Quem é o Pai da Minha Filha? escrita por Jessica_94


Capítulo 19
Contos de fadas




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Mamãe sempre esteve certa, sempre, principalmente quando contava histórias antes de dormir, ainda mais aquelas com bruxas, que atraiam princesas com casas de doces, maçãs, rabanetes e até com  um brinquedo de fazer tecido, só para fazê-las 

Monique pensava nisso enquanto corria pelos corredores pavoroso do castelo com as perninhas curtas em passinhos apressados. Agarrada ao Sansão, como se este fosse seu neném que precisava proteger. 

Mônique quase caiu ao não sentir o chão ao próximo passo, e logo se apoiou na parede para não perder o equilíbrio, era uma escada, que descia até onde não podia se ver, era tão grande, parecia uma montanha, não tinha a mão da mãe para segurar enquanto descia.

Estava tudo tão escuro, todos os monstros gostavam do escuro, aquela bruxa deveria gostar também. Mas o alto da escada não parecia tão escuro quanto o fim dela, talvez encontrasse um monstro mais perigoso do que aquela bruxa que tira crianças das mães.

- Filha! - ouviu a bruxa má chamando. Monique não respondeu porque sabia que ela não era a sua mãe - Venha cá, minha querida. Está na hora de dormir.

Monique tremeu se apertando ainda mais ao coelhinho, não deixaria que aquela bruxa a pegasse, mesmo que tivesse de descer  as escadas, mesmo sem saber o que encontraria no final dela. Afinal, sabia que quando uma princesa era posta para dormir por uma bruxa, não acordava tão cedo. E ela não gostava de dormir tanto assim.

- Princesa - a bruxa continuava chamando.

O simples "princesa" fez Monique se encorajar para descer as escadas e se apavorar em ficar mais tempo naquele lugar. Não poderia ficar mais, depender de um príncipe encantado para resgatá-la estava fora de questão, principalmente porque o prazo de espera de um príncipe chegava até cem anos. Não dava para esperar!

Monique se pôs de joelhos de costas para a escada sem largar o Sansão, esticou lentamente o pezinho para trás até sentir o degrau sob o pé. Logo pôs o outro enquanto apoiava as mãozinhas no chão, logo o pezinho foi parar no segundo degrau sendo seguido pelo outro logo depois, e as mãozinhas já estavam apoiadas no primeiro degrau. E nesse ritmo lento, Monique foi escalando as escadas pelo contrário.

- Era só isso? - Cebola estava tão cético de decepção que mal podia se conter - Depois de tudo era só isso que tinha no alto das escadas? Uma mera sala de estar?

Cebola não era o único a estar decepcionado com a descoberta, mas era o que estava mais insuportável com isso. Entre todas as visões tidas sobre o que teria no tal "cômodo misterioso", apenas a visão do Do Contra chegou mais próximo da realidade: uma sala de estar.

A diferença, era que Do Contra imaginava uma sala mais à moda bruxa, meio antiga. E a sala, definitivamente, não tinha nada disso. A sala era espaçosa sim, mas não tinha piano, o sofá não era de veludo, era de couro, e de vermelho mais alaranjado do que sangue. Tinha uma poltrona de massagem, da cor do sofá, daquelas que você deve por no mínimo dois reais no shopping para ficar por dois minutos em massagem. O carpete era felpudo e rosa pink, totalmente adolescente. Havia um abajur roxo ao lado do sofá, em formato de flor-de-sino. E para quem duvidasse da modernidade daquela sala, tinha a tevê de plasma na parede de frente para o sofá. Só havia uma única coisa que quebrava toda aquela modernidade, era as paredes de pedra com tochas em volta.

E todos pensavam que Viviane se entretinha apenas com a sua bola de cristal.

- O que você esperava? - Ramona perguntou, embora já soubesse as respostas de cada um.

- Eu duvido que isso seja de verdade -, DC se dirigiu ao centro da sala - aposto é mais um meio de ilusão hipnótica, olha isso aqui - tocou no abajur e começou a balançar - poque ela teria um abajur feio desses se ainda tem tochas...? - o abajur caiu com o balanço, a peça fina se quebrando em mil pedaços. DC olhou fixamente para oi que antes era um abajur - Ok, era de verdade.

- Isto foi... Presente da minha avó - Ramona tinha a cara retorcida pelo dano ao abajur - Mamãe só deixava de enfeite.

- Desculpe - DC ficou incrivelmente sem jeito.

- Muito bem gente, vamos voltar ao foco - Mônica entrou na liderança - A gente tem de encontrar Monique. Acho melhor a gente se separar...

- Eu não quero separar de novo - Cascão estava com um bico de dar dó.

- A gente não se separou ainda - Magali explicou - foi só nas nossas cabeças.

- Ainda assim foi apavorante - Cascão tremeu.

- Mesmo assim acho melhor... - Mônica não conseguiu terminar, pois ouviu um grito, que só poderia ser de Viviane, a deixando apavorada - Ela descobriu!

- Que eu quebrei o abajur da mãe dela? - DC perguntou.

- Sogra - Ramona corrigiu.

- Eu não estou falando da porcaria do abajur - Mônica tinha perdido a paciência - Estou falando que ela descobriu que escapamos da armadilha.

