Eternos escrita por ThC


Capítulo 7
Capítulo 6




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Helena finalmente chegou ao seu destino naquela tarde, parou em frente ao teatro onde Harry trabalhava e, por um momento, hesitou em abrir a grande porta de madeira, mas logo se recordou da ligação que tinha recebido de Harry, pedindo para que ela fosse o mais rápido possível até o local. Antes mesmo de Helena colocar a mão na porta para empurrá-la, Albert a abriu pelo lado de dentro e saiu com uma grande caixa nas mãos, notava-se que havia plumas e fantasias lá dentro.

- Boa tarde, garota! Como está hoje? O teatro está movimentado, entre, fique à vontade! – O senhor falava rápido e entusiasmadamente, mas seus tristes olhos deixavam transparecer as lágrimas que tentava conter.

- Está tudo... – Mas antes de Helena conseguir perguntar o que estava acontecendo ali, Albert entrou rapidamente na porta ao lado do teatro, onde ficavam as roupas e objetos usados pelos atores. De dentro do grande prédio, Harry saiu esfregando as mãos uma na outra e olhando o céu. – Aconteceu alguma coisa?

- Comigo? – O garoto franziu as sobrancelhas.

- Não, com você não. Aliás, oi. – Helena sorriu discretamente – Com o Albert.

Harry abaixou a cabeça e chutou uma pedrinha que estava na calçada. Olhou para o céu novamente e, não podendo mais hesitar, olhou para Helena.

- Rose faleceu. Ontem.

Helena olhou desesperadamente para Harry, com os olhos marejados de lágrimas e as mãos trêmulas.

- Por isso me pediu para vir até aqui?

- Aparentemente, sim. – Harry respondeu, sentando-se na calçada em frente ao teatro. – Albert está arrasado por dentro, mas como todo bom homem igual a ele, quer parecer forte e fingir que tudo está bem.

- Mas sua esposa morreu, é lógico que nada está bem! – Helena falava num tom de voz mais alto olhando para os cabelos de Harry. Harry olhou para ela com um ar de reprovação, Helena pigarreou e sentou ao lado do garoto. – Ok, desculpe. Mas é claro que ele não está bem e não adianta ele fingir por muito tempo. Ele precisa encarar a verdade, a qual é sempre pior, mas necessária. – Helena falou mais baixo e calmamente.

- Diga isso a ele. – Harry olhou para Helena tentando confortá-la, sabia que Helena se sentia afetada por tudo à sua volta, por mais que negasse. – Assim como é difícil convencer a senhorita de algumas coisas, é meio impossível conversar com Albert à respeito disso. Vocês são parecidos demais, Cristo! E eu não sei lidar. – Harry pegou uma folha que havia caído da árvore ao lado deles e começou a picá-la em vários pedaços.

- Espero que quando ele tiver que encarar a realidade, as coisas não sejam tão ruins.

- Sempre é. – Harry murmurou. Antes que Helena pudesse dizer algo, Albert saiu da porta ao lado do teatro com o rosto vermelho e sem a caixa nas mãos. Helena olhou para o homem e Harry levantou-se imediatamente.

- Não se preocupem, crianças. Tudo ficará bem. – Albert deu um sorriso torto e caminhou até o teatro.

- Sabemos que não ficará, Albert. Pelo menos nos primeiros meses. Mas tenta ser forte, sei que não é uma coisa muito racional dizer isso a alguém que acaba de perder o amor da sua vida – Helena olhou para Harry com um ar de reprovação, como se dissesse para ele ser mais sensível, Harry entendeu – mas, olha, ela não ficará orgulhosa do senhor se o ver chorando pelos cantos como se o tempo todo que vocês viveram juntos tivesse sido em vão.

- E, além disso – Helena continuou – acho que ela gostaria muito de ver o senhor encenar uma de suas peças. Lembro-me que disse que ela adorava ver o senhor atuando quando jovem. – Harry sorriu.

- Não é tão fácil, mas eu também acho que ela ficaria feliz se eu fizesse isso. Prometo a vocês que vou me esforçar e escrever uma história, mas – Albert se aproximou do casal – eu quero que vocês também participem da peça.

- Acho que não... – Helena cruzou os braços como uma forma de se proteger de algo – nunca fiz esse tipo de coisa.

