Mikayla.

— Pois você deveria saber que Kunu Nemanu também adora escrever sobre o fantástico — diz Mikayla. — Alguns dos poemas dele são assustadores, eu fiquei semanas sem dormir quando li "O fogo que trás a morte das colinas".

— Um título interessante. — diz Brady incomodado. — O poema fala sobre o monte Vômito? Ou retrata o dia em que eu levei um isqueiro para um piquenique e o Boomer estava com gases?

— Nenhum dos dois — diz Mikayla vendo o medo de Brady. — Este poema é sobre um dragão gigantesco que assolou Kinkow, a muito tempo atrás, e sobre o maior feito dele que foi matar o rei Brandy. Quer que eu te conte a história inteira?

A parte final era inventada propositalmente para assustar Brady.

— Parece um poema muito legal, mais deixa para um outro dia sabe... Um dia onde não estejamos em uma floresta sombria.

As palavras de Mikayla surtiram efeito em Brady, como Mikayla esperava. Eles continuaram andando por mais algumas horas, a caminhada era árdua, a diferença é que Brady ficou em silêncio durante todo o percurso, de forma que Mikayla tinha que se virar constantemente para ver se Brady continuava andando a seu lado.

As árvores densas terminaram, dando espaço para uma extensa área aberta. Os dois aceitaram a brisa noturna com alegria. A frente deles se estendiam campos verdejantes, cheios de pedras grandes e pequenas, um riacho atravessava o caminho. Eles fizeram uma parada para se refrescar e beber água no rio.

— O caminho não deve estar muito longe — diz Mikayla lavando o rosto e os pulsos. — Temos que seguir este rio até a nascente, mais algumas horas de caminhada e conseguiremos encontrar a caniça brava...

— Horas? — diz Brady exasperado. — Pensei que se encontrássemos o rio, também encontraríamos essa banana brava que você fala tanto.

— É caniça brava. — diz Mikayla irritada com a falta de atenção do rei.

— Devia se chamar Mikayla, faria mais sentido.

— Está sugerindo que eu sou brava? — diz Mikayla colocando as mãos na cintura.

— Não, estou sugerindo que você é caniça. — diz Brady de forma irônica.

Mikayla lançou um esguicho de água na cara de Brady em resposta. Brady escorregou e caiu de bunda no rio.

— É assim é? — diz Brady limpando o rosto.

Mikayla cai na gargalhada, até ser atingida por uma bola de lama e cair também.

— Hahaha!! — diz Brady limpando as mãos, na bufante calça medieval. — Eu sempre devolvo na mesma moeda querida... Pare! Você não ousaria fazer...

Antes que terminasse a frase Mikayla juntou uma grande quantidade de lama com as mãos e lançou em Brady. A força do impacto fez Brady virar uma cambalhota e cair por inteiro no rio, Brady ficou estirado na água rasa, sem se mover.

— Isso é para você não provocar uma guerreira de Kinkow. — diz Mikayla dando risada, ao ver que Brady não se mexia seu rosto ficou sério. — Brady? Brady, está tudo bem?

Ela se aproximou de Brady, este se lançou sobre ela, pegando-a de surpresa. Os dois se espatifaram no rio lançando água para todos os lados. Brady subiu sobre Mikayla tentando afogá-la.

— Cadê... A... Guerreira... AgoraAAAHHHHHH!!!?

Mikayla com a força das pernas, girou, fazendo Brady ficar por baixo e ela por cima. Ela fingiu afogar Brady, o rei se agitou desesperado e conseguiu escapar do aperto. Ele encarou Mikayla pronto para mais uma rodada.

Mikayla ao ver sua expressão começou a dar risada, e sem resistir Brady começou a rir também. Os dois se aproximaram da margem.

— E só para constatar, eu venci. — diz Brady, Mikayla dá um soco de leve em seu braço, ainda sorrindo.

De repente o chão estremece, nas árvores próximas dali várias aves levantam voo, grasnando assustadas.

— Uow! Ou isso foi é um terremoto... Ou eu estou com mais fome do que pensava. — diz Brady apalpando o estomago.

Um grande rugido estoura no ar. Uma grande sombra, mais escura que a noite, se levanta no céu, vinda da floresta.

— Meu Deus o que é aquilo? — diz Brady assustado. — O maior morcego do mundo?

— Pior... — diz Mikayla correndo em direção ao local onde deixara o machado e a tocha. — Aquilo é um dragão!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!