Eternos escrita por ThC


Capítulo 6
Capítulo 5




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Helena foi acordada por Lili gritando seu nome casa adentro. Era uma manhã de sábado e a amiga acabara de voltar de viagem.

- Bom dia, meu amor! – Lili jogou as malas na sala e foi até o quarto de Helena. A garota, ainda sonolenta, abriu os olhos preguiçosamente enquanto era iluminada por pequenos raios de sol que entravam pela janela um pouco aberta – Não vai me dizer que não sentiu saudades!?

- Claro que senti, Lili. – Helena deu um pequeno sorriso enquanto sentava na cama e abraçava a amiga. – Um mês, não foi?

- Exato, mas agora estou de volta. Vou viajar para outro desfile daqui há três semanas, mas tenho certeza de que nesse espaço de tempo você vai me colocar dentro de todas as novidades. – Lili levantou e foi até o banheiro de Helena, olhou no espelho, prendeu o cabelo e lavou o rosto. A viagem fora cansativa e agora Lili estava em casa novamente, com quatro quilos a menos.

- Emagreceu, não foi? – Helena observava a amiga que caminhava de volta ao quarto.

- Minha felicidade está tão estampada em meu rosto assim? – A amiga deu uma gargalhada e parou de frente para Helena.

- Sabe o que eu penso disso.

- Não se preocupe, ainda não sinto meus ossos quando sento na cadeira. – Lili deu uma risada debochada e foi para a cozinha – O que acha de sairmos hoje à tarde? Quero fazer umas compras. – A garota de cabelos negros gritava para a amiga que ainda estava no quarto.

Helena revirou os olhos e permaneceu em silêncio por alguns segundos. Não gostava quando sua amiga agia dessa forma. Mas Lili era Lili, a mesma garota que a acolheu quando Helena decidiu ir atrás de seu sonho.

- Estou vendo que lucrou bastante com o desfile. – Helena se dirigiu até a cozinha e sentou no banco que havia na frente do balcão.

- Não só com o desfile, Lena. Participei de uma sessão de fotos de um fotógrafo conceituado da cidade. Tudo depois de perder esses quatro quilos – Lili ria enquanto apertava a lateral de sua barriga – Mas ainda temos mais trabalho a fazer.

- Você está enlouquecendo. – Helena retrucou e caminhou até o sofá.

- Não tanto quanto você. Mas me conte, o que houve por aqui na minha ausência.

- Nada demais. – Helena roia as unhas enquanto pensava numa resposta mais ou menos interessante para satisfazer a curiosidade da amiga. – Fui ver Harry atuar.

- Ah, a senhorita foi acompanhar o trabalho do cavalheiro, que coisa linda. – Lili disse sorrindo enquanto sentava ao lado de Helena com uma tigela de cereais na mão. – Quero conhecê-lo.

Helena a olhou assustada.

- Para quê?

- Já disse uma vez e repito, quero conhecê-lo. – Lili separou cuidadosamente alguns grãos de cereais enquanto comia outros de tipos diferentes. Helena observava aquilo curiosamente. – Sabe que quero seu bem, Lena.

- Eu entendo. Vou apresentá-lo a você algum dia. – Helena ainda observava o que Lili estava fazendo – Vou tomar um banho. Tenho que sair agora, mas volto no fim da tarde para irmos às compras, ok? – disse com uma voz lenta e pesada.

- Combinado.  – Lili sorriu.