- Você escreve, Helena. Tem alma de artista, o que seria uma peça de teatro perto do seu talento? – Albert estava tentando convencê-la. Helena olhou para Harry se perguntando se ele tinha contado para Albert tudo o que ela contou par ao garoto. Harry, percebendo o olhar de Helena, deu um empurrão para que ela aceitasse de uma vez.

- Posso tentar, mas não garanto que vai ser lá grande coisa. – Helena riu. Há dias, Harry não conseguia fazer Helena sorrir. A última vez foi quando ele pisou numa grande poça de água enquanto caminhavam para a ponte. O semblante de Harry frustrado pelo que tinha acontecido despertou em Helena um espírito infantil e divertido, a garota riu do acontecido e Harry caminhou em silêncio até a ponte. Chegando lá, Helena pediu desculpas pelas risadas e perguntou se o garoto queria ir a algum lugar para se secar. Harry assentiu com a cabeça e, a caminho da lanchonete mais próxima, empurrou Helena em uma poça d’água. E assim, Harry riu da garota até chegarem à lanchonete. Só que, dessa vez, os dois riam.

Albert entrou no prédio e o silêncio voltou a reinar entre os garotos.

- Ahn, quer dar uma volta? – Harry perguntou acanhado.

- Há muita gente na ponte há essa hora.

- Podemos ir para outro lugar, não sei. Já acabei o que tinha para fazer aqui no teatro, tenho a tarde toda livre.

- Para o meu apartamento, então.

Harry assentiu e começaram a caminhar, mais uma vez, em silêncio. Harry não via a hora em que poderia andar ao lado de Helena, de mãos dadas com ela, conversando sobre como o presente é bom ou como o futuro pode ser melhor ainda. Mas, por enquanto, a companhia silenciosa de Helena já era o suficiente.

Durante o caminho todo, Helena mexia freneticamente em suas várias pulseiras que usava. Harry estralava os dedos e os dois pensavam em como amavam um ao outro. Pensavam no medo também.

- Chegamos. – Helena parou em frente a um prédio branco e comprido. As janelas eram decoradas conforme o gosto dos moradores. Parecia um lugar grande, porém aconchegante. – É no terceiro andar. Vamos pela escada, se não se incomodar. – Já estavam dentro do prédio e caminhavam até uma porta branca feito neve.

- Tem medo de elevador? – Harry parou no meio do saguão e botou as mãos na cintura, com um ar cômico – Sério?

- Não faça esse tipo de piada, garoto. – Helena se virou e continuou andando até a porta – Não é medo, é só... receio – A garota respondeu com dúvida sobre o que pensava.

Harry a alcançou e puxou sua mão.

- Vamos tentar, só hoje, ok? Depois prometo que nunca mais volto aqui e você pode usar sua escada quando quiser. – O garoto olhava nos olhos dela, como se pedisse para ela fazer isso, como se implorasse a permissão para ajuda-la. Finalmente, estava arriscando. Tudo o que eles precisavam era de um minuto de uma coragem descontrolada.

- Está bem – Helena suspirou e acompanhou Harry até o outro lado do saguão, onde ficava o elevador. – São só três andares, só três andares... – Helena olhou para Harry, já dentro do elevador – Eu nunca andei nisso antes, pelo menos não aqui.

- Então vai ser sua primeira vez e eu prometo que nada de ruim vai acontecer. – Harry ofereceu a mão para Helena, ela entrou no elevador sem pegar na mão dele. Harry riu.

- O que foi?

- Nada. – Harry olhava Helena enquanto ela apertava o botão referente ao terceiro andar. – Nunca é nada.

Helena respirava fundo, suas mãos suavam e para parecer calma, encostou-se à parede do elevador e olhou para o teto. Harry a olhava e só conseguia pensar no quanto a amava, no quanto iria agradecer a si próprio se fizesse algo para Helena, nem que seja só andar de elevador com ela e enfrentar o medo da garota. De repente, a luz do pequeno ambiente apagou-se e o elevador parou.

- Só pode ser brincadeira... – Helena murmurou com a cabeça inclinada em direção a Harry.

- Droga! Tenta manter a calma, tá? Ahn, com certeza alguém vai nos tirar daqui. – Com o celular ligado, Harry tentava iluminar o painel de botões à procura de algo que fizesse tocar algum alarme ou alguma coisa do tipo.

