Flashback E Ecos escrita por Melanie


Capítulo 4
Capítulo Três


Notas iniciais do capítulo

Pearl Jam - Last Kiss



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“Oh, onde? Onde estará o meu amor? O senhor tirou-a de mim. Ela foi pro céu então, tenho que ser bonzinho. Assim, verei meu amor, quando deixar este mundo.”

x-x

Dia do acidente – Los Angeles, Califórnia

            O dia havia amanhecido cinzento em Los Angeles e Rachel dirigia calmamente pelas ruas ainda pouco movimentadas. Uma leve dor de cabeça já começava a despontar e isso foi o suficiente para amargurar seu bom humor e lhe dar a certeza de que o dia não seria bom ou até mesmo produtivo.

            Ligou seu rádio em uma estação musical qualquer e deixou a melodia suave a acalmar. Quinn havia saído em uma curta viagem para verificar locações das novas fotos que trabalhava e estava fora desde a tarde anterior, e isso havia feito a noite de Rachel não ser tão bem dormida.

            Sentia falta de ressonar nos braços quentes da loira, e nunca conseguia dormir bem quando estavam distantes.

            Foi a primeira a chegar no prédio da gravadora da família e cumprimentou o porteiro que sempre ali ficava com um sorriso pequeno e cansado. O homem abriu a porta para que a morena pasasse e devolveu-lhe um sorriso cheio de dentes e um aceno simpático com a cabeça. Rachel sempre gostara daquele homem.

            Esperou pacientemente o elevador e só então fez seu caminho para o décimo andar. Acendeu as luzes de toda a imensa sala de entrada e depois do seu escritório. Jogou sua bolsa em uma das poltronas e novamente massageou as têmporas. Sua dor de cabeça piorara significativamente.

“Era tudo que eu precisava.” Murmurou para o nada e deixou sua sala.

            Foi para a primeira sala de gravação – sua favorita em todo o andar.

            Uma das paredes da sala de controles era coberta de assinaturas de todos os artistas que já tinham trabalhado com a gravadora. Era a única de todas as cinco salas do andar que tinha esse diferencial. Rachel lembrava de adorar ficar vendo as assinaturas quando era criança e seu pai Leroy trabalhava na mesa de som.

            Aquela tinha se convertido em sua sala particular desde a morte do homem, e nenhum técnico de som era autorizado a tocar na mesa.

            Acabou ficando entretida com as últimas músicas que havia gravado e não percebeu o estúdio se enchendo.

“Berry?” Uma voz com leve sotaque latino juntou-se a morena na sala. “A quanto tempo você está aqui?”

“A algum, Santana.” A morena deu de ombros desviando os olhos do equipamento para sua amiga de longa data. “Que horas são?”

“Quase dez da manhã.” Quem deu de ombros agora foi a latina, que sentou na cadeira em frente a Rachel. Examinou a expressão cansada da amiga e crispou os lábios. “Você dormiu alguma coisa noite passada?”

            Rachel encolheu os ombros e comprimiu os lábios entre os dentes brancos.

“Dormi.” Respondeu e os olhos escuros de Santana se estreitaram. “Eu prometo pra você, tá certo? Só não consegui direito.”

            Santana deixou o assunto de lado depois disso. Já sabia o motivo da noite mal dormida e sabia também que tudo seria consertado até o dia seguinte, quando Quinn retornasse da viagem que havia feito.

            As duas passaram o resto da manhã trabalhando na finalização de algumas canções que o estúdio estava produzindo e depois foram almoçar em um pequeno restaurante próximo a gravadora acompanhadas de Brittany, atual namorada da latina e prima de Quinn.

-x—x-

Dia do acidente – Avalon, Califórnia

            Quinn caminhava lentamente pelas ruas da pequena cidade de Avalon. Já havia tirado inúmeras fotos dos lugares que usaria de locação para a arte de um novo álbum que trabalhava. Encontrou um pequeno café e resolveu parar para uma xícara.

            O sono já dominava seu cérebro e sentia a necessidade de espantá-lo. Era pouco mais das quatro horas da tarde e ainda teria mais algumas horas de trabalho antes de voltar para a pousada que estava com sua equipe. Trabalharia na cidade até a tarde do dia seguinte e queria deixar tudo relativamente encaminhado para voltar na semana seguinte com a cantora e sua equipe e tirar as fotos oficiais do álbum.

            Fez seu pedido para uma simpática senhora e sentou em uma das mesas próximas a entrada. Seu celular tocou e um sorriso se abriu em seu rosto ao ver o nome de Rachel piscando no visor.

Hey, baby!” Sua voz saiu quente.

Hey.” Rachel respondeu no mesmo tom e Quinn sabia que um sorriso pequeno enfeitava suas feições. “Como as coisas estão ai?

Vão bem. Encontrei inúmeros lugares lindos pras fotos.” A loira murmurou e sorriu para a senhora que trouxe o café. “Você precisa vir comigo da próxima vez.

            Pode ouvir o suspiro de Rachel pela linha. “Eu queria estar ai.

Aconteceu alguma coisa, pequena?” A loira perguntou preocupada.

Não.” Rachel garantiu e Quinn assentiu, mesmo sabendo que a noiva não podia vê-la. “Eu só estou cansada e segundo a San, deixando todo mundo louco com minha crise de TPM.