Helena ficou fora o dia todo. Lili usou o computador da amiga para procurar dietas que realmente funcionassem, seguindo alguns sites e procurando contatos para futuros eventos em que poderia participar. Liliane estava realmente animada com sua carreira, o sucesso ainda era pequeno, mas já era considerável para uma garota de 18 anos que veio do interior da Itália para se apresentar para o mundo. Era um bom começo. Ou melhor, seria um bom começo se aquele vaso sanitário e aquela escova de dente não a atraíssem tanto. Lili terminou de comer os quatro pedaços de bolo que estavam cortados milimetricamente iguais à sua frente. Fechou os olhos, respirou fundo e caminhou tranquilamente até o banheiro. Tentava manter a calma, embora seu coração estivesse acelerado. Abriu o armário e pegou sua escova de dentes, jogou os cabelos para trás e ajoelhou em frente ao vaso sanitário. Apertou fortes os olhos e enfiou a escova na garganta, na segunda vez, toda a comida que havia ingerido até àquela tarde foi colocada para fora. Após algumas tosses e lágrimas, Lili, apoiando-se na pia, levantou-se devagar, lavou o rosto e os pulsos. Olhou para toda aquela comida e depois se olhou no espelho, estava pálida. A garota sentiu uma imensa necessidade de chorar ou de sair correndo para fora daquele apartamento, mas apenas fechou os olhos e esperou que a respiração voltasse ao normal. Deu a descarga e lavou as mãos novamente. Sentiu-se fraca, não fisicamente, mas psicologicamente. Lembrou-se de que não era a primeira vez que tinha feito isso e, aparentemente, não seria a última.

                                                               ***

No fim daquela tarde, Helena e Lili encontravam-se em um dos maiores shopping de Londres. Helena estava entediada enquanto Lili parecia empolgada observando todas as vitrines do grande estabelecimento. Finalmente, após horas de compras, após várias entradas em diversas lojas e após dezenas de peças de roupas trocadas nos provadores, as duas garotas sentaram em um café próximo à grande janela que havia em uma das paredes do shopping. A vista atrás dessa janela era uma grande cascata artificial de água que havia num pequeno jardim em frente ao shopping, era realmente inspirador. Lili pediu apenas uma água enquanto Helena quis um copo grande de chá e biscoitos de chocolate.

- Sem fome, Liliane? – Helena disse dando um gole no seu chá sem tirar os olhos da amiga.

- Sim, Helena – Lili sorriu falsamente passando a mão pela barriga que insistia em roncar baixo – Estou feliz com minhas compras.

Helena não respondeu. A garota observava a cascata com o olhar vazio e dolorido. Sabia que Lili estava ciente de que algo estava acontecendo, mas não iria iniciar uma conversa sobre o que tinha ocorrido e não tinha certeza de que seria sincera se caso a amiga lhe questionasse.

- Você deveria procurá-lo. – Lili disse rispidamente enquanto olhava as blusas dentro das sacolas.

- Quem? Procurar quem? – Helena parecia confusa e nervosa.

Lili sorriu sarcasticamente, ria de Helena e de como ela tinha medo de ser feliz, de tentar.

- Não acha que vai conseguir se esconder de mim para sempre, acha? Compreendo que você já sofreu e já se decepcionou demais, Helena, mas você precisa ser forte. Não estou me referindo aos seus sonhos ou às suas frustrações e sim ao seu recomeço, o qual ambas sabemos que será necessário uma hora ou outra...

- Não se tudo acabar antes.

- Tudo o quê? Não vá me dizer que anda tendo aqueles pensamentos novamente, porque se tiver...

- Eles nunca me deixaram, Lili. – Helena a interrompeu bruscamente, olhando Lili com os olhos vermelhos e o rosto já corado – Eles nunca foram embora, ok? Eu ainda continuo imaginando como seria bom, ou não, se um maldito carro me acertasse em cheio enquanto eu estivesse atravessando a rua, como seria menos doloroso se eu apenas tomasse dezenas daqueles comprimidos que você sabe que ainda guardo nas minhas coisas. Eu ainda escolho o maldito prédio que vai servir de cenário quando eu decidir, num maldito dia de verão, subir na cobertura dele e acabar com tudo isso. Se é sobre isso que quer conversar, Lili, aqui estamos. Eu nunca voltarei a ser quem eu era quando eu tinha 8 anos de idade, isso não vai acontecer. Sabe o por quê? Porque minha mãe não está mais aqui, porque a única coisa que eu ainda acreditava ser meu futuro foi rejeitada por diversas pessoas dizendo que não sou boa o suficiente e, sinceramente, estou cansada de me esforçar e nunca ser ótima e brilhante o bastante, nem mesmo para mim. – Agora Helena estava em lágrimas, torcendo a barra de seu casaco e tentando desviar o olhar de todas aquelas pessoas que insistiam em olhá-la.