- Manter a calma?!? – Helena começava a ficar histérica – Você pede a uma pessoa que tem medo de andar de elevador manter a calma quando está dentro de um maldito elevador pendurado sabe-se lá onde? Jura? Você é incrível. – Helena deixou-se escorregar encostada na parede até o chão. Tentava respirar fundo, mas tinha a impressão de que sua garganta estava toda fechada.

Harry mantinha o silêncio. Não sabia quando sairiam dali, não sabia se sairiam. Apertou o botão referente a emergências, mas sabia que esse tipo de coisa era complicado.

- Eu só quis ajudar – O garoto sentou-se ao lado de Helena – Eu não poderia saber que isso iria acontecer! Que droga!

Helena não respondeu. Tentava não entrar em pânico. Após exatos 7 minutos, olhou para o lado e tudo o que conseguia enxergar era o brilho nos olhos de Harry.

- Ficar olhando para mim não vai adiantar nada.

- Isso aqui me lembra quando a gente ficava na ponte – Harry procurava a mão de Helena dentro de toda aquela escuridão.

- Só que a diferença é que a ponte é um lugar aberto e eu posso respirar tranquilamente, diferente daqui  – Helena sentiu a mão de Harry segurar a sua. Olhou para baixo, mas não conseguia ver nada. Helena também segurou forte a mão do garoto e parecia que todo o amor do mundo estava presente naquele cubículo.

- Olha, eu acho que agora é uma boa hora para...  – Antes mesmo de Harry conseguir terminar a frase, o garoto sentiu a respiração ofegante de Helena perto do seu rosto, ao se virar, encontrou o brilho dos olhos da garota. Não conseguindo mais segurar todo aquele sentimento dentro dele, aproximou-se de sua amada e, finalmente, os lábios se encontraram. Foi algo puro e rápido. – Desculpa, eu não devia...

- Ei – Helena sorria, ele conseguia ouvir o coração dela bater. E ele não poderia sentir mais gratidão por saber que o coração dela batia por ele. Helena soltou a mão de Harry e procurou pelo seu rosto, a garota acariciava o rosto de Harry enquanto este sorria – Eu sei que não é comum eu dizer essas coisas, mas... Vai dar tudo certo, eu quero que dê tudo certo. E eu não estou falando do elevador, não – Os dois riram. – Mas é difícil pra mim. Eu não tenho controle sobre o que eu faço. É impulso. E eu sei que há algo de errado comigo, mas eu prefiro não saber o que é. Eu já me sinto uma péssima pessoa sem dar um nome pra toda essa confusão, prefiro continuar sem saber.

- Vai ficar tudo bem, ok? – Harry beijava o rosto inteiro de Helena – Eu não quero saber sobre o seu problema, eu quero saber sobre você. Eu não ligo se você é diferente das outras garotas, na verdade, é pra isso que eu ligo. Você é diferente. – Harry sussurrava com urgência todas as palavras que estavam guardadas há tempos dentro dele. Helena o beijou, finalmente. Um beijo desesperado, um meio de pedir ajuda. Um pedido de socorro.

                                                                  ***

A porta do apartamento se abriu, Helena e Harry entraram.

- Mas veja quem está aqui! – Lili levantou vacilante do sofá em direção a Harry – Então você é o famoso Harry?

Harry assentiu positivamente com a cabeça.

- Já disse que não é bom você beber durante o dia. – Helena foi até a mesa de centro e recolheu as várias garrafas que lá estavam – Aliás, você não deveria beber nunca mais. Semana passada você desmaiou em cima da passarela, você emagreceu 14kg depois que voltou da sua última viagem, onde está querendo chegar?

- Ao topo do mundo, Lena. – Lili se apoiou no balcão da cozinha, olhando Harry.

- A gente ficou preso no elevador. – Harry tentou quebrar o clima ruim. – Durou quase 25 minutos, eu acho.

- Isso é bom...

- Você deveria ir tomar um banho, Liliane. – Helena interrompeu a amiga. Já estava perdendo a paciência com a irresponsabilidade de Lili. Aquele apartamento transbordava problemas e Helena não sabia mais como agir. – Vou preparar algo para a gente comer, ou sei lá. – Helena disse dirigindo-se a Harry e caminhando até a dispensa.

- Sabe, Harry, toda vez que tento falar sobre você, Helena muda de assunto. Acho que o amor assusta a minha amiga. – Lili disse olhando para Helena, queria uma reação.

- O amor me assusta também, Lili. – Harry respondeu de cabeça baixa. 


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