            Quinn soltou um riso baixo e tomou um gole do café, sentindo o liquido quente descendo pela garganta.

Diz pra San que ela pode ter uma conversinha com a minha TPM quando eu voltar, se a sua estiver a incomodando.” Ofereceu e pode ouvir o riso melodioso da morena. “Eu sinto sua falta.

Eu também, amor.

Amanhã eu estou de volta.” Comentou enquanto passava o indicador levemente pela borda da xícara. “Você vai me buscar no aeroporto, certo?

Vou sim. Só me liga a hora que chegar.” Rachel falou e a loira pode ouvir ao fundo a voz de Santana a chamando. “Q, eu vou ter que desligar, mas a noite te ligo. Pode ser?

Pode sim, Rach.

Amo você, amor.” A morena murmurou.

            Quinn suspirou. “Eu amo você também, pequena. Até mais tarde.

Até mais.” E assim a ligação foi finalizada.

            A loira ficou mais um tempo na cafeteria e depois retornou a caça a locação perfeita que vinha fazendo desde aquela manhã.

-x—x-

Dia do acidente – Los Angeles, Califórnia

“Rach, você não vai pra casa?”

            A voz cansada de Santana ecoou pelo andar quase vazio, fazendo a cabeça de Rachel ricochetear em direção ao som. Os olhos castanhos cansados mal levantaram do documento que analisava antes de retornarem ao trabalho.

“Tenho que terminar isso daqui.” Sua voz saiu baixa, fazendo com que a latina se esforça-se para entendê-la. “Preciso enviar para o Jesse ainda hoje. Esse contrato vai ser assinado amanhã.”

“Quer que eu fique com você?”

            Rachel sacudiu a cabeça negando.

“Certo.” Santana concordou passando uma das mãos pelos espessos cabelos negros. “Me avisa quando chegar em casa, tudo bem?”

“Tá certo, mãe.” A morena resmungou sarcasticamente e Santana riu divertida antes de sair da sala e do andar, deixando Rachel sozinha no imenso estúdio.

            Passou mais um longo tempo compenetrada no documento e então o enviou para Jesse. O melhor amigo da loira era agora um respeitado advogado e sempre ficava encarregado de revisar todos os contratos que a gravadora da família de Rachel e o estúdio de Quinn assinavam.

            Soltou um longo e cansado suspiro ao massagear as têmporas.

            Sua dor de cabeça havia voltado a incomodar, então puxou uma cartela de dentro da bolsa e tomou um comprimido. Levantou da poltrona onde havia ficado boa parte da tarde e noite e seguiu desligando as luzes remanescentes do andar antes de o trancar. Passou novamente pelo porteiro do prédio e lhe lançou um pequeno sorriso. O homem lhe desejou boa noite e cavalheirescamente abriu a porta de entrada.

            O trânsito de Los Angeles estava relativamente calmo. A hora avançada da noite possibilitava que a volta para casa não demorasse a acontecer e Rachel agradeceu imensamente por isso. Sentia que seu dia não havia sido produtivo do jeito que queria e só buscava um pouco de paz que só seu apartamento poderia lhe proporcionar.

            Duvidava ter tido um dia tão ruim quanto esse nos últimos anos e seu humor era um dos piores. Não quis nem ligar o rádio de seu carro, o que era muito raro. Sempre buscava na música a paz que não encontrava durante o dia. Ela era seu refúgio. A música e Quinn.

            Parou em um sinal vermelho e ouviu ao longe o barulho distinto de sirenes. Provavelmente algum acidente havia ocorrido ao longo da via, o que não era tão incomum no caótico trânsito da cidade.

            O tempo que ficou parada pareceu eterno, mas enfim o sinal abriu para que seguisse viagem. Colocou a marcha no carro e quando entrou no cruzamento vislumbrou um carro negro furando o sinal a sua direita e vindo em alta velocidade em sua direção, querendo escapar dos carros policiais que o perseguiam. Tentou desviar, mas o veículo acabou colidindo com violência contra o seu.

            O mundo pareceu girar em câmera lenta. O engraçado é que dizem que quando o fim chega você repassa toda sua vida pelos seus olhos. Desde sua infância, passando pela juventude, pelos amores que você teve, pelos que você não teve, até chegar ao momento presente. Mas Rachel não viu nada disso.

            Seus olhos arregalados pegaram em camera lenta todos os momentos do acidente. Ela viu o carro negro chocando contra o seu e viu os dois carros rodando pelo asfalto. Viu o carro parar ao colidir com a estrutura do gigante viaduto e explodir. Tudo isso enquanto o seu próprio capotava inúmeras vezes até parar.

            Sentiu os cortes de abrindo em sua pele e sentiu o cheiro do sangue escorrendo pelo corpo. Seus membros começaram a ficar moles e a última coisa que ouviu foi o som desesperado de vozes em busca de sobreviventes.

            Os olhos castanhos se fecharam e ela soltou um suspiro estrangulado. Aquele era seu fim.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Acham que eu sou uma sádica que gosta de fazer meus personagens sofrerem? Tem uma indicação de música que acham perfeita para a história? Comentem aqui e não esqueçam que podem me encontrar também no ask.fm/singalullaby

Quero agradecer a todo mundo que está lendo e já adianto que vou tentar postar o próximo capítulo no máximo até semana que vem. Até ;)



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