Lili agora estava sentada ao lado da amiga, segurava uma de suas mãos e olhava-a com pena e ao mesmo tempo com um olhar solidário. Liliane realmente amava Helena e sabia que Helena também mantinha um sentimento muito grande em relação a ela. Era, depois de sua mãe, a pessoa que mais conhecia Helena e, agora, a única.

- Não vou lhe dizer para ser forte, ok? Você terá seu tempo. Permita-me apenas de lhe implorar uma única coisa: não se destrua. Por favor, não mais do que você já está devastada. Você não merece isso, Lena – Lili sussurrava enquanto Helena enxugava as lágrimas com a manga do casaco – Eu realmente não queria tocar nesse assunto, me desculpe. Eu me referia a Harry ou seja lá que for. Eu sei que tem alguém, Lena.

- Mas esse é o problema, eu sou sempre o problema. Se não fosse toda maníaca assim, tudo estaria bem.

- Então, quer dizer que há alguém apaixonada por aqui. – Agora Lili sorria tentando descontrair aquele triste momento.

- Não tem paixão nenhuma aqui, Lil. Muito menos amor. – Helena protestou.

- Mas ninguém falou de amor... – Lili ria enquanto voltada para a cadeira que estava sentada anteriormente. – De qualquer forma, há algo. Porque sei que você não mudou o nome do personagem principal do seu romance para Harry apenas porque é um nome bonito...

Helena engoliu o chá com dificuldade, tossindo rapidamente e arregalando os olhos.

- Você leu meu romance?

- A senha do seu computador não é tão criativa assim, Helena. – Lili agora sorria triunfante por ter chegado ao ponto em que queria. Estava ciente de que Helena odiava falar sobre seus sentimentos, mas era necessário estar a par de tudo o que acontecendo com Helena, pela própria segurança da garota. Em relação à Lili, a própria achava que estava tudo bem.

- Não quero falar disso.

- Tudo bem, senhorita “eu adoro ter segredos e não irei contar nada para a minha melhor amiga”. – Lili imitou uma voz fina e finalmente fez com que Helena sorrisse pela primeira vez naquele dia.

- Vamos embora? Por favor... – Agora Helena fazia cara de choro e implorava para a amiga para irem para casa, Helena não gostava de dias de compras. – Não me obrigue a me irritar com você de novo.

- Você é quem manda. – Lili levantou-se e pegou as sacolas do chão, deixou algumas notas de dinheiro em cima da mesa e abraçou Helena de lado, indo em direção à saída.

                                                               ***

Na madrugada seguinte, Helena tinha voltado mais cedo do trabalho. Pediu para Katherine dispensá-la, pois não estava bem para dançar e impressionar todos aqueles homens carentes e sedentos por um corpo de uma jovem.

Sentia saudades de Harry, mas não se atrevia a procurá-lo. Helena sabia que tinha desapontado o garoto e estava com medo de ter que encarar a possibilidade de ele não querer mais vê-la.