- Já não era sem tempo - Cebola ironizou.

- Vamos logo, acho que não será preciso se separar - Ramona explicou se referindo a localização dada pelo grito de Viviane.

Mesmo tendo dito que não precisavam se separar, Mônica saiu correndo na frente.

Monique demorou, mas chegou ao final das escadas, vendo o quanto tinha se enganado sobre a sua iluminação. A sala era completamente iluminada, só que sem tochas nem luz elétricas para o fazê-lo, a iluminação vinha de diversos vidros na sala, com líquidos de vária cores que brilhavam. Mônique ficou em dúvida se ali era a cozinha ou o lugar onde a bruxa fazia as sua bruxarias. logo pensou que só poderia ser a segunda opção.

Lembrando que a bruxa queria colocá-la para dormir, resolveu acabar com as suas chances de ter um sono além do normal. Pensando em todas as princesas que foram vitimas daquele destino - a qual ela só conseguia lembrar de uma - esticou as mãozinhas até o alto da pia que se encontrava a poção mais próxima.

- O que você está fazendo aqui?

Conseguindo pegar o líquido no mesmo instante em que a bruxa apareceu, Monique num ato completamente rebelde, jogou o frasco com tudo no chão, finalizando com um bico de raiva e desafio nos lábios.

- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO??? - Viviane começava a se apavorar, enquanto via Monique pegar mais frascos e jogá-los ao chão  - Pare já com isso!!!

Viviane tentou alcançar Monique, mas esta atacou uma poção em seus pés, que o fizeram queimar momentaneamente.

- VOCÊ MERECE UMA SURRRA!!! - Viviane gritava pelos pés queimados - Não vou permitir que cresça rebelde como a sua irmã!

Mas Monique não escutava, continuava quebrando tudo. Até que mesmo com dificuldade pelos machucados nos pés, Viviane conseguiu agarras Monique belos bracinhos.

- Te peguei, sua peste!

- MÃMÃE!!!

A porta ao lado, que nem era percebida antes até aquele momento, foi arrombada, seus pedaços foram parar perto de Viviane, alguns atingindo suas roupas, e outros destruindo ainda mais o cômodo.

- Fica longe da minha filha - Mônica parecia uma leoua e não parou só na ameaça, desferiu um tapa bem forte em Viviane, que nem percebeu quando soltou Monique.

Apesar da força da Mônica, Viviane tinha um corpo maior que lhe dava vantagem. Viviane emperrou os ombros de Mônica até a mesa de poções, prensando suas costas sobre os cacos de vidro. Mônica gemeu audivelmente ao sentir os pedaços de vidro invadindo sua carne.

Mônica não fraquejou por isso, mandou uma adiamento para a dor ao se apoiar na mesa e chutar o abdômen de Viviane. Mônica partiu para cima dela logo em seguida, mas a pressão do golpe fez com que as duas acabassem rolando no chão, logo Viviane também sofria com os cacos. Entretanto, Viviane  conseguiu ficar por cima de Mônica, segurando ela entre suas pernas, enquanto tentava com a sua mão aproximar um caco de vidro grande no pescoço de Mônica, que segurava o seu braço para impedir a sua aproximação.

Monique ficava ali, chorando em silencio, tinha de ajudar a sua mãe, mas não sabia como. Olhou em volta para ver se encontrava alguma coisa que pudesse servir como arma, e encontrou Sansão no meio dos cacos do chão. Com passinhos medrosos Monique pegou o coelhinho. Com lágrimas nos olhos, mirou em Viviane, com toda a força, atacou.

A coelhada não foi forte o suficiente para Viviane perder os sentidos, mas fez com que ela soltasse sua arma e dirigisse seu olhar para Monique, um olhar assassino.

- Traidora...

Monique passou a tremer de medo quando viu Viviane se levantar para atacá-la. Mas Viviane caiu logo em seguida, de bruços, revelando o caco de vidro em sua costas, que antes fora a sua arma. 

- Monique... - Monica, mesma coberta por dores e cortes, tirou forçaspara se levantar e se aproximar de Monique, que agora chorava lágrimas de alívio, era a primeira vez que chorava dessa formar, poder chorar enquanto se sentia bem.

Mônica deu pssos dolorosos até Monique, quando se surpreendeu com a voz de Viviane.

- Vá embora... - susurrava com a voz arrastada - deixe esta casa...

Mônica ignorou completamente Viviane, de qualquer jeito, não ficaria mais um minuto naquela casa. Sentindo a dor em cada passo, Mônica conseguiu por fim se aproximar de Monique e se ajoelhar diante dela, segurando seu rostinho docemente nas mãos arranhadas.

- Sabe como termina a história? - sussurrou, como se fosse um segredo.

Monique balançou a cabeça em negativa, ainda assim, sorrindo para a mãe que acariciava seu rosto suado.

- A princesa foi resgatada da bruxa má pela fada mãe... Voltou para o seu castelo com os amigos e viveu feliz para sempre.

Monique sorriu ainda mais, ela seria feliz para sempre, sua mãe disse, e sua mãe nunca mentia.


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Notas finais do capítulo

E aí, alguém já escalou uma escada pelo contrário? Comentem, mesmo que seja pra dizer que não gostaram.
Beijos.