Imersa no silêncio e sendo iluminada apenas pela Lua que insistia em brilhar pela janela, Helena fechava e abria os olhos como se pudesse acordar de um sonho ruim. Ela desejava voltar a sua infância, aos seus devaneios, às suas histórias mirabolantes. Queria sua mãe de volta. Todo esse pensamento foi interrompido pelo celular de Helena. A garota ouviu a notificação de mensagem e esticou o braço até o criado-mudo para alcançar seu celular. Na mensagem estava escrito:

- Já faz um mês desde a peça de teatro... Harry

Helena sentiu seu coração acelerar e sorriu instantaneamente. Estava feliz por Harry a ter procurado e ao mesmo tempo assustada pelos seus sentimentos. Decidiu então responder ao garoto:

- Achei que não iria querer me ver nunca mais. Lamento por... Você sabe. Helena

Helena enviou a mensagem e esperou apreensiva pela resposta, ele poderia ter mandado aquilo apenas para testá-la, para confirmar se ela sentia algo por ele. E funcionou. O coração de Helena ainda estava acelerado. Minutos depois, ela obteve resposta:

- Achou errado. E pare de se lamentar. Encontre-me na ponte. Agora.

Antes mesmo de Helena abrir a mensagem, outra notificação apareceu.

- Aliás, já estou aqui.

Sem pensar muito, Helena levantou-se da cama, estava apenas de calcinha e sutiã, pegou o primeiro sobretudo que encontrou no meio da bagunça de seu quarto, apanhou seu celular e as chaves e saiu do apartamento sem fazer barulho para não acordar Lili. Estava feliz e tensa ao mesmo tempo. Helena se sentia estranha.

Cerca de trinta minutos depois, finalmente a espera de Harry valera a pena, reconheceu o andar e o corpo de Helena caminhando ansiosamente em sua direção. Harry sorria e estralava os dedos, jogou o cigarro fora e levantou para receber a garota.

- Me sinto com quinze anos de novo. – Helena comentou com um sorriso quase imperceptível, embora sua voz revelasse toda a felicidade e nervosismo que ela sentia. – Ter de sair de casa sem fazer barulho no meio da madrugada para não acordar ninguém.

- Desculpe por incomodar, eu só...

- Não incomodou, Harry. – Helena sentou ao lado de Harry, que ainda estava em pé. – Realmente achei que não iria querer me ver mais.

Harry permanecia em silêncio. Helena olhou para suas mãos que estavam apoiadas em seu colo e fechou os olhos, ouvindo apenas o barulho das águas e a respiração pesada de Harry.

- Senti sua falta. – Harry finalmente sentou ao seu lado, mais perto do que Helena imaginava que ele iria se sentar. Helena olhou para o rosto pálido do garoto. Helena sabia que sentia alguma coisa desconhecida e intensa por Harry, ela realmente sabia, mas tinha medo de machucar, acima de tudo, o coração do garoto porque isso iria acontecer. Já estava acontecendo.

Helena sorriu enquanto Harry tinha o olhar fixado à sua frente, desejava poder beijá-lo e se aninhar a ele naquele momento, mas não poderia deixar que tudo isso se tornasse mais intenso ou então o sofrimento seria maior. Mas Harry não se importava, estava decidido a entregar seu coração à Helena, mas que ela o devolvesse cortado em mil pedaços. Estava disposto a arriscar, mas Helena realmente relutava contra toda essa vontade. Após longos minutos de um profundo silêncio, a garota finalmente se infiltrou naquele ar pesado e tenso.

- Também senti sua falta. – Murmurou Helena e sua mão procurou a mão de Harry, rapidamente o toque aconteceu e foi como se Harry tivesse acordado de um transe. O coração do garoto acelerou e tudo o que ele podia pensar em fazer era abraçá-la e dizer o quanto a amava, mas isso iria arruinar tudo. Harry olhou para as mãos juntas, uma em cima da outra e sorriu. Helena queria esconder a expressão de medo e a vontade de chorar, encostou sua cabeça no ombro de Harry, afim de fugir dos olhos do garoto. Harry depositou um pequeno e afetuoso beijo na cabeça de Helena, que fechou os olhos e desejou que aqueles minutos jamais terminassem. E, naquele momento, Harry soube que seriam eternos